As reportagens reuniram testemunhos documentais e de familiares das vítimas dos campos. Agora surgem em também num livro onde, para além das histórias que já conhecemos surge também algum material novo.
Aterrem em Portugal - Quem eram estes portugueses?
Patrícia Carvalho - As pessoas que encontrei eram portugueses que tinham deixado o país e estabelecido e sua vida em França e na Bélgica. Emigrantes, portanto.
AP - O Governo de Salazar teve conhecimento destes casos?
PC - Pela consulta dos telegramas trocados entre Lisboa e as representações diplomáticas na França e Alemanha eu diria que não. Mas acho que não se pode afirmar isto taxativamente. Apesar de, nas obras publicadas sobre a relação de Salazar com a Segunda Guerra Mundial, não aparecer qualquer referência a outro tipo de documentação que refira esse conhecimento, acho que ainda valia a pena debruçarmo-nos concretamente sobre essa pergunta. É uma das perguntas que deixo em aberto no livro.
AP – As suas histórias surgiram primeiro como uma reportagem alargada no jornal Público. Porquê a necessidade de as continuar em livro?
PC - Não houve uma “necessidade” de as contar em livro. Houve, sim, o interesse de várias editoras, que me contactaram assim que a reportagem foi publicada, propondo-me que transformasse aquele trabalho num livro. Agora que ele está pronto, acho que fez todo o sentido. A pesquisa adicional que pude fazer permitiu-me desenvolver de forma muito mais pormenorizada algumas das histórias que apareciam na reportagem e encontrar histórias novas e outros pormenores que não constavam da reportagem do Público.
AP – Que dificuldades encontrou durante a pesquisa?
PC - O facto de os documentos e familiares estarem, em larga medida, fora de Portugal e espalhados por vários países, tornou o processo mais complexo. Além disso, encontrar os familiares também não foi fácil. Mas toda a pesquisa foi apaixonante e algo que, tendo os meios necessários para o fazer, gostaria de levar ainda mais longe.
Saiba mais sobre o livro AQUI. |
PC - Senti que ficaram felizes por poderem contar as histórias dos seus familiares e sensibilizadas por, ao fim de tantos anos, o sofrimento deles durante a guerra poder, finalmente, ser contado no país onde eles tinham nascido.
AP - Houve alguma história que a tivesse marcado mais?
PC - Todas as histórias são muito diferentes e muito marcantes. Temos, claro, o caso das pessoas que não sobreviveram às condições pavorosas dos campos de concentração, como o algarvio Casimiro Martins, e aqueles que possivelmente terão sido assassinados, como os judeus Michael Fresco e Rachel Basista.
Há os sobreviventes com fortes convicções políticas, como Luiz Ferreira ou Maria d’Azevedo, e pessoas como a Maria Barbosa, que sobreviveu, mas perdeu um irmão em Bergen-Belsen. Temos membros da Resistência, como Júlio Laranjo, e pessoas que foram apanhadas por mero acaso, sem terem, aparentemente, qualquer intervenção política, como André de Sousa. Todos viveram experiências extraordinárias e de uma violência/privação tais, que as marcas da sua passagem pelos campos de concentração – físicas e psicológicas – acompanharam-nos até ao fim das vidas.
Carlos Guerreiro
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