Ivan Sharp era engenheiro de minas e estava envolvido, em Portugal, no negócio do Volfrâmio.
(Foto Ivan Sharp)
Ainda hoje Ivan não sabe bem qual era o trabalho desenvolvido pelo avô em Portugal. “A minha avó era muito à moda antiga. Por vezes conseguíamos sentá-la e perguntar-lhe umas coisas. Ela contava umas histórias, mas depois calava-se e não conseguíamos arrancar mais nada dela”, refere.
Mas a soma de memórias da avó, da mãe e da tia levam Ivan a concluir que o familiar desaparecido estava envolvido numa actividade importante durante a guerra. Sabe que o Volfrâmio foi uma das mercadorias mais disputadas entre aliados e eixo e que ainda hoje sobrevivem estranhas histórias de riqueza quase instantânea em algumas zonas de Portugal.
Ivan Sharp tem o mesmo nome do avó e foi o principal mentor das homenagens em Lisboa e Bristol.
Em 2009 assistiu à cerimónia de homenagem aos passageiros e tripulantes do Voo 777 em Lisboa e encontrou um governante português que tinha também um familiar que vivera “o outro lado do negócio”.
“O sogro dessa pessoa do governo português esteve também envolvido no negócio e vendia tanto para os britânicos como para os alemães. Ele contou-me que uma vez ele se tinha enganado a colocar uma casa decimal. Quando se apercebeu do erro pensou que ia ser morto, mas os alemães limitaram-se a pagar o que ele pediu”, adianta sem esconder que gostaria de saber um pouco mais do que foram esses tempos em Portugal. “Ainda há muitos segredos e será preciso escavar esta história onde ela aconteceu”.
Sobre as estranhas voltas da “guerra do volfrâmio” Ivan recorda ainda outra história que foi sendo contada pela tia. “Uma vez ela viu um pequeno saco em cima da mesa e ela foi mexer-lhe. Sentiu umas coisas duras lá dentro e pensou que eram berlindes, só quando o despejou é que percebeu que se tratavam de diamantes em bruto. Julgamos que eram usados para pagar o volfrâmio”.
Telegrama enviado à família após o desaparecimento de Ivan Sharp no Voo 777.
(Colecção Ivan Sharp)
Bem mais alegres são as recordações dos regressos do engenheiro de minas a casa. “Ele trazia sempre fruta fresca. A minha mãe e a minha tia distribuíam depois essa fruta pelos amigos da rua. Toda a gente ficava abismada com essas ofertas, porque a fruta era um bem muito escasso durante guerra e a maior parte das pessoas não tinham qualquer acesso a esse luxo”.
Um homem ligado à actividade desportiva o engenheiro Ivan Sharp fazia parte da equipa da Sledge&Trust, uma empresa que foi comprada mais tarde pelo grupo “Rio Tinto”, um dos maiores grupos ligados à mineração no myndo. “Ainda hoje pensamos no que poderia ter acontecido às nossas vidas, se ele tivesse sobrevivido à guerra. Estaríamos certamente muito melhor”, salienta o neto que olha com desconfiança para o abate do aparelho.
“Não compreendo a razão porque no dia seguinte ao abate os alemães reagiram de forma tão violenta colocando toda aquela zona sob patrulhamento apertado. Porque quiseram eles impedir os britânicos de procurar sobreviventes. Porque se empenharam tanto nisso. Essa é uma resposta que gostaria de ter”, revela.
Os sucessivos “mistérios” que foram envolvendo o caso também não lhe causam menos estranheza. “No final da guerra foi divulgado publicamente que o Regimento de Dorset tinha na sua posse um álbum de fotografias onde se via o aparelho a ser abatido. Sem se saber porquê ou como essas fotografias desapareceram. Se só tinham as fotografias do avião a ser abatido porque desapareceram?”.
Ivan terá utilizado diamantes para negociar o Volfrâmio.
(Foto Ivan Sharp)
“Por outro lado seguiam pessoas importantes daquele voo. Um actor muito conhecido, gente ligada a meios militares e de espionagem. Se os alemães estivessem mesmo interessados em alguém teria sido mais fácil desviar o avião e obrigá-lo a aterrar em França. A Gestapo teria muito que perguntar a essas pessoas”, questiona Ivan Sharp, que é um dos principais responsáveis pela realização das duas cerimónias de homenagem realizadas em Lisboa e em Bristol.
Acompanhe o que diz Ivan Sharp do avó...
Durante muito tempo alimentou a ideia de realizar uma homenagem aos ocupantes do aparelho. Depois de vários telefonemas conseguiu interessar os responsáveis pelo Aeroporto de Bristol e depois também os do Aeroporto de Lisboa. Em 2009 e 2010 conseguiu realizar esse sonho.
Carlos Guerreiro
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