O contratorpedeiro Lima foi o navio da marinha que fez mais salvamentos durante o período da II Guerra Mundial. |
Apesar de todos os cálculos foram necessários quatro dias para perceber qual o destino dos 51 sobreviventes. No dia 16 o “Dão” conseguiu recolher 16 homens – os restantes chegaram pelos próprios meios a São Miguel – e depressa percebeu porque eles lhe tinham escapado durante tanto tempo: o submarino italiano Alessandro Malaspina, responsável pelo afundamento do “British Fame”, tinha rebocado os botes com os sobreviventes até à proximidade da ilha.
A unidade da armada que mais náufragos recolheu no Atlântico seria o contratorpedeiro “Lima” que em duas operações distintas encontrou um total de 229 pessoas, oriundas de três navios distintos. Na noite de 8 de Julho de 1942, sob o comando de Sarmento Rodrigues, foram avistados do navio fogachos de luz à distância. Dirigindo-se ao local descobriram uma primeira baleeira com gente do “Avila Star” e continuando as buscas foram encontradas mais duas, totalizando 110 pessoas, que foram posteriormente desembarcadas em São Miguel, nos Açores.
Outros 28 náufragos do mesmo navio foram encontradas pelo aviso “Pedro Nunes” que se fez ao mar quando o “Lima” avisou que estava a ficar sem combustível para continuar a sua missão. A Aviação Naval também deu uma importante ajuda na localização desta última baleeira.
Em Janeiro do ano seguinte a operação seria ainda mais dramática. Informado do afundamento do americano “City of Flint” o comandante Sarmento Rodrigues saiu em busca de possíveis náufragos e quando encontrou a primeira baleeira foi surpreendido pelo facto desta pertencer a outro cargueiro, o também americano “Júlia Wardhowe”. Entre os náufragos dos dois navios recolheram-se um total de 119 marinheiros, mas o mais difícil foi regressar a Ponta Delgada.
Apanhados por uma tempestade o contratorpedeiro português sofreu importantes avarias, houve tripulantes feridos e esteve sempre presente o receio de um desastre com consequências ainda mais graves. Um problema nas máquinas deixou o “Lima” “durante 45 minutos, atravessado ao mar, chegando a dar 67 graus de balanço e adormecendo apesar de ter, por precaução, enchido de água os tanques de nafta”, explica o comandante num dos seus relatórios.
Apesar de elevados estragos e aflições as gentes do “Lima” puderam contar com a satisfação de ter salvo vidas, algo que não tinha acontecido cerca de um mês antes com o "Dão" quando este saiu do porto para procurar, sem resultados, sobreviventes do paquete britânico “Ceramic”.
Saído a 7 de Dezembro percorreu um mar alteroso durante três dias sofrendo avultadas avarias: O mastaréu e a verga quebraram ficando pendurados; nos paióis da ré entrou grande quantidade de água salgada, acontecendo o mesmo na casa de máquinas e em todos os pontos do navio onde existiam escotilhas ou vigias expostas ao embate das ondas; quase todas as cavilhas dos balaústres estavam quebrados e destes últimos vários apresentavam-se torcidos, alguns em ângulos de 90 graus... A lista de estragos continua.
Sobre o "Ceramic" só se souberam mais pormenores no final da guerra. Apenas uma pessoa das mais de seiscentas sobreviveu, e só porque foi aprisionada a bordo do submarino que realizou o ataque, o U-515. Das restantes não houve mais notícias…
No Atlântico merece ainda destaque a operação realizada pelo contratorpedeiro Vouga que em agosto de 1941 protagonizou um “salvamento a pedido”, recolhendo 19 tripulantes do vapor alemão “Frankfurt”, um dos navios daquele país que no começo da guerra se tinha abrigado num porto neutro, bloqueado pela forte presença aliada no mar. Neste caso o porto de escolha fora no Chile onde se encontravam também outras unidades alemãs.
Tripulação do navio alemão Frankfurt chegando a Lisboa depois de ter sido recolhida pelo contratorpedeiro Vouga. |
No dia 26 de Junho partiram do porto brasileiro na máxima velocidade, mas a 4 de Agosto a aventura terminou ao serem interceptados pelo britânico “HMS Covina”. Para evitar que o cargueiro caísse em mãos inglesas a tripulação resolveu afundá-lo, refugiando-se em três baleeiras. Duas delas foram recolhidas pelo vaso de guerra inglês, mas os 19 homens da terceira aproveitaram a noite para se afastar o mais possível, evitar a captura e tentar chegar aos Açores.
No dia 7 avistaram ao longe um vapor. Temeram que fosse britânico ou de outro país do lado aliado, mas tratava-se do “Norden” com bandeira neutral do Panamá. Acreditaram que estariam salvos só que as coisas não correram como era esperado. Os panamianos estavam dispostos a levá-los, mas temiam que este tentassem tomar o navio e propunham que seguissem para Lisboa em situação de detenção numa cabine que seria fechada e vigiada.
Para os alemães essa hipótese não se punha e resolveram regressar à baleeira. Reforçados com abastecimentos oferecidos pelos panamianos tentaram chegar às ilhas portuguesas, mas ao fim da tarde do dia 9 foram surpreendidos pelo surgimento do “Vouga”.
O comandante do “Norden” tinha comunicado via rádio a localização dos alemães e o navio português, em Ponta Delgada, saiu logo pque pode para os localizar. No dia 13 de Agosto de 1941 entravam no porto e Lisboa, onde a Legação Alemão aproveitou a sua chegada para desenvolver uma intensa campanha de propaganda.
Segundo notícias publicadas na época também o “Lima”, que escoltava o “Carvalho Araújo” onde viajava o Presidente da República Óscar Carmona em visita oficial, recebeu ordens deste último para tentar localizar a baleeira... O Vouga teve mais sorte.
Carlos Guerreiro
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