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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Lisboa paraíso claro e triste de Antoine de Saint-Exupéry

Em 1940 Antoine Saint-Exupéry, o criador do Principezinho, passou por Lisboa.

Escapou de Vichy par rumar aos Estados Unidos, com o objectivo de continuar a lutar contra o invasor do seu país (ver AQUI)...

Acabaria por perder a vida na guerra fazendo o que mais gostava de fazer: VOANDO.

Da sua passagem por Lisboa ficou um retrato no livro "Carta a um Refém" publicada em 1942.

Entendi que, no dia em que começa em Lisboa uma conferência dedicada a Portugal e ao Holocausto, era importante deixar o texto de um refugiado ilustre que passou pelo país e onde este fala do que viu e dos outros refugiados com que se cruzou... 

O livro reúne um conjunto de textos escritos inicialmente para prefaciar a obra de um amigo judeu. Esse trabalho não seria publicado, mas como este último estava “refém” em França, o autor do Princepezinho deu esse título à publicação.

Saint-Exupéry fala, no primeiro capítulo, da sua passagem por Lisboa e dos contrastes que encontrou.

Não é um retrato bonito, mas também era difícil de esperar isso de alguém que vinha de um mundo em guerra, de uma Europa com pouca esperança e de um país invadido.

Não consegui encontrar uma versão portuguesa do livro. O texto foi traduzido utilizando uma cópia do texto original que está disponível "on-line" para "download" (ver AQUI)…

Confesso que esperava que o meu francês estivesse bem melhor. A ajuda de um tradutor on-line foi essencial para chegar ao resultado que aqui apresento.

Alterei algumas frases e adaptei-as, utilizando o meu senso comum, para que tivessem o sentido que julgo Saint-Exupéry lhes queria dar…

Julgo que deixo um texto legível e compreensível, mas não pretendo arvorar uma capacidade de tradutor que não tenho… senti várias vezes que a profundidade das palavras de Saint-Exupéry me escapava entre os dedos, quando tentava passa-las do Francês para o Português.


Com esta ressalva acredito, no entanto, ter conseguido extrair o essencial. Se assim não for peço desde já desculpa aos leitores…



Saint-Exupéry, Carta a um Refém

Quando em Dezembro de 1940 atravessei Portugal para ir aos Estados Unidos, Lisboa pareceu-me uma espécie de paraíso claro e triste. Falava-se muito de uma invasão iminente e Portugal agarrava-se à ilusão da felicidade. 

 Lisboa, que organizara a mais bela exposição do mundo, sorria um sorriso um pouco pálido, como o das mães que não têm quaisquer notícias do filho ausente na guerra e se esforçam por salvá-lo mostrando confiança: "O meu filho continua vivo desde que eu sorria...", "Vejam, dizia Lisboa, como estou feliz, tranquila e bem iluminada..."

O continente inteiro cercava Portugal como uma montanha selvagem, carregada de tribos predatórias; Lisboa em festa desafiava a Europa: "Poderá alguém tomar-me por alvo quando não tenho sequer cuidado em esconder-me? Quando estou tão vulnerável!..."

À noite as cidades da minha terra tinham a cor da cinza. Estava desabituado da claridade e esta capital radiosa causava-me um ligeiro desconforto. 

Quando é escura a vizinhança, os diamantes da montra muito iluminada atraem os assediadores. Sentimo-los a circular. 

Sentia, contra Lisboa, o peso da noite Europeia povoada por grupos de bombardeiros errantes, como se já tivessem farejado, ao longe, aquele tesouro. 

Mas Portugal ignorava o apetite do monstro. Recusava-se a acreditar nos maus sinais. 

Portugal falava de arte com uma confiança desesperada. Haveria quem ousasse esmagá-lo durante o culto da sua arte? Exibia todas as suas maravilhas. Haveria quem ousasse esmagar essas maravilhas? 

Exibia os seus grandes homens. À falta de um exército, à falta de canhões, erguera contra o ferro do invasor todas as suas sentinelas de pedra: os poetas, os exploradores, os conquistadores. 

À falta de exército e canhões, todo o passado de Portugal barrava a estrada. Haveria quem ousasse esmagar a herança de um passado tão grandioso? 

Noite após noite eu errava com melancolia através dos sucessos dessa exposição de extremo bom gosto onde tudo roçava a perfeição, até a música, tão discreta e escolhida com tanto tacto, que nos jardins fluía docemente, como o murmúrio de uma fonte. Haveria no mundo quem queisesse destruir esse maravilhoso bom gosto? 

Mas por baixo do sorriso, eu achava Lisboa mais triste que as minhas cidades longínquas. 

Conheci, e vós talvez também, daquelas famílias, um pouco excêntricas, que mantêm à mesa o lugar dum morto. Elas negam o irreparável. Não julgo que tal hábito console. Dos mortos devemos fazer mortos. Eles, no seu papel de mortos, recuperam então outra forma e presença. Mas aquelas famílias suspendem o seu regresso. Fazem deles ausentes eternos, convivas em atraso para toda a eternidade. Trocam o luto por uma espera sem sentido. E essas casas perecem-me mergulhadas num mal-estar sem perdão e tão abafado como o desgosto. 

Pelo piloto Guillaumet, o último amigo que perdi, abatido no serviço postal aéreo, meu Deus! Consenti pôr luto. Guillaumet nunca mudará. Não voltará a estar presente, mas também não estará ausente. Sacrifiquei o seu lugar à mesa, essa armadilha inútil, e fiz dele um verdadeiro amigo morto. 

Mas Portugal tentava acreditar na felicidade mantendo-lhe o lugar, conservando os seus candeeiros e a sua música. Em Lisboa representava-se a felicidade para que Deus acreditasse nela. 

Lisboa devia o seu clima de tristeza também à presença de certos refugiados. Não me refiro a proscritos em busca de asilo. Não falo de emigrantes à procura de uma terra para fecundar com o seu trabalho. 

Falo dos que se expatriam para longe da miséria dos seus, a fim de manter o seu dinheiro salvaguardado.

Não consegui alojamento mesmo na cidade e fiquei no Estoril, junto do casino. 

Tinha saído de uma guerra intensa: o meu grupo aéreo, que durante nove meses não interrompeu os voos sobre a Alemanha, perdera, no decurso da ofensiva alemã, três quartos das suas tripulações. 

De volta a casa sentira a soturna atmosfera da escravidão e a ameaça da fome. Vivera a noite espessa das cidades. 

E eis que, a dois passos, o Casino do Estoril em cada noite se povoava de espectros. Cadillac’s silenciosos, que fingiam dirigir-se a um qualquer lugar largavam-nos na areia fina do pórtico da entrada. 

Tinham-se vestido para o jantar como noutros tempos. Exibiam as gravatas ou as pérolas. Convidavam-se uns aos outros para refeições, como figurantes, onde nada tinham para dizer. 

 Depois jogavam à roleta ou ao bacará, conforme as fortunas. Por vezes ia vê-los. Não sentia indignação, nem ironia, mas uma vaga angústia. A que nos assalta num jardim zoológico perante os sobreviventes de uma espécie em extinção. 

Instalavam-se em redor das mesas. Apertavam-se de encontro a um croupier austero e esforçavam-se por experiênciar a esperança, o desespero, o medo, a inveja e a satisfação. Tal como seres vivos. 

Jogavam fortunas que talvez naquele minuto já se encontrassem esvaziadas de significado. Usavam dinheiro que talvez já tivesse caducado. Talvez o valor dos seus cofres, fosse garantido por fábricas já confiscadas ou, ameaçadas como estavam pelos bombardeamentos aéreos, em vias de ruína. 

Construíam castelos de areia. 

Esforçavam-se, em memória do passado, em acreditar que nada tinha mudado nos últimos meses, que a sua terra não tinha estalado debaixo dos pés, criam na legitimidade da sua linhagem, na cobertura dos seus cheques, na eternidade das suas convenções. 

Era irreal. Lembrava um verdadeiro baile de bonecas. Porém era triste. 

Com certeza não sentiam nada. Eu abandonei-os. 

Fui respirar à beira mar. E esse mar do Estoril, mar de cidade de banhos, mar domesticado, também a mim me parecia entrar no jogo. Empurrava para o golfo uma vaga única e mole, toda luzidia de lua, como se fora um vestido fora de época. 

Reencontrei-os no navio, os meus refugiados. 

Aquele navio transpirava, também, uma certa ansiedade. Aquele navio levava de um continente para outro, essas plantas sem raízes. 

Eu disse: "Quero ser um viajante, não quero ser um emigrante. Aprendi tantas coisas desnecessárias sobre mim mesmo”. 

Mas agora os meus emigrantes tiram do bolso pequenos livros de endereços, cacos da sua identidade. Eles julgam ainda ser alguém. Agarram com toda as forças algum significado. "Você sabe, eu sou uma, segundo eles, sou de uma cidade tão... sou amigo de um tal... você conhece pessoa tal…? 

Contam a história de um amigo, a história um acontecimento, a história de qualquer falha ou outra história que os liga a qualquer coisa. Mas nada desse passado, depois de expatriados, lhes serve de alguma coisa.

Está ainda tudo quente, tudo fresco, tudo vivo, como as primeiras lembranças do amor. 

Fazem um pacote de cartas ternurentas. Juntam algumas memórias. Amarram tudo com muito cuidado. E aquela relíquia desenvolve um charme melancólico. 

Depois passa uma loira de olhos azuis, e a relíquia morre. 

Tal como a namorada, a responsabilidade, a cidade natal, as lembranças de casa desvanecem-se e já não servem. 

Eles sentiam-se bem. Da mesma forma que Lisboa jogava com a felicidade, eles também acreditavam que voltariam logo. 

É doce, a ausência do filho pródigo! É uma falsa ausência, porque para além dele, a casa da família permanece. 

Não é essencialmente diferente que esteja ausente na sala do lado ou do outro lado do planeta. 

A presença do amigo aparentemente remoto, pode ser mais próxima do que a presença real. É como aquela presença na oração. 

Eu nunca amei mais uma casa minha que a do Saara. 

Nunca as noivas estiveram mais próximas dos seus amados, que as dos marinheiros bretões do século XVI, enquanto eles dobravam o Cabo Horn, envelhecendo enfrentando uma parede ventos contrários. 

Desde a partida que estavam a regressar. É o regresso que eles preparavam quando as suas mãos pesadas içavam as velas. 

O caminho mais curto do porto da Bretanha para a casa da noiva passava pelo Cabo Horn. 

Mas eis que os meus emigrantes me pareciam os marinheiros bretões a quem tinham roubado a noiva na Bretanha. 

Nenhuma noiva bretã acendia por eles, à janela, uma humilde luz. 

Eles não eram como os filhos pródigos. Eles eram uns filhos pródigos, mas sem casa para voltar. 

Começavam a verdadeira viagem, para fora de si mesmo. 

Como se reconstruir? 

Como se refazer no emaranhado pesado de memórias? 

O navio fantasma ia carregado, como no limbo, de almas por nascer. Apenas pareciam reais, tão reais que poderiam ser tocados com um dedo, e aqueles que incorporavam o navio, enobrecidos por funções reais, levavam as bandejas, poliam o latão dourado, engraxavam os sapatos, e com um vago desprezo, serviam os mortos. 

Não era a pobreza dos emigrantes que merceia o ligeiro desdém do pessoal. 

Não era o dinheiro que lhes faltava, mas a densidade. 

Eles não eram mais o homem da tal casa, com o tal amigo, com a tal responsabilidade. 

Eles desempenhavam um papel, mas não era verdadeiro. 

Ninguém mais precisava deles, ninguém mais lhes ia pedir nada. 

A maravilha de receber um telegrama perturbador, que nos levanta a meio da noite e nos empurra para a estação dos comboios: "Apressa-te! Eu preciso de você!” 

Depressa descobrimos amigos que nos ajudam. Acudimos àqueles que necessitam de ser ajudados.

Ninguém odeia, ninguém tem ciúmes, ninguém se preocupa, certamente, com os meus fantasmas. 

Ninguém os amava mais daquela forma que verdadeiramente importa. 

Dizia-me, "eles serão levados à chegada, para coquetéis de boas-vindas, jantares de consolação". Mas qual baterá a uma porta exigindo ser recebido: "Abra! Sou eu!" 

É preciso amamentar muito tempo uma criança para que esta passe a exigir. 

Temos de cultivar uma amizade durante longo tempo antes que se exija uma dívida de amizade. 

É preciso que um velho castelo se arruíne durante gerações para que o conserto da ruína seja um acto de amor. 

(...)


Uma boa semana
Carlos Guerreiro 

«Escaparate de Utilidades»
MÁQUINA DE BARBEAR GILLETE 25


República, 30 de Outubro de 1941
(Fonte: Hemeroteca de Lisboa)

sábado, 27 de outubro de 2012

Uma carta das Caldas para o Times

Com a aproximação do Congresso Portugal e o Holocausto, que começa na próxima segunda feira (ver AQUI), deixamos-lhe uma nota sobre refugiados...


Nesta carta, publicada no Times de 16 de Setembro de 1941 e repetida três dias depois no Diário de Lisboa, três britânicos agradecem a forma carinhosa como estão a ser tratados pela população portuguesa durante o internamento nas Caldas da Rainha.


As Caldas da Rainha foram uma das várias localidades portuguesas para onde o governo enviou refugiados entre 1940 e 1945.

No livro“Aterrem em Portugal” (ver AQUI) dediquei uma das quatro partes às Caldas, porque vários tripulantes britânicos e americanos também ali passaram alguns períodos de internamento.

Existia até uma instituição americana de apoio, a funcionar numa quinta, a que os expatriados acorriam e onde existia até uma pequena biblioteca...

Um bom fim de semana
Carlos Guerreiro 

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sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Um olhar "deles" sobre os "nossos" refugiados

A chegada de milhares de refugiados a Lisboa logo após a invasão da França mereceu atenção especial por parte dos órgãos de comunicação internacionais, especialmente jornais e agências noticiosas, que estabeleceram em Lisboa uma importante rede de correspondentes.

Os refugiados eram, simultaneamente, parte e veículo de notícias. As ruas da capital portuguesa cheias de estrangeiros refugiados mereceram longas colunas em vários jornais, tal como as informações sobre o que se passava nos países ocupados pelos alemães que eles também traziam na bagagem.

A utilização, em jornais portugueses, de artigos publicados em periódicos estrangeiros é uma constante ao longo do período da guerra. Podiam ler-se apontamentos sobre o desenrolar do conflito, mas também, reportagens ou notícias realizadas em e sobre Portugal.

Neste caso temos um extenso e detalhado artigo do “Daily Telegraph”, reproduzido no Diário de Lisboa de 2 de Abril de 1941, onde é descrito o ambiente que se vivia na capital portuguesa, mas também alguns esquemas utilizados pelos refugiados britânicos para tentar permanecer mais algum tempo no país…

Trocar o sol e a comida de Lisboa pelo Black Out e pelo racionamento de Londres não era grande opção.


Aproveitar estes artigos publicados no estrangeiros era também uma forma de ultrapassar as fortes restrições impostas pela censura.

O noticiário elaborado pelos correspondentes estrangeiros em Lisboa também passava pelos censores antes de ser encaminhada via telegrafo ou telefone para as redacções nos respectivos países. Estes parecem ter sido um pouco mais brandos.

Reproduzir estas notícias era uma garantia de que não só seriam publicadas na integra como também não existiriam problemas para as direcções…

Boas leituras
Carlos Guerreiro
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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Um olhar "nosso" sobre os refugiados

Chegaram aos milhares.

Os refugiados que invadiram o país logo após a tomada da França tomaram conta das ruas, dos cafés, das pensões e dos hotéis.

Eram gente estranha e longínqua. Especialmente as mulheres com as suas saias apertadas, os chapéus excêntricos, as meias de seda ou de rede.

Sentavam-se nos cafés, de pernas cruzadas e a… fumar.

Apesar deste cenário, várias vezes descrito, a maioria da população pouco se relacionou com eles…

O mesmo aconteceu com a imprensa portuguesa que pouco espaço lhes dedicou no seu noticiário.

Várias vezes as abordagens dos jornais é feita de forma indirecta… copiam e traduzem artigos saídos na imprensa estrangeira, especialmente a britânica.

O caso de artigos próprios é mais raro, mas não inexistente.


Cónica públicda n'O Século, de 19 de Agosto de 1940

 Como na próxima segunda feira começa em Lisboa um congresso internacional dedicado ao tema dos refugiados (ver AQUI) o “Aterrem em Portugal” vai trazer até sábado alguns artigos que saíram na imprensa daquele período. 

Fica uma crónica, que dá alguma cor sobre como Lisboa olhava para esta vaga de gente, publicada n’O Século de 19 de Agosto de 1940 …

Amanhã e sábado será tempo para publicar outros artigos impressos em jornais portugueses, mas com origem na imprensa britânica…

Boas leituras
Carlos Guerreiro  

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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Fotografias de Lisboa da 2ª Guerra Mundial

Até 9 de Novembro pode visitar a exposição de fotografia que está patente na Câmara de Lisboa e onde pode visitar uma capital portuguesa cercada pela guerra, invadida por refugiados, vigiada pela PVDE e por espiões dos principais países envolvidos no conflito.


Neil Lochery, autor de "Lisboa - A Guerra das Sombras na Cidade da Luz", encontrou durante a pesquisa para a obra centenas de imagens. Escolheu 80 delas para esta exposição.

Para além das fotografias pode também encontrar uma pequena colecção documental...



Esta entrevista com Neil Lochery passou na Antena 1, no dia 21 de Outubro de 2012, no programa Visão Global, de Ricardo Alexandre...

São apenas cinco minutos, muito interessantes....

Carlos Guerreiro

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Lisboa e o Holocausto em Conferência

Cerca de 50 especialistas vão reunir-se nos dias 29 e 30 de Outubro, em Lisboa, para falar sobre o tema do Holocausto e do papel de Portugal durante o período da segunda Guerra Mundial.

No programa, durante o primeiro dia, anunciam-se vários workshops que decorrem em simultâneo e que abordam temas como relações políticas e diplomáticas, o Futuro da investigação em Portugal sobre o Holocausto entre outros temas.

Para ver progrma progrma completo pode clicar AQUI.

Mais de uma vintena de especialistas portugueses, austríacos, americanos e outros. No dia seguinte realizam—se os painéis de discussão.

Entre os especialistas presentes contam-se nomes como Allan Katz (Embaixador dos EUA em Portugal), António José Telo, Clara Ferreira Alves, Douglas Wheeler, Eduardo Lourenço, Eduardo Marçal Grilo, Esther Mucznik, Irene Pimentel, Isabel Alçada, João Paulo Avelãs Nunes, José Pedro Castanheira ou Maria de Lurdes Rodrigues.

A iniciativa conta com a organização da embaixada Americana, da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e vai ter lugar na Fundação Calouste Gulbenkian.
 
As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até ao dia 23 deste mês AQUI.

Pode encontrar a página oficial da iniciativa AQUI.

Bom fim de semana
Carlos Guerreiro

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Diplomacia de Salazar em livro

O lançamento está marcado para a próxima quinta-feira no Pestana Palace, em Lisboa.

Abraca um um período muito rico e interessante a nível diplomático, até porque Salazar foi, durante parte importante deste período, não só Presidente do Conselho de Ministros mas também Ministro da Guerra e Ministro dos Negócios Estrangeiros.

 
Do livro, que custa cerca de 27 Euros, deixo a Sinopse oficial:

O propósito deste trabalho é o de apresentar uma visão de conjunto da diplomacia do Estado Novo no período entre a ascensão de Salazar à chefia do Governo, em julho de 1932, e a adesão de Portugal à Aliança Atlântica, em 1949. 

Mais do que uma interpretação das grandes linhas da política externa portuguesa nesses anos, este livro pretende ser uma crónica das múltiplas crises e desafios com que Portugal se viu confrontado e das respostas que o regime lhes deu, essencialmente no plano diplomático. 

O período em questão é notoriamente rico. Nele se destacam dois acontecimentos que tiveram um enorme impacto em Portugal: a Guerra Civil de Espanha e a Segunda Guerra Mundial. 

 Bernardo Futscher Pereira quando recebeu as credênciais de embaixador de Portugal em Dublin.

O autor desta obra é um diplomata português que neste momento é embaixador de Portugal na Irlanda… Deixo também algums notas biográficas:

 Bernardo Futscher Pereira é mestre em Ciências Políticas e em Relações Internacionais pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Trabalhou como jornalista antes de ingressar no Ministério dos Negócios Estrangeiros em 1987. 

Como diplomata, esteve colocado em Tel Aviv, em Bruxelas, em Barcelona e no ministério da Defesa Nacional. Entre 1999 e 2006, foi assessor para as Relações Internacionais do Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio. Publicou numerosos artigos sobre política externa, história diplomática e política internacional. 

É embaixador de Portugal em Dublin desde abril de 2012. 

Boas leituras
Carlos Guerreiro

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O “simpático” afundamento do Corte Real

O imediato do “Corte Real” ficou estarrecido com a ordem do comandante alemão. Jorge Soares de Andrade tinha acabado de receber a informação de que o seu navio iria ser afundado.

Tentou argumentar, mas o comandante do submarino alemão dizia-lhe que no manifesto de carga estava mercadoria para um país inimigo dos alemães: o Canadá. Razão porque pretendia afundar o Corte Real logo que passageiros e tripulantes o abandonassem.

 Fotografia publicada na revista "Mundo Gráfico" de 30 Outubro de 1941 com uma longa legenda de onde se destacam as frases:
"Pela terceira vez, um navio de Portugal, país neutro, é torpedeado. (...) Toda a nação portuguesa condena com a mais profunda inquietação esta inqualificável violência".
(Foto da publicação: Hemeroteca de Lisboa)

Soares de Andrade ainda convenceu o capitão-tenente Hans Werner Kraus a ouvir o comandante do Corte Real. Ele sabia um pouco de alemão e de certeza - salienta no inquérito elaborado pela marinha - que “poderia esclarecer qualquer dúvida que porventura pudesse haver”.

O imediato voltou a cruzar, num bote, os 200 metros que separavam o submarino U-83 do Corte Real para avisar o capitão José Narciso Marques Júnior, que não perdeu tempo a fazer o caminho inverso para tentar impedir que a viagem, aparentemente normal, se transformasse numa tragédia.


Uma neutralidade pouco respeitada 

Apesar da Guerra nada faria supor que estaria atravessar uma situação deste tipo. Era verdade que dois navios portugueses tinham sido recentemente afundados por submarinos – o Exportador I (01-06-1941) e o Ganda (20-06-1941) – e que vários outros tinham sido interceptados tanto por alemães como por britânicos desde os finais de 1939.

Em alguns casos cidadãos estrangeiros tinham sido “capturados” durante a intercepção dos navios, mas em nenhum caso tinha surgido uma ameaça concreta de afundamento.

O "Corte real" e a tripulação com os passageiros fotografados para a edição do "Século Ilutrado" de 18 de Outubro de 1941.
(Foto da publicação: Hemeroteca de Lisboa)


Por outro lado Portugal era neutral e a carga seguia para um porto americano, também neutral.

A bordo vinham cerca de 710 toneladas de carga. Os jornais da época dizem que se tratavam de conservas, cortiça, vinho do porto e relógios suíços. Também se falou em volfrâmio, mas mais tarde foi negado…

Os passageiros eram duas mulheres com as filhas – embarcadas em Lisboa e com destino a Ponta Delgada – e dois estrangeiros, um francês e um americano – embarcados no Porto e com destino aos Estados Unidos.

A travessia do Atlântico começou pelas 18 horas do dia 11 de Outubro de 1941, quando o Corte Real saiu da Barra do Douro com rota traçada para o Funchal, Nova Iorque e Açores.

A enorme bandeira e o nome de Portugal pintados no casco asseguravam uma identificação clara do navio e quando, na manhã seguinte, foram sobrevoados por um avião alemão, ninguém ficou muito preocupado.

Às 11.45 horas tudo mudou. Foi avistado um submarino que disparou um tiro de canhão para a proximidade do navio, que tratou de travar a sua progressão. Apesar disso ainda se ouviu um segundo disparo.

Utilizando sinais de bandeiras foi comunicado que o comandante da embarcação beligerante pretendia ver todos os papéis relacionados com o navio e com a carga.

A inspecção já durava hora e meia, quando foi feito o aviso do comandante alemão. O Corte Real transportava relógios e outros aparelhos de precisão, oriundos da Suíça, para os Estados Unidos, mas que tinham como destino final o Canadá. Razão suficiente, argumentava Kraus, para afundá-lo.

As justificações e pedidos do comandante português de pouco serviram. Marques Júnior explicou que os aparelhos suíços tinham sido carregados na cidade italiana de Génova, um aliado dos alemães; que estava disposto a regressar a Lisboa para deixar essa parte da carga; que poderia até jogá-la borda fora, já ali, se assim fosse entendido.

Prometia ainda, sob palavra de honra, que até ao final da guerra não voltaria a transportar produtos para países beligerantes inimigos dos alemães.

O comandante do "Corte Real" tentou de tudo para demover o alemão, mas não conseguiu impedir o afundamento do navio a tiros de canhão e de torpedo. Foto do "Século Ilustrado" de 18 de Outubro de 1941.
(Foto da publicação: Hemeroteca de Lisboa)


Hans Werner Kraus não se deixou demover. Tinham meia hora para abandonar o navio.

O regresso ao Corte Real foi feito na companhia do imediato e de um praça do U-83. Duas baleeiras foram carregadas com os 36 tripulantes, os seis passageiros e os principais bens que carregavam.

Depressa se descobriu que uma das baleeiras não estava em condições de navegar, parte dos náufragos tiveram de ser transferidos e os bens de todos – malas e documentos - ficaram para trás.

Uma baleeira e um bote, que também existia no navio, tornaram-se apertados para tanta gente.

Eram já 14 horas quando os dois pequenos barcos chegaram ao submarino, que disparou nove granadas dos seus canhões sobre o Corte Real. Minutos depois seguiu também um torpedo. Talvez dois, segundo o relatório da marinha.

Em meia hora as águas engoliram o tudo.


Simpatia de mão dura 

A pedido de Marques Júnior a baleeira e o bote foram rebocados pelo submarino durante cerca de 20 milhas… as duas mulheres e as crianças foram convidadas a bordo da embarcação alemã, durante esse período.

A cerca de sessenta milhas da costa portuguesa (cerca de cem quilómetros) interromperam a boleia. Os alemães não podiam correr o risco de se aproximar mais da costa.

As mulheres regressaram à baleeira com duas mantas oferecidas pelo comandante alemão, que deixou também leite, pão e água, para todos. Foram ainda fornecidas instruções sobre a rota a seguir.

Para além das mulheres e das crianças, América Ferreira de Almeida de 24 anos, e da folha Maria de 5, e da Odete da Piedade Passos Barros, de 20 anos, e da filha de um, seguiam também a bordo como passageiros o cidadão francês Jean de Lagllardie e o americano Charles Cant Buffinger. Foto do "Século Ilustrado" de 18 de Outubro de 1941.
(Foto da publicação: Hemeroteca de Lisboa)

Uma pistola de sinais luminosos foi também deixada, para além da promessa de que as autoridades alemãs seriam avisadas e que essa informação seria passada ao governo português.

Por volta das 17.30 horas ficaram sozinhos. Nas 13 horas seguintes os náufragos do Corte Real conseguiram remar cerca de 35 milhas e às primeiras horas da madrugada já avistavam a luz do farol do Cabo da Roca.

Pouco depois encontraram o “A Deus”, um barco de pesca do porto da Fuzeta, que se ofereceu para os rebocar até Lisboa…

Perto da costa foram sobrevoados por um avião português que partia para os procurar e já perto de Cascais uma lancha dos pilotos da barra do Tejo completou o reboque até ao antigo Arsenal da Marinha, a poente do Terreiro do Paço, onde eram esperados pelas autoridades…

Nos dias seguintes, e apesar da censura, os jornais portugueses explodiriam de indignação perante o afundamento e a hostilidade para com os alemães subiria de tom… mas isso dava para outra história.

Carlos Guerreiro

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Leia mais sobre outros NÁUFRAGOS e NAUFRÁGIOS AQUI 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Lisboa da II Guerra Mundial em fotografias

São cerca de 80 fotografias encontradas em arquivos portugueses, americanos e britânicos que mostram a Lisboa da 2ª Guerra Mundial e que vão estar expostas ao público a partir do dia 17 de Outubro, na Galeria da Câmara Municipal da capital portuguesa.

Algumas das imagens que integram a exposição que Neil Locehry vai inaugurar no dia 17 de Outubro.
Para saber mais sobre esta colecção pode consultar a página oficial do autor AQUI.

A recolha foi feita por Neil Lochery, durante a pesquiza para o livro “Lisboa, a Guerra das Sombras na Cidade da Luz”, que publicou recentemente em Inglês e português, (ver Algumas perguntas a Neill Lochery) e que ficou surpreendido com a quantidade e a qualidade das imagens que conseguiu encontrar.

“Mesmo de um ponto de vista artístico algumas fotografias são incrivelmente belas – mostram lisboa sob uma luz muito dramática. Algumas das imagens mostrando refugiados são muito emotivas, particularmente as que mostram crianças. Vemos perfeitamente como as crianças estavam a reagir. Em algumas vemos sorrisos, estão felizes, como se estivessem numas férias e, no meio delas, vemos uma completamente petrificada, assustada – sem perceber onde está ou o que se está a passar. Existe ali um contraste entre a alegria e a tristeza… que nos toca”, referiu Neil Lochery, na última semana em Lisboa onde participou num curso de Verão, organizado pelo Instituto de História Contemporânea, denominado “As cidades e as Guerras” (Ver “As cidades e as guerras” traz Neil Lochery a Lisboa").

Para além de fotografias será também possível ver algumas documentação relacionada com o trânsito dos refugiados por Lisboa.

"Tenho a ceretza que vai ser uma visita muito estimulante", garante Lochery que vai estar presente na inauguração da exposição, apesar de estar a realizar constantes viagens ao Brasil na preparação de um livro sobre a participação daquele país na II Guerra Mundial (ver "Acidente Brasileiro no aeroporto de Lisboa").

Logo que seja possível daremos mais notícias sobre a hora da inauguração desta exposiação...

Carlos Guerreiro 

segunda-feira, 1 de outubro de 2012