Engebertus Rosevink nunca conheceu o filho que só nasceu meses depois do seu desaparecimento (Foto Ben Rosevink)
Ben procurou durante seis meses e encontrou Herbert Hintze, o comandante da esquadrilha da Luftwaffe, que abateu o IBIS sobre a Baía da Biscaia. “Trocámos correspondência e acabou por me convidar para o visitar. Fiquei com ele durante uma semana e ele deu-me todas as informações de que precisava”.
“Hintze disse-me que estavam naquela zona apara fazer escolta a dois submarinos que regressavam a Bordéus. Eles tinham grandes preocupações com os aviões Mosquito que os britânicos utilizavam e que eram bastante rápidos, por isso voavam divididos em dois grupos. Um par voava a quatro mil pés e outros quatro, mais abaixo, a mil. Assim, se fosse necessário conseguiam executar um movimento de pinça e cercar um inimigo”, esclarece o filho de Engebertus Rosevink.
Ben Rosevink (à esquerda, com a côroa) procurou os pilotos alemães que tinham abatido o avião onde seguia o pai.
“Foram os aparelhos do topo que realizaram o primeiro ataque. Quando a restante patrulha se aproximou o comandante percebeu que se tratava de um aparelho civil pois conseguiam ver a letras de lado, mas já era tarde, ele já estava a arder. Viram o avião a amarar, flutuar durante alguns minutos e afundar-se. Durante a queda – e cerca de 500 pés de altitude – três pessoas saltaram, mas quando sobrevoaram o local não encontraram qualquer vestígio de sobreviventes”, salienta ainda.
Deste contacto ficou uma certeza para Ben Rosevink. Toda a especulação e suposto mistério que ao longo das décadas foi crescendo não faz qualquer sentido.“Ele disse-me que apenas o abateram porque viram um avião – com o perfil de um aparelho inimigo – a vir contra eles. Não tinham qualquer intenção de o destruir, se soubessem que se tratava de um aparelho civil. Mais tarde, com a ajuda de amigos alemães consegui localizar mais dois aviadores. Nunca souberam que me correspondia com outros, e todos contaram a mesma versão. Não há qualquer mistério, simplesmente aconteceu”.
Herbert Hintze comandava a a esquadrilha alemã que abateu o Voo 777 sobre a Baía da Biscaia, em 1 de Junho de 1943. (Foto Ben Rosevink)
Engebertus Rosevink morreu aos 26 anos e nunca conheceu o filho, que nasceu dois meses depois do incidente na Baía da Biscaia. “Foi muito duro contactar com aquelas pessoas. O facto de nunca ter conhecido o meu pai talvez tenha facilitado um pouco as coisas, mas foi estranho conhecer alguém que podia descrever os últimos minutos da vida do meu pai”.
A mãe, britânica, tinha conhecido o jovem navegador em Bristol, quando a British Overseas Aircraft Corporation foi deslocada para aquela cidade. Engebertus fez parte do grupo de aviadores holandeses da KLM que escaparam para o Reino Unido quando as forças nazis invadiram o seu país. Homens e aparelhos – o íbis também pertencia à companhia holandesa – foram integrados “por empréstimo” na BOAC e continuaram a voar durante guerra, assegurando as ligações entre Bristol e vários outros destinos.
“Ele conheceu a minha em Bristol e eu teria regressado à Holanda se ele tivesse sobrevivido à guerra. Como isso não aconteceu a minha mãe e eu ficámos por cá”, esclarece Ben que reuniu um importante álbum fotográfico e memórias da época. “O meu pai não tinha muito tempo quando estava em Inglaterra, mas sei que gostava de velejar e viajar numa moto com sidecar. Conseguia combustível – que era racionado – de graça no aeroporto segundo conta a minha mãe”.
Oiça as declarações de Ben Rosevink sobre a sua busca pela verdade.
Como muitos outros Engebertus tentava passar este difícil período o melhor que podia. Portugal apresentava-se como um oásis de paz e de oportunidades. “Traziam fruta e carne que eram escassos em Inglaterra. Fazer este tráfico era proibido mas todos traziam comida de Portugal. Escondiam os produtos dentro do avião e no dia seguinte à aterragem iam buscá-los. Sei que dois engenheiros de voo foram apanhados e expulsos por participarem neste tráfico".
De Portugal ouviu também histórias de um porto seguro, longe do ruído da guerra. “Sempre que podiam iam até ao Estoril. Era lá que eles passavam as folgas, na praia”.
Carlos Guerreiro
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