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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Em 1944 Salazar acreditava que a guerra seria ainda muito longa

“Ele não acredita que a intenção dos aliados de criar segunda frente obtenha resultados decisivos. Pensa que as forças em confronto se vão equivaler e que a guerra se vai prolongar por muito tempo”.

O ele refere-se a Salazar e mostra claramente que por toda a Europa se esperava a criação de uma segunda frente, que viria de facto a acontecer em 6 de Junho daquele ano.

O barão Oswald von Hoyningen-Huene,
Ministro Plenipotenciário da Legação
da Alemanha em Lisboa.
(Foto: Revista Esfera)
Esta nota é parte de uma conversa entre o presidente do Conselho e o barão Oswald von Hoyningen-Huene, Ministro Plenipotenciário da Legação da Alemanha em Lisboa, que teve lugar na segunda semana de Fevereiro de 1944 e foi enviada através de uma mensagem – possivelmente cifrada - para Berlim pelos serviços de informação das SS, o “Sicherheitsdienst”, a operar na capital portuguesa.

Esta troca de argumentos, que certamente teve um cariz reservado, foi, no entanto, reproduzida por terceiros, nomeadamente pelos serviços secretos britânicos que consideraram “sombria” esta opinião sobre o futuro da guerra de Oliveira Salazar.

O documento tem apenas uma página e aparenta ser o resumo de uma comunicação mais extensa elaborado em Bletchley Park, onde eram interceptadas e descodificadas muitas mensagens secretas trocadas pelos diversos serviços e força germânicas. Está classificado como “Most Secret” (Muito Secreto) e é recomendado que seja utilizado com “Special Care” (Especial Cuidado).

No relatório, datado 18 de Fevereiro de 1944 e intitulado "Observações de Salazar para o Ministro Alemão", os serviços secretos britânicos mostram grande interesse pelas impressões do governante português tanto no que respeita à guerra como também noutros temas, nomeadamente, o comércio e as pressões aliadas sobre Espanha.

Assim durante a conversa Salazar terá assegurado que os britânicos não sujeitavam, naquele momento, Portugal a qualquer pressão especial e que pretendia continuar a negociar com os alemães, estando a ser constituídas novas comissões com esse objectivo.

De resto assegurava que não havia quaisquer intenções de suspender o comércio entre os dois países. Sobre a Espanha o ditador português acreditava que, apesar da resistência Espanhola às pressões aliadas, Franco não iria ter capacidade para resistir muito mais tempo e seria obrigado a dar concessões aos aliados.

Não são claras as razões para a pressão aliada, mas estas poderão estar relacionadas com apoios dados pelos espanhóis aos alemães e até a retirada dos últimos voluntários da frente da russa que foi ordenada em Março de 1944.

Um relatório resumido, mas com informação relevante não só sobre as intenções do governante português como também sobre as preocupações alemãs numa altura crítica do conflito.

Carlos Guerreiro

2 comentários:

  1. Duvidoso que Salazar fosse dizer ao embaixador alemão o que ele realmente pensava sobre a acção dos aliados e até sobre Espanha.

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  2. Descaradamente, Salazar estava a "esconder" a duplicidade da sua conduta perante a Alemanha, visto que, nesta data, já havia cedido bases aéreas, nos Açores, aos Britânicos. Quando desvia a atenção para a Espanha, está a tentar desviar a atenção de Berlim para a actuação de Lisboa.
    Os factos vieram a confirmar esta minha dedução. A cautela britânica resulta do facto de não acreditarem em Salazar e na sua "sinceridade".

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