O Dornier DO 18, utilizado pela Luftwaffe. Foram construídas cerca de 170 unidades deste aparelho.
É sabido que, por exemplo, muitas das chamadas “parcelas” da cruz vermelha que eram entregues aos prisioneiros de guerra aliados passaram por Lisboa. Vinham embarcadas de Londres ou dos EUA e eram aqui entregues à Cruz Vermelha Internacional (CVI), que depois as encaminhava, de comboio, para os respectivos destinos. Estas “parcelas” eram normalmente caixas que continham comida, doces e cigarros entre outras coisas. Também a correspondência dos prisioneiros com os familiares utilizava canais que passavam por Portugal entre outros países neutros.
Não é por isso novidade o facto de Lisboa ter servido como uma enorme caixa de correio para o aliados…
A revista sobre aviação em língua alemã “Flieger Revue”, de Março deste ano, acrescenta agora mais uns detalhes à história de Lisboa e de Portugal desse período: afinal os alemães quiseram também instalar por aqui o seu “posto de correio” para ligar os seus prisioneiros e internados – muitos deslocados para o EUA - ao país natal.
Segundo o artigo, assinado por Hans-Heiri Stapfer, já existiam indícios de que a CVI, com sede em Genebra, explorara essa possibilidade. Novidade é o facto de a recente consulta de documentação nos arquivos Suíços revelar uma história um pouco diferente.
Afinal foram os alemães que fizeram a aproximação à CVI e não o contrário. E foi uma aproximação muito concreta, já que as autoridades germânicas se colocaram à disposição, para ceder de forma gratuita, dois hidroaviões DO 18 para garantir a travessia do Atlântico.
O contacto foi feito na Primavera de 1943 e tinha como objectivo fazer chegar aos EUA correspondência e víveres a cerca de 250 mil soldados alemães prisioneiros e também a vários milhares de civis internados.
Nos finais de 1942 os alemães tinham sofrido as primeiras derrotas às mãos das potências ocidentais. Primeiro o General Montegomery tinha sustido e repelido os Africa Corps do general Rommel, em El Alemein. Pouco depois, em Novembro, britânicos e americanos desembarcaram nas costas da Argélia e de Marrocos.
Prisioneiros de Guerra alemães em 1944
(Foto NARA)
Os aliados já tinham decidido que os prisioneiros teriam de ser levados para um local onde fosse fácil mantê-los e tivessem poucas condições para causar problemas. Razões que levaram à decisão de os transportar para os EUA. Segundo o artigo da “Flieger Revue” existiram durante a guerra naquele país 155 campos principais e 511 campos satélite para prisioneiros, distribuídos por 44 estados americanos.
Sem condições para fazer chegar correspondência e outros materiais a estes homens pelos seus próprios meios – os aliados nunca aceitariam negociar directamente com os alemães – o regime nazi procurou outra solução. Foi nesse sentido que a Luftwaffe colocou a disposição da CVI os dois hidroaviões DO18.
Tratavam-se dos aparelhos com os números de série (Werknummer) 866 e 869. Seriam pintados com as cores da CVI e ficariam baseados no Tejo, em Lisboa. Prevista estava uma escala nos Açores para reabastecimento, como faziam aliás os Clippers que ligavam Lisboa a Nova Iorque.
Hans Stapfer revela, no entanto, alguns aspectos curiosos. Mesmo com a escala a meio do Atlântico seria difícil completar a viagem, caso surgisse o mais pequeno contratempo, pois o combustível que transportava chegava mesmo à justa para ligar as duas costas. Bastaria um vento contra um pouco mais forte para colocar em risco os três tripulantes que guarneciam a aeronave.
A colocação de um tanque suplementar iria reduzir drasticamente a capacidade de transporte do aparelho. Além da dimensão dos depósitos, que seriam montados no interior da fuselagem, tinha também de se contar com o peso desse combustível extra. Calcula-se que cerca de 50 mil cartas teriam de ser retiradas para poder acomodar estes extras.
Eram muitas dificuldades que nunca chegaram, no entanto, a ser equacionadas. Por razões que o autor do artigo desconhece o processo para a cedência das aeronaves nunca avançou e o mesmo aconteceu com a possibilidade de criar uma base de correio em Lisboa.
Os Dornier DO18 foram reintegrados na Luftwaffe e não se sabe qual o seu destino no final da Guerra.
Certo é que em Maio de 1945, quando foi assinado o armistício existiam no EUA cerca de meio milhão de alemães prisioneiros de guerra…
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