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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Eu combati na "Divisão Azul"

Combateram na guerra civil espanhola, ao lado dos nacionalistas, e depois vestiram a farda da Divisão Azul para combater os "vermelhos"na frente leste ao lado das forças alemãs. João Rodrigues Júnior e Jaime Graça são dois dos portugueses que integraram o contingente de portugueses que passaram pelas duas guerras e são também dos poucos que deixaram alguns detalhes das suas histórias publicados na imprensa.

Edições das revistas "A Esfera" e do "Independente".
(Hemeroteca de Lisboa)

João Rodrigues Júnior surgiu nas páginas da revista “A Esfera”, ainda durante a 2ª Guerra, em Agosto de 1942.

Como legionário do “Tércio” diz ter passado pelos campos de batalha de Teruel, da Catalunha e do Ebro. Naquela publicação garante ainda que durante a guerra civil espanhola foi ferido duas vezes e numa delas ficou temporariamente cego. No final da guerra continuou a cumprir o contrato de cinco anos assinado com a Legião Estrangeira Espanhola.

“Entretanto começou a guerra contra a Rússia. E eu, que durante os anos da campanha espanhola comecei a saber o que são os bolchevistas e o que é a sua doutrina na pátria, decidi continuar a minha vida de legionário batendo-me contra eles. Assim logo que em Espanha começaram os alistamentos para a campanha da Rússia, ofereci-me”, conta João Rodrigues Júnior.

Na descrição que faz da viagem da unidade espanhola para a frente, refere a passagem pela França ocupada onde tiveram de usar as armas. “Um grande grupo, da qual faziam parte várias mulheres, apupou-nos e tentou assaltar o comboio. Tivemos que estrear ali as nossas armas – e vários caíram”, explica.

As dificuldades vividas com a guerra e com o frio na frente leste também merecem referência. A revista, um dos vários instrumentos pagos pela propaganda nazi em Portugal, destaca ainda a “admirável” organização alemã e a fraca qualidade dos soldados russos. De resto a impressão deixada sobre o povo russo não é muito melhor: “Mal vestidos, famintos, sujos”.

As investigações de Ricardo Silva, que tem estado a mapear a presença portuguesa no seio da Divisão Azul, revelaram que João Rodrigues Júnior integrou um dos primeiros grupos que seguiram de Espanha para a Rússia. Vários outros portugueses o acompanharam, mas a maioria foram mortos ou feridos no decorrer dos combates.

Este português também teria de abandonar o combate quando uma úlcera obrigou à sua evacuação para Espanha.

Tratado e recuperado voltou a alistar-se na Divisão Azul. Fez novo treino na Alemanha, mas não voltaria à frente russa. Adoece de novo e é considerado"inútil para o combate". Em Agosto de 1943 está de volta a Espanha.

Ainda segundo o investigador Ricardo Silva, Rodrigues Júnior faleceu em Janeiro de 1956.

De Lisboa a Leninegrado 

Em Junho de 1992 a revista do jornal “O Independente” trazia uma reportagem/entrevista com Jaime Graça, então com 79 anos, que também vestira as fardas do “ Tércio” e da Divisão.

Segundo relatava teria sido recrutado no Rossio, quando foi abordado para “ir trabalhar para Espanha”. Só tarde demais terá percebido que estava a engrossar as fileiras do Generalíssimo Franco. No país vizinho passou pelos campos de batalha de Toledo, Madrid e Ebro entre outros.

Foi ferido por duas vezes. Terminada a guerra civil, foi enviado para o Norte de África onde não ficaria muito tempo. Segundo conta depois de ter sido "enganado" no Rossio, foi obrigado a integrar a Divisão Azul que Franco mandou constituir em 1941. Um sargento tê-lo-à designado como "voluntário".

Queixa-se da comida, do frio e da guerra ao longo do tempo em que percorreu a Estónia, a Letónia, a Lituânia e a Ucrânia. Terminou a sua viagem às portas de Leninegrado onde volta a ser ferido, agora numa perna. Mais tarde adoeceu com um problema nos olhos que vai dar-lhe um bilhete para casa.


Graça também realça a organização germânica em todas as áreas enquanto os soldados russos que viu eram uns “coitaditos”. Já as mulheres de todos os países por onde passou merecem-lhe os maiores elogios…

Os 40 graus abaixo de zero fizeram os seus estragos e o problema dos olhos agravou-se, levando a que fosse dispensado.

Em Espanha e levanta alguns milhares de pesetas -cerca de 200 mil, assegura - que tinham sido depositados na sua conta como soldo.

Estoura ainda em Espanha a sua pequena fortuna “na batota, nas mulheres, no vinho”. Regressa a Portugal quase como partiu, pregando um susto dos grandes à mãe:

“Eu tinha perdido, há algumas semanas, a chapa que os militares utilizam no pulso (…), e alguém a enviou para a Embaixada espanhola, aqui na rua do Salitre. A minha mãe foi lá saber de mim e disseram-lhe que eu já tinha morrido. Mostraram-lhe a chapa e tudo. Depois quando eu apareci à frente dela, coitada, deu-lhe um chilique. Caiu no chã. Andava de luto e tudo”.

Nos últimos anos da sua vida lutava pela obtenção de um pensão junto dos governos de Espanha e da Alemanha, aparentemente sem grande sucesso...

Carlos Guerreiro
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1 comentário:

  1. Publiquei:

    http://www.historiamaximus.blogspot.pt/2013/09/eu-combati-na-divisao-azul.html

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