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segunda-feira, 27 de junho de 2016

«Escaparate de Utilidades»
Saltratos Rodel

Jornal Diário de Lisboa, 27 de Junho de 1942

sexta-feira, 24 de junho de 2016

O Postalinho...
A aviação alemã esmagou as fábricas de aeroplanos britânicas



Postal de propaganda britânico, certamente de 1941, e onde os serviços ingleses aproveitam mais uma vez a vitória da sua aviação na Batalha de Inglaterra para promover a sua suposta prioridade perante o inimigo.

Este tipo de postal - utilizando figuras de fácil leitura numa altura em que grande número de pessoas era analfabeta ou pouco letrada – era usual tanto na propaganda dos Aliados como do Eixo e existem vários exemplos entre os nossos “Postalinhos…”.

A verdade é que, neste caso, não se trata apenas de propaganda pois foi verdade que, a partir da entrada de Churchill para a liderança do país a Inglaterra foi capaz, em pouco tempo, de aumentar de forma exponencial a produção industrial de produtos necessários para a guerra.

Carlos Guerreiro

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Pescadores debaixo de fogo

Os tripulantes do vapor de pesca "Fafe" não tinham para onde escapar quando um avião surgiu na noite disparando rajadas de metralhadora na sua direcção. Apesar do susto nenhum tiro parece ter acertado no alvo, não havendo registo de vítimas ou estragos.

Os pescadores viram a sua vida complicar-se ainda mais com a guerra.
 (Foto "Mundo Gráfico", Setembro de 1941)

O ataque aconteceu por volta das 21.20 horas do dia 18 de Abril de 1942, a 18 milhas de Vila Nova de Milfontes, quando o "Fafe" se dirigia para os bancos de pesca em Marrocos. A notícia do ataque só seria comunicado no regresso – a 9 de Maio – altura em que os tripulantes ficaram a saber que não foram os únicos portugueses a sofrer um ataque naquela noite, pois também o "Alfacinha" e o "Azevedo Gomes" tinham passado por situações semelhantes.Regressavam da faina em Marrocos e quando se encontravam nas imediações do Cabo de São Vicente, no Algarve, foram atacados.

Como outros navios portugueses vinham iluminados e tinham pintadas no casco as cores portugueses. Apesar do pedido realizado pelo adido aeronáutico alemão as embarcações não apresentavam quaisquer bandeiras pintadas na horizontal. Só recentemente essa ordem tinha sido emitida pelo Estado Maior Naval, numa altura em que tanto o Alfacinha com o Azevedo Gomes ainda se encontravam longe, na faina.

Eram cerca das nove da noite quando o Azevedo Gomes foi metralhado durante cinco minutos por um avião – possivelmente o mesmo que disparou contra o Fafe - sem, no entanto, ser atingido. O ataque foi realizado de través e os tripulantes acreditam que naquela posição era impossível os aviadores não verem as marcas nacionais pintadas no casco e nas laterais do vapor.

O “Alfacinha” foi alvejado de seguida durante perto de 20 minutos. O comandante até deu ordem “para parar a máquina, durante cerca de 5 minutos, com a intenção de melhor facilitar o reconhecimento da sua nacionalidade (…), pondo-a novamente a toda a força ao ver que nem assim as rajadas cessavam”.

O ataque foi tão intenso que todos se aprontaram para a eventualidade de terem de abandonar navio. Pelo menos três balas atingiram o alvo. Uma no “convés (…), outra no tejadilho da ponte e outra nas redes armazenadas no tombadilho das baleeiras”.

Uma das munições seria recuperada e entregue às autoridades. Compararam com outras encontradas num FW200 – Condor da Luftwaffe (Força Aérea Alemã), que realizara uma aterragem de emergência na Apúlia, em Vila do Conde, meses antes, não ficaram dúvidas sobre a origem do agressor. “Em 2 de Junho corrente pode identificar-se a nacionalidade do avião atacante, como sendo alemão, por comparação das marcas dos restos do projéctil encontrados no vapor “Alfacinha”, com as munições apreendidas a um avião quadrimotor alemão”, esclarece um relatório do Estado Maior Naval. De resto os postos de observação colocados ao longo da costa tinham assinalado a passagem de Condores próximo dos locais e das horas das investidas.


Outros ataques

Estes três vapores não foram os únicos representantes da frota de pesca a sofrer ataques perto da nossa costa. A 10 de Março de 1942 tinha sido afundado, ao largo da Ericeira, o vapor Cabo de São Vicente. Um ataque a iro e à bomba realizado também por um avião e que só por sorte não matou nenhum dos tripulantes.

Mas até ao final de 1942 ainda se ficaria a conhecer outro ataque também protagonizado por aviões, desta vez ao barco motor de pesca “Estrela do Norte”.

Às 8.00 horas de 3 de Dezembro, 15 milhas a oeste do Cabo Espichel, o navio foi sobrevoado por três aviões que não conseguiu identificar. Um deles terá largado uma bomba que explodiu muito perto da embarcação.

Segundo a descrição feita por Zeferino das Chagas, arrais do “Estrela do Norte”, tratava-se de um avião grande com quatro motores, seguido de dois outros com apenas dois. O maior voava mais baixo que os restantes, mas seria um dos outros a lançar a “bomba” que mergulhou e explodiu submersa, revoltando a água. Pouco depois surgiu qualquer coisa à superfície deitando um fumo muito claro. Apesar da proximidade e da explosão ninguém foi atingido ou viu saltar qualquer estilhaço.

Carlos Guerreiro

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Academia de Belgrado premeia "Estoril", livro sobre a II guerra em Portugal

O livro "Estoril" de Dejan Tiago-Stankovic, um romance passado em Portugal durante o período da II Guerra Mundial foi galardoado pela Academia Sérvia. Segundo autor, sérvio nacionalizado português e a viver em Lisboa, trata-se de um "romance de guerra à portuguesa", que foi publicado em 2015 na Sérvio e procura neste momento uma editora portuguesa.

A mais importante personagem deste romance é Dusko Popov, um sérvio, agente duplo – que trabalhou para alemães e britânicos - e que teve papel fundamental na rede montada para desviar as atenções dos nazis da Normandia no Dia D. Para muitos a personagem de 007, criada por Ian Fleming após guerra, inspira-se directamente neste personagem mulherengo, jogador e que por várias vezes passou por Lisboa.

A história inclui também outros nomes sonantes que passaram por Estoril durante a guerra, nomeadamente, Jean Renoir, os Rothschild, Habsburgos, Eduardo VIII, Saint-Exupéry, o deposto reiCarol II da Roménia, Salvador Dali, Marc Chagall, Zsa Zsa Gábor, o campeão mundial de xadrez russo Alexander Alekhine entre outros.

O "Aterrem em Portugal" já em Outubro tinha conversado com Dejan sobre alguns artigos que tinha publicado no Brasil relacionado com a espionagem em Portugal durante a II Guerra . De resto neste romance existem algumas passagens que tiveram - entre outros - como fonte ou inspiração artigos publicados neste blogue...


Quem é Tiago-Stankovic

Tradutor de autores portugueses para sérvio (José Saramago, Fernando Pessoa, José Cardoso Pires), e de escritores sérvios para português -- designadamente o prémio Nobel Ivo Andric ("A Ponte sobre o Drina", "O Pátio Maldito"), juntamente com Lúcia Stankovic --, foi através de um artigo sobre o Hotel Palácio Estoril, publicado há cerca de dez anos, que lhe surgiu a ideia deste romance.

Dejan, que atualmente vive entre Lisboa em Belgrado, iniciou então um trabalho de pesquisa, que confirmou a história. "Uns anos depois já sabia que tinha nas mãos um romance. Só faltava escrevê-lo".

O escritor e tradutor, com dupla nacionalidade sérvia e portuguesa, descreve assim um retrato muito particular de uma época de grande turbulência na Europa (1940-46), centrado num hotel "que inclui refugiados, serviços secretos de vários países beligerantes, a PVDE [que antecedeu a PIDE, de 1933 a 1945], personagens históricas, o povo português, personificado no pessoal do hotel, mas não tem uma única bala disparada", como assinala. "É um romance de guerra à portuguesa".

Natural de Belgrado, onde terminou o curso de arquitetura em 1991, hoje com 50 anos, Dejan Tiago-Stankovic abandonou o seu país, no início dos conflitos que destruíram a Jugoslávia, para se fixar, primeiro, em Londres e, depois, em Portugal, a partir de 1995. Casou-se com a portuguesa Lúcia Stankovic, viveu no norte do país, tiveram dois filhos, posteriormente fixou-se em Lisboa.

O apelido Tiago, explicou, foi por si adotado por também ser o dos seus filhos, e para "não se confundir" com a antiga "estrela" do futebol jugoslavo, Dejan Stankovic.

Agora, mais de duas décadas depois da chegada a Portugal, cerca de dez anos após a primeira ideia do romance, surgiu a recompensa. A Academia Sérvia de Ciências e Artes (SANU, fundada em 1841) decidiu atribuir ao romance "Estoril" o prémio Branko Copic, que será entregue a 16 de junho, na sede da instituição, em Belgrado.

Entre os membros do júri incluía-se o dramaturgo e argumentista Dusan Kovacevic, que, em 2005, foi designado embaixador da Sérvia em Lisboa.

"O romance já teve quatro edições em sérvio, desde novembro de 2015, e está a ser traduzido para inglês", revela o também autor de "De onde eu era já não sou e outros contos de Lisboa", publicado em 2012.

"Estoril" já possui uma versão em português, mas ainda não foi anunciada uma editora, precisa.

Carlos Guerreiro/ Lusa