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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Boas entradas

(Mundo Gráfico, 30 Dezembro 1940/ Hemeroteca Digital)
O "Aterrem em Portugal!" deseja a todos um Feliz 2015...

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

«Escaparate de Utilidades»
Relógios Eterna

Revista Mundo Gráfico, 15 de Dezembro 1941

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O Postalinho...
Aquele safado do Chamberlain


O cartoon impresso neste postal de propaganda britânico foi originalmente publicado em 11 de Janeiro de 1940, no jornal "Evening Standart", num momento em que se vivia a chamada "Drôle de Guerre", ou guerra sentada, com a França e a Inglaterra esperavam pelo ataque alemão.

Durante este período a Finlândia, que se declarara neutral, estava sob ataque da União Soviética - aliada da Alemanha - e sabia-se que existiam importantes movimentações de tropas germânicas junto das fronteiras belga e holandesa, apesar de tanto um com outro se terem declarados no conflito que se desenrolava.

Curiosamente, no dia 10 de Janeiro, tinha-se despenhado um avião em território francês com dois oficiais alemães que transportavam planos de invasão da França, que incluíam a conquista da Bélgica, delineados pelo Estado Maior da Wehrmacht. O cartoon seria republicado em 1941 numa colectânea de David Low, um dos grandes nomes do desenho britânico.

Em 1940 Chamberlain era ainda primeiro-ministro do Reino Unido.

Na obra, chamada "A Europa em Guerra" o desenho vinha acompanhado de um texto legenda:

"Depois de a Finlândia, a posição dos pequenos neutros tinha-se tornado cada vez mais perigosa. Temiam a colaborar na segurança mútua para não comprometerem a sua própria neutralidade. A Bélgica, em particular, tinha, de forma rígida, evitado qualquer situação que pudessem causar problemas. No entanto chegavam inquietantes relatórios sobre a actividade alemã junto das fronteiras belga e holandesa. Hitler pensou que a sua neutralidade não era suficientemente pró-nazista . Como bons neutros eles deveriam lutar contra o bloqueio britânico . Ele suspeita de uma conspiração de Chamberlain ."

Carlos Guerreiro

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O "Aterrem em Portugal!"
deseja-lhe um Feliz Natal...

(Mundo Gráfico, 15 de Dezembro de 1941)

Desejo a todos os amigos do"Aterrem em Portugal!" um Feliz Natal com tudo o que mais desejam... E continuação de bons voos pela nossa história.

«Escaparate de Utilidades»
Insecticidas Químicos ICI

Revista Mundo Gráfico, 15 de Dezembro de 1944 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Espionagem em Lourenço Marques...
Raptos para fechar olhos e ouvidos

Alfredo Manna foi agredido mal parou o carro e continuou a ser socado até ficar inconsciente. De seguida, na sua própria viatura, foi conduzido até à fronteira de Moçambique com a Suazilândia e entregue à Polícia da Real Força Aérea. Na noite de 21 de Março de 1943 os serviços secretos ingleses concluíam, desta forma, por concluída a Operação Smokescreen (cortina de fumo) que tinha como principal objectivo dar um golpe na rede de espionagem italiana que operava em Lourenço Marques.

Folheto publicitário do Costa's Casino. 
Foi nas traseiras deste "dancing" que começou a operação de rapto do agente italiano Alfredo Manna.

Para Alfredo Manna foi o culminar inesperado de uma noite que tinha prometido algo completamente diferente. Há muito que se insinuava junto de Ana Levy, uma bailarina sul-africana do Costa’s Casino, na capital moçambicana. Quando esta lhe telefonou a marcar o encontro, deve ter acreditado que os galanteios tinham obtido resultados.

Encontrara-se com ela nas traseiras da casa de espectáculos e Ana dissera-lhe para conduzir até um café, a cerca de 20 quilómetros, na estrada que ligava Lourenço Marques à Suazilândia. Foi já perto do destino que viu um carro na berma estrada, aparentemente, avariado. Quando passou por ele, um outro automóvel, também estacionado na berma, atravessou-se na sua frente. Vários homens deram-lhe depois uma tareia. Acordou num hospital da África do Sul, onde passou vários dias, antes de ser entregue à marinha britânica, que o transportou para Inglaterra onde foi internado e interrogado no Campo 020, na ilha de Man, especialmente concebido para receber espiões inimigos.

Alfredo Manna era um elemento chave da rede de espionagem italiana que operava em Moçambique. Responsável na ex-colónia portuguesa pela Agência de Notícias Stefany, era um dos cérebros da organização liderada pelo cônsul-geral italiano Umberto Campini. A recolha de dados sobre navegação era a sua principal actividade.

Com o mar mediterrâneo demasiado perigoso, parte importante dos abastecimentos para o exército britânico no Egipto começaram a circular através do Cabo da Boa Esperança. Os navios eram tantos que os portos sul-africanos não tinham capacidade de resposta e Lourenço Marques depressa integrou a lista de escalas para os abastecimentos.

Para além dos marinheiros que chegavam nestes navios, centenas de outros encontravam em Lourenço Marques um porto de abrigo depois dos seus navios serem afundados ao largo da África do Sul ou no Canal de Moçambique. Conhecedores das rotas que os abastecimentos seguiam as frotas de submarinos alemães e japoneses organizaram, entre 1941 a 1944, diversas expedições afundado dezenas de navios. As faltas de escoltas navais e aéreas tornavam o teatro de operações muito apetecível…

Era destes homens que os agentes italianos e alemães extorquiam informações. Um copo, uma promessa ou simplesmente a falta de cuidado soltavam a língua e as informações fluíam. Grupos de noruegueses, gregos ou de outros países ocupados pelo Eixo também se deslocavam de forma voluntária ao consulado alemão em busca de apoio. Segundo Werz confessaria depois da guerra não era difícil sacar-lhes informações.

Os britânicos aperceberam-se destas movimentações em Lourenço Marques e em finais de Junho de 1942 chegava à cidade Malcolm Muggeridge, com o objectivo de reforçar e reorganizar os serviços de contra-espionagem locais.

Mal chegou, no Verão de 1942, Muggeridge contribuiu para o rapto de um outro elemento da rede de Campini. Homer Serafimides era um marinheiro grego conhecido pelas suas ligações com os italianos. Com a colaboração de Muggeridge, que exerceu pressão sobre o cônsul grego, foi possível meter Serafimides a bordo de um cargueiro grego. O comandante do navio prendeu-o em mar alto e entregou-o no porto sul-africano de Durban.

O jornalista, e futuro escritor britânico, preocupou-se um montar uma rede de vigilância que conseguisse perceber as movimentações dos homens do Eixo. Hospedou-se até no Hotel Polana, para melhor seguir as movimentações dos espiões do eixo que também ali tinham montada a sua base de operações. Entre os que foram recrutados contavam-se dois judeus polacos, um aristocrata alemão e Abel Ferreira, chefia da PVDE em Moçambique, identificado como “Inspector Y”, e que seria o cérebro e o executante da operação de rapto de Manna.

Seria ainda Ferreira a montar as operações de busca ao italiano e a conduzir a investigação policial ao seu desaparecimento. Circularam rumores de que Manna se teria oferecido aos aliados a troco de dinheiro. O inquérito policial seria inconclusivo…


Werz é mais perigoso

Quando Muggeridge chegou, em 1942 os olhos dos aliados estavam sobre Campini que surgia como o líder da mais perigosa rede a operar a África Oriental portuguesa, mas essa percepção mudou em poucos meses e não seria apenas devido aos raptos.

Em finais daquele ano tinha sido possível descodificar as mensagens que vinham de Lourenço Marques e afinal cônsul alemão tinha acesso a informações muito mais sensíveis do que Campini. A rede alemã estendia-se de Lourenço Marques a Pretória, onde contava com a colaboração de muitos Africânderes, que estavam contra o alinhamento do país ao lado da Inglaterra.

Os longos telegramas que enviava para Lisboa continham um misto de notícias sobre navegação e dados sobre a África do Sul. No interior do país estavam colocados agentes alemães, postos emissores e, num dado momento, até foram enviados sabotadores da Alemanha com o objectivo de desestabilizar o país.

As atenções deslocaram-se assim de Campini para Luitpold Werz, o vice-cônsul alemão na cidade, apontado como coordenador da enorme rede de recolha de informações que minava Moçambique e a União Sul Africana, isto apesar dos telegramas enviados para Lisboa, e para Berlim, serem assinados pelo cônsul-geral da Alemanha, um homem idoso chamado Paul Trompke.

A rede de Werz conseguiu, por exemplo, informar Berlim da eminência da invasão aliada de Madagáscar em Maio de 1942(uma possessão francesa e, por isso, sob governo de Vichy). Enviou também informação sobre os meios militares presentes naquela ilha, depois da invasão, ou maquinaria militar que estaria a caminho da União Sul-Africana a bordo de navios que vinham da América.

A sua rede de agentes era constituída por alemães evadidos de campos de prisioneiros sul-africanos, alguns residentes, vários portugueses, incluindo também um elemento da polícia, e ainda os marinheiros de dois navios mercantes alemães refugiados no porto de Lourenço Marques (Aller e Dortmund) e de um outro na Beira (Rufidji). Os navios tinham procurado refúgio no porto neutral quando rebentou a guerra. Seriam adquiridos pelos portugueses em 1943. Ancorado na capital moçambicana encontrava-se também o navio tanque italiano “Gerusalemme”, munido de um poderoso rádio utilizado tanto por italianos como por alemães para fazerem chegar informações mais urgentes a Roma ou a Berlim. Uma operação sempre difícil pois as condições estavam longe de ser ideais.

Depois dos sucessos obtidos com os raptos dos agentes italianos Muggeridge começou a delinear planos para minar a rede alemã. Werz não poderia ser o alvo porque o seu desaparecimento causaria demasiados problemas na pacata Lourenço Marques, mas existiam dois outros operacionais que pareciam importantes e cujo desaparecimento seria sentido no funcionamento da organização.

Herbert Masser, também conhecido por “Pastor”, era um alemão que havia escapado da África do Sul. Era sobejamente conhecido por ter sido julgado naquele país por um crime de espionagem. Num interrogatório no final da guerra Werz não reconheceria qualquer importância a Masser, classificando-o como o uma personagem problemática. Não seria necessário levar avante a operação "Pastmaster", pois Masser seria preso pelos aliados quando tentava chegar a Lisboa escondido a bordo de um navio.

Alois Muellner já era diferente. Conhecido também por Leo, era um dos responsáveis - com um grego de nome Batos ou Bathos - pela elaboração dos “Leo Reports” que eram entregues periodicamente a Werz.

Afinador de pianos de profissão circulava pelas casas dos mais ricos de Lourenço Marques onde alimentava longas conversas sobre os temas do momento.Era conhecido por transitar pelo porto atento às conversas e por oferecer bebidas aos marinheiros nos cafés e bares.

Este tipo de actividades acarretava alguns riscos. Um dos sócios do Hotel Savoy informou, por exemplo, os serviços britânicos de um episódio onde ele quase foi agredido por um náufrago grego. “Você afunda os nossos navios e ainda tem coragem de vir aqui falar connosco” terá gritado o homem antes de se dirigir a ele para lhe bater. O confronto físico só não aconteceu porque outros se interpuseram entre os dois homens.

A “Operação Armpit” também não sairia também do papel, mas por razões diferentes. Em Lisboa negociava-se a cedência das Lages entre portugueses e britânicos e o Foreign Office queria o caminho desimpedido de problemas. Mais um rapto poderia criar sérios problemas diplomáticos.

Manna, que inicialmente ficara calada começara também a falar e diversas mensagens, entregues para análise aos serviços de inteligência da marinha, reveleram que as informações fornecidas por Werz e por Campini, eram vagas e pouco contribuíam para a actividade dos submarinos. Excluída ficou também a suspeita de que existiriam contactos directos entre a rede e os submarinos que operavam naqueles mares.

Não haveria mais acções espectaculares. Os britânicos continuariam apenas a "alimentar" as autoridades portuguesas com informações, com o objectivo de que estes expulsassem italianos e alemães do território, o que aconteceria em 1943 e 1944…

Carlos Guerreiro

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O Postalinho...
Uma ameaça para a América do Sul


Postal de propaganda alemão, certamente posterior a Outubro de 1941 e possivelmente posterior à declaração de guerra do Japão e da Alemanha aos EUA no mês seguinte.

O desenho sugere que os EUA são uma ameaça a todos os países da América do Sul, e que poderá engoli-los, tal como fez com o Panamá.

Devido ao canal, que liga o Atlântico ao Pacífico, o país assumiu um papel estratégico essencial para o conflito.Os EUA, ainda antes de entrarem na guerra, quiseram assegurar o seu controlo e a sua defesa, mas o presidente panamiano, Arnulfo Arias, eleito em 1940 e considerado pró-eixo, dificultou ao máximo às negociações. No princípio de 1942 os EUA consideravam Arias uma ameaça para a estabilidade na zona.

Em Outubro de 1942 essa “ameaça” esfumou-se com um golpe de estado liderado por Ricardo Adolfo de La Guardia. As negociações para o controlo e defesa do canal enttre os dois países avançaram de forma muito rápida e, quando se deu o ataque a Pearl Harbour, no dia 7 de Dezembro, o Panamá foi dos primeiros países da América do Sul a declarar guerra ao Japão e à Alemanha.

Carlos Guerreiro

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A nossa Guerra Mundial no "Aero Journal"


A edição de Dezembro da revista francesa “Aero Journal” dedica várias páginas aos aviões dos países beligerantes que aterraram em Portugal durante a II Guerra Mundial.

O artigo, que me foi solicitado há alguns meses, refere vários dos mais de cem aviões que aterram no nosso país durante aquele período, sejam eles os FW200 Condor, da Luftwaffe, ou os Aircobra americanos.

Boas leituras…
Carlos Guerreiro 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Espionagem em Lourenço Marques...
Preocupações portuguesas

A denúncia da rede de espionagem alemão na capital moçambicana, publicada revista americana Colliers a 7 de Novembro de 1942, causou forte preocupação no regime e, fosse pelos detalhes ou pela sugestão de que o governo português fazia vista grossa à actividade desses espiões, foi rápida a reacção do Governo que, em poucos meses, tinha prontos inquéritos tanto da Marinha de Guerra como do Ministério das Colónias.

Lourenço Marques nos anos 40.

Todos os documentos, acompanhados de algumas notas pessoais, encontram-se no Arquivo Oliveira Salazar, na Torre do Tombo, sinal de o Presidente do Conselho, que era também ministro da Defesa e dos Negócios Estrangeiros, mostrou um interesse pessoal pelo assunto, numa altura em que se adivinhavam mudanças profundas no sentido da guerra, com o desembarque americano no Norte de África.

O Chefe de Estado-Maior da Marinha, Major General da Armada Alfredo Botelho de Sousa, é o primeiro a avançar com as conclusões de um inquérito conduzido pelo comandante do aviso “Afonso de Albuquerque”, a unidade de maior porte no índico naquele período.

Logo a 12 de Janeiro são conhecidos os resultados e, ao longo de 13 páginas, analisam-se várias passagens do artigo publicado na revista americana. Confirma o grande número de afundamentos naquela parte do Indico durante o ano de 1942, avançando com o número de 29 navios desaparecidos entre 17 de Outubro e 14 de Dezembro. Assegura, no entanto, que destes apenas 11 o tinham feito na costa da ex-colónia portuguesa, enquanto os restantes “aconteceram na costa sul-africana”.

Depois de nomear cada um dos onze navios pormenoriza que “apenas dois afundamentos se verificaram a cerca de 10 milhas da costa portuguesa - três a 20 milhas e os restantes 6 a distâncias maiores – todos fora de águas territoriais portugueses que se encontravam até às 3 milhas”.

Mesmo assim muitas dezenas de náufragos, até de navios afundados na África do Sul, vão chegar de alguma forma a Moçambique. Um documento britânico refere a presença de cerca de 500 náufragos nos anos de 1942 e 1943, só na zona da Beira.


Guerra entre portos

Entre as várias respostas enviadas a Lisboa é traçado o cenário do que se vive naquela zona do globo. O porto de Lourenço Marques conheceu um acréscimo de tráfego importante desde que os combates se aproximaram do Egipto no ano anterior, nomeadamente, para se abastecerem de combustível. Cinco dos navios afundados na proximidade da costa tinham ali feito escala. De resto nenhum destes navios chegou ou saiu em comboio ou tinha qualquer tipo de escolta, uma lacuna de “policiamento” considerado um "desafio aos apetites do adversário”.

Os oficiais da marinha portuguesa salientam também que aquela zona do continente africano está à mercê tanto de submarinos alemães, acompanhados de submarinos de abastecimento, como de submarinos japoneses. Uma análise acertada já que tanto uns como outros navegaram aquelas águas até 1944. De resto só esperam nova actividade com a aproximação do Verão, pois os ataques têm tendência para acontecer por vagas: "a considerar o ano passado (...)  houve dois períodos de grande actividade submarina: durante Junho e primeira quinzena de Julho e durante Novembro e primeira quinzena Dezembro".

O relatório exclui a possibilidade de existirem pontos de abastecimento para os submarinos ao longo da costa, mas já não avança com a mesma garantia em relação à existência de navios "amigos" que executem operações desse tipo: “É uma hipótese, que nada confirma, mas que tanto pode verificar-se na costa portuguesa, como na própria costa da África do Sul, pois não há vigilância possível que garanta que tal não se possa dar”.

O Major General da Armada Botelho de Sousa reforça a ideia de que há rivalidade entre portos, nomeadamente com o de Durban, razão porque a notícia saiu daquela forma, responsabilizando Moçambique pelos afundamentos.

Neste aspecto também o relatório do Ministério das Colónias concorda com o realizado pela Marinha, referindo que "a imprensa da União Sul Africana e dos Estados Unidos insistem" em apontar os navios atacados junto à costa Moçambicana, quando foram muitos mais afundados na costa do Natal.

Já sobre o resto do conteúdo do artigo mostra-se incapaz de confirmar as actividades de espionagem alemã. “(…) Não deve ser muito fácil a espionagem feita pelo cônsul alemão num meio relativamente pequeno como é Lourenço Marques onde a grande maioria da opinião pública é favorável aos aliados”, está escrito no relatório, apesar de haver o reconhecimento que, “em todo o caso é de crer que alguma espionagem se faça, e um facto há que contribuí para que se dê mais crédito a essas notícias, é o de na realidade o cônsul Dr. Werz enviar extensos telegramas cifrados”.

Para tentar satisfazer os reclamantes ingleses, mas sem entrar em confronto com os alemães, os responsáveis do ministério sugerem, com “fundamento de haver muito serviço telegráfico do Estado e também haver muito serviço de particulares, limitar o número de palavras dos telegramas cifrados a expedir sem sujeição a demora”. Não é possível perceber, pelo resto da documentação, se esta medida chegou a ser implementada, mas é certo que Werz, e os restantes associados, passaram a estar sob a mira das autoridades policiais em Lourenço Marques.


A esperança dos Bóer

Entre a documentação britânica, relativa à vigilância de elementos desta rede, há testemunhos de polícias locais que confirmam o crescente interesse português nas suas actividades.

Os aliados tinham um interesse muito especial nesta rede, que ia muito para além da informação naval que pudesse ser recolhida pelos seus agentes. No interior da União da África do Sul existia uma importante população bóer, descendentes de holandeses e alemães, e que sempre tinham lutado contra a presença britânica. Fatias importantes desta população eram contra a participação na guerra ao lado dos aliados e outros viam na vitória alemã a possibilidade de reconquistarem o poder.

Os aliados sabiam que existiam contactos entre grupos nacionalistas bóer e alemães. Existiam trocas de informações, emissões de rádio alemãs para o território e será até desembarcado um sabotador alemão no território.

Por todas essas razões os britânicos tinham a rede assinalada há algum tempo e andavam a recolher informações junto de diversas indivíduos portugueses e estrangeiros que residiam em Moçambique.

A partir dos princípios de 1943 Salazar vai também estar exposto a uma maior pressão dos aliados. Detalhes sobre diversas redes alemãs a operar em Lisboa e nas diversas colónias são-lhe entregues pelo embaixador britânico em Lisboa. A insistência em obter resultados passa a ser cada vez mais intensa e terá também resultados em Moçambique. Em Outubro de 1944 as autoridades portuguesas vão expulsar da colónia tanto Wertz como outros membros da sua rede.

Carlos Guerreiro

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Prisioneiros portugueses durante a II Guerra Mundial

A neutralidade portuguesa não impediu que portugueses lutassem nos vários campos de batalha da Europa dos anos 30 e 40 do século passado e acabassem por sofrer o cativeiro na sequência dessa particpação.

Entrada do Campo de Prisioneiros de Vernet onde estiveram presos várias dezenas de Portugueses durante a II Guerra Mundial.

Na guerra civil de Espanha os Viriatos e outros voluntários lutaram  com os nacionalistas rebeldes de Franco, enquanto do outro lado das trincheiras se encontravam portuguese republicanos, comunistas e anarquistas.

Terminado este “ensaio” do que viria a ser a II Guerra Mundial, os homens seguiram destinos distintos. Entre os nacionalistaas, muitas dezenas fizeram vida profissional no exército de Franco, enquanto os do outro lado - algumas centenas - atravessavam a fronteira para França, escapando à prisão e, possivelmente, à morte.

A França do princípio de 1939 colocou-os em campos de internamento até encontrar melhor solução. Os campos foram-se esvaziando através de repatriamentos ou outros destinos. Quando rebentou a II Guerra Mundial sobravam muitos comunistas, então aliados dos alemães. Mantê-los presos foi uma solução óbvia.

 Reportagem sobre prisioneiros portugueses da II Guerra Mundial. Na imagem prisioneiros comunistas no campo francês de Vernet.

No campo de Vernet juntaram-se esses combatentes da guerra civil a portugueses indocumentados, a presos de delito comum ou a elementos civis que pertentes a associações de índole comunista.

A rendição da França abriu a porta à possibilidade de trabalharem na Alemanha. Quando se dá invasão da Rússia pelos Nazis tudo muda… Alguns destes portugueses vão terminar o seu cativeiro em campos de concentração alemães. Vários morrem por lá.

 Cristina Clímaco recorda Tomás Vieira um português que morreu em cativeiro.

Na Rússia cerca de centena e meia de portugueses envergou a farda da divisão azul, uma unidade espanhola que lutou ao lado dos nazis. Pelo menos dois foram aprisionados e percorreram vários campos de prisioneiros. De um perdeu-se o rastro, mas outros conseguiu regressar a casa.

 As famílias dos prisioneiros na Rússia não sabiam que se ele estavam vivos ou mortos, explica Ricardo Silva.

Os investigadores Cristina Clímaco e Ricardo Silva seguiram o rasto destes homens e contaram parte das suas histórias. A reportagem foi emitida na Antena 1 na tarde do dia 1 de Dezembro de 2014…

Carlos Guerreiro

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Espionagem em Lourenço Marques...
Risco em Moçambique na revista Colliers

O Hotel Polana, em Lourenço Marques, foi o local de residência do espião alemão Luitpold Werz, principal visado  no artigo da revista Colliers de Novembro de 19542.
(Foto: https://delagoabayworld.wordpress.com/)

O artigo que transcrevo foi publicado na edição de 7 de Novembro de 1942 da revista americana “Colliers”, e encontra-se assinada por Frank Gervasi, um jornalista consagrado, que cobriu a Guerra Civil de Espanha, a 2ª Guerra Mundial e foi autor de uma dezena de livros.

Este artigo encontra-se entre a documentação do Arquivo Oliveira Salazar, na Torre do Tombo, e terá causado uma forte impressão no governante português, pois tanto o Ministério da Marinha como o Ministério da Colónias elaboraram relatórios relacionados com este assunto. Esses relatórios serão tema para um artigo na próxima semana.

O tempo irá levar o governo português a assinar a expulsão de Luitpold Werz - a personagem central desta peça jornalística - e de outros colaboradores dos serviços secretos do nazismo, tanto em Moçambique como em Angola. Temas a que também voltaremos noutros artigos…

Apesar de, aparentemente, se encontrar longe dos grandes centros de decisão, aquele território e a África do Sul, foram palco de um verdadeiro choque entre agências de espionagem do Eixo e dos Aliados, com o registo de raptos, secretas operações de desembarque, ataques a navios e muitas outras peripécias…

Há certamente assunto para várias semanas de conversa…

Por agora fica o artigo que descreve o ambiente que se vivia em Moçambique, e também as suspeitas que recaiam sobre o vice-cônsul alemão, Herr Werz…


Região Africana de Risco

A linha de abastecimento dos Aliados, desde Inglaterra até às frentes de batalha do Próximo Oriente, Rússia e Índia, depois de rodear o Cabo da Boa Esperança, vai passar nas águas estreitas do Canal de Moçambique entre a Ilha de Madagáscar e a África Oriental Portuguesa. É uma das mais seguras linhas que liga os arsenais das nações unidas com os seus campos de batalha, e só é verdadeiramente vulnerável nas águas do referido canal. No momento mais crítico da luta, que procurava impedir que o inimigo alcançasse as regiões petrolíferas da Rússia e da Arábia, perdemos muitos navios nesse canal. O seu número exacto continua sendo um segredo militar.

A fim de proteger esta linha de abastecimentos, os ingleses ocuparam Diego-Suarez e a União Sul-Africana enviou tropas para terminar a ocupação de Madagáscar, para evitar que o inimigo se servisse da ilha como base donde atacasse a navegação aliada no canal e, possivelmente, donde tentasse a invasão do continente africano. Mas Madagáscar é apenas metade do problema. A outra metade é a África Oriental Portuguesa.

A colónia portuguesa neutral da África Oriental é, em determinado sentido, uma base inimiga no continente africano. Dali os espiões e agentes inimigos podem comunicar para Berlim, Roma e Tóquio, os movimentos dos navios pertencentes às Nações Unidas. Estes agentes da Gestapo, recrutam em Lourenço Marques marítimos holandeses e gregos que fazem parte das tripulações dos navios aliados. É dali que um dos mais hábeis, dos muitos, agentes alemães transmite para Berlim as informações que acumula relativas às Nações Unidas , e cujas funções no continente africano se podem comparar com as exercidas por Von Papen, nos Balcãs, e por Grobba, no Próximo Oriente.

Ele fornece a Goebbels todos os elementos para a sua propaganda contra a África do Sul – mas esta é talvez a menos perigosa das suas missões.

Se o problema fosse contrário, isto é, se a África Oriental Portuguesa estivesse rodeada de colónias alemãs em vez de o estar por territórios, colónias e domínios britânicos não haveria dúvida acerca da forma como tudo teria sido resolvido. Os alemães ter-se-iam limitado a invadi-la. Mas as Nações Unidas não procedem desta forma. Portugal é um neutro e a neutralidade portuguesa, segundo os métodos das Nações Unidas, tem de ser respeitada. Não importa que o sr. Luitpold Werz, que passa por ser o vice-cônsul alemão em Lourenço Marques, seja um dos mais seguros membros da Gestapo e que viole diariamente a neutralidade portuguesa.

Uma série e circunstâncias políticas e geográficas tornaram a tarefa de Werz relativamente fácil. Nos territórios neutrais as vantagens são sempre a favor do Eixo. Todos os neutros ou pseudo-neutros sentem-se obrigados a conformarem-se com as suas exigências. Muitos têm fronteiras comuns com o eixo ou com países ocupados e receiam a invasão se fazem qualquer objecção àquelas exigências.

Portugal, particularmente, está numa má situação, atendendo que, à mais pequena provocação, a Espanha, intimada pela Alemanha, o invadiria. Oficiais portugueses recém-chegados da metrópole a Moçambique informaram-me de que não seria possível resistir uma semana aos espanhóis se estes tentassem a invasão.

E se uma invasão tiver lugar, o império português, velho de meio século, compreendendo um território 26 vezes maior do que a metrópole, incluindo não só algumas das mais ricas das colónias de África, mas também ilhas de situação estratégica, estariam à mercê do eixo, da Grã-Bretanha ou dos Estados Unidos – do primeiro a chegar.

O vasto e rico império Português que tem sobrevivido, mais que qualquer outro, e escapado à sofreguidão imperialista dos últimos cem ou cinquenta anos, graças à protecção da poderosa esquadra Inglesa, pode tornar-se num dos impérios africanos à mercê dos acontecimentos.

O medo de perder o império, a fundamental e nítida simpatia pelo fascismo, bem impressa no seu sistema corporativo, e a secreta crença de que as Nações Unidas não ganharão a guerra explica, parcialmente, a tácita colaboração de Portugal com o Eixo. Estas circunstâncias, mais particularmente, explicam como o Dr. Werz obtém quantos fundos requisita dos bancos portugueses.


A habitual técnica nazi

É o mesmo velho “truque” que os Nazis utilizaram nos Balcãs. A Alemanha obriga Portugal a comprar-lhe os seus produtos, ferramentas e armamentos (ainda recentemente a Alemanha ofereceu-se para vender a Portugal o equipamento para quatro divisões motorizadas) e obtém, assim, largas reservas em dinheiro português nos bancos de Lisboa. O Dr. Werz, em Lourenço Marques pode, a seu belo prazer, levantar quanto precisar, desses depósitos.

A atmosfera pró-fascista de Portugal não é compartilhada pela população branca de Moçambique, onde os nativos não contam. A colónia, cuja prosperidade económica depende largamente da África do Sul e da Rodésia é, abertamente, pró Inglaterra e pró Nações Unidas.

A população ressente-se da tendência que há na metrópole para fazer de Moçambique terreno de experiência dos políticos na inactividade.

Chamam paraquedistas aos funcionários vindos de Portugal, que se apossam dos melhores lugares e não se preocupam nada com o progresso local.

Se Portugal for alguma vez invadido pelo inimigo é razoável esperar, de acordo com a opinião dos principais elementos da colónia, que Moçambique se torne o centro do movimento do Portugal livre, exactamente como sucedeu com as colónias francesas em relação à França. Nada, porém, contraria o trabalho de Dr. Werz, porque em toda a Neutrália (essa terra onde se costuma dizer “isso aqui não acontece”, e agora somente inclui meia dúzia das cinquenta nações independentes do mundo) há homens que ambicionaram alcançar o poder através de uma vitória do Eixo e outros que se podem comprar e vender.


Um porto importante e movimentado

Moçambique não constitui uma excepção.

O Dr. Werz sabe como gastar o seu dinheiro. Os seus agentes gastam-no em abundância comprando bebidas para os marítimos do porto. Lourenço Marques tornou-se um dos mais importantes portos num continente que é tristemente falho de bons fundeadouros.

Há 10 meses, os guindastes de Lourenço Marques jaziam abandonados e os seus cais estavam desocupados, excepto para uma pequena cabotagem ou para um navio ocasional, vindos de Lisboa. Hoje em dia é um dos mais movimentados portos da costa oriental, onde os cargueiros das Nações Unidas escalam para se reabastecer, reparar ou embarcar carga trazida por caminho-de-ferro da África do Sul.

Mais de dois milhões de toneladas de navios passaram por Lourenço Marques, entre Janeiro e Junho, e este ritmo aumentou à medida que as facilidades obtidas no Cabo e em Durban diminuíam devido à abundância de carga. As docas estão cheias de navios, e os cafés da beira-mar repletos de embarcadiços. Entre estes há gregos e holandeses cujas famílias estão nos territórios ocupados.

Hoje em dia os marinheiros valem como os canhões, e o Dr. Werz desenvolve um sistema capaz de nos (às Nações Unidas) privar de alguns.

Os seus agentes circulam por entre os marítimos mais inconsoláveis que ignoram se as suas famílias estão vivas ou mortas. Ganham-lhes a confiança e oferecem-se para obter novas dos seus parentes e amigos. “Basta que nos dê os nomes, donde foi o último lugar que recebeu notícias e nós faremos o resto”. Através da Gestapo em Berlim e nas áreas ocupadas o Dr. Werz obtém as notícias desejadas, em menos de 48 horas. Sempre que as notícias são desfavoráveis, claro, omitem-se os detalhes tristes. Então os agentes voltam a encontrar-se com os marítimos e transmitem-lhes as informações.

Em troca o Dr. Werz consegue preciosos detalhes para a sua principal missão, que é a espionagem naval: o último porto onde o navio tocou, tonelagem, espécie de carga e, possivelmente, o seu destino.

Pessoalmente, pode certificar-se quais os navios que largam de Lourenço Marques. Isso é o mais fácil. Basta-lhe olhar da janela do seu quarto, no Polana Hotel, que está numa elevação dominando a baía da Lourenço Marques. Telegrafa para Berlim o movimento diário dos navios. Berlim rapidamente se põe em contacto com os submarinos e corsários operando no canal de Moçambique e nas águas africanas.

Mas isto não é tudo. Os marinheiros a quem o Dr. Werz prodigaliza favores são muitas vezes influenciados para abandonar os seus navios. Lourenço Marques está cheio de embarcadiços pelas praias que o Dr. Werz levou a desertar, e de outros que naufragaram. Muitos dos barcos perdidos no canal tinham pouco antes levantado ferro de Lourenço Marques.

É um macabro estudo, este de observar um esgrouviado nórdico de cabelos louros e olhos azuis sentar-se na sala de jantar do Polana Hotel e medir com os olhos os capitães de navios que entram e saem. Deselegantemente vestidos com fatos comprados feitos, estes sobreviventes de naufrágios sentam-se para tomar a sua primeira refeição depois de dias e dias passados em baleeiras e jangadas.

A transmissão e recepção, referente ao trabalho que relatámos atrás, consome grande parte do orçamento diário do Dr. Werz em telegramas. Tornou-se o melhor cliente dos correios e telégrafos do estado, em Lourenço Marques. Todos os dias o vice-cônsul alemão manda o seu criado preto, uniformizado de caqui, à repartição dos correios com longos telegramas, dirigidos à Chancelaria Alemã, contendo numerosas linhas dactilografadas que representam palavras em cifra. No fecho, carimbadas com a águia alemã e a cruz suástica.

O criado deixa, para pagamento dos telegramas, vinte e quatro mil escudos em notas. A conta de telegramas do Dr. Werz atinge quinze mil dólares mensalmente e, sabe-se, levantou do Banco Ultramarino, o Banco Colonial do Estado, a quantia de cem mil dólares de uma só vez.

Em Moçambique os Nazis não se preocupam em colectar os duzentos alemães que vivem em Lourenço Marques, ou os quinhentos que possuem plantações de sisal no norte da colónia, próximo de porto Amélia e da cidade de Moçambique, a região próxima das antigas colónias alemãs.

As quantias que o Dr. Werz gasta com telegramas representam uma enorme despesa, no género daquela que os serviços de censura chamam “informações úteis ao inimigo”.

Certamente não enche os seus rádios com discrições dos acontecimentos e da vida de Lourenço Marques, porquanto esta cidade, embora capital da melhor colónia portuguesa, não é, positivamente, uma metrópole.

Para o cônsul americano, por exemplo, pode-se considerar uma semana ocupada aquela em que tem de expedir dois telegramas oficiais. A propósito, direi que o nosso cônsul ali é um rapaz de Buffalo, chamado Austin Roe Presont. É um funcionário de 4ª categoria, num posto classificado de 8ª, que está em inferioridade por não ser cônsul geral, porque todos os países, excepto o Japão, mantém lá cônsules gerais. E ele e a sua mulher de origem australiana, Marjorie e o seu filho , Austin Jr, constituem toda a população americana de Moçambique.


Deixam Werz trabalhar

Lourenço Marques, cenário deste drama africano de espionagem (que seria uma farsa e menos um drama se as consequências para as Nações Unidas fossem menos funestas) é uma terra triste e sombria, apesar das brochuras turísticas se lhe referirem com grandes encómios.

Aqui, 14.000 pessoas de origem portuguesa, 29.000 nativos e 5.000 sem identificação possível, arrastam uma monótona existência com dois cinemas, dois clubes nocturnos, um hotel medíocre e um “terrível” campo de golfe. Mas, apesar de tudo, ninguém se tem importado com Werz.

Alguns ingleses divertem-se arquitectando planos à Edgar Wallace para o fazer desaparecer, mas Werz prossegue serenamente como se nada fosse. Se não é o chefe local da Gestapo, personifica-o na perfeição, curva-se amavelmente diante dos portugueses e faz todo o possível para lhes cair nas graças; recebe-os e acumula-os de gentilezas.

Werz tem a mania da perseguição. Uma vez desmaiou na casa de banho e depois de ter sido socorrido pelo criado, jurou que tinha sido assaltado por agentes ingleses. Quando tornou mais tarde a desmaiar à mesa do jantar, quis provar que o tinham tentado envenenar. Não faz vida privada, nem sequer na praia, onde gosta de passear com sua mulher. Lourenço Marques é uma casa sem paredes. Uma cidade onde os europeus vivem na pequena área constituída pela sala de jantar, hall e bar do Polana Hotel. Basta-lhe jantar, uma ou duas vezes lá, para ficar sabendo tudo quanto quiser da vida local.


Um perigoso agente de espionagem

Werz é um homem novo, de trinta e tal anos, que veio para Lourenço Marques depois de ter sido expulso de Pretória, quando a África do Sul entrou na guerra. Há alguns que suspeitam que o grupo “Ossewabrandwag”, que é anti-intervencionista, de estar ligado com Werz, mas a prova dessa ligação não tem consistência.

Do que todavia, não há dúvida é que Werz, nos seus rádios para Berlim remete notícias da União, Rodésias e de toda a costa oriental até ao Cairo. Estando como está, no centro da principal linha de reabastecimento dos aliados, e no meio da linha aérea do Cairo ao Cabo, está em posição de recolher grande quantidade de “material” útil a Berlim. Seria magnífico, mesmo se se limitasse a recolher os informes que obtém dos jornais de Joanesburgo e da África do Sul, respeitantes às condições internas da União. As suas oportunidades para livremente espionar são numerosas demais para serem vigiadas pelos seus inimigos, e, daí não perder nenhuma ocasião.

Podemos perfeitamente, supor que Werz opera de Moçambique como Dietrich da cidade do México, ou como os agentes alemães do Rio, antes do Brasil alinhar com as Nações Unidas, e como continuam agora de Buenos Aires.

Mas a presença de Werz junto às fronteiras da África do Sul – a nação mais importante no esforço de guerra no continente africano e cuja contribuição a coloca logo depois da Grã-Bretanha e Estados Unidos – é mais perigosa que a de Dietrich e dos outros nos seus diferentes postos nos começos da guerra. É a mesma triste e feia história de uma nação amiga – neste caso uma colónia amiga – abrigando um agente inimigo para quem as leis do direito internacional significam apenas protecção para as suas manobras.

Moçambique é um dos mais ricos pontos de África, com ouro, magnésio, carvão, cobre e estanho. Nas suas férteis planícies cresce trigo, arroz; nas florestas o quinino, tabaco e borracha.

Para alguns portugueses leais aos princípios democráticos há dúvidas quanto às ambições da Alemanha em relação a Moçambique. Não podem haver quaisquer da parte da África do Sul, nem do seu 1º Ministro Smuts.

Ele que visiona para depois da guerra uma federação de estados africanos ao sul do Equador, talvez esteja fazendo planos no que toca a Moçambique.

De todas os homens desta guerra, é o mais preparado para alcançar uma solução para o problema de Moçambique, e para o problema do Herr Docktor Werz.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A Rede de Lourenço Marques

No Hotel "Polana" residiu Luitpold Werz, considerado 
um dos mais perigosos espiões alemães a operar na África Oriental Portuguesa.

Lourenço Marques, em Moçambique, foi o centro de complicadas movimentações de espionagem onde alemães e aliados jogavam o destino de navios da marinha mercante, submarinos e até o futuro da África do Sul..

Nas próximas semanas o “Aterrem em Portugal!” vai viajar pelas histórias da antiga colónia portuguesa durante a II Guerra Mundial.

Ali se reuniu um grupo de espiões empenhados em evitar que os aliados utilizassem o Indico, como autoestrada marítima para abastecer o Médio Oriente e a Índia. Alemães e Italianos montaram um sistema de informações que preocupou os britânicos...

Nesse trabalho eram apoiados, na África do Sul, por um grupo nacionalista Africânder, anti britânico, disposto a fornecer informações aos alemães na esperança de receber armas e o reconhecimento da sua independência perante Hitler.

A junção de todos estes elementos levou a que centenas de homens do mar aliados vissem os seus navios afundados por submarinos alemães e japoneses.

Os ingleses responderam fazendo pressão sobre o governo português, e com operações secretas que incluíram raptos de elementos chave da organização inimiga..

Até fins 1943 Moçambique foi palco de uma intensa disputa….

É nestas águas que vamos mergulhar nas próximas semanas. Amanhã será publicado a cópia de um artigo, que saiu na revista americana Colliers em Novembro de 1942, onde são relatadas as movimentações dos agentes do eixo. O artigo, assinado por Frank Gervasi, chegou às mãos de Salazar que ordenou um inquérito para descortinar o que se passava na colónia… Isso ficará para a próxima semana.

Ficaremos ainda a conhecer algumas das personagens chave envolvidas nestas actividades de espionagem e qual o destino que tiveram no final da guerra.

Esta série de artigos, intitulados “Espionagem em Lourenço Marques”, irá prolongar-se até Janeiro, altura em que o “Aterrem em Portugal!” vai embarcar noutra aventura: contar alguns episódios dos últimos dias do Reich e dos seus representantes em Portugal… .

Para ilustrar estes artigos conto com a colaboração de António Botelho de Melo, que nesse sentido me disponibilizou as fotografias que tem on-line no seu blogue “The Delagoa Bay World”. Fica o meu obrigado e, já agora, vale pena passar os olhos pelas muitas imagens e histórias que ali estão reunidas….

Espero que também embarquem na história….

Carlos Guerreiro

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Jogos…
Battle Islands

O “Aterrem em Portugal!” inicia hoje uma nova secção em colaboração com António Fragoeiro, coleccionador de equipamentos militares e jogador de videojogos.

Através de um vídeo ele divulgará, mensalmente, um novo jogo relacionado com a 2ª Guerra Mundial.


O primeiro chama-se Battle Islands , é de estratégia, gratuito e encontra-se disponível em qualquer Playstore para Android, PC, Playstation 4, tablets ou smartphones.

 Neste jogo de estratégia controla forças aéreas, marinhas e terrestres, tem de construir guarnições, lutar contra inimigos e criar alianças…

 Espero que gostem…

Carlos Guerreiro

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Dia da Memória voltou a Aljezur



(Fotos: Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur)

No passado dia 16 de Novembro, Domingo, no Cemitério de Aljezur, decorreu mais uma vez a Cerimónia do Dia da Memória, em homenagem a todos os mortos das duas guerras do século passado e de sacrifícios resultantes da tirania, despotismo e imperialismo.

Durante a iniciativa, anualmente liderada pela comunidade alemã de Aljezur, foi feita a deposição de duas coroas de flores junto às campas dos aviadores alemães da II Guerra Mundial, que ali se encontram sepultados.

Actuou também o Coro Internacional de Aljezur, tendo usado da palavra várias entidades, nacionais e estrangeiras.

Carlos Guerreiro

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O Postalinho...
Pena de Morte para quem ouvir a BBC


Postal britânico de propaganda que salienta as medidas de censura adoptadas pelo regime Nazi, com o objectivo de tentar evitar que estes ouvissem a propaganda emitida pela BBC.

A guerra da propaganda contou com a aparição do rádio, uma novíssima e versátil tecnologia, que permitia atravessar fronteiras de forma impune e chegar à casa dos inimigos.

Tanto os aliados como o eixo tiveram emissões de propaganda com o objectivo de passar mensagens ao inimigo. O lado britânico contou nas fileiras da BBC com refugiados alemães, judeus ou antinazis, enquanto do lado alemão havia britânicos que acreditavam na mensagem do nazismo. Entre estes últimos destacou-se Lord Haw-Haw, aliás William Joyce, um britânico que seria capturado no final da guerra e julgado como traidor.Foi enforcado...

Portugal também foi alvo desta guerra de frequências. Alemães e Italianos de um lado, britânicos e americanos do outro, emitiam boletins noticiosos, programas culturais e musicais em diversos horários.

Também por aqui de tentou limitar o impacto das mensagens emitidas pelos estrangeiros. Não houve uma proibição de ouvir as emissões, e estas eram amplamente publicitadas em jornais e revistas, mas tentou-se impedir que as audições se transformassem em eventos sociais.

A BBC, A Voz da América, a Rádio Berlim ou o Centro Rádio Imperiale entraram pelas casas dos portugueses adentro, mas deviam ser ouvidas na intimidade com legislação a proibir a audição em sessões públicas ou grupos alargados. Obviamente muitos portugueses – incluindo certas forças locais - fizeram vista grossa à legislação obrigando as autoridades a intervir e em certos casos, a apreender os aparelhos.

Carlos Guerreiro

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Prisioneiros de Guerra em Conferência Internacional

“Prisioneiros de Guerra durante o Século XX”, é o tema de uma conferência internacional que tem lugar em Lisboa, na faculdade de Ciências Sociais e Humanas, nos dias 24 e 25 de Novembro.

A iniciativa, que junta vários especialistas internacionais, vai olhar com especial atenção para as primeira e segunda guerras mundiais, mas vai também trazer o resultado de estudos de outros conflitos noutros teatros de operações.

Sobre a mesa, durante os dois dias, vão estar temas como as experiências dos prisioneiros portugueses durante a I Guerra Mundial; as experiências italiana, alemã, russa, africana e asiática durante a II Guerra Mundial; os campos de prisioneiros, a sua memória e violência; a desumanização do inimigo; a paz e o repatriamento.

Temas que darão certamente que falar.

Para saber mais pode consultar o programa AQUI.

Carlos Guerreiro

sábado, 8 de novembro de 2014

Viagem Lisboa -Timor em conferência


Esta tarde, a partir das 15 horas, realiza-se uma conferência no Museu do Ar, em Sintra, sobre 1.ª viagem aérea a Lisboa -Timor e regresso.

Para falar sobre esta viagem com 80 anos vai estar o autor Vasco Calixto.

A “viagem aérea a Timor, Macau, Índia e regresso”, protagonizada em 1934 por Humberto da Cruz (capitão-piloto) e António Gonçalves Lobato (primeiro-sargento mecânico), realizou-se num avião De Havilland D.H.85 Leopard Moth, com motor Gipsy Major de 130 cavalos, baptizado com o nome “Dilly”.

Mais uma iniciativa interessante que teve pouquíssima divulgação. Só tive conhecimento dela há pouco mais de 24 horas… Razão porque peço desculpa a todos os que acompanham o “Aterrem em Portugal!”.

Boa conferência…
Carlos Guerreiro

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Aromas de história




Na serra de S. Brás de Alportel pode agora visitar-se o local onde se despenhou um bimotor Douglas Boston da RAF, em Abril de 1943.

Os proprietários do terreno, Nuno Dias e Laura Mendonça, estão a desenvolver uma quinta de ervas aromáticas – a "Dias de Aromas" - e como a cratera onde a fuselagem se despenhou ainda se encontra local, resolveram colocar uma placa a recordar o acontecimento.

O aparelho, com três tripulantes, dois deles civis, estava em rota para o Reino Unido quando surgiram problemas num dos motores na zona do Cabo de S. Vicente. O piloto deu meia volta com o objectivo de regressar a Gibraltar, mas entre Faro e Tavira, deflagrou um incêndio.

Os três homens - B. Shokett e W. C. Hay (civis), e o oficial da RAF R. Chartres – saltaram de paraquedas. Apesar de alguns ferimentos, todos sobreviveram e foram repatriados semanas mais tarde. O Nuno Dias tinha-me contactado em Outubro para saber se podia utilizar o material que estava no site do “Aterrem em Portugal!”. “Obviamente” que sim…

A redescoberta e o aproveitamento destas pequenas histórias sempre me fascinou.

Parabéns aos autores da ideia…

Carlos Guerreiro

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Lisboa recebe Congresso Internacional sobre Guerra Civil de Espanha


O envolvimento de Portugal e o impacto no país da guerra civil de Espanha são hoje um dos temas que vão ser abordados durante um congresso internacional sobre o conflito que assolou o país vizinho entre 1936 e 1939.

Também em discussão vai estar o envolvimento da URSS, dos países fascistas e das democracias europeias naquela guerra.

A conferência, que termina amanhã, conta com a presença de vários especialistas nacionais e internacionais. Decorre nas instalações da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, na Avenida de Berna.

Para saber mais pode consultar o PROGRAMA.

O Postalinho...
Semanas Missionárias na Rússia


Postal de propaganda alemão que insiste, mais uma vez, nas ligações entre o Reino Unido e a União Soviética e que dá destaque a dois temas olhados com receio pela população portuguesa da época: o comunismo e o ateísmo. 

A referência a estas relações, são recorrentes, mas neste caso, os alemães tentam também dar relevância à forma como, supostamente, a igreja de Inglaterra olhava para Estaline e para os comunistas.

Era público que, por exemplo, o Deão de Canterbury era um firme defensor do regime soviético. Hewlett Johnson tinha viajado pelo país, a meio da década de 30, e publicara dois livros onde elogiava a experiência social que ali estava a ter lugar.

As suas obras, publicadas em 1939 e 1941, tornaram-no suspeito mesmo aos olhos das autoridades militares britânicas que o acusaram de espalhar propaganda derrotista e não o queriam junto das tropas.

Aparentemente terá também sido Johnson a influenciar o Estaline, para que este restaurasse o Patriarcado de Moscovo da Igreja Ortodoxa.

O postal dá também relevância ao ateísmo militante dos russos, que tinha influências perniciosas fomentando o surgimento das chamadas quintas colunas, estruturas secretas, preparadas para derrubar os governos dos seus países em nome de ideologias estrangeiras.

Carlos Guerreiro

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Algumas perguntas a Bernard Wasserstein

Bernard Wasserstein é o autor de “Do Holocausto à Salvação”, um livro lançado em Portugal no primeiro semestre deste ano, e que conta a história de Gertrude van Tijn, uma personalidade envolvida em alguma polémica e com participação activa nas negociações com os nazis para permitir a saída de judeus da Europa.

Van Tijn, uma alemã judaica a viver na Holanda, também passou por Lisboa, cidade que esteve no centro das rotas de saída de refugiados da Europa.

Bernard Wasserstein é Professor Emérito de História Judaica Moderna, na Universidade de Chicago, e autor de uma dúzia de livros relacionados com a história do judaísmo.

“The Ambiguity of Virtue: Gertrude van Tijn and the Fate of the Dutch Jews”, é o título original do último livro deste autor que respondeu a algumas questões enviadas pelo “Aterrem em Portugal!”.


Aterrem em Portugal: Quem era Gertrude Van Tijn?

Bernard Wasserstein: Oficialmente foi, entre 1933 e 1941, secretária do Comité de Refugiados Judeus de Amesterdão. Foi responsável por organizar o êxodo de milhares de refugiados judeus da Alemanha, e por encontrar locais de acolhimento para eles tanto no Novo Mundo, como na Palestina, na Austrália, ou noutros locais.

Entre 1941 e 1943 desempenhou um papel semelhante como responsável pelo departamento de emigração do Conselho Judeu de Amesterdão, criado pelos nazis.


Aterrem em Portugal: Qual era a importância do trabalho que ele desempenhava e o papel dos organismos que ela integrava?

Bernard Wasserstein: Ela teve um papel crucial no trabalho desenvolvido por aqueles organismos. Negociou com a Liga das Nações, o governo holandês, governos diversos, e organizações de ajuda internacional com o objectivo de encontrar soluções para a crise dos refugiados.

Aterrem em Portugal: Qual a importância de Lisboa no trabalho dela?

Bernard Wasserstein: Lisboa teve uma importância especial entre 1941 e 1943 porque era um dos poucos pontos de saída viáveis para os refugiados da Europa nazi. Foi-lhe mesmo permitido, pelas autoridades nazis de Amesterdão, que viajasse até Lisboa para uma curta visita, em Maio de 1941, com o objectivo de coordenar localmente uma importante operação de emigração de judeus da Holanda ocupada e da Alemanha.


Aterrem em Portugal: Há alguma ideia de quantas pessoas foram retiradas da Alemanha e do resto da Europa por estas organizações?

Bernard Wasserstein: No meu livro calculo que o número de salvamentos em que ela esteve envolvida, será aproximadamente de 22 mil. Dou todos os detalhes e demonstro como cheguei a estes números no meu livro.


Aterrem em Portugal: No final da guerra surgiram diversas acusações contra ela. O que aconteceu?

Bernard Wasserstein: Devido ao seu papel e ao seu trabalho no Conselho Judeu de Amesterdão, entre 1941 e 1943, houve quem lançasse suspeitas de que ela tivesse sido uma colaboracionista.

Ela tinha, de facto, negociado com os chefes das SS de Amesterdão, incluindo o tristemente célebre Klaus Barbie, com o objectivo de conseguir a libertação de judeus de territórios controlados pelos Nazis. Conseguiu assim salvar muitas vidas durante a ocupação.

Em alguns casos utilizou subornos. Noutros ajudou a organizar a troca de judeus na Holanda por civis alemães retidos pelos aliados.

O livro conta todos os detalhes e tem a documentação relativa aos casos.

Carlos Guerreiro

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Lançamento de Livro...
"Vilar Formoso, Fronteira de Paz"

Vilar Formoso, Fronteira de Paz, o novo livro de Margarida de Magalhães Ramalho, é apresentado esta tarde, às 18 horas, na Sala do Arquivo dos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Lisboa.

Pode saber mais sobre este livro AQUI.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Filmes...
German Concentration Camps Factual Survey

 German Concentration Camps Factual Survey é um filme que tem de ser integrado no seu tempo. A pelicula, que mostra o que os aliados encontraram nos campos de concentração no final da II Guerra Mundial, tinha como objectivo “castigar” os alemães, e recordar-lhes que não podiam simplesmente dizer que nada sabiam.

Não é um filme de fácil visionamento.

As sequências de morte repetem-se a um passo lento, prolongado, quase ao ritmo dos prisioneiros esqueléticos que espreitam pelo arame farpado e barracões.

Não há cheiro, mas ele é referido mais de uma vez ao longo dos 70 minutos.

Também não há música. Do projecto original do filme conhecem-se a maior parte das sequências, um guião com as partes que ainda não estavam editadas e os comentários que seriam colocados sobre as imagens. Tudo foi isso recuperado ou reconstituído pelos técnicos do Imperial War Museum.

Não existia, no entanto, qualquer referência à banda sonora que deveria preencher algumas das sequências. Esses espaços estão vazios e o silêncio que enche a sala é quase opressor. Ficamos sem a defesa do som, para ficarmos presos entre os cadáveres que são atirados às valas.

Mas este filme é também um claro exercício de propaganda. Todos os elementos estão lá, mas o tempo ditou que este nunca saísse para cumprir os seu papel de castigador.

Em finais de 1945 os aliados ocidentais precisavam mais de uma Alemanha amiga do que de uma Alemanha culpada… ficou tudo nas prateleiras.

“German Concentration Camps Factual Survey” passou ontem na Culturgest e terá hoje, por volta das 19.45 horas, mais uma sessão no Cinema Ideal. Vê-lo esta noite pode ser uma oportunidade que não se deverá repetir tão cedo, até porque o visionamento é acompanhado por funcionários do Imperial War Museum, responsáveis pela sua recuperação e conclusão, setenta anos depois de ter sido começado.


Carlos Guerreiro 

Notas sobre “Fury”


O novo filme protagonizado por Brad Pitt é um retrato cru dos últimos dias da II Guerra Mundial.

O filme retrata o avanço pela Alemanha da tripulação de um tanque americano Sherman nos últimos dias do Terceiro Reich. Em Abril de 1945 seguimos durante 24 horas de cinco homens e do seu tanque – Fury – pelas estradas e caminhos lamacentos de um país em desagregação.

A tripulação é liderada por Brad Pitt, no papel de um sargento que “mata alemães” desde 1942, quando as forças americanas invadiram o Norte de África. Não se trata, no entanto, de um herói, tantas vezes personagem central dos filmes de guerra americanos. Umas vezes é um destroço, que mostra as suas fragilidades, outras, um assassino a sangue frio. Deixa claro que é matar ou ser morto e não tem dúvidas de que lado quer estar.

O realismo de algumas cenas não recomenda “Fury” para todos os públicos. A lama e o sangue estão coladas ao ecrã em quase todas as cenas. Até os poucos momentos de descontracção têm uma tensão própria.

As cenas finais trazem um rasgo das antigas fitas de Hollywood (será sempre uma ficção), mas até aí as reconstituições estão muito próximas do que aconteceu em cenários reais, um aspecto reforçado pela utilização de tanques verdadeiros, e não de simulações por computador.

Carlos Guerreiro

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Livro...
"Vilar Formoso - Fronteira da Paz"
de Margarida de Magalhães Ramalho

O novo livro de Margarida de Magalhães Ramalho, “Vilar Formoso - Fronteira da Paz” é apresentado sexta-feira, às 18 horas, na sala do Arquivo dos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Lisboa.


Lisboa é o local escolhido para o lançamento deste trabalho porque para muitos dos refugiados da II Guerra Mundial – um grande número deles entrados através de Vilar Formoso - a capital representava a porta de saída para uma nova vida.

O livro surge na sequência de um projecto iniciado em 2012, pela Câmara Municipal de Almeida, que quer inaugurar, em 2016, um pólo museológico dedicado aos refugiados, com o nome «Vilar Formoso - Fronteira da Paz».

A investigação, feita no âmbito deste projeto, acabou por servir de base à publicação – com o mesmo nome que o futuro museu – e apresenta documentação e testemunhos inéditos.

A obra está dividida em sete capítulos - Gente como nós; O Início do Pesadelo; A Viage; Vilar Formoso - Fronteira da Paz; Por Terras de Portugal e A Partida. Os mesmos temas poderão ser encontrados, no futuro, nos núcleos do museu.

Por Portugal passaram milhares de pessoas em fuga. Tratava-se, na maior parte, de gente anónima, mas também aqui estiveram escritores ilustres, cineastas, pintores, artistas de cinema, intelectuais, políticos, famílias reais, banqueiros, agentes secretos, entre outros.

Alguns dos que chegaram a Portugal, nessa altura, acabaram por relatar, nas suas memórias, essa experiência. Foi o caso, nomeadamente, de Arthur Koestler, Alfred Döblin, Heinrich Mann, Antoine de Saint – Exupéry, Erika Mann, George Rony e Peggy Guggenheim.

Trata-se de mais um mergulho na história recente do país, numa altura em que nos aproximamos da passagem dos 65 anos do fim da II Guerra Mundial.

Carlos Guerreiro

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Pergunta para receber um convite para ver “Fury”

O “Aterrem em Portugal!” oferece convites duplos para assistir à antestreia do filme “Fury” em Lisboa e no Porto, no dia 20 de Outubro de 2014.

Existem dois convites para a exibição no cinema do Corte Inglês e outros dois no cinema do Norteshopping.

- Quem é o realizador do filme “Fury”?




As regras para participar são as seguintes:

- Ao meio-dia de sexta-feira, dia 17 de Outubro de 2014, será colocada uma pergunta sobre o filme “Fury” no blogue “Aterrem em Portugal!”.

- A resposta terá de ser dada na secção de comentários do blogue e tem de referir se pretende assistir às antestreias em Lisboa ou no Porto. Só poderá obter um convite duplo para um destes locais.

- As primeiras duas pessoas que responderem de forma acertada à questão e que incluam a referência a Lisboa, recebem, cada um, um convite duplo para a antestreia do filme “Fury” que acontece no dia 20 de Outubro de 2014, nos Cinemas do Corte Inglês, às 21.30 horas.

- As primeiras duas pessoas que responderem de forma acertada à questão e que incluam a referência a Porto, recebem, cada um, um convite duplo para a antestreia do filme “Fury” que acontece no dia 20 de Outubro, nos Cinemas do Norteshopping, às 21.30 horas.

- As respostas têm de incluir um dos nomes do participante. - Para inserir a resposta no blogue tem de abrir a secção dos comentários da mensagem onde está colocada a pergunta. Para abrir a secção de comentários basta clicar na palavra comentários que se encontra na parte inferior do "post", logo após a mensagem.

- Porque é necessário confirmar informações pessoais, terá de enviar também, uma cópia da resposta ao seguinte e-mail oferta.aterrem.em.portugal@gmail.com . Faça isso depois de colocar a resposta no blogue, pois será essa que contará para a atribuição do convite.

- Os convites serão levantados na noite da estreia nas bilheteiras dos cinemas onde têm lugar as antestreias.

Até já

Carlos Guerreiro

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Como obter convites para a antestreia de "Fury"

O “Aterrem em Portugal!” oferece quatro convites duplos para a antestreia, na próxima segunda-feira, do filme “Fury”, de David Ayer e com Brad Pitt, Shia LaBeouf, Logan Lerman, Michael Pena e Jon Bernthal no elenco.

Dois daqueles convites são para a antestreia que vai ter lugar em Lisboa, e outros dois para o Porto.

O filme é um retrato cru das últimas semanas da 2ª Guerra Mundial na Europa, com muita lama e sangue à mistura. Quem gosta de realismo não ficará desiludido, mas sobre isso falaremos na próxima semana.

Por agora ficam as condições para poder assistir às antestreias na próxima segunda-feira.


As regras para participar são as seguintes:

- Ao meio-dia de sexta-feira, dia 17 de Outubro de 2014, será colocada uma pergunta sobre o filme “Fury” no blogue “Aterrem em Portugal!”.

- A resposta terá de ser dada na secção de comentários do blogue e tem de referir se pretende assistir às antestreias em Lisboa ou no Porto. Só poderá obter um convite duplo para um destes locais.

- As primeiras duas pessoas que responderem de forma acertada à questão e que incluam a referência a Lisboa, recebem, cada um, um convite duplo para a antestreia do filme “Fury” que acontece no dia 20 de Outubro de 2014, nos Cinemas do Corte Inglês, às 21.30 horas.

- As primeiras duas pessoas que responderem de forma acertada à questão e que incluam a referência a Porto, recebem, cada um, um convite duplo para a antestreia do filme “Fury” que acontece no dia 20 de Outubro, nos Cinemas do Norteshopping, às 21.30 horas.

- As respostas têm de incluir um dos nomes do participante.

- Para inserir a resposta no blogue tem de abrir a secção dos comentários da mensagem onde está colocada a pergunta. Para abrir a secção de comentários basta clicar na palavra comentários que se encontra na parte inferior do "post", logo após a mensagem.

- Porque é necessário confirmar informações pessoais, terá de enviar também, uma cópia da resposta ao seguinte e-mail oferta.aterrem.em.portugal@gmail.com . Faça isso depois de colocar a resposta no blogue, pois será essa que contará para a atribuição do convite.

- Os convites serão levantados na noite da estreia nas bilheteiras dos cinemas onde têm lugar as antestreias.

Boa sorte

Carlos Guerreiro