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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Volfrâmio de Aquilino Ribeiro

Não é muita a literatura que tem como tema as minas e a exploração volframista durante o período da II Guerra Mundial.

Existem, no entanto, algumas obras de ficção ou de carácter histórico que merecem destaque. No “Aterrem em Portugal” apresento um conjunto de livros e trabalhos académicos que podem ser adquiridos ou descarregados on-line de forma gratuita.

Durante esta semana poderá encontrar aqui uma sugestão de leitura por dia…

Se outros livros ou trabalhos existirem, que julguem merecer destaque, agradeço antecipadamente o contacto e as informações.






 O romance "Volfrâmio", 
de Aquilino Ribeiro, 
pode ser descarregado 
gratuitamente clicando  
AQUI. 










Para hoje deixo uma obra que pode ser "descarregada" on-line. Trata-se de “Volfrâmio” de Aquilino Ribeiro, editado pela primeira vez em 1944. Fica também uma passagem com a descrição de uma mina de volfrâmio em pleno funcionamento, através dos olhos de Aires, uma das personagens do romance…




 "Foi neste estado de espírito, quase cobardia, que, baixando da serra, entrou no braço de estrada que conduzia à exploração. 

Por ele fora marchavam isolados e em bandos, com a bolsinha pendurada do pau ou do pulso, homens mais andrajosos que ele no fito de retomar o trabalho, se não ajustar-se. 

De caminhos afluentes desembocavam mulheres com cestos à cabeça ou o seu molho de tangos, uma almotolia, encomendas das lojas, e entrevia-se nelas estas criaturas plurais que forjicam o bazulaque às maltas, as lavam e remendam, e ainda a tasqueira que abriu à margem da mina a baiuca de vinho, cigarros, petiscos e o resto.

 Andando, andando, chegou a um dédalo de caminhos, por um dos quais rolavam vagonetas, por outros ia e vinha o pessoal particular dos engenheiros e agentes técnicos, com as vivendas muito senhoris e claras à retaguarda de pequenas platibandas enfeitadas de pelargónios e eloendros. 

E, passos adiante, ao salvar a corcova do terreno, descobriu-se o formigueiro humano a seus olhos admirados, repartido em turmas consoante a natureza das tarefas, desprendendo uma barulheira a que era como abóbada o zunzum infernal dos volantes que se não viam. 

Até bem longe, quinhentos a mil metros, se via gente, mulheres que lavavam a terra mineralizada ao ar livre e debaixo de telheiros, braços arremangados, pés descalços, saia colhida entre os joelhos para a água não esperrinchar pelas pernas acima. 

Rapazotes, com boinas de homem, sem cor à força de usadas, a carne tenra a espreitar das camisas cheias de surro e em frangalhos, vinham baldear no monte o carrinho atestado de calhaus em que coruscavam com o sol as pirites e palhetas de volframina. 

Mais ao largo, grande caterva de homens abria uma trincheira, e outra, para o morro, levava um banco de pedra e saibro à ponta-de ferro e picareta. Aqui e além trabalhadores brocavam a rocha, enquanto a outros incumbia carregar os tiros de pólvora bombardeira. 

Crispados às varas dos sarilhos, muitos extraíam o resulho dos poços ou enxugavam-lhes a água para o trabalho prosseguir eficazmente. 

Era subterrânea, por vezes a dezenas de metros de profundidade, que se exercia a actividade capital da mina, com revólveres de ar comprimido a demolir o quartzo, piquetes de entivadores especializados a escorar as galerias, bombas eléctricas e manuais a sorver a água dos regueirões, escombreiros, mineiros de guilho e marreta, homens e mais homens à carga e à descarga - pessoal complexo, testo e sabido na manobra. 

À superfície era como um arraial. Por cima dos gritos, comandos, falas desencontradas, do retinir das ferramentas e estreloiçar das vagonas e raposas, o dínamo pulsava e a sua pancada mate, e ensurdecedora criava este tónus especial, sernibárbaro e feroz, da indústria moderna, homem e máquina conjugados. 

O Aires conhecia a Sobriga, não como assalariado, mas das rapiocas e visitas que ali fizera com outros curiosos. 

Não obstante, ao passar à beira da lavaria, em que estava integrado o transportador, com uma caradura brutesca em suas paredes a pique, altas e cegas, não deixou de estremecer de assombramento à ideia da obra de magia que ali se consumava: o calhau intonso convertido em farinha mineral, doce ao tacto e maravilhosa de propriedades.

 (…) 

Girava tudo, ou afigurou-se-lhe, a ritmo acelerado: homens e máquinas. As vagonas descarregavam o recheio da ribanceira para baixo, e logo esse montão de cascalho passava através da passadeira rolante para as mandíbulas de aço dos trituradores."

Boas leituras
Carlos Guerreiro

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