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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

11 caças americanos no Aeroporto de Lisboa

No dia 15 de Janeiro de 1943 aterraram no Aeroporto de Lisboa onze caças americanos Aircobra. Um outro fez o mesmo em Aveiro, numa pequena pista localizada na base naval de S. Jacinto (ver a lista de aviões e mais informação AQUI).

Foi o dia em que mais aparelhos aterraram no nosso país. Parte importante deles viria a integrar mais tarde a esquadrilha OK da Aeronáutica Militar.

Já depois do lançamento do livro consegui localizar um dos pilotos que integrou esse grupo de americanos. Em 2009 consegui trocar alguns e-mail com Jack Gompf, através de um dos seus filhos.

Entre as coisas que me enviou estava parte de um projecto de livro sobre as suas aventuras durante a 2ª Guerra Mundial, que nunca foi publicado.

No dia em que passam exactamente 70 anos sobre esse acontecimento aventurei-me a traduzir parte desse relato onde Gompf conta a partida de Inglaterra e aterragem em Lisboa. A tradução não é completamente fiel ao texto original, mas tem umas adaptações para facilitar a leitura em português.

Apenas uma nota de carácter histórico para entender a parte final deste texto. Com ele vinham vários pilotos americanos que já tinham voado com as cores inglesas.

Desde o princípio da guerra que centenas de americanos se juntaram, como voluntários, aos ingleses, passando a fronteira do Canada onde receberam treino em pilotagem e outras artes aéreas… Integravam os “Eagle Squadrons”.

Elvas 1943. (da esq. para a dir.) Jack Gompf, Nuno Silva, Ralph Sebring e Pina Madeira. Jack e Ralph eram pilotos de Aircobras que aterraram a 15 de Janeiro de 1943 no Aeroporto de Lisboa. Os portugueses são estudantes com quem fizeram amizade.


Fica o relato de Jack Gompf:

“A esquadrilha de P-39 Aircrobras formou atrás de um bombardeiro leve, B-25, que assumiu a liderança da navegação, e rumou para um local a norte de Casablanca, no Norte de África.

Segui nessa esquadrilha como um elemento extra. Tinha adiado a partida com a minha unidade devido a um problema mecânico, mas como todo os voos de Lands End, no sul do Reino Unido, tinham - neste dia - todos o mesmo destino, depressa nos juntaríamos de novo.

Há muitas semanas que nos preparávamos para este longo salto sobre as águas, testando várias possibilidades para conseguirmos poupar o máximo de combustível, pois a viagem deixava pouca margem para erro, se quiséssemos juntar-nos às nossas forças envolvidas na campanha do Norte de África.

Os volumosos tanques de gasolina auxiliares, de 150 galões, montados sob as barrigas dos aviões transbordavam, e os nossos tanques normais tinham sido cheios até acima no topo da pista pouco antes de levantarmos voo, enquanto cada espaço disponível no nosso pequeno caça estava atulhado com todos os bens pessoais que conseguíamos transportar.

O céu carregado não causava grandes preocupações, pois já nos tínhamos acostumado aos dias tristes do inverno inglês, e a possibilidade de mudarmos para um clima mais solarengo animava-nos.

Com o passar do tempo, e com o meu motor a funcionar suavemente, consegui algum conforto afrouxando o cinto de segurança de modo a ir mudando a posição do corpo no meu cockpit atulhado.

Reparei que o céu estava a ficar mais escuro e outras nuvens, mais baixas, se juntavam ao longo do nosso percurso, até que pouco depois ficámos com visibilidade quase nula.

Voávamos entre duas camadas de nuvens que se estendiam a perder de vista parecendo unir-se no horizonte.

Por vezes surgia uma pequena abertura na camada inferior e finalmente o nosso B-25 começou a descer através de uma delas.

Fechámos a nossa formação e seguimos o bombardeiro para descobrir que a base das nuvens mais baixas estava apenas algumas centenas de pés acima do mar, e que ao longo do percurso se encontravam escuras cortinas de chuva que reduziam bastante a visibilidade.

Devido a estas condições seguíamos, o mais possível, perto do bombardeiro e uma hora depois, a voar numa formação tão cerrada, começámos a sentir fadiga que pouco conseguíamos aliviar, fechados num espaço tão pequeno e atulhado.

Eventualmente o céu começou a clarear um pouco e tivemos alguns assomos de sol. Mantinha a esperança de que o bombardeiro tinha mantido a rota apesar da adversidade das condições.

Não fazia ideia de onde nos encontrávamos, mas pelo tempo que havia decorrido calculava que já completáramos a maior parte da viagem, e que os nossos tanques extra na barriga deveriam estar quase vazios.

Percebi, de repente, que estávamos a mudar de rota e pouco depois um dos P-39’s afastou-se da formação para largar o tanque extra. Conforme passavam os minutos outros caças fizeram o mesmo.

Não demorou muito para que também o meu indicador de gasolina avisasse que tinha de passar para a alimentação do motor para o tanque principal e, tal como os outros, afastei-me para libertar o tanque sob a barriga que tombou no água por baixo de nós.

A eliminação deste peso extra melhorou muito a capacidade voo do meu aparedlho, e abanei as asas com a satisfação.

O tempo começou a melhorar de forma considerável, e não foi preciso muito para vermos uma linha de costa e, ocasionalmente, alguns lugarejos.

Seguimos a costa do que eu pensava ser o Norte de África, e comecei a ficar ansioso por voltar a tocar o chão e a relaxar.

Tínhamos feito um excelente tempo; não me interessava se era por termos tido uma boa navegação ou ventos favoráveis de cauda.

Apareceu uma cidade grande junto à foz de um grande rio e a esquadrilha virou para o que parecia um aeroporto bastante moderno.

Consegui ouvir muita conversa no rádio como: “Onde raio nos encontramos?” ou “Isto é África?” e ainda “O bombardeiro diz para aterrarmos”.

Estava confuso com o que tinha ouvido, mas depressa esqueci os comentários enquanto alinhámos a esquadrilha para a aterragem.

Como era um piloto extra fui o último a aterrar e estacionei o meu avião ao lado dos outros que já lá se encontravam.

Tínhamos chegado! Jipes cheios de soldados andavam à nossa volta e um oficial armado subiu-me para a asa e cumprimentou-me. Num inglês hesitante disse-me que estava em Portugal e que deveria sair sem levar qualquer do meu equipamento.

O B-25 de navegação, circulou sobre o aeroporto até nos ver aterrar; Sabia que as nossas reservas de combustível não permitiriam completar a viagem, abanou as asas em despedida e rumou para o que teria sido o nosso destino inicial.

Assim chegámos a Lisboa, em 15 de Janeiro de 1943.

Enquanto esperava por desenvolvimentos no aeroporto de Lisboa, tive a possibilidade de conhecer alguns dos pilotos que tinha acompanhado nas últimas horas. Eram dez americanos que tinham tido o seu treino de voo no Canadá com a Real Força Aérea Canadiana (RCAF), antes de serem enviados para Inglaterra. Recentemente tinham sido transferidos para a Corpo de Aeronáutica dos Estados Unidos.

Alguns tinham experiência de combate e estavam a ser enviados para o Norte de África para levar aviões e, simultaneamente, servirem de pilotos substitutos.

Tinha conhecido um deles na noite antes da nossa partida de Lands End. Tinha voado missões operacionais com uma unidade da RAF baseada na ilha estratégica de Malta.

Finalmente chegaram representantes da Legação Americana e com as autoridades portuguesas decidiram o nosso destino. Iriamos ser internados. Foi-nos fornecida uma escolta pela polícia secreta que nos conduziu a uma estação, onde apanhámos um comboio ao cair da noite.

Chegámos na manhã seguinte á histórica cidade de Elvas junto à fronteira com Espanha.”

Bons voos
Carlos Guerreiro 

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