Os pescadores viram a sua vida complicar-se ainda mais com a guerra.
(Foto "Mundo Gráfico", Setembro de 1941)
O ataque aconteceu por volta das 21.20 horas do dia 18 de Abril de 1942, a 18 milhas de Vila Nova de Milfontes, quando o "Fafe" se dirigia para os bancos de pesca em Marrocos. A notícia do ataque só seria comunicado no regresso – a 9 de Maio – altura em que os tripulantes ficaram a saber que não foram os únicos portugueses a sofrer um ataque naquela noite, pois também o "Alfacinha" e o "Azevedo Gomes" tinham passado por situações semelhantes.Regressavam da faina em Marrocos e quando se encontravam nas imediações do Cabo de São Vicente, no Algarve, foram atacados.
Como outros navios portugueses vinham iluminados e tinham pintadas no casco as cores portugueses. Apesar do pedido realizado pelo adido aeronáutico alemão as embarcações não apresentavam quaisquer bandeiras pintadas na horizontal. Só recentemente essa ordem tinha sido emitida pelo Estado Maior Naval, numa altura em que tanto o Alfacinha com o Azevedo Gomes ainda se encontravam longe, na faina.
Eram cerca das nove da noite quando o Azevedo Gomes foi metralhado durante cinco minutos por um avião – possivelmente o mesmo que disparou contra o Fafe - sem, no entanto, ser atingido. O ataque foi realizado de través e os tripulantes acreditam que naquela posição era impossível os aviadores não verem as marcas nacionais pintadas no casco e nas laterais do vapor.
O “Alfacinha” foi alvejado de seguida durante perto de 20 minutos. O comandante até deu ordem “para parar a máquina, durante cerca de 5 minutos, com a intenção de melhor facilitar o reconhecimento da sua nacionalidade (…), pondo-a novamente a toda a força ao ver que nem assim as rajadas cessavam”.
O ataque foi tão intenso que todos se aprontaram para a eventualidade de terem de abandonar navio. Pelo menos três balas atingiram o alvo. Uma no “convés (…), outra no tejadilho da ponte e outra nas redes armazenadas no tombadilho das baleeiras”.
Uma das munições seria recuperada e entregue às autoridades. Compararam com outras encontradas num FW200 – Condor da Luftwaffe (Força Aérea Alemã), que realizara uma aterragem de emergência na Apúlia, em Vila do Conde, meses antes, não ficaram dúvidas sobre a origem do agressor. “Em 2 de Junho corrente pode identificar-se a nacionalidade do avião atacante, como sendo alemão, por comparação das marcas dos restos do projéctil encontrados no vapor “Alfacinha”, com as munições apreendidas a um avião quadrimotor alemão”, esclarece um relatório do Estado Maior Naval. De resto os postos de observação colocados ao longo da costa tinham assinalado a passagem de Condores próximo dos locais e das horas das investidas.
Outros ataques
Estes três vapores não foram os únicos representantes da frota de pesca a sofrer ataques perto da nossa costa. A 10 de Março de 1942 tinha sido afundado, ao largo da Ericeira, o vapor Cabo de São Vicente. Um ataque a iro e à bomba realizado também por um avião e que só por sorte não matou nenhum dos tripulantes.
Mas até ao final de 1942 ainda se ficaria a conhecer outro ataque também protagonizado por aviões, desta vez ao barco motor de pesca “Estrela do Norte”.
Às 8.00 horas de 3 de Dezembro, 15 milhas a oeste do Cabo Espichel, o navio foi sobrevoado por três aviões que não conseguiu identificar. Um deles terá largado uma bomba que explodiu muito perto da embarcação.
Segundo a descrição feita por Zeferino das Chagas, arrais do “Estrela do Norte”, tratava-se de um avião grande com quatro motores, seguido de dois outros com apenas dois. O maior voava mais baixo que os restantes, mas seria um dos outros a lançar a “bomba” que mergulhou e explodiu submersa, revoltando a água. Pouco depois surgiu qualquer coisa à superfície deitando um fumo muito claro. Apesar da proximidade e da explosão ninguém foi atingido ou viu saltar qualquer estilhaço.
Carlos Guerreiro
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