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domingo, 30 de outubro de 2011

Livro "Reis no Exílio"

O livro foi lançado há pouco.

Muitas famílias reais encontraram refúgio em Portugal durante a II Guerra Mundial. O país foi uma verdadeira "República de Reis Exilados..."

Ainda não li, mas fica a capa e a sinopse oficial...



"A Europa era devastada por uma guerra cruel e mortífera, Portugal, país neutral, torna-se num destino apetecível para milhares de refugiados que procuram fugir dos horrores da ameaça nazi. Entre estes estão príncipes, reis sem coroa e membros das grandes monarquias europeias que encontram em Portugal um refúgio real. Em 1940, Wallis Simpson e o duque de Windsor e o rei Carol da Roménia que acabava de ser deposto, chegam a Portugal. Seis anos depois é a vez da família real espanhol se instalar no Estoril. Segue-se o rei Humberto e a rainha Maria José de Itália e a família real francesa. Cascais, Estoril e Sintra, o chamado Triângulo Dourado, locais que recebem estes visitantes de luxo. O bar do Hotel Palácio serve o conde de Barcelona e o conde de Paris, as águas do Guincho acolhem as proezas dos jovens príncipes espanhóis e franceses, o restaurante «O Pescador» é o eleito da condessa de Barcelona que adora os «santiaguinhos», o São Carlos acolhe o rei Humberto ávido de divertimento. O autor Charles PhillipPe d’Orleans, duque de Anjou, não viveu estes tempos, mas têm-nos bem presentes na memória graças às histórias que a sua avô, a condessa de Paris, lhe contava sobre a Quinta do Anjinho, a casa da felicidade, refúgio da família real francesa. Aqui se casaram as infantas espanholas Pilar e Marguerita num ambiente de festa nunca antes visto. Maria Pia elegeu Cascais, a vila onde cresceu, como cenário de um matrimónio que encheu as primeiras páginas dos jornais europeus, foi na Villa Giralda, no Estoril, que morreu, em circunstâncias trágicas, Alfonsito irmão de Juan Carlos, atual rei de Espanha."


... tal como uma reportagem da SIC com o autor...



A revista do Expresso desta semana também traz apontamentos interessantes sobre esta história...acontecendo o mesmo com muitas revistas do social (LUX, CARAS, etc...)

Boas leituras.
Carlos Guerreiro

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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

ESCAPARATE DE UTILIDADES: Na busca do barbear perfeito

O último “Escaparate…” foi dedicado às damas e donzelas, com anúncios de pó de arroz e complementos. Agora o “Aterrem em Portugal” apresenta aos cavalheiros produtos, que nos idos anos de 40, serviam para escanhoar a face.
Obviamente eram todos modernos, cientificamente testados e a bom preço… tal como nos dia de hoje.


Começamos pelos cremes com o “Rapide”, também utilizado pelo cantor e actor Tino Rossi.
(Revista “Mundo Gráfico” 16-12-1943 - Colecção do autor)


Quem gosta de “produtos modernos, cientificamente testados”e com “tónico adstringente”  - seja lá o que isso for - pode sempre escolher “Oatine, A Marca Da Elite"…
(Revista “Mundo Gráfico” 15-10-1943 - Colecção do autor)



Mas talvez para começar o melhor seja escolher o D’Euxlay , até porque marca – caso não fique satisfeito – está disponível para a “reembolsá-lo “ se o creme não corresponder às expectativas.
(Revista “Mundo Gráfico” 15-10-1943)



Em termos de lâminas não encontrámos muita escolha, mas fica pelo menos uma – a Nacet – com “um preço modesto, boas” e que “barbeiam suavemente”.
(Revista “Mundo Gráfico” 16-12-1943 - Colecção do autor)




Depois de escanhoar a face há algumas opções como “mentol creme” Nally – que “não é oleoso, nem viscoso”, “é indispensável como preventivo contra as infecções” e “cicatriza quaisquer pequenos golpes” entre outras propriedades.
(Jornal “O Século” 03-06-1940 - Colecção do autor)



Pode também escolher o “TARR”. O nome pode não ser muito bonito, mas certamente não será surpreendido pelo preço. O preço do frasco começa nos 8$50 (pouco mais de 4 cêntimos).
(Jornal “O Século” 03-06-1940 - Colecção do autor)

Um bom barbear...


Carlos Guerreiro

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A família Maurício da América

“A família Maurício possui um aparelho de rádio, um frigorífico, uma máquina eléctrica para lavar roupa, um ferro eléctrico para engomar e um projector cinematográfico”. Esta é parte da descrição de uma “Uma Família Portuguesa na América”, publicada no dia 15 de Outubro de 1943 na revista “Mundo Gráfico”.



A “história ilustrada duma típica família nos Estados Unidos” apresenta os “Maurício” como residentes em New Bedford, onde o patriarca - Manuel - é “pintor de paredes” e ganha cerca de 100 dólares por mês, o suficiente para sustentar de forma cómoda a mulher e a filha de 14 anos.

Estes portugueses “vivem confortavelmente no bairro operário de Presidential Heights”, numa casa, de arquitectura colonial, com “quatro quartos”. O artigo esclarece, no entanto, que nem sempre assim foi. Antes de se mudarem para este bairro “construído pelo Governo Federal”, residiam num “velho prédio”, onde a mulher - que “sofria de artritismo”- tinha, por vezes, de ser levada escadas acima pelo marido.




Sete fotografias da família mostram os Maurício envolvidos em actividades quotidianas como a refeição, o serão, as compras ou o trabalho. O artigo estabelece também uma ligação sentimental entre a família e Portugal. Tudo parece inocente, mas para as autoridades portuguesas é propaganda pura.

O “Mundo Gráfico”, que tem como director Artur Portela, é classificado pelo Secretariado da Propaganda Nacional (SNI) como uma das revistas que representa os “chamados partidos estrangeiros”.

































 Para além de algumas páginas dedicadas a temas nacionais, a revista surge amplamente ilustrada com fotos que realçam os feitos aliados na guerra ou o modo de vida naqueles países. Na capa surge normalmente uma mulher – jovem – enquanto a contracapa é preenchida com uma foto de guerra.

A publicação quinzenal é financiada pelos aliados e – com “A Esfera” de influência alemã – é apontado pelos relatórios do SNI como exemplo de “sementeira de confusão política”.


A capa (em cima) e a contra-capa (em baixo) da edição do "Mundo Gráfico" de 15 de Outubro de 1943.
(Colecção do autor)

Aspecto das páginas interiores da reportagem sobre a família Maurício. 
(Colecção do autor)


Num país com um regime centralizado e autoritário, esta é uma classificação que se compreende, basta termos em conta as legendas de algumas fotos ou passagens: “O lar em que vivemos é digno do nosso trabalho – diz o operário - todos os trabalhadores deste bairro, como dos outros, reúnem-se frequentemente, para discutir os seus problemas e resolvê-los a contento de todos”.

Carlos Guerreiro

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

«Ministério das Propagandas» A VOZ... DA BBC

A BBC é uma das marcas mais respeitadas do mundo no panorama duro panorama dos meios de comunicação social. Mesmo hoje – e apesar dos cortes que anunciam milhares de despedimentos nos próximos anos – a marca BBC continua a ser olhada como um serviço público de referência, especialmente pela qualidade que imprime tantos aos programas de entretenimento como de informação.

A Bristish Broadcasting Corporation – enquanto emissora de rádio - já granjeara o respeito dos britânicos logo no seu nascimento e durante os anos 20 e 30. A sua expansão mundial dá-se durante o período da II Guerra Mundial. A necessidade de ter um instrumento capaz de levar “A voz de Londres”aos quatro cantos do mundo levou o governo britânico a expandir o seu serviço, investindo na internacionalização das emissões.

O serviço em português foi inaugurado pouco antes de rebentar a guerra e rapidamente Fernando Pessa transformou-se num dos seus ex-libris. Para divulgar as emissões internacionais realizou-se também um grande investimento que em Portugal passou pela publicação de vários panfletos – em português - e pela contínua inclusão de anúncios nos principais jornais e revistas nacionais.


As capas de dois panfletos de divulgação da BBC. A “Voz de Londres”, aparenta ser o mais antigo, datando de 1940. A foto é do edifício sede da emissora. “A Voz de Londres na Guerra”, não tem data, mas indicia ser posterior pois refere os bombardeamentos da capital britânica. 
(Colecção do autor)


O facto de ter persistido a suspeita – até 1942 - de que Portugal poderia invadido a qualquer momento pelos alemães parece ter levado os britânicos a intensificar a divulgação das emissões de rádio. Uma forma de deixar para trás um mensageiro escondido nas ondas artesianas…



“A Voz de Londres”


Na “Voz de Londres” pode ler-se o discurso do Embaixador Português em Londres, Armindo Monteiro, na inauguração do serviço.
(Colecção do autor) 





Visitas portuguesas à BBC…
(Colecção do autor) 


“A voz de Londres na Guerra”

N’ “A voz de Londres na Guerra” as fotos assumem maior interesse mostrando vários aspectos da redacção portuguesa.

A começar pelo Fernando Pessa…





Panfleto Multilingue



Em Portugal foi também distribuído este panfleto em dez línguas onde a BBC garantia as últimas notícias verídicas e autênticas…
(Colecção do autor) 


Na imprensa



Alguns anúncios da BBC publicados em jornais portugueses.
(Fonte "Diário de Lisboa") 




Um bom ano novo


Postal de ano novo – sem data. Nas traseiras podiam ler-se as horas dos noticiários e das actualidades e as respectivas frequências.
(Colecção do autor) 


Para ler mais sobre as transmissões de rádio estrangeiras em Portugal clique AQUI.


Carlos Guerreiro

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Um sonho chamado… Casablanca

No dia 7 de Junho de 1943 o mar estava picado e o vento forte. A noite anunciava o engrossar da tempestade. No pequeno “Carioca”, um barco de pesca aberto – com vela latina - e pouco mais de oito metros, o desespero crescia. Das nove pessoas a bordo apenas uma tinha alguma experiência de marinharia, mas também não fazia ideia de onde estavam.

Fizeram sinais a um avião com uma toalha branca, mas este pareceu não os ver. Há dois dias que o mar saltava a amurada baixa e se acumulava no fundo do casco. Da comida sobravam algum queijo e uns limões. A água doce estava no fim.


Maria da Encarnação, a única mulher a bordo, estava quase histérica quando foi recolhida pelo navio de guerra americano. 
(Foto: Naval War Diaries – NARA)


Eram cerca das nove da noite quando foram avistados pelo “USS MacCormick”, um navio de guerra americano do tipo “Destroyer”. O comandante Owens apercebeu-se do pequeno barco entre a ondulação e, conhecendo as dificuldades que se anunciavam, não teve dúvidas em recolhê-los.

Oito homens e uma mulher - quase histérica - subiram a bordo. Eram todos portugueses e tentavam chegar a Casablanca, em Marrocos, onde amigos garantiam que seria possível encontrar um trabalho.

“Todos os membros do grupo são residentes na área de Lisboa. Cada um deles assegurou que deixara Portugal porque não era elegível para trabalhar devido à sua relutância em juntar-se à Legião Portuguesa, uma alegada organização fascista”, escreveu o comandante do “MacCormick”, num relatório confidencial.

O pequeno barco, que ficou à mercê dos elementos, tinha sido comprado com o dinheiro de todos e preparado para uma viagem de 72 horas.

“Partiram de Lisboa no dia 4 de Junho de 1943. Planeavam descer a costa até ao Cabo de Sines, depois afastavam-se, passavam o Cabo de S. Vicente e voltariam a rumar para terra esperando chegar à costa de África, a Casablanca. No entanto, ao fim da tarde do dia 5, encontraram vento e mar fortes que os empurraram para sudoeste”, explica o comandante Owen.

Este grupo nunca chegaria a Casablanca, mas a cidade, imortalizada no filme com Humphrey Bogart, era um importante pólo de atracção para os portugueses que procuravam uma vida melhor. Do Algarve partiam anualmente homens e mulheres que durante alguns meses se envolviam em actividades fabris ou na pesca naquele território francês.


Retratos portugueses

Do interrogatório realizado ficou um retrato individual que permite conhecer não só as características físicas mas também o empenhamento político, crenças e esperanças de cada uma das pessoas salvas do “Carioca”.

João Rodrigues Sério, de 29 anos, deixara mulher em Lisboa. Pretendia chamá-la quando se estabelecesse em Casablanca. Segundo o comandante do “McCormick” declarou-se um “anti-fascista porque, aparentemente, associa os poderes fascistas às suas dificuldades económicas” .

Simplício da Encarnação e a mulher Maria eram o único casal a bordo. Não tinham filhos. Ele, com 40 anos, não tem convicções políticas, é “iletrado, e por isso uma fraca fonte de informações”. De Maria , dez anos mais jovem, ficamos a saber que tinha passado por uma fábrica têxtil e pouco mais.

Francisco Águas, de 33 anos, já tinha tentado emigrar. Escrevera para a embaixada britânica pedindo autorização para viajar, mas na resposta ficou a saber que o governo português não autorizava a sua saída.

José Vicente Leal, de 57 anos, deixara para trás a mulher e nove filhos. Também esperava juntar a família em Casablanca. Pouco interessado em “em filosofias políticas”, o comandante Owen escreveu ele explicara que “governo é comida para a barriga e um lar para a família”.

A mulher e os três filhos de Hermínio Albano, de 43 anos, também tinham ficado em Portugal. Após o salvamento mostrou-se entusiasmado com a possibilidade de trocar Marrocos pelos Estados Unidos.

António Gonçalves Rosa, de 28 anos, era divorciado, mas tinha deixado namorada em Lisboa. Não tinha ligações políticas mas já “havia sido ameaçado de prisão por utilizar um pin da RAF”.

Os dois últimos passageiros do “Carioca” conheciam os Estados Unidos e já lá tinham trabalhado.

Caetano de Almeida tinha-o feito durante 1941 e 1942. Após um regresso para ajudar a filha doente, tinha sido impedido de regressar pelas autoridades portuguesas. Era viúvo, mas encontrara uma nova mulher que, na altura da viagem, estava grávida. Com 43 anos assegurava não só que ia chamar a família a Casablanca, como também efectivar o casamento.

A personalidade mais “faladora” do grupo era José Rodrigues. Com 47 anos, já tinha conduzido táxis, trabalhado em fábricas e andara embarcado. Participara na I Guerra Mundial como sargento do exército português, e emigrara para Boston em 1919, para trabalhar numa fábrica de sapatos e numa refinaria de açúcar. Assumira mesmo a nacionalidade americana.

Rodrigues era “um forte antifascista, membro do que chama o Partido Republicano e um informador dos serviços secretos britânicos”, garante o relatório enviado pelo “McCormick”.


O grupo de portugueses a descer do “USS Tarazed”.
(Foto: Naval War Diaries – NARA)

Durante o interrogatório assumiu que já estivera detido por se envolver em acções de agitação política. No retrato que fez de Portugal reafirma as dificuldades em conseguir um trabalho remunerado, para quem não integrava a Legião. Por outro lado assegurava que existia grande empenho do governo de Salazar em recrutar voluntários para o “Regimento Azul” - uma unidade espanhola que combateu ao lado dos alemães na frente russa -, ou para emigrarem para a Alemanha.

“Tanto num caso como noutro o governo paga a viagem, e os membros da Azul Espanhola que voltem feridos recebem uma pensão do Governo”, refere no relatório.
A sua estada em Portugal ficava também a dever-se à proibição de saída imposta pelo regime luso após uma visita à irmã, em 1922.

Depois de caracterizar cada um dos seus “náufragos”, Owen concluí que eles “esperam ser bem-vindos à América tanto para trabalhar, como para serem recrutados para o exército”. Qualquer das soluções parecia agradar ao pequeno grupo.


O fim do sonho americano

Dez dias depois de terem sido recolhidos McCormick eram transferidos para o “USS Tarazed” que os deixa – a 24 de Junho - na Base Naval de Norfolk, na Virginia.

É durante o desembarque que são fotografados. Entregues à Cruz Vermelha Internacional, apresentam-se dois dias depois à comissão de imigração, que rejeita a entrada no país por não possuírem a documentação necessária.


Os portugueses na Base Naval de Norfolk, nos Estados Unidos da América. A vontade ficar não chegou, e a maioria foi repatriada. 
(Foto: Naval War Diaries – NARA)

Talvez porque tinha nacionalidade americana, ou porque fornecia informações aos aliados, José Rodrigues não vai regressar a Portugal. Os restantes são notícia – a 22 de Setembro - no “Diário de Lisboa”que dava conta da chegada de “oito dos nove indivíduos portugueses, que saíram há tempos, num pequeno bote, com o desejo de seguirem para Casablanca”.

“À chegada a Lisboa, foram entregues à Polícia Internacional, para ser resolvida a sua situação de tentativa de emigração clandestina. Depois serão ouvidos na Policia Marítima, acerca do caso do bote em que eles seguiam e que pertenciam ao sr. João Alves”.


Carlos Guerreiro