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quarta-feira, 11 de julho de 2012

Algumas perguntas a Neill Lochery

Neill Lochery é o autor de “Lisboa - A guerra nas sombras da Cidade da Luz, 1939-1945”.

A versão original foi editada o ano passado e em português durante o mês de Maio.

A obra faz um retrato da lisboa dos espiões durante a II Guerra Mundial. Lochery é especialista em questões do Médio Oriente e há muito que se vinha interessando pelo que se passou em Lisboa durante o período da II Guerra Mundial.

A obra deverá ser editado também no Brasil e, até ao final do ano, em Espanha e na América Latina.

Aterrem em Portugal: Como se interessou pela História de Lisboa durante a II Guerra Mundial?

Neill Lochery: Vivi e trabalhei em Portugal durante os anos 80, e sempre tive um forte interesse na história do país e na sua relação com o resto do mundo.

A II Guerra Mundial foi um momento único na história contemporânea portuguesa, especialmente na cidade de Lisboa, onde o país ficou no centro de importantes acontecimentos e decisões que influenciaram o resultado da guerra.

Parece-me por isso muito natural focar-me neste curto período da II Guerra Mundial e explorar arquivos relevantes, descobrir o que aconteceu em Lisboa e no que os outros países acreditavam que se passava em Lisboa ( e existiam por vezes diferenças entre a percepção que tinham e a realidade).

A história compelia-me a continuar e era tão interessante que a pesquisa para o livro levou vários anos, e obrigou a uma longa viagem entre a sua concepção e o produto final.

Aterrem em Portugal: O que são as sombras e as luzes de Lisboa que refere no título do seu livro?

Neill Lochery: As luzes foram descritas por britânicos que estavam em Lisboa - ou que eram enviados para a cidade – como uma das características únicas numa cidade europeia durante a II Guerra Mundial. Malcolm Muggeridge, o escritor inglês, que trabalhava para os serviços secretos ingleses, faz uma descrição muito vivida da sua chegada à cidade tendo ficado fulminado pelas brilhantes luzes das ruas e com os néon dos anúncios.

As sombras referem-se mais às actividades de “faca e capa” levados a cabo pelos espiões aliados e do eixo que se encontravam na cidade.


O Livro foi lançado pela Editorial Presença,tem 326 páginas e o ISBN 978-972-23-4829-4

Aterrem em Portugal: fala do filme Casablanca mais de uma vez e a certa altura escreve que Lisboa era considerado Casablanca vezes vinte. O que quer dizer com isso?

Neill Lochery: “Casablanca Vezes 20” é um expressão de um relatório dos serviços britânicos feito por uma chefe de operações da BOAC (companhia britânica de aviação civil) em Lisboa, que descrevia o ambiente no Aeroporto de Lisboa.

Aterrem em Lisboa: Espiões, refugiados, banqueiros, cabeças coroadas, ditadores, muito dinheiro, grandes segredos, um pequeno país neutral a acabar rico depois de uma guerra de Golias. A descrição que faz ao longo do livro parece mais o argumento para um filme perfeito e não uma história real.

Neill Lochery: Parece-me que de histórias reais podem por resultar grandes filmes.

Aterrem em Portugal: Durante a investigação houve algum história que o tenha surpreendido mais que esperava?

Neill Lochery: Aí está uma questão muito boa. Sim há muitas, mesmo muitas histórias que me surpreenderam, e vou dar-lhe o exemplo de uma delas.

Tem a ver com tentativa das autoridades britânicas de persuadir Salazar a não autorizar a actividade de grupos judeus de ajuda a refugiados a operar em Lisboa, pois temiam que estes últimos deixassem Lisboa em direcção à Palestina.

Documentos mostram que Salazar rejeitou os pedidos ingleses e, como sabe, muitos grupos de apoio a refugiados operaram em Lisboa sem serem incomodados.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros Britânico queria impedir um fluxo de judeus para a Palestina, e existiam grandes restrições - quotas – para a imigração impostas pelos britânicos.

Eles temiam que a chegada de judeus à Palestina naquela altura colocasse em perigo as relações entre os aliados e os árabes.

Carlos Guerreiro

4 comentários:

  1. Ora aí está um livro que pondero em comprar.
    Só é pena os cineastas estrangeiros não pegarem nestes temas e desenvolverem mais, com Portugal em pano de fundo.

    Alpalhão

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. E já há muito por onde pegar... Só aqui no aterrem há vários livros com excelentes histórias sobre o tema e sobre Portugal durante a II Guerra Mundial. basta clicar em

      http://aterrememportugal.blogspot.pt/search/label/espionagem

      para ver que há muitas opções...

      Boas leituras,
      Carlos Guerreiro

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  2. O livro "O Espião Alemão em Goa", de José António Barreiros parece-me ser o mais interessante. Já vi o filme e achei muito bom, bem como a história em si e ao descobrir que era veridica ainda melhor achei o filme.

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