Desenho a ilustrar artigo sobre pára-quedistas alemães na revista "A Esfera" de 6 de Julho de 1940. |
Chegou a Sendim de madrugada e seguiu depois para Urros onde encontrou uma grande concentração de praças da GF e da GNR a prepararem-se para uma batida. Às quatro da manhã ouviu toda a história da boca do próprio Alípio e o edil só não percebia porque demorara tantas horas a dar o alarme. O homem reconheceu que não dera grande importância ao avistamento e até adormecera ao chegar a casa. Só acordou quando a mulher chegou a casa, perto da noite. Esta contara a vizinhos que tinham corrido a alertar as autoridades.
Na madrugada e 5 de Setembro de 1942 dezenas de homens da GF, GNR e da Legião Portuguesa avançaram por montes e vales à caça de três pára-quedistas que no dia anterior teriam aterrado no território.
No relatório de que enviou para o Ministério do Interior, em 8 de Setembro, o presidente da Câmara mostrava-se convencido de que "o relato do homem era feito em termos simples e revestidos de sinceridade". Impressionaram-no também "os pormenores (...) dados por quem nunca vira, nem possivelmente ouvira falar em pára-quedistas".
O Ministro do Interior, Mário Pais de Sousa, já recebera notícias do Governador civil de Bragança na manhã do dia 5.
Uma nova arma muita propagandeada
A utilização de tropas pára-quedistas foi uma das inovações da II Guerra Mundial. Os alemães foram dos primeiros a empregá-las em grande escala na invasão da Bélgica, em 1940 e, no ano seguinte, na ocupação de Creta onde - apesar de grandes baixas, tiveram papel fundamental nas operações. A campanha de propaganda que rodeou a utilização destas tropas da Luftwaffe ajudou a que o medo se disseminasse rapidamente. A Inglaterra, por exemplo, tomou medidas excepcionais em 1940 para evitar a invasão através deste tipo de tropas. Os britânicos confiavam na sua marinha para deter uma invasão vinda do mar, mas tropas caídas do céu eram outra conversa.
Propaganda aos pára-quedistas britânicos na revista "Mundo Gráfico" de 14 de Março de 1942. |
As operações militares lideradas por estes homens mereceu destaque de jornais e rádios, também em Portugal, não sendo por isso de estranhar que houvesse uma ideia do que era um pára-quedista, mesmo em alguém que nunca tivesse visto algum.
Apanhados?
Nos primeiros dias as batidas não deram quaisquer resultados, apesar de terem chegado reforços da GNR, GF e Legião Portuguesa de todos os pontos do concelho e também do distrito. Devido às importância dada ao assunto a gestão da crise passou para as mãos de Morais Campilho, Governador Civil de Bragança, que, a partir do dia 8, envia quase diariamente, via telegrama, relatórios para Lisboa.
As buscas parecem confirmar as suspeitas assinalando-se a captura de um cidadão holandês e a perseguição a um outro estrangeiro. O prisioneiro garante, no entanto, que não caíra do céu, antes escapara de um campo de concentração em França, atravessara a Espanha e conseguira chegar ali pelos próprios meios. As autoridades portuguesas persistem nas batidas, monte acima e monte abaixo.
Balões de Barragem em Inglaterra durante a II Guerra Mundial |
Em Urros, A 11 de Setembro a GF prendia mais um individuo "de naturalidade estrangeira". Tratava-se de um norueguês com 20 anos, que seria conduzido ao Mogadouro, para ser entregue à PVDE.
Aeronautas ou aeróstatos
Passa mais um dia e chega ao Ministério do Interior, o relatório do chefe da PSP de Bragança, Antero Augusto Antunes, que tinha mandado uma patrulha a Paradinha Nova, localidade que teria sido sobrevoada pelo último pára-quedista avistado. Ninguém viu o homem, mas foi assinalada a passagem de um "balão cativo" que horas depois seria recolhido próximo de Macedo de Cavaleiros.
"Ao receber as primeiras informações fiquei de facto convencido tratar-se de pára-quedistas, mas depois de estudadas e investigadas todas as causas e estas concretizadas pelo aparecimento de balão acima referido, e de um outro aparecido em Mirandela que se encontra no comando da GNR, sou da opinião, salvando o esclarecido critério de Vossa Excelência que não deve haver pára-quedistas no presente caso, tratando-se apenas de balões cativos deslocados dos seus lugares. No entanto devo Informar Vossa Excelência que todos nós estamos vigilantes e informarei Vossa Excelência do que houver", explica - numa escrita cuidadosa - o chefe de polícia no documento enviado ao ministro.
Tratavam-se certamente de balões de barragem, utilizados na defesa aérea, e que por mais de uma vez chegaram a Portugal. Devido a tempestades, bombardeamentos ou dezenas de outras razões estes podiam soltar-se e voar longas distâncias.
Houve vários notícias sobre a presença de balões de barragem em Portugal. Esta notícia do Diário de Notícias de 8 de Fevereiro de 1941 |
O Governador civil cede às evidências a 15 de Setembro depois de se encontrarem balões em Mirandela, Macedo e Vinhais: "cheguei à conclusão que os povos foram sugestionados com o frequente aparecimento de balões de borracha, a quem atribuíram a classificação de pára-quedistas".
Pede desculpas pela forma precipitada e alarmista como informou Lisboa do caso, mas, ao mesmo tempo, olha para toda confusão gerada com optimismo: " A verdade seja dita; este alarme deu para os povos e autoridades óptimo resultado, pois uns e outros não se pouparam a sacrifícios, andando por montes e vales à procura do inimigo."
Carlos Guerreiro
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