O contratorpedeiro "Dão". (Ilustração, 16 de Setembro 1936 - Hemeroteca Digital) |
O aprontamento do contratorpedeiro tinha sido feito rapidamente e pelas 14.30 horas este abandonava o porto deslocando-se na máxima velocidade até ao local onde estariam náufragos à espera do socorro. Foram colocados vigias na ponte com binóculos, mas apesar do empenho a noite chegou sem que se localizassem destroços ou sobreviventes.
Acreditando que as baleeiras tivessem rumado à ilha de Santa Maria foi traçada uma rota nocturna percorrida a baixa velocidade e com luzes ligadas na esperança de detectar ou ser detectado por gente a precisar de assistência.
Sem qualquer novidade raiou a manhã, altura em localizaram a mancha de óleo e os restos do navio. Utilizando-o como ponto de partida foi estabelecido um perímetro de busca que levou os portugueses a percorrer 20 milhas na direcção Norte/ Sul e dez na direcção Este/Oeste. Com a certeza de que nenhum náufrago estaria já naquela área o contratorpedeiro iniciou nova exploração para Oeste, em ziguezagues que chegaram a cobrir cerca de 20 milhas de cada vez, mas mais uma vez não encontraram sinais de gente.
Arnaldo da Silva Moreira começou a acreditar que os náufragos teriam sido recolhidos por um qualquer navio que não comunicara esse facto para se proteger do ataque dos submarinos. Na tentativa de confirmar a suspeita ordenou a emissão, via rádio e de meia em meia hora, de uma mensagem pedindo para lhe ser comunicada a recolha de náufragos enquanto continuava a ziguezaguear em direcção a Ponta Delgada.
Pediu-se ainda a colaboração nas buscas ao paquete Carvalho Araújo, que se dirigia mais para sul, e ao Clipper da Panamerican que cruzava os céus açorianos entre os EUA e Lisboa e vice-versa.
Como entretanto de Lisboa chegara a informação de que os náufragos estariam a meio caminho de São Miguel, o DÃO voltou para trás e recomeçou a buscas 40 milhas a oeste do campo de destroços. Foi mais uma noite a baixa velocidade com o raiar do sol a não trazer novidades. Pelas 12.30 do dia 14 assinalava-se a entrada em Ponta Delgada: “Desgostoso pelo insucesso da comissão, que tão mal recompensara a canseira, boa vontade e preocupação de todos, continuava convencido no entanto que os náufragos já haviam sido recolhidos”, esclarece Silva Moreira no relatório elaborado posteriormente.
O fim da tarde do dia seguinte veio desmentir o capitão-de-fragata quando uma baleeira deu entrada em Vila Franca com os náufragos a assegurar que se tinham separado de outras duas embarcações na noite anterior. Chegaram também notícias, trazidas pelo capitão de Porto, de que se avistavam ao longe na Ponta do Arnel duas embarcações não se assemelhavam às utilizadas pelos pescadores locais.
De madrugada o DÃO voltou a sair, mas agora com o apoio de uma vedeta a gasolina para assegurar as buscas mais perto de terra. Pouco depois das duas da manhã recomeçaram as buscas e às 9.30 horas da manhã o contratorpedeiro avistou a vedeta que trazia já a reboque uma segunda das baleeira com náufragos, recolhida junto a terra. Entre esta embarcação e a que varara em Vila Franca no dia anterior contavam-se 29 homens, mas havia mais.
Depois de acolhidos a bordo um dos oficiais salvos relatou que na véspera perdera de vista o terceiro salva-vidas, e que este deveria estar para Oeste do local onde se encontravam. Seguindo nesse sentido foram detectados os 16 homens que faltavam. O último esquife era comandado pelo imediato que não conseguira ainda encontrar um local para se fazer a terra.
Todos os náufragos receberam de imediato uma refeição oferecida pela cozinha do navio, mas os marinheiros portugueses não se fizeram rogados na sua generosidade. Assistiu-se à oferta de roupa limpa, mais comida, e houve até dois praças que se ofereceram para desfazer as barbas de dias que muitos ostentavam.
Silva Moreira mostrou-se ainda surpreendido com reacção dos resgatados: “O seu moral era elevadíssimo. Se bem que aparentemente fatigados e necessitados de repouso, não se lhes ouviu um lamento ou queixume, não fizeram um pedido, não maldisseram de ninguém, nem do próprio submarino que os havia feito passar por aquele transe, cujo comandante, aliás, classificaram de gentlemen, pelo modo como os tratou”.
O “BRITISH FAME” fora afundado pelo submarino italiano Alessandro Malaspina, mas dera luta. A artilharia transportada pelos ingleses respondera ao ataque e a certa altura tinham obrigado o italiano a mergulhar, mas três horas depois do início do combate, após ser atingido pelo impacto de vários torpedos e disparos de peça, o navio tanque rendeu-se. Três dos seus homens tinham morrido.
O comandante do Malaspina, Mario Leoni, fez prisioneiro o capitão do navio e, num acto de humanidade, rebocou as baleeiras durante cerca de 40 milhas na direcção nordeste com o objectivo de as aproximar de terra, razão porque todas as buscas efectuados tinham dado tão fraco resultado…
Carlos Guerreiro
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