O livro "Estoril" de Dejan Tiago-Stankovic, um romance passado em Portugal durante o período da II Guerra Mundial foi galardoado pela Academia Sérvia. Segundo autor, sérvio nacionalizado português e a viver em Lisboa, trata-se de um "romance de guerra à portuguesa", que foi publicado em 2015 na Sérvio e procura neste momento uma editora portuguesa.
A mais importante personagem deste romance é Dusko Popov, um sérvio, agente duplo – que trabalhou para alemães e britânicos - e que teve papel fundamental na rede montada para desviar as atenções dos nazis da Normandia no Dia D. Para muitos a personagem de 007, criada por Ian Fleming após guerra, inspira-se directamente neste personagem mulherengo, jogador e que por várias vezes passou por Lisboa.
A história inclui também outros nomes sonantes que passaram por Estoril durante a guerra, nomeadamente, Jean Renoir, os Rothschild, Habsburgos, Eduardo VIII, Saint-Exupéry, o deposto reiCarol II da Roménia, Salvador Dali, Marc Chagall, Zsa Zsa Gábor, o campeão mundial de xadrez russo Alexander Alekhine entre outros.
O "Aterrem em Portugal" já em Outubro tinha conversado com Dejan sobre alguns artigos que tinha publicado no Brasil relacionado com a espionagem em Portugal durante a II Guerra . De resto neste romance existem algumas passagens que tiveram - entre outros - como fonte ou inspiração artigos publicados neste blogue...
Quem é Tiago-Stankovic
Tradutor de autores portugueses para sérvio (José Saramago, Fernando Pessoa, José Cardoso Pires), e de escritores sérvios para português -- designadamente o prémio Nobel Ivo Andric ("A Ponte sobre o Drina", "O Pátio Maldito"), juntamente com Lúcia Stankovic --, foi através de um artigo sobre o Hotel Palácio Estoril, publicado há cerca de dez anos, que lhe surgiu a ideia deste romance.
Dejan, que atualmente vive entre Lisboa em Belgrado, iniciou então um trabalho de pesquisa, que confirmou a história. "Uns anos depois já sabia que tinha nas mãos um romance. Só faltava escrevê-lo".
O escritor e tradutor, com dupla nacionalidade sérvia e portuguesa, descreve assim um retrato muito particular de uma época de grande turbulência na Europa (1940-46), centrado num hotel "que inclui refugiados, serviços secretos de vários países beligerantes, a PVDE [que antecedeu a PIDE, de 1933 a 1945], personagens históricas, o povo português, personificado no pessoal do hotel, mas não tem uma única bala disparada", como assinala. "É um romance de guerra à portuguesa".
Natural de Belgrado, onde terminou o curso de arquitetura em 1991, hoje com 50 anos, Dejan Tiago-Stankovic abandonou o seu país, no início dos conflitos que destruíram a Jugoslávia, para se fixar, primeiro, em Londres e, depois, em Portugal, a partir de 1995. Casou-se com a portuguesa Lúcia Stankovic, viveu no norte do país, tiveram dois filhos, posteriormente fixou-se em Lisboa.
O apelido Tiago, explicou, foi por si adotado por também ser o dos seus filhos, e para "não se confundir" com a antiga "estrela" do futebol jugoslavo, Dejan Stankovic.
Agora, mais de duas décadas depois da chegada a Portugal, cerca de dez anos após a primeira ideia do romance, surgiu a recompensa. A Academia Sérvia de Ciências e Artes (SANU, fundada em 1841) decidiu atribuir ao romance "Estoril" o prémio Branko Copic, que será entregue a 16 de junho, na sede da instituição, em Belgrado.
Entre os membros do júri incluía-se o dramaturgo e argumentista Dusan Kovacevic, que, em 2005, foi designado embaixador da Sérvia em Lisboa.
"O romance já teve quatro edições em sérvio, desde novembro de 2015, e está a ser traduzido para inglês", revela o também autor de "De onde eu era já não sou e outros contos de Lisboa", publicado em 2012.
"Estoril" já possui uma versão em português, mas ainda não foi anunciada uma editora, precisa.
Carlos Guerreiro/ Lusa
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