Capa e interior de desdobrável de propaganda britânico, editado em Fevereiro de 1941, onde são destacados os aparelhos e pilotos alemães abatidos durante a Batalha de Inglaterra. |
A batalha tinha começado, de facto, um mês antes com ataques aéreos intensos especialmente sobre o canal e algumas zonas portuárias. Em Agosto os alemães viraram a sua atenção sobre aeródromos, radares, instalações militares e complexos ligados à indústria de defesa. Na linha da frente a Luftwaffe tem caças Messerschmitt Bf 109 e Bf 110C (bimotores) e os bombardeiros Heinkel He 111, Dornier Do 17, Junkers Ju 88 e o Junkers Ju 87, os célebres bombardeiros de mergulho "Stuka" (dive-bombers no relatório), que vão ter um carreira curta na batalha, situação que será mencionada pelo oficial português.
Capa e interior de publicação de propaganda alemã, lançada possivelmente no início da campanha, num altura em que o grosso do combate se desenrolava sobre o Canal da Mancha. |
Na fase inicial a Luftwaffe evitou as cidades e um ataque sobre o centro de Londres aconteceu apenas como resultado de um erro de navegação. Os bombardeamentos a cidades alemãs vão mudar as prioridades dos líderes nazis e, possivelmente, salvar a Inglaterra, pois a mudança de alvos permite reparar bases e aviões da RAF que se encontravam sob grande pressão.
Artur Mendes de Magalhães dá diversos detalhes sobre os combates que tiveram lugar nos céus britânicos. Refere por exemplo a data de 18 de Agosto como o dia em que se registaram o maior número de baixas entre os combatentes. Investigações recentes asseguram que foram destruídos 68 aparelhos britânicos contra 69 alemães. Este equilíbrio de números não se iria manter durante muito tempo e no final de Outubro, momento em que a batalha termina, os alemães tinham perdido quase duas mil aeronaves, contra pouco mais de mil britânicas.
Postais de propaganda britânicos. |
O militar português mostra que tinha acesso a alguma informação privilegiada. Descreve algumas tácticas alemãs e as diversas fases da batalha com bastante precisão. Por outro lado avança números de aparelhos alemães destruídos que estão mais próximos do que anunciavam os jornais do que a realidade. No dia 15 de Setembro, por exemplo, os jornais asseguravam que a Luftwaffe tinha perdido 175 ou mais aviões, enquanto os balanço real assinala apenas a destruição de 61, contra 31 da RAF.
Apesar destes pequenos erros parece-me um documento bastante fiável e certeiro, até porque é necessário ter em conta que a análise foi feita sobre o acontecimento, quase certamente ainda em Setembro, altura em que os combates decorriam intensos sobre a Inglaterra.
Fica a transcrição do relatório "Secreto":
«Os principais ataques dos alemães sobre a Inglaterra tiveram começo em 8 de Agosto empregando unidades de "dive-bombers" de pequeno raio de acção e unidades de bombardeiros de grande raio de acção, umas com escolta de caças e outras sem elas.
No princípio do mês os ataques incidiram sobre a navegação, portos da costa sul e portos de guerra, tendo sido empregados, em quantidade, dive-bombers. Sofreram tão pesadas perdas que em 18 de Agosto, retiraram, nunca mais tendo sido empregados nos ataques contra este país.
Para o fim do mês, os ataques incidiram principalmente sobre aeródromos de "caças", existentes no canto sudeste de Inglaterra.
Depois daquele dia 18 os raids foram levados a efeito por formações de 100 a 200 aviões, dos quais normalmente 30 a 80 eram bombardeiros de longo raio de acção voando a cerca de 4500 metros com grandes escoltas de caças, 1500 a 2500 metros acima deles.
Nos fins de Agosto esta escolta de caças melhorou de qualidade, sucedendo que, formações constituídas por eles, por vezes precediam a formação que executava o raid propriamente dito, enquanto outras formações de caças voavam em patrulhas de ambos os lados da formação de bombardeiros com ainda camadas de outros caças ziguezagueando por cima.
Até 7 de Setembro os ataques continuaram, principalmente contra a navegação, objectivos industriais e aeródromos.
Nesta data começaram os violentíssimos ataques de dia e de noite sobre o interior de Londres, sendo principais objectivos as docas e as comunicações ferroviárias.
Estes ataques continuaram até 15 de Setembro, dia em que o inimigo sofreu grandes perdas, tendo 186 aviões destruídos.
Os primeiros quinze dias deste mês de Setembro cifraram-se para o inimigo numa perda de 589 aviões definitivamente destruídos, além de muitos outros avariados e ainda outros provavelmente destruídos também.
Propaganda alemã. Cartão fotográfico com legenda. |
As formações fazendo raids diversos passaram a ser constituídos inteiramente por caças voando muito alto, transportando bombas ligeiras e escoltados por caças de protecção.
Confrontando os prejuízos materiais causados pelos raids com o esforço despendido pelo inimigo concluem as Autoridades Inglesas que os primeiros são singularmente pequenos, e, um grande número, a maioria mesmo, de carácter temporário. Cita-se o exemplo de dois aeródromos de caças, atacados eficazmente no fim de Agosto, tendo ficado incapazes por alguns dias, estarem agora de novo em plena actividade. Da mesma forma sucedeu com os objectivos ferroviários atingidos em cheio quando dos violentos ataques de Setembro.
Claro que ninguém pensa reconstruir agora os inúmeros edifícios completamente destruídos ou os arruinados em condições de não ser possível habitá-los.
As reconstruções e reparações levadas a efeito são apenas aquelas de que depende o funcionamento de serviços essenciais e inadiáveis, quer por interessarem directamente à guerra quer pelo seu interesse público.
Os objectivos militares e industriais cuja destruição mais podia interessar ao inimigo, apesar da violência dos ataques sofridos, não têm ficado incapazes. Cito o grande Arsenal de Woolwich que continua o seu trabalho com proveitosa regularidade.
Presentemente os raids diversos contra a Inglaterra são quási exclusivamente feitos por caças, principalmente, Messerschmitt 109, sendo também empregados Messerschmitt 110. Durante a noite bombardeiros de grande alcance voando individualmente a altitudes médias ou altas continuam a executar pesados ataques, quando as condições de tempo permitem, contra Londres e zonas industriais.
Parece não haver dúvida que a tentativa feita pelos alemães durante Agosto e Setembro para obterem supremacia do ar, falhou; raids diversos em grande escala feitos por bombardeiros revelaram-se demasiado caros, e estes ataques são agora executados apenas por grandes formações de caças que não passam para norte de Londres ou por bombardeiros isolados a coberto de nuvens.
Quanto à tentativa para desmoralizar e destruir Londres, que começou em 7 de Setembro, tudo indica que falhou completamente".
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