Pesquisar neste blogue

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Leituras de Verão 2011 (Ficção II)

Com estes dois livros de ficção fecho as minhas propostas de leitura para este Verão. Mais uma vez desconheço o conteúdo das obras... Não tenho tempo para ler tudo.

Tanto num caso como noutro li boas críticas. De resto o primeiro livro já vai - segundo vi recentemente - na 17ª edição.

Sobre o segundo - o de Aristides de Sousa Mendes - pouco há dizer até porque a personagem é bastante conhecida...

Ficam as sugestões e as sinopses oficiais...

ENQUANTO SALAZAR DORMIA de Domingos Amaral

Edição de Casa de Letras, com o ISBN 9789724616544

Sinopse Oficial:

Lisboa, 1941. Um oásis de tranquilidade numa Europa fustigada pelos horrores da II Guerra Mundial. Os refugiados chegam aos milhares e Lisboa enche-se de milionários e actrizes, judeus e espiões. Portugal torna-se palco de uma guerra secreta que Salazar permite, mas vigia à distância.

Jack Gil Mascarenhas, um espião luso-britânico, tem por missão desmantelar as redes de espionagem nazis que actuavam por todo o país, do Estoril ao cabo de São Vicente, de Alfama à Ericeira. Estas são as suas memórias, contadas 50 anos mais tarde. Recorda os tempos que viveu numa Lisboa cheia de sol, de luz, de sombras e de amores.

Jack Gil relembra as mulheres que amou; o sumptuoso ambiente que se vivia no Hotel Aviz, onde espiões se cruzavam com embaixadores e reis; os sinistros membros da polícia política de Salazar ou mesmo os taxistas da cidade. Um mundo secreto e oculto, onde as coisas aconteciam "enquanto Salazar dormia", como dizia ironicamente Michael, o grande amigo de Jack, também ele um espião do MI6.

Num país dividido, os homens tornam-se mais duros e as mulheres mais disponíveis. Fervem intrigas e boatos, numa guerra suja e sofisticada, que transforma Portugal e os que aqui viveram nos anos 40.



O CÔNSUL DESOBIDIENTE de Sónia Louro


Edição de Saída de Emergência, ISBN: 9789896371623

Sinopse Oficial:

Há pessoas que passam no mundo como cometas brilhantes, e as suas existências nunca serão esquecidas. Aristides de Sousa Mendes foi uma dessas pessoas. Cônsul brilhante, marido feliz, pai orgulhoso, teve a sua vida destruída quando, para salvar 30.000 vidas, ousou desafiar as ordens de Salazar.

Cônsul em Bordéus durante a Segunda Guerra, é procurado por milhares de refugiados para quem um visto para Portugal é a única salvação. Sem ele, morrerão às mãos dos alemães. Infelizmente, Salazar, adivinhando as enchentes nos consulados portugueses, proibira a concessão de vistos a estrangeiros de nacionalidade indefinida e judeus.

Sob os bombardeamentos alemães, espremido entre as ameaças de Salazar, as súplicas dos refugiados e sua consciência, Aristides sente-se enlouquecer. E então toma a grande decisão da sua vida: passar vistos a todos quantos os pedirem. Salvará 30.000 inocentes mas destruirá irremediavelmente a sua vida.

Informação sobre outros livros AQUI 

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Leituras de Verão 2011 (não-ficção em ingles II)

Fica um último livro de não-ficção em Inglês para este Verão. Não se trata de uma obra nova - a primeira edição é de 2001 -, mas a sua importância no género deve ser valorizada. Para amanhã ficam prometidas duas sugestões de ficção...


BLOODY BISCAY de Chris Goss  
History of V Gruppe/Kampfgeschwader 40

Edição da Crecy, com o ISBN: 9780947554873


Um importante retrato da sangrenta campanha área que se desenrolou sobre a Baía da Biscaia ao longo da guerra e um dos mais interessantes livros do género que tive oportunidade de ler.

Bloody Biscay tem ainda a particularidade de acompanhar as várias fases do conflito ao lado dos pilotos alemães que asseguravam o patrulhamento daquela zona. O trabalho do autor é, no entanto, muito detalhado e, em diversos momentos, também somos confrontados com os testemunhos dos aviadores aliados que estavam do outro lado do estreito de Dover.

Para os leitores portugueses há ainda a curiosidade de ler os testemunhos de alguns dos pilotos alemães que abateram o Voo 777, onde seguia o actor Leslie Howard depois de uma tournée por Portugal e Espanha.

O aparelho da BOAC foi atacado por uma patrulha da Luftwaffe depois de ter levantado de Lisboa no dia 1 de Junho de 1943. O assunto já mereceu bastante destaque neste blogue (clicar aqui).

O duros combates que se seguiram nos dias seguintes – com os alemães a interceptarem vários aviões britânicos que procuravam sobreviventes – também mereceram a atenção de Chris Goss.

Acompanhamos a formação, o auge e o declínio da esquadrilha alemã, num trabalho acompanhado de muitas fotografias inéditas e raras.

O livro apresenta ainda vários anexos com documentos e dados importantíssimos para perceber o impacto deste palco de operações.

Um documento revela a estrutura e organização do grupo de combate responsável pelo Atlântico e que incluía mais do que apenas a esquadrilha acompanhada em Bloody Biscay. Os Fw 200 Condor que surgiam na costa portuguesa com frequência também faziam parte desta organização.

Encontramos ainda um levantamento, muito exaustivo, de perdas de parte a parte. O autor faz uma relação entre os abates reclamados pelos diversos pilotos e as perdas registadas. Encontramos matrículas dos aparelhos, nomes e postos dos caçadores e das presas.

Carlos Guerreiro

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Em Revista…

O Sunderland britânico que aterrou em Setúbal em Fevereiro de 1941 realizou apenas uma viagem com as cores portuguesas.

Oferecido pelos britânicos o aparelho foi recuperado para empreender uma viagem a Cabo Verde, mas sofreu uma avaria que lhe destruiu um motor e condenou à sucata.

Os relatórios desse acontecimento e as respectivas fotografias vêm na última edição da revista “MAIS ALTO”, num excelente artigo assinado por yann Rodrigues.

Na mesma revista encontra-se também um artigo que recorda o grande festival aéreo realizado em 1943 – com a presença de mais de 200 aparelho – e onde foram apresentados, entre outros, os Spitfire’s, Hurricane’s e Blenheim’s recebidos pelos britânicos na sequência do acordo para a concessão das Lajes. Está assinado por

Na publicação espanhola “La Aventura De La História” o destaque de capa é a Legião Condor, o corpo expedicionário alemão constituído por forças terrestres e aéreas alemãs enviadas por Hitler para apoiar a rebelião dos nacionalistas de Franco.

Ao longo de três partes revela os contactos realizados por Franco para aceder ao poder aéreo alemão e também italiano, além de revelar alguns outros episódios não menos interesantes.

Vem acompanhada de um jornal denominado “Diario de La Guerra Civil” – uma publicação fundada pelos editores da revista e que mensalmente reúne as principais notícias publicadas pelos vários jornais da época. Entre os destaques está um artigo que anuncia o corte de relações diplomáticas do regime de Salazar em relação ao governo republicano de Espanha…

Para saber mais sobre o Sunderland clique AQUI.

Carlos Guerreiro

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Leituras de Verão 2011 (não-ficção em inglês)

Fica mais uma leitura de Verão, mas esta em inglês.
Já há alguns meses que o José Carias Silva me emprestou o livro e já deveria ter colocado um nota no blogue. A edição é de 2010 e é um livro que importa guardar apesar de lhe faltarem alguns detalhes que ajudariam a completar a informação: a lista de perdas de navios e aviões, por exemplo, transformaria este trabalho muito bom num livro extraordinário.

FW 200 CONDOR Vs ATLANTIC CONVOY de Robert Forczyk


Edição de Osprey Publishing, 2010 (ISBN 9781846039171)

Atravessada de forma regular por comboios de navios que ligavam a Inglaterra aos vários teatros de operações espalhados pelo mundo - e vice-versa - a costa portuguesa foi um activo palco da batalha do Atlântico.

Num constante jogo do gato e do rato encontramos os submarinos alemães, acompanhados dos Fw200 Condors, contra os comboios de navios e respectivas escoltas aéreas e navais.

É o confronto entre o bombardeiro da Luftwafe FW 200 Condor – baptizado pelo próprio Churchil de maldição do Atlântico - e os seus alvos que merecem a atenção do autor deste livro com cerca de 80 páginas.

Nas primeiras páginas são detalhadas as características dos dois adversários. Primeiro conta-se a história do FW 200, desde o pedido da Lufthansa para um aparelho civil de longo curso até à sua transformação em bombardeiro de longo alcance.

Avaliam-se os pontos fortes e fracos deste quadrimotor de linhas elegantes.

Do outro lado da barricada encontramos os comboios britânicos e todas as medidas defensivas que implementarem para dificultar o trabalho do inimigo.

O autor compara a evolução das tácticas e das técnicas de parte a parte ao longo do conflito. Sistemas de ataque e de defesa, armamento, radares, caças lançados de catapulta ou de porta aviões de escolta entre outros aspectos são apresentados e dissecados, apontando os efeitos imediatos e a prazo da sua introdução e aperfeiçoamento.

Também importante é o facto de ficarmos a conhecer muitas das pessoas que, de um lado e do outro, se destacaram ao longo do conflito.

Para os portugueses existe um atractivo suplementar. Vários recontros que aconteceram ao longo da nossa costa são referidos e – em alguns casos – são acrescentados detalhes interessantes, resultantes do cruzamento de informações obtidas em arquivos dos beligerantes envolvidos.

Merecem referência os Fw200 que terminaram as suas viagens no Alentejo e na Apúlia. Outras perdas em mar alto – que serão incluídas no site do "Aterrem em Portugal" numa próxima actualização – são também salientadas.

O livro está muito bem ilustrado, com desenhos artísticos e técnicos, apresenta muita infografia, fotografia e mapas. Tem um leitura fácil e muito completa que recomendo - apesar de algumas falhas - a todos os que se interessam por este tema.

Carlos Guerreiro

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Leituras de Verão 2011 (Ficção 1)

Com a chegada das férias o "Aterrem em Portugal" deixa um apontamento sobre alguns livros que nos chegaram ou foram lançados nos últimos meses e que têm a época da II Guerra Mundial e Portugal como palcos.

Começamos com duas obras de ficção. Editados já este ano, são em português e têm como pano de fundo a Lisboa dos refugiados. Um é de um autor português, conhecido das lides televisivas, e o outro de um autor argentino que conhece Portugal muito bem.

Pelo facto de não ter tido oportunidade de ler qualquer das obras ficam as sinopses oficiais...


POR TI, RESISTIREI de Júlio Magalhães


Edição "A Esfera dos Livros" (ISBN: 9789896263256)

Sinopse Oficial:

Carlos e Nicole conheceram-se nas ruas de Paris. As tropas alemãs avançavam em passo forte e determinado, mas todos acreditavam que a capital francesa estava a salvo da loucura de Adolf Hitler. Enganavam-se. Em poucas semanas, as tropas nazis estavam às portas de Paris e milhares de refugiados procuravam salvação. Nicole encontrou-a em Bordéus pelas mãos do embaixador Aristides de Sousa Mendes que lhe entregou um visto para chegar até Portugal, onde finalmente cairia nos braços do seu amado. Longe da guerra, longe do perigo, longe do estigma de ser judia, seria finalmente feliz. Mas há preconceitos que são difíceis de quebrar e mais uma vez os dois amantes são obrigados a seguir caminhos diferentes. Carlos fica em Lisboa, entre os negócios do pai, um homem influente na sociedade salazarista e a doença da mãe. Nicole parte para Londres, uma cidade que vive dias dramáticos sob a ameaça de ser bombardeada pela aviação alemã. Participa no esforço de guerra da melhor forma que sabe, vestindo a farda de enfermeira, pondo em risco a sua vida para ajudar os outros. Na esperança de conseguir esquecer Carlos. Contudo no meio dos escombros da Segunda Guerra Mundial há um amor capaz de resistir a tudo.



LISBOA, UM MELODRAMA de Leopoldo Brizuela


Edição da Dom Quixote (ISBN: 9789722043977)

Sinopse Oficial:

17 de Novembro de 1942. Lisboa. Portugal. Numa única e interminável noite, enquanto refugiados de toda a Europa esperam a partida do navio Boa Esperança para se porem a salvo dos nazis, a gesta do Cônsul argentino é o crivo em que se entrecruzam, como num folhetim, as «histórias mais secretas» de um período sem par na História. Pode uma longa e intensa noite marcar e mudar irreversivelmente a história de um conflito? Podem a fadista Amália, o casal Tânia e Enrique Santos Discépolo, o Cônsul argentino, o misterioso Ricardo De Sanctis que assegura ser banqueiro e «refugiado pessoal» do Patriarca de Lisboa, ser personagens principais do momento em que tudo parece mudar? Encrespado de sentimentos, emoções e paixões, excessivo como todos os melodramas, prodigioso na criação de ambientes e intensamente atractivo nas confissões que as personagens vão Trocando, Lisboa. Um Melodrama tem a precisão arquitectónica de uma ambiciosa peça teatral e musical, de cujo imenso coro emergem os solistas para fazer ouvir os seus desejos e padecimentos. Uma verdadeira ficção que parte de personagens reais e vibra com a cadência sentimental e melancólica do fado e do tango.


Informação sobre outros livros AQUI

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Algumas perguntas a José António Barreiros


A espionagem em Portugal durante a II Guerra Mundial é o tema central de vários livros publicados por José António Barreiros. O mais recente “Traição a Salazar” resulta de uma investigação sobre a história, de uma organização inglesa desmantelada pela PVDE (antecessora da PIDE).

A rede Shell – uma organização da Special Organization Executive, (SOE) - estendia-se clandestinamente a todo o território continental e também a algumas colónias. Significava a violação da neutralidade e uma traição pois em Londres decorriam conversações oficiais destinadas a prever o que seria feito a nível oficial caso acontecesse uma invasão os alemã – A Operação Félix.

Aterrem em Portugal: Os dados que vão surgindo nas suas pesquisas confirmam que Portugal foi um dos grandes centros de espionagem durante a II Guerra Mundial?


José António Barreiros: Penso que é inclusivamente um dos mais importantes, tal como Berlim o foi durante a Guerra Fria. A neutralidade portuguesa ajudou a que o país fosse o local ideal de «rendez vous» para os agentes das potências estrangeiras envoltos na Guerra Secreta.


AP: Como é que o regime, que tinha aptidão e meios para controlar a vida dos seus cidadãos, conviveu com a presença e as acções dos agentes que as várias potências em guerra enviaram para Portugal?


JAB: Ao jogar no equilíbrio geométrico entre as forças contendoras Salazar deixava que impunemente se espiassem. Geria o melhor que podia as queixas do Embaixador Hoyningen-Huene e do Embaixador Campbell, respectivamente alemão e britânico. A tolerância consentida nesta matéria fazia parte do seu jogo de poder.


O mais recente livro de José António Barreiros aborda história da rede britânica Shell, desmantelada pela PVDE. A obra tem 145 páginas e é da editora Cofina.

AP: O seu mais recente livro aborda o caso que ficou conhecido como o desmantelamento da rede Shell. Trata-se de um operação que marcou as relações entre Salazar e as várias potências, mas também o imaginário dos portugueses.


JAB: A rede chama-se Shell devido ao envolvimento de empregados da Companhia numa operação clandestina destinada, através da sabotagem e da propaganda, deter um possível avanço alemão sobre Portugal. Na data em que foi montada a rede já essa possível movimentação, prevista por Hitler como a "operação Felix" estava cancelada. Como se sabe a rede seria descoberta pela PVDE e desmantelada mas ficou como memória discreta em muitas famílias portuguesas.


AP: Uma das personalidades portuguesas envolvidas na rede foi Cândido Oliveira, que inclusive dá nome a um importante troféu do futebol português. Foi preso e esteve no Tarrafal. Como é que um homem destes aparece envolvido numa rede deste tipo?


JAB: Cândido era jornalista desportivo e escrevia para a "Stadium" uma publicação subsidiada pelos ingleses. Era anglófilo. Tinha a seu cargo a organização da rede no campo dos clubes de futebol. E como era inspector dos correios controlava a rede postal e ma organização clandestina de radio-comunicações. Era o homem certo no lugar certo. Ademais casapiano.


AP: O cérebro britânico da organização "Jack" Beevor é referido muitas vezes como um amador e um ingénuo, razão porque a rede acabou por ser desmantelada de forma relativamente fácil. As suas investigações também apontam nesse sentido?


JAB: Beevor não via que o tenente Ribeiro Casais, dos serviços secretos da Legião estava a dar-lhe o "abraço do urso" quando ofereceu os serviços legionários para a organização da rede que o britânico montava com o apoio de gente hostil ao regime. Foi a rivalidade entre a PVDE e a Legião que fez com que aquela tivesse o maior gosto em denunciar este arranjo "contra natura".


Carlos Guerreiro

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Um abraço para o Bill

Em 1999 conheci Bill Littlejohn, um dos pilotos americanos que em finais de 1942 aterrou no Aeroporto de Lisboa num caça P-39. Foi um dos muitos que se envolveram emocionalmente na preparação do meu livro que só sairia em 2008. Deu-me todo o apoio que pode e ajudou-me nas diversas dúvidas que iam surgindo.

Esteve para vir a Portugal aquando do lançamento mas um problema cardíaco levou os médicos a proibir a viagem. Mesmo assim gravou um pequeno vídeo onde contava a sua história, que volto a reproduzir aqui…

Desde o final do ano passado que não recebia notícias suas. Soube agora, através da mulher, que faleceu no dia 28 de Novembro de 2010, com 89 anos.

Adeus e obrigado, meu amigo…