O folheto tem cerca de trinta páginas dedicadas ao que chama
o “exército civil da Grã-Bretanha”. Uma força que inclui os milhares de
operários e trabalhadores que contribuem para o esforço de guerra.
O folheto é quase de certeza de 1941, numa altura em que a batalha de
Inglaterra já tem um vencedor claro, e o objectivo é mostrar o poder industrial
e capacidade de trabalho britânico.
O complexo industrial alemão tinha sido arrasado depois da I
Guerra Mundial e, especialmente, após a crise de 1929. Com a subida de Hitler
ao poder a produção industrial disparou, o que foi usado como propaganda mesmo
antes do conflito.
O partido Nazi investiu também no turismo do operariado
através de organizações próprias. A Portugal, antes da guerra, chegaram
diversos navios com estes novos turistas que vinham desfrutar das paisagens de
Sintra ou da vida lisboeta.
Este panfleto – onde claramente foi feito um grande
investimento – parece ser uma resposta britânica à imagem que o Nacional-Socialismo
foi passando ao longo dos anos.
O folheto faz referência a Ernest Bevin - nomeado por
Churchill para reestruturar a indústria britânica em tempo de guerra – e
compara o trabalho realizado por ele com o que diz acontecer na Alemanha: “Viu-se por acaso Bevin constrangido a
ameaçar, forçar ou empunhar uma pistola? Não. O povo britânico deu-lhe logo sem
hesitação o seu melhor esforço, com um entusiasmo que seria impossível de obter
em qualquer país escravizado à maneira nazi.”
A “Indústria da liberdade” destaca também o contributo da
Comonwealth para o esforço de guerra: “o entusiasmo não se limita, porém, às
ilhas britânicas. Manifesta-se através de todo o esforço bélico das nações dos
povos que constituem a Comunidade Britânica.”
“Ao terminar o ano de 1940 já as encomendas de guerra,
feitas ao Canadá, se cifravam em 50 milhões de contos. As suas fábricas
produzem canhões, «tanks», carros, navios e aviões.”
“Construiu a Austrália milhares de carros para o exército e
está enviar aeroplanos não só para a Índia, mas também para outras frentes,
cujo apetrechamento se faz em condições mais fáceis, vindo das regiões do
Pacífico.”
“Também a África do Sul está a produzir em vasta escala toda a
classe de munições.”
Para mostrar a superioridade dos “recursos do Império” fica também uma lista das principais matérias-primas que estão disponíveis para o esforço de guerra e o olhar calmo e confiante dos operários britânicos.
Um olhar para um poderio económico que viria a ser reforçado com a entrada - em pleno - do aliado americano - e o seu "Arsenal da Democracia" - em finais de 1941...
Carlos Guerreiro
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