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sexta-feira, 28 de março de 2014

Encontrados portugueses "escravos" e mortos em campos e concentração nazis

À medida que os historiadores portugueses vão acedendo aos diversos arquivos que estão espalhados pelo mundo, vão-se ficando a conhecer cada vez mais histórias envolvendo portugueses durante a 2º Guerra Mundial.

A revista Visão traz esta semana a história de que cerca de 300 portugueses terão sido “escravos” na Alemanha Nazi durante o conflito. Tratava-se de mão-de-obra forçada que envolveu milhares de cidadãos não alemães e cujas fichas estão agora a ser reveladas por uma equipa liderada pelo historiador Fernando Rosas.







Passaporte de trabalho de um trabalhador forçado na Alemanha. O "P" refere-se a Polaco, tinha de ser cosido à roupa e servia para distinguir estes trabalhadores dos Alemães.
(Fotografia Wikipédia/ Wikimedia commons)








A notícia revelada pela Visão pode ser lida com mais pormenor AQUI.

Esta equipa trouxe, no entanto, mais novidades das suas pesquisas. Informações reveladas à Lusa apontam para a morte de cerca de 70 portugueses mortos em campos de concentração nazis. Deixo duas notícias publicadas pela Lusa durante o dia de ontem:

Lisboa, 27 mar (Lusa) – Pelo menos 70 portugueses estiveram nos campos de concentração e 300 foram sujeitos ao trabalho forçado durante a II Guerra Mundial, disse à Lusa o historiador Fernando Rosas, que lidera a investigação sobre um assunto inédito e desconhecido.

“Há portugueses que se encontram nos campos de concentração nazis, mas que estão nos campos por razões que se desconhecem. Pode ser por serem associais. Há certas categorias cuja punição era o campo de concentração”, referiu à agência Lusa Fernando Rosas, acrescentado que foram já detetados pelo menos 70 portugueses nos campos de extermínio de Auschwitz e Birkenau durante a Segunda Guerra Mundial.

“Nós detetamos, por exemplo, um português de Cascais que é preso em Marselha e enviado para Auschwitz. Porque é que está em Auschwitz? Não é por ser emigrante, porque, quando muito, era obrigado ao trabalho forçado, mas não estaria num campo de concentração. Ou era resistente ou fazia parte daquelas categorias de associais e que eram mandados para os campos”, explicou Fernando Rosas.

O historiador e ex-dirigente do Bloco de Esquerda lidera um projeto de investigação realizado no âmbito do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, que envolve vários investigadores especializados nas relações luso-alemãs durante a II Guerra Mundial.

 “Obtivemos a primeira notícia através das informações que existem nos campos de concentração de que há vários portugueses mortos e o nosso projeto começou por aqui. Depois surgiu-nos a possibilidade de concorrer a um financiamento de uma instituição alemã que está interessada em financiar as investigações sobre o trabalho forçado na Alemanha”, acrescentou Fernando Rosas.

O trabalho forçado pelo III Reich era feito por pessoas que se encontravam nos campos de concentração ou por contratados ou simplesmente enviados pelos países ocupados e, por isso, a equipa de historiadores alargou o âmbito da investigação.

 “Chegamos à conclusão de que há dois tipos de trabalhadores forçados: aqueles que se encontravam nos campos e que, portanto, são escravos, e temos a presunção de que há portugueses nesta situação. São os escravos que trabalhavam para empresas como a IG Faber, por exemplo, em Auschwitz e Birkenau, e vamos à procura deles”, afirmou Rosas, que vai concorrer a financiamento por parte de uma fundação alemã, visto não ter conseguido apoio por parte da Fundação para a Ciência e Tecnologia portuguesa.

Para o estudo do trabalho forçado, os historiadores investigam pelo menos duas vias, a primeira através da emigração, porque, segundo Fernando Rosas, “há muita gente emigrada (portugueses) já nessa altura, e muito mais do que se pensa, em França e na Bélgica”.

 Quando o governo de Vichy (governo colaboracionista francês durante a ocupação nazi, entre 1940 e 1944) é obrigado, a partir de 1942, a trocar prisioneiros de guerra franceses por trabalhadores usando sobretudo emigrantes como moeda de troca.

Segundo Fernando Rosas, há várias dezenas de trabalhadores portugueses emigrados que são enviados pelas autoridades colaboracionistas para solo alemão. Para o historiador, é preciso também estudar o eventual envolvimento do Estado português em todo o processo e tentar saber até que medida houve ou não recrutamento de trabalho forçado em solo de Portugal, tal como aconteceu em Espanha.

 “Na Alemanha estão dois tipos de circunstâncias. Uns foram parar aos campos de concentração porque já eram refugiados da Guerra Civil de Espanha e há também os emigrantes que são arrebanhados pelo nazis – quer por contratação direta, quer por troca efetuada pelo Governo francês sempre que se procedia ao regresso de prisioneiros”, explicou Fernando Rosas.

 Uma parte desses portugueses são republicanos que combateram na Guerra Civil de Espanha (1936-1939) e que se encontravam internados nos campos de refugiados no sul de França após a vitória das forças nacionalistas de Francisco Franco e levados para os campos de concentração nazis já durante a II Guerra Mundial (1939-1945).

 Alguns escaparam dos campos de refugiados franceses e quando a França foi ocupada pelos nazis juntam-se à Resistência francesa e mais tarde foram “presos como resistentes vão para Auschwitz e Birkenau”, relatou Fernando Rosas.

 A existência de portugueses nos campos de extermínio nazis é um assunto até ao momento inédito e nunca estudado, assim como a presença de trabalhadores portugueses como escravos em fábricas na Alemanha, tendo sido referido hoje pela primeira vez pela revista Visão.

“Há uma série de organismos que se dedicaram à estatística dos presos dos vários países e ao trabalho forçado e nós já temos um número sobre esta situação e descobrimos há pouco tempo uma fonte que nos revelou, através de uma instituição na Alemanha que indemniza aqueles que foram obrigados a trabalhar no país, e detetamos que há mais de trinta pedidos de indemnização de portugueses e vamos agora investigar junto dos familiares”, concluiu.


Lisboa, 27 mar (Lusa) – Historiadores portugueses viram rejeitado apoio do Estado na investigação que já detetou 70 portugueses mortos em campos de concentração nazis na II Guerra Mundial, disse hojeà Lusa o historiador Fernando Rosas.

Para conseguir o financiamento, o historiador Fernando Rosas, que lidera a equipa do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa que está a fazer a investigação sobre a morte dos portugueses, foi obrigado a ampliar o âmbito da investigação à temática do trabalho forçado na Alemanha nazi durante a II Guarra Mundial (1939-1945) onde já descobriram pelo menos 300 portugueses.

“Nós vamos agora entregar a documentação para um concurso porque precisamos de financiamento para investigarmos. A Fundação para a Ciência e Tecnologia não financiou este projeto e, portanto, estamos a concorrer junto de uma instituição alemã que nos pediu que concorrêssemos.

Uma fundação especializada sobre a investigação acerca do trabalho forçado na Alemanha (durante a II Guerra Mundial), que quando soube do nosso trabalho sobre os portugueses - assunto que eles também desconhecem - pediu para nós concorrermos”, relatou à agência Lusa o historiador Fernando Rosas.

Para o historiador, a descoberta inédita sobre a presença de prisioneiros portugueses nos campos de extermínio nazis deve fazer com que o Estado português assinale a circunstância, tal como os restantes países.

“Em todos os campos há pequenos monumentos de Estado aos seus nacionais que foram lá mortos e na contabilidade que já fizemos sobre portugueses há pelo menos uns 70 portugueses que morrem nos campos de concentração e nem se sabe que eles lá morreram e mesmo essa justiça memorial devia fazer-se”, sublinhou Fernando Rosas.

 PSP // ARA 
 Lusa/Fim

10 comentários:

  1. São Rosas, senhor...

    http://www.portadaloja.blogspot.pt/2014/03/sao-rosas-senhor.html

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  2. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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    1. Devido ao tipo de linguagem agradeço que retire esta mensagem... Se não serei eu fazê-lo.

      Recordo também que o "Aterrem em Portugal!" não é um palco para dirimir questiúnculas de esquerda ou direita, de republicanismo, fascismo, comunismo ou monarquia. Aqui fala-se sobre Portugal durante um período histórico limitado, alicerçando essas discussões em factos ou acontecimentos.

      Por razões que se prendem com a liberdade de expressão – que eu prezo – tenho a secção de comentários do blogue livres de qualquer moderação, mas se as pessoas são incapazes de compreender a diferença entre liberdade de expressão e má educação, terei de tomar outras opções. Confesso que que não me agrada, mas enfim…

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    2. Carlos, quanto é que a maçonaria e os comunas te pagam para seres um lacaio do regime?

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  3. E quando ganhas coragem de ser alguém dando a cara por aquilo em que acreditas????

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  4. Infelizmente atrás do monitor do computador há muitos herós e sumidades nos mais variados temas, o pior é quando é necessário darem a cara no mundo real, não aparecem ou assobiam para o lado e fazem como se não fosse nada com eles!
    Infelizmente é este o povo que temos!

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  5. "Recordo também que o "Aterrem em Portugal!" não é um palco para dirimir questiúnculas de esquerda ou direita, de republicanismo, fascismo, comunismo ou monarquia."

    OK, tudo bem.

    Só não deixa de ser estranha a cobertura que este blog dá constantmente a historiadores de esquerda...

    Ou o Carlos acredita mesmo que essa gente não tem agendas políticas por detrás daquilo que escreve?

    Não sou fascista, nem monárquico, nem de esquerda, nem de direita. Sou apenas um cidadão que não gosta de ver o seu país tomado por máfias, sejam elas de esquerda ou de direita. Nada mais.

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    1. José Domingos,

      Continuarei a divulgar as histórias que entender e como entender. Garanto-lhe que não vou pedir as agendas de cada um para saber a cor das capas…

      Enquanto existirem histórias e notícias que considero relevantes para o tema do MEU blogue elas continuarão a surgir aqui.

      Essas poderão ser sobre os portugueses que morreram nos campos de concentração nazis ou sobre aqueles que vestiram a farda da Wehrmacht lutando contra o comunismo na Rússia.

      Poderão ser sobre propaganda alemã, britânica ou americana.

      Poderão ser sobre livros que considero relevantes para compreender a história do país naquele período. Tanto se me dá que sejam de autores portugueses, estrangeiros, rotulados ou de marca branca.

      Se não lhe agradam as histórias que aqui são publicadas a solução é simples. Mantenha-se pelo SEU blogue e deixe o MEU “Aterrem em Portugal!” seguir o seu caminho…

      Se quiser continuar por cá e tiver coisas relevantes a acrescentar à história de Portugal durante a 2ª Guerra Mundial, as páginas do “Aterrem em Portugal!” estarão sempre abertas…

      Agradeço que guarde para si e para o SEU blogue as questões pessoais ou de política contemporânea.

      Obrigado...

      Carlos Guerreiro

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  6. "Agradeço que guarde para si e para o SEU blogue as questões pessoais ou de política contemporânea."

    Neste momento não tenho nenhum blog. Sou apenas comentador...

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