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terça-feira, 6 de novembro de 2018

Portugueses salvaram mais de dois mil náufragos durante a II Guerra Mundial

Navios portugueses retiraram do mar mais de dois mil náufragos durante o período da II Guerra Mundial. Os salvamentos aconteceram nos oceanos Atlântico e Índico e entre os homens e mulheres recolhidos encontra-se gente dos quatro cantos do mundo.

Tripulantes do "Manaar" chegando a Lisboa em 6 de Setembro de 1939.
O "Carvalho Araújo" salvou 16 dos seus tripulantes e o holandês "Maars" outros 30.
Todos chegaram à capital portuguesa no mesmo dia.

(Foto: Revista Ilustração, 16 de Setembro 1939)
Há cinco anos que reúno material sobre este tema e neste momento estou empenhado em concluir uma tese de mestrado sobre este tópico - ficam as minhas desculpas por ter deixado o "Aterrem em Portugal!" um pouco abandonado.

Na próxima sexta de manhã, durante as Jornadas do Mar que estão a decorrer na Escola Naval em Lisboa, vou abordar este assunto com alguma profundidade e prometo ir dando notícias sobre a evolução do trabalho.

De resto espero que a divulgação da evolução da tese também me traga novas informações, nomeadamente, de outros interessados neste tema e especialmente de familiares de marinheiros portugueses que tripulavam estes navios redentores... Agradeço, por mais esta razão, o máximo de partilhas deste texto.

Por agora deixo uma das dezenas de histórias que fui encontrando...


O caso Peleus

Pouco depois do meio-dia do dia 20 de Abril de 1944 o navio português Alexandre Silva encontrou sobre uma jangada três náufragos, ex-tripulantes do cargueiro grego “Peleus” que fora afundado mais de um mês antes – a 13 de Março – por um submarino alemão quando seguia sozinho na rota entre Freetown e Buenos Aires.

Mal sabiam os portugueses quando desembarcaram os três homens – dois de nacionalidade grega e um maltês – no Lobito, no dia 27 de Abril, que iriam abrir um dos capítulos mais negros da história da marinha alemã durante o período da II Guerra Mundial. Antonios Lissis, Dimitrios Argiros e Roco Said eram os únicos sobreviventes de um massacre perpetrado pelo comandante e alguns tripulantes do submarino alemão U-852.

O navio "Alexandre Silva", da Sociedade Geral.
No dia 13 de Março o “Peleus” tinha-se afundado em poucos minutos depois de ter sido atingido por dois torpedos. O submarino emergiu próximo dos tripulantes que tinham conseguido salvar-se, atirando-se à água, tentando agarrar-se às jangadas e outros destroços que flutuavam nas imediações.

O comandante alemão, Heinz-Wilhelm Eck, interrogou primeiro um dos oficiais gregos e depois ordenou que matassem todos os náufragos. Durante toda a noite foram atiradas granadas e feitos disparos de metralhadora que eliminaram a quase totalidade dos que estavam na água. Sobreviveram quatro tripulantes que conseguiram esconder-se em duas jangadas.

Antes de serem recolhidos pelo Alexandre Silva, da Sociedade Geral de Comércio Indústria e Transportes, um dos quatro homens morreu na sequência de ferimentos que tinha sofrido na sequência da explosão de uma granada.

Nos princípios de maio de 1944 o U-852 foi alvo de um ataque aéreo perto da costa da Somália, deixando-o com graves avarias que obrigaram a tripulação a encalhar o submersível junto à costa. A bordo os britânicos encontraram relatórios que referiam o afundamento de um navio no dia e na zona onde se registara o incidente com o Peleus.

Em Outubro de 1945 cinco elementos do U-852 foram formalmente julgados por crimes de guerra em Hamburgo. Condenados à morte Eck e dois outros oficiais seriam executados em Novembro do mesmo ano, ficando para a história como os únicos tripulantes de U-boat’s a sofrerem pena capital por crimes de guerra...

Carlos Guerreiro

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