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sexta-feira, 21 de julho de 2017

Dunquerque, salvo pelo combate aéreo

Christopher Nolan é magistral a filmar nos pequenos espaços. Uma dúzia de homens que esperam pela maré escondidos no porão de um barco de pesca, o pânico de quem tenta escapar do bojo de destroyer que se afunda, o cockpit de um Spitfire… O formato Imax torna aqueles espaços apertados simultaneamente grandes e próximos. Estamos lá dentro também…

As cenas gravadas no ar salvam Dunquerque... O resto sabe a pouco. 

O problema deste filme são os espaços grandes. A paisagem. A Dunquerque caótica descrita pelos 400 mil soldados que lá estiveram em Maio e Junho de 1940. No filme de Nolan não encontramos esse caos, essa confusão e à excepção dos bombardeamentos é difícil encontrar naquela praia uma guerra ou o desespero de uma retirada apressada frente ao avanço do inimigo.

Tudo está limpo, arrumado, organizado e sistematizado. As caixas de munições estão alinhadas. Os homens fazem filas certinhas e não aparecem esperar pela salvação mas pelo autocarro que passa à porta de casa para os levar para o escritório ou vice-versa… Os ataques alemães são aquela coisa chata que acontece e não se pode evitar, como a chuva ou o vento. Enfim, têm de estar ali, e pronto…

Mas há coisas nesta película que são interessantes… Na edição encontramos um caos saboroso que sentimos falta noutros pontos. Andamos constantemente para trás e para a frente, repisando os mesmos momentos com pontos de vista diferentes, num “déjà-vu” que não cansa e que acrescenta sempre uma nova acção ou uma nova personagem…

De resto as sequências funcionam como uma montanha russa, saltamos da calma para a confusão e da confusão para calma com a mesma rapidez.

Magníficas - mesmo magníficas - são as sequências de combate aéreo. Por essas vale a pena pagar o bilhete… O velho Spitfire que salvou a guerra na Batalha de Inglaterra tem um perfil que encaixa como uma luva no formarto Imax. Quando Nolan sobe ao céu somos também pilotos da RAF, perscrutamos o céu à procura do camarada ou do inimigo. Conseguimos sentir-nos solitários senhores do céu azul…

Nota positiva também para a banda sonora. Transmite a tensão que por vezes faltam às imagens.

Parece-me que ficámos à beira de ver um filme extraordinário, mas não chegou lá.

Antes de comprar o bilhete vale também a pena descobrir as razões que conduziram à situação de Dunquerque e como decorreu a "Operação Dínamo", uma das evacuações mais bem-sucedidas da história militar. Nolan é parco em explicações e centra-se quase em exclusivo nas experiências dos seus personagens…

Carlos Guerreiro

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