A “história ilustrada duma típica família nos Estados Unidos” apresenta os “Maurício” como residentes em New Bedford, onde o patriarca - Manuel - é “pintor de paredes” e ganha cerca de 100 dólares por mês, o suficiente para sustentar de forma cómoda a mulher e a filha de 14 anos.
Estes portugueses “vivem confortavelmente no bairro operário de Presidential Heights”, numa casa, de arquitectura colonial, com “quatro quartos”. O artigo esclarece, no entanto, que nem sempre assim foi. Antes de se mudarem para este bairro “construído pelo Governo Federal”, residiam num “velho prédio”, onde a mulher - que “sofria de artritismo”- tinha, por vezes, de ser levada escadas acima pelo marido.
Sete fotografias da família mostram os Maurício envolvidos em actividades quotidianas como a refeição, o serão, as compras ou o trabalho. O artigo estabelece também uma ligação sentimental entre a família e Portugal. Tudo parece inocente, mas para as autoridades portuguesas é propaganda pura.
O “Mundo Gráfico”, que tem como director Artur Portela, é classificado pelo Secretariado da Propaganda Nacional (SNI) como uma das revistas que representa os “chamados partidos estrangeiros”.
Para além de algumas páginas dedicadas a temas nacionais, a revista surge amplamente ilustrada com fotos que realçam os feitos aliados na guerra ou o modo de vida naqueles países. Na capa surge normalmente uma mulher – jovem – enquanto a contracapa é preenchida com uma foto de guerra.
A publicação quinzenal é financiada pelos aliados e – com “A Esfera” de influência alemã – é apontado pelos relatórios do SNI como exemplo de “sementeira de confusão política”.
A capa (em cima) e a contra-capa (em baixo) da edição do "Mundo Gráfico" de 15 de Outubro de 1943.
(Colecção do autor)
Aspecto das páginas interiores da reportagem sobre a família Maurício.
(Colecção do autor)
Num país com um regime centralizado e autoritário, esta é uma classificação que se compreende, basta termos em conta as legendas de algumas fotos ou passagens: “O lar em que vivemos é digno do nosso trabalho – diz o operário - todos os trabalhadores deste bairro, como dos outros, reúnem-se frequentemente, para discutir os seus problemas e resolvê-los a contento de todos”.
Carlos Guerreiro
Sem comentários:
Enviar um comentário