A espionagem em Portugal durante a 2ª Guerra Mundial é o tema central do novo livro de Irene Pimentel que, para completar estas cerca de 400 páginas, consultou arquivos britânicos, americanos, alemães e portugueses.
O resultado desse trabalho é apresentado esta tarde em Lisboa, por volta das 18.30 horas, na Fnac do Chiado.
Esta nova obra “Espiões em Portugal durante a II Guerra Mundial” percorre – como a autora própria reconhece - um caminho já muito explorado por outros livros e autores que nas últimas décadas têm investigado este tema, mas o assunto da espionagem é, e continuará a ser, inesgotável.
Todos os dias surgem novas fontes e novos dados que individualmente ou cruzados com material já existente ajudam a redescobrir histórias ou a reescrevê-las.
Por Lisboa, a capital neutral de uma Europa em guerra, passaram muitas personalidades que renasceram no pós-guerra como personagens de ficção, tão fantásticas e inacreditáveis tinham sido as suas aventuras.
Encaixam perfeitamente nesta descrição os agentes duplos Trycicle ou Garbo, elementos fundamentais de um logro montado pelos britânicos que desviaram as atenções das praias da Normandia no Dia D. Tanto um como outro não só passaram por Lisboa, como a cidade foi um importante centro para as suas actividades.
É com a história da operação “Fortitude”, que envolveu os dois agentes já referidos, que o novo livro de Irene Pimentel arranca. Dessas primeiras páginas seguimos depois por outros caminhos.
Um resumo dos vários capítulos é apresentado logo no prefácio.
É esse resumo que aqui fica:
“O capítulo I, de apresentação das principais redes de espionagem e de Informação, britânicas e alemãs, aborda assim o período desde os anos trinta e 1940, com uma caracterização do regime salazarista, bem como breves referências à tentativa de internacionalização do fascismo e do nacional-socialismo em Portugal, o início da II Guerra Mundial e a neutralidade portuguesa. Segue-se o capítulo II, que cobre os anos de 1940 e 1941, este último o «de toda» a colaboração luso-alemã, tratando do início da actuação em Portugal das redes de propaganda e espionagem dos dois campos beligerantes, Inglaterra e Alemanha, respectivamente, o SIS/MI6, no primeiro caso, e a Abwehr e a Gestapo-SD, no último caso.
É ainda referida a actuação da Legião Portuguesa, questionando se esta era a rede de Intelligence e de contra-espionagem portuguesa.
O capítulo III trata da actuação em Portugal, em 1941 e 1942, das redes britânicas MI 9 e SOE-rede Shell, bem como o relacionamento desta última com a LP, por um lado, e das redes da Abwehr e da Gestapo/SD em solo português, nomeadamente, bem como o relacionamento destas últimas com a PVDE. Segue-se o capítulo IV, que aborda o ano de 1942, difícil para o relacionamento luso-britânico, devido ao desmantelamento da rede Shell, num período em que, do lado alemão, então com preponderância e maior liberdade de actuação, a Abwehr lança campanhas de desinformação contra os britânicos e denuncia as suas organização à PVDE.
São ainda referidas a resistência e colaboração de refugiados, judeus portugueses e comunistas alemães com as redes aliadas, em particular com a francesa e soviética. O capítulo V, sai um pouco da cronologia, pois ocupa-se da actuação dos serviços secretos franceses e norte-americano em Portugal, num período mais alargado entre os anos 40, em particular entre 1942 e 1944.
A segunda parte do livro cobre o período entre 1943 e 1945. No capítulo VI, «A caminho da vitória aliada», é tratada a reacção e retaliação dos britânicos contra o desmantelamento das suas redes, em 1941 e 1942, denunciando, por seu turno, as alemãs, actuantes em solo português. Este capítulo, cujo arco temporal é sobretudo o ano de 1943, “sai” de Portugal continental, fazendo incursões geográficas pelos Açores e por outras locais não-europeus de África e da Índia, sob administração portuguesa, nomeadamente por Moçambique e Mormugão.
Termina com uma análise de Lisboa enquanto plataforma de negociações entre personalidades do Eixo, com os Aliados ocidentais, com vista à assinatura de uma paz unilateral com estes. O capítulo VII dá conta, em 1943 e 1944, do conhecimento e desmantelamento, em Portugal, com a ajuda dos britânicos, das quatro redes alemãs, da Abwehr e da Gestapo. Segue-se o capítulo VIII, sobre os espiões duplos do Double Cross (XX) Committee, de «Snow» - o primeiro espião duplo dos britânicos - a «Garbo» e «Tricycle», passando por «Zig Zag» e «Artist», que actuaram em Portugal e tiveram um papel importantíssimo no apoio ao desembarque aliado na Normandia, em Junho de 1944.
Finalmente, o capítulo IX aborda os últimos dois anos da guerra, 1944 e 1945, analisando questões como o embargo do volfrâmio pelo governo português, o trágico rapto de Jebsen («Artist»), bem como o encarceramento deste último e da jornalista alemã Pedtra Vermehren em campos de concentração alemães, onde o primeiro acabaria por ser assassinado.
Num período em que a Abwehr, com a queda em desgraça do almirante Canaris, é integrada na estrutura da Gestapo-SD, apenas esta ainda opera em Portugal, mas os seus elementos, bem como os seus cúmplices portugueses são expulso e presos pelo governo salazarista, quando no horizonte se vê o final da guerra, marcada pela derrota dos nazi-fascistas. No final da guerra, é tempo de os serviços secretos britânicos e norte-americanos, cujo destino é brevemente apontado, interrogarem os espiões alemães, presos, e conhecer a composição das suas redes.
O livro termina com um «Epílogo, onde se inclui a vitória aliada e o fim do SD em Portugal, e é abordado um episódio, já na guerra-fria, que remete para a alegada actuação de redes comunistas durante a II Guerra Mundial e revela a hegemonia mundial do mundo ocidental pelos EUA, acertando baterias contra o novo inimigo – a União Soviética.”
Boas leituras
Carlos Guerreiro
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