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segunda-feira, 31 de outubro de 2016

«Escaparate de Utilidades»
Café a Mariazinha

Jornal "Diário de Lisboa", 30 de Outubro de 1939

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Os jornalistas anglo-americanos e a censura

Durante a II Guerra Mundial a censura às notícias recaía sobre a imprensa portuguesa, mas também sobre os correspondentes estrangeiros sediados em Lisboa e o não cumprimento das normas podia conduzir à expulsão dos jornalistas como aconteceu, pelo menos, por duas vezes entre 1939 e 1945, nomeadamente nos casos de Walter Lucas, do "Times", e Cezare Rivelli, do "Gazeta Del Popolo" .


As notícias que deveriam seguir para os quatro cantos do mundo passavam por um processo longo e penoso ainda dentro de Portugal. Basta dizer que falar línguas não era um atributo habitual entre os censores e que cada palavra dos despachos noticiosos tinha de ser traduzida antes de seguir por “cabograma” ou telefone até à sede das publicações.

Em 1942 a situação era tão complicada que os correspondentes anglo-americanos fizeram uma exposição às autoridades portuguesas e aos representantes dos seus países em Lisboa. O documento lista dificuldades e episódios que enfrentavam com frequência e que gostavam de ver ultrapassados.

Estas queixas foram enviadas para o Secretariado da Propaganda Nacional e o seu director, António Ferro, parece ter dado alguma importância ao tema porque reencaminhou a nota para o Ministério do Interior, Mário País de Sousa.

Fica a transcrição do documento:


NOTAS SOBRE A CENSURA

Os correspondentes anglo-americanos em Lisboa chamam a atenção para os seguintes pontos sobre o trabalho da censura –

1 – Enquanto os correspondentes do Eixo gozam de facilidades especiais, devidas à sua situação (muitos deles mantêm posições diplomáticas, a maior parte utiliza as suas Legações para enviar notícias pelo correio e telefona livremente de suas casas ou dos quartos de Hotel) os correspondentes anglo-americanos estão sujeitos a uma censura rígida que torna a sua posição cada vez mais difícil em face dos jornalistas do Eixo; o encarregado da censura aos cabogramas não sabe inglês suficiente para interpretar cabogramas ou para compreender completamente os telegramas que censura.

2 – Os censores não compreendem que os jornalistas do Eixo estão a trabalhar sob a égide dos seus governos e recebendo instruções suas, ao passo que os correspondentes anglo-americanos e os seus jornais são agora – como eram antes da guerra – completamente livres; livres até ao ponto de que nenhum correspondente jamais recebeu instruções para escrever pró ou contra o Eixo, mas apenas para colher e enviar notícias, porque o envio de notícias é a sua única função.

3 – Portanto, quando os telegramas em inglês têm de ser traduzidos para português para benefício dos censores, estes deveriam ter presente que o texto inglês se destina a leitores ingleses e americanos, com mentalidade inglesa ou americana e que a tradução não deveria ser lida pelo censor como se se destinasse a ser publicada em português ou lida por portugueses.

4 – O dever do censor, na nossa opinião, seria saber o inglês bastante para poder ler relatos telegráficos enviados pelos correspondentes e compreende-los completamente.

5 – Acontece muitas vezes que um longo relato é prejudicado porque em algumas partes do corpo do cabograma está um nome ou um facto que os censores não desejam deixar passar. Compreende-se perfeitamente que os censores cortem o telegrama segundo as suas instruções, mas lamenta-se que eles não recebam instruções para cortar apenas o passo transgredido e não “matar” completamente todo o relato. Por outras palavras, pede-se para que eles leiam através do texto completo de qualquer telegrama submetido, marquem ou cortem a palavra, frase ou parágrafo a que se possa fazer excepção e devolver a cópia para que o resto ou o telegrama possa ser expedido.

Como exemplo da queixa acima, a chegada do Ministro da Itália a Lisboa (um assunto de notícia perfeitamente permitido enviar para o estrangeiro) foi cortado nos relatos de vários correspondentes, justamente porque aconteceu estar no corpo dum longo telegrama tratando de muitos assuntos.

A exposição acima aparece como um simples pedido a fazer, mas, se for compreendido, evitará muitos incómodos, poupará aos correspondentes longas horas de trabalho e de recopia e faria a censura parecer mais imparcial e neutral.

6 – Como longas horas de trabalho dos correspondentes têm provado muitas vezes ser um esforço inútil quando a sua cópia é “morta” pelo censor, os correspondentes muitos apreciariam que lhes fosse dada uma lista onde se mostrasse os assuntos a que nenhuma referência deveria ser feita nos seus relatos: uma lista que fosse revista periodicamente. Isto pouparia tempo e incómodo aos censores e pouparia tempo, incómodo e despesa aos correspondentes. Isto faz-se, com efeito, na Inglaterra, América, Itália e Alemanha: na Inglaterra é conhecido por notícias “D”.

7 – Há algum tempo, a censura reduziu as horas para aceitação das cópias não traduzidas. Fez-se uma tentativa de adaptação, pelo que uma cópia com tradução apenas devia ser entregue entre as 12/30 e 17/30 e depois da meia noite por diante.

Já se fez salientar (3) que as traduções são um método que não satisfaz de interpretar a intenção dos telegramas redigidos em inglês. Nota-se também que, até que qualquer mudança tenha sido feita nesta disposição, se estabeleça como pura medida temporária.

Salienta-se também que muitos jornais ingleses e americanos trabalham com grande urgência durante as horas acima mencionadas e que as dificuldades e o trabalho perdido em fornecer essas traduções são um perfeito embaraço para os correspondentes destes jornais.


Carlos Guerreiro

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Histórias na tela

O Espaço Memória dos Exílios inicia esta noite mais um ciclo de filmes dedicados à temática da II Guerra Mundial. As fitas, de entrada gratuita, são ainda tema de debate após a exibição contando com a presença de convidados especiais para esse efeito.


O ciclo abre com "O Filho de Saul" de Laszlo Nemes. O filme começa às 21.00 horas e será comentado por José Manuel Fernandes. Amanhã, dia 15, a sessão começa às 15.30 horas, com o filme "Caçadores de Obras Primas" sobre a unidade especial que os americanos organizaram com o objetivo de descobrir as obras de arte roubadas pelos nazis aos longo da guerra.

Os comentários estão a cargo de Cláudia Ninhos. Nos próximos dois fins de semana, a cada sábado (22 e 29 de Outubro) pode assistir aos filmes "A Queda - As últimas Horas de Hitler" e "O Longo Caminho para Casa" com comentários de Ricardo Silva e Isabel Gil, respetivamente. As sessões estão marcada para as 15.30 horas.

Não esqueça que existem outras coisas para fazer e que, até Dezembro, existem também duas exposições na zona de Lisboa que valem a penas serem visitadas. Para saber mais pode consultar a nossa AGENDA.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Portugueses na Divisão Azul tema de encontro

No próximo sábado, às 16 horas, o Espaço Memória dos Exílios vai receber o Ricardo Silva para falar sobre a Divisão Azul e dois naturais de Cascais que integraram essa unidade de voluntários formada em Espanha para combater na União Soviética.

Estarei também por lá para iniciar a sessão e depois para moderar a conversa que se segue…

Fica encontro marcado.



Sinopse da iniciativa:

Integrada na rubrica "Debates nos Exílios" realiza-se uma palestra por Ricardo Silva, na qual será contada a história de dois cascalenses: Alberto Alves e João da Cunha, figuras que inseriram a Divisão Azul. No dia 24 de agosto de 1941 , Hitler terá aprovado o "uso" de voluntários espanhóis a enviar para a frente de Leste, durante a Segunda Guerra Mundial.

A Divisão Azul, como assim era chamada, era constituída por combatentes voluntários que se alistavam em Espanha e que provinham maioritariamente da Legião Espanhola e que participaram na cruzada de 1936-1939. Desses , 159 voluntários eram portugueses e participaram naquela que foi a maior operação militar de todos os tempos: a invasão da União Soviética pelas forças da Alemanha nazi.

É esta participação activa de portugueses ignorada pela historiografia portuguesa, que vamos debater. Identificar os homens pelos seus nomes e dar rostos concretos a inúmeras histórias, numa reconstituição que só foi possível graças ao laborioso trabalho de investigação levado a cabo por Ricardo Silva, mestre em História Contemporânea pela Universidade Nova de Lisboa e autor da tese Portugueses na Wehrmacht, "Os voluntários da Divisão Azul". (1941-1944).

Carlos Guerreiro