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quarta-feira, 10 de março de 2021

«Podcast Portugal 1939-1945»
O afundamento do Cabo de São Vicente (Ep. 3)

 

O navio de pesca Cabo de São Vicente foi afundado a 10 de Março de 1942 por um bombardeiro alemão FW200 - Condor ao largo do Cabo da Roca.  

Numa conversa com Richard Souza, neto do comandante do pesqueiro, e Günther Ott, historiador do KG40, unidade responsável pelo afundamento, vamos saber mais sobre o que aconteceu naquele fim de tarde, dar nome aos autores do ataque e saber das razões que levaram os alemães a condenar o Cabo de São Vicente.

Para ver fotografias relacionadas com o Podcast visite o site AQUI.


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sexta-feira, 27 de junho de 2014

O Junho quente de 1943

“Os ataques da aviação do Eixo ao tráfego naval entre Lisboa e Gibraltar está a alcançar dimensões sérias. (…)Presumo acção enérgica sobre o Governo Português em protesto contra abuso da invasão de águas territoriais. Deixo à consideração se não deveria ser dito (…) que, se são incapazes de fornecer caças para evitar ataques (…), teremos de pressionar para sermos autorizados a basear caças em território português com esse objectivo”.

O telegrama, em cifra e marcado como “Most Secret”, foi expedido para Inglaterra em 29 de Junho de 1943. Estava assinada pelo Comandante- Chefe do Mediterrâneo, o Almirante Andrew Cunigham, um dos mais altos quadros da marinha britânica. Uma sequência de ataques, desde Maio, de que resultou o afundamento de vários navios, tinha levado o almirante ao extremo de pedir a imposição de fortes medidas contra um neutro.

O Porto de Lisboa era alvo de muitas atenções por parte das redes de espionagem alemãs.

Cunigham não era um almirante qualquer. Desde 1939 que comandava as operações no mediterrâneo, e tinha dado mostras de grande capacidade ofensiva. Enquanto a Inglaterra perdia batalhas, da Europa à Ásia, ele conseguia vitórias em Taranto (1940) e Cabo Matapan (1941). Poucos meses depois deste telegrama ocuparia o lugar de Primeiro Lorde do Almirantado e de Chefe-de-Estado- Maior da Marinha.

Não sendo um pedido que pudesses ser ignorado, era um pedido que lançava preocupação entre os responsáveis britânicos. Dias antes Salazar fora abordado pelo Embaixador Britânico em Lisboa, Ronald Campbell, com um pedido formal para a que fosse dada autorização para o estabelecimento de uma base britânica nos Açores. Contra todas as expectativas o governante português aceitara. A importância das ilhas, para o futuro da Batalha do Atlântico, era demasiado grande e nada devia interferir com as negociações.

Cunigham foi avisado do que estava sobre a mesa e que a questão dos ataques a navios, entre Lisboa e Gibraltar “era de menor importância”. Talvez no futuro se pudesse voltar ao tema… Talvez…


Carreira Lisboa-Gibraltar debaixo de fogo

O tema preocupava, no entanto, também os responsáveis em Inglaterra, e Maio de Junho de 1943, tinham-se mostrado especialmente complicados para os navios que cruzavam as águas portuguesas. Os protestos britânicos vão subir de tom e a marinha portuguesa vai ser obrigada a realizar as suas próprias investigações.

Neste período o “SS Alpera” foi o primeiro de uma série de navios que, na rota Lisboa/ Gibraltar, foram afundados pelos célebres Focke-Wulf (FW) 200 Condor, da Luftwaffe.

Para maior segurança estes navios seguiam normalmente para sul e ao largo do Cabo de S. Vicente encontravam-se com outros navios que vinham de Gibraltar, Serra Leoa ou África do Sul. Em conjunto, e reforçados com escoltas, seguiam depois Inglaterra.

O “Alpera”, acompanhado do “Ravenspoint”, ia encontrar-se com outros navios, originários de Freetown, na Serra Leoa, e Gibraltar. O destino final era Liverpool.

Seguiam escoltados pelo HMT “Huddersfield Town”, uma traineira armada, mas este de pouco serviu quando, por volta das nove da noite, do dia 22 de Maio, se materializou um ataque de aviões alemães.

O “Alpera” não evitou as bombas e sofreu importantes danos. O navio escolta tentou rebocá-lo e, de Gibraltar, saiu também o “Salvónia” em seu socorro, mas chegaria tarde demais. O navio perdeu-se. O ataque aconteceu 15 milhas a noroeste do Cabo de S. Vicente. Apesar de tudo, e segundo um relatório americano, todos os tripulantes se salvaram.


Os protestos sobem de tom

Não foi preciso esperar muito para se registar um novo ataque. No dia 30 de Maio, pouco depois da uma da tarde, dois FW 200 voltaram a lançar bombas sobre dois navios mercantes e sobre “Huddersfield”, que mais uma vez era responsável pelas escolta. Estes navios dirigiam-se para Gibraltar quando foram surpreendidos pelos aviões.

Os Focke-Wulf 200 Condor, da Luftwaffe, eram os olhos da frota submarina mas também realizavam ataques por conta própria. A sua eficácia era muito temida. De pé nesta fotografia os tripulantes que morreram num combate aéreo em Aljezur em Julho de 1943.
(Foto cedida pela Associação de Defesa do Património Históricos e Arqueológico de Aljezur) 

O comandante do porto de Portimão, capitão de fragata Carlos Oliveira Lima, revela no seu relatório – elaborado a partir de testemunhos - que os aviões investiram de sul e, um deles, largou quatro bombas, conseguindo acertar “com uma por ante a vante da ponte do navio testa”. “Viram-se saltar a grande altura muitos destroços”.

Depois de atingido o navio“começou a andar muito devagar, aproximando-se mais de terra”. A tripulação abandonou-o “em três baleeiras”. Os tripulantes foram recolhidos pelo escolta e por um terceiro cargueiro que surgiu vindo de norte. Em poucos dias registou-se uma intensa troca de correspondência entre a embaixada britânica em Lisboa e Londres. O adido naval na capital portuguesa teve acesso não só aos relatórios dos navios atacados, mas também a testemunhos portugueses. O depoimento de um dos faroleiros de Sagres foi recolhido pelo vice-cônsul de Portimão. Outros detalhes chegaram-lhe através de um elemento da secção de comunicações em Lisboa. Todos eram unânimes em afirmar que o ataque ocorrera a cerca de duas milhas de terra, dentro das água territoriais.

Durante as investigações conduzidas pelo capitão de fragata Carlos Lima, a dia 2 de Junho, foram embarcados num salva-vidas alguns elementos para confirmar o local exacto do ataque. Com a colaboração de testemunhas foi possível perceber que este acontecera não a duas, mas apenas a uma milha do Farol de Sagres.

Discute-se em Inglaterra o tom do protesto. Há quem defenda uma linguagem dura, mas no dia 10, chega ao Estado-Maior Naval português, um primeiro documento onde são descritos apenas factos. Sete dias depois é o Ministério dos Negócios Estrangeiros o alvo de uma nota onde os ingleses “chamam a atenção para a violação das águas territoriais portuguesas”.

Os portugueses terão elaborado o seu próprio protesto, e este chegou certamente aos alemães, como se pode perceber por uma nota manuscrita onde se pode ler: “À Legação da Alemanha, 28-6-1943”. Não encontrei a resposta alemã, mas como aconteceu em protestos semelhantes, enviados nos anos anteriores, os alemães deverão ter insistido que não violaram território nacional e que, devido à clareza dos céus portugueses, era fácil confundir as distâncias.


Redes alemãs de vigilância de costa

Os ingleses sabiam que em Portugal operavam várias redes de espionagem ao serviço dos alemães. Informação detalhada sobre elas, tinha sido entregue a Salazar em Março. Nessa documentação descriminavam-se modos de actuação, existiam organogramas e nomeavam-se agentes estrangeiros e portugueses que nelas operavam.

As actividades de espionagem estendiam-se à vigilância de portos, aeroportos e personalidades. Recolhiam também informações junto de marinheiros que aportavam a Lisboa. Compravam e encomendavam livros e revistas, americanas ou inglesas, a embarcadiços que vinham daqueles países. Recrutavam e treinavam agentes para se infiltrarem nos países aliados.

Pelo menos duas destas redes reuniam também informação detalhada sobre navios e navegação dos aliados. Eram muito activas no continente, nas ilhas e até nas colónias e tinham como chefias, segundo os britânicos, alemães radicados em Portugal, respectivamente, Kuno Weltzien e Hans Bendixen.

Tanto uma rede como outra tinham operadores de rádio que davam informações sobre a movimentação de navios na costa portuguesa – o caso do faroleiro de Sagres é bem conhecido -, para além de agentes colocados em alguns portos considerados essenciais, nomeadamente, Lisboa.

Estas informações eram enviadas com urgência para Bordéus onde as esquadrilhas de FW 200 era activadas.

O afundamento de navios e o abate pela Luftwaffe no dia 1 de Junho, do Voo 777, um avião civil que ligava Lisboa a Inglaterra, dão aos britânicos razões para aumentar a pressão sobre o Governo Português e sobre a PVDE, a Polícia antecessora da PIDE, vista como muito próxima da Gestapo, e dos alemães.

O processo de desmantelamento das redes alemãs ganha novo folego no segundo semestre de 1943. Os ingleses apesentam cada vez mais factos, especialmente após o interrogatório de agentes capturados no Reino Unido, onde se incluem vários portugueses.

Weltzien será associado pela imprensa ao abate do Voo 777 e expulso do país. A residência de Bendixen, no Estoril, será alvo de uma busca pela PVDE, em Outubro. No mesmo dia o faroleiro de Sagres, Francisco Regêncio, também recebe a visita dos investigadores da Polícia. Segundo a mais recente edição do livro de José Augusto Rodrigues, “A Batalha de Aljezur”, será preso mais tarde e colocado em regime isolamento.

Com os crescentes protestos e o fluxo de informações as redes alemãs começam a sofrer vários golpes tanto no continente como nas colónias.

A 7 de Junho é aprovada uma nova lei que criminaliza a espionagem para países beligerantes em território nacional. De facto serão os colaboradores portugueses a sofrer as fortes penalizações previstas pois os estrangeiros normalmente são apenas expulsos.


Mais ataques, novos protestos

O caso do abate do Voo 777 e a morte de todos os seus tripulantes e passageiros transbordou para os jornais estrangeiros, mas também para os portugueses, mais que não fosse porque a bordo seguia o actor britânico Leslie Howard. Tivera um dos principais papéis no filme “E Tudo o Vento Levou” e viera a Lisboa e Madrid para algumas conferências sobre Shakespeare, integradas na campanha de propaganda aliada nos dois países.

Mas se este caso passou pelas malhas da censura, o mesmo não aconteceu com os ataques que aconteceram ao longo do mês. Na manhã do dia 14 os vapores “Gullpool”, “Flyingdale”, “City of Lancaster”, “Hallfried”, “Grodno”, “Reneé Paul” e os escoltas “HNMS Flores” e o “FFS Roseleys”, foram atacados a cerca de cinco milhas do Cabo de S. Vicente.

O comboio aproou para águas territoriais portuguesas, mas voltou a ser atacado. Os aparelhos alemães, para aproveitar o sol nas costas e encandear os observadores e artilheiros dos navios, fizeram a aproximação sobrevoando território nacional.

Bombas caíram, por duas vezes, perto do “City of Lancaster”, mas causaram apenas danos superficiais. Menos sorte tiveram três vacas que pastavam calmamente na Raposeira. Cinco obuses disparados pelos navios explodiram em terra e um deles atingiu os animais. Dois tiveram de ser abatidos, e o dono, João Lopes da Encarnação, receberia uma indemnização dos britânicos no valor de 2.149 escudos, pouco mais de dez Euros.

A factura que prova o recebimento da indemnização por parte do João Lopes da Encarnação, proprietário de três vacas atingidas por obuses disparados durante um ataque aéreo.


Todos os navios tinham saído de Lisboa e, o Mestre do Flyingdale, chamou a atenção para o facto de ter visto, no dia 30 de Maio, dois FW 200 a sobrevoar a zona de “Cascades” (Cascais) , quando a frota se encontrava ainda no porto da capital portuguesa.

Quatro dias depois registam-se novos ataques ao largo do Cabo de S. Vicente. Um relatório português refere uma sucessão de bombardeamentos, entre as 9 e as 10 da manhã, mas o cargueiro e a sua escolta conseguiram passar, aparentemente ilesos, por entre as bombas que foram largadas por dois ou três aviões alemães.

Eram guardados por um avião de escolta, que não conseguiu evitar o ataque.

No mesmo dia, mais a norte, ao largo do Cabo Espichel, já tinha sido bombardeado o “Lalande”, um navio britânico que tinha acabado de sair do estaleiro depois de reparações de monta, resultantes do ataque de um submarino em Novembro de 1942.

O navio foi atingido pouco depois das 8 da manhã e pediu ajuda urgente a Gibraltar que enviou mensagem a um escolta para dar apoio. Durante a tarde esse pedido seria cancelado, porque o “Lalande” conseguira chegar a Lisboa pelos seus próprios meios.

O caso mais grave teria, no entanto, lugar no dia 23 de Junho.

Também aqui os cargueiros tinham saído de Lisboa e dirigiam-se para sul, ao encontro de comboios que vinham de Freetown e de Gibraltar.

O “Juliet”, o “Spero”, o “Finland”, o “Shetland” e o “Volturno” escoltados pelos “Renoncule” e “Sapper”, iriam testemunhar um dos mais duros ataques de que há memória junto no Cabo de S. Vicente.

Três FW 200 investiram sobre a pequena frota, pouco depois das 18 horas, quando esta estava a cerca de uma milha do farol. O “Volturno”, o navio que se encontrava no extremo da coluna, conseguiu escapar ao impacto de quatro bombas, mas a proximidade das explosões causou enormes danos e atirou borda fora alguns dos seus tripulantes.

Com um buraco no casco, o comandante do Volturno, dá ordem para abandonar o navio. Quando os botes e jangadas estão na água e os tripulantes tentam chegar “Sapper”, que parara para dar apoio, surgem de novo os aviões.

Um tenta atingir de novo o “Volturno” ou o “Sapper”, mas falha o alvo. Uma bomba cai, no entanto, entre os salva-vidas, destroçando-os.

O outro cai sobre o “Shetland” e consegue atingi-lo com duas bombas, enquanto duas outras explodem no mar junto do casco. O comandante dá imediatamente ordem para abandonar o navio, que se afunda em cerca de cinco minutos.

No “Volturno” registaram-se 3 mortos e cinco feridos graves entre os tripulantes. No “Shetland” desapareceram quatro tripulantes com o navio, mas entre os restantes 30 não havia feridos graves.

Tanto os navios mercantes como os escoltas tinham poucas possibilidades de atingir um bombardeiro alemão, se este voasse a grande altitude. Poucas das armas que possuíam conseguiam chegar tão alto. Isso não quer dizer que não conseguissem somar algumas vitórias.

Ao largo de Portugal seria abatido pelos canhões do navio HMS Battler, um dia depois dos afudamentos do “Shetland” e do “Volturno”, o FW200 do Sargento Aviador George Abel. Morreram todos os tripulantes.

A 9 de Julho, dava-se a célebre batalha de Aljezur. Os sete tripulantes encontraram descanso eterno no cemitério de Aljezur.

Ainda em Julho desapareceu, também ao largo de Portugal, o avião de Sigfried Gall, derrubado durante o combate com um bombardeiro americano B-24, pilotado pelo capitão Gerald Mosier.

Gall já uma vez fora atingido num combate ao largo de Portugal, mas conseguira fazer uma aterragem de emergência na Apúlia, em Esposende. Nessa altura saiu do avião munido de um garrafa de champagne e de um jornal.

Em Setembro de 1943 mais um FW 200, Condor caiu no mar ao Largo de Sagres, atingido pelas antiaéreas do “Reneé Paul”, durante um ataque a comboio.

Eventualmente a ameaça dos FW 200 iria desaparecer em 1944. Os Alemães retiraram os aparelhos, supostamente para serem substituídos por outro bombardeiro de longo alcance, que nunca teve sucesso semelhante ao FW200.

Os “Couriers”, como também eram chamados pelos ingleses, deixaram de ser uma ameaça à navegação e o mesmo aconteceu com as redes de espionagem. O acordo dos Açores tornou ainda mais complicada e perigosa a vida aos submarinos alemães e selou o destino da Batalha do Atlântico.

Maio e Junho de 1943 foram meses difíceis para a navegação inglesa na nossa costa, mas foi também a oportunidade de inclinar a mesa a favor dos aliados, num jogo de equilíbrios em que Salazar era mestre.

Carlos Guerreiro

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Nota: Este artigo foi elaborado com recurso a documentos dos National Archives em Londres, Arquivos Histórico do Ministério dos Negócios Estrangeiros e obras realizadas pela Portisub, em Portimão, José Augusto Rodrigues e Isabel Pimentel.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Investigação portuguesa em navio da 2ª Guerra ganha prémio internacional

Nos próximos meses será possível aceder, na revista “The International Journal of Nautical Archaeology”, aos resultados de uma investigação sobre o navio “SS Dago”, afundado, ao largo da costa portuguesa, por um avião alemão durante a 2ª Guerra Mundial. Trata-se de uma pesquisa documental e aos destroços – realizada por uma equipa portuguesa - que foi premiado, em Novembro, no Reino Unido, com o “Adopt a Wrek Award” atribuído anualmente pela Nautical Archaeology Society.

O coordenador da investigação, Jorge Russo, recebe o “Adopt a Wrek Award” atribuído pela Nautical Archaeology Society.
Em baixo: Modelo do destroço do Dago no fundo do mar.



As investigações submarinas sobre o “Dago” foram coordenadas por Jorge Russo e levadas a cabo por uma equipa de mergulhadores do grupo XploraSub, recorrendo a técnicas avançadas de mergulho profundo, à qual se juntou o também mergulhador e fotógrafo Armando Ribeiro dos In-Silence, responsável por grande parte das imagens colhidas no destroço. Foram eles que realizaram o levantamento exaustivo dos destroços do navio que se encontra ao largo do Cabo Carvoeiro.

Com base nesse trabalho foi mesmo possível realizar um modelo, em escala reduzida, do destroço que se encontra a cerca de 50 metros de profundidade.

Para além deste trabalho no terreno foi também reunida uma importante colecção de documentos e fotografias que permitem contar a história do navio e dos acontecimentos que levaram ao seu afundamento.


Conferência de Jorge Russo sobre o "SS Dago" dada durante a entrega do prémio. 
A conferência está em inglês.

O “SS Dago” era um navio britânico que tinha como destino Leixões, uma viagem que não era estranha para os tripulantes. O navio seria atacado durante a tarde por um bombardeiro FW200 que o metralhou e bombardeou na tarde de 15 de Março de 1942, conseguindo afundá-lo, apesar de, incrivelmente, não causar vítimas.

Os trabalhos de pesquisa submarina foram realizados entre 2004 e 2010. Os reduzidos apoios levaram a que a maior parte do investimento fosse feito pela própria equipa.

Este trabalho também já tinha sido premiado nas Jornadas do Mar da Marinha Portuguesa em 2012 e alvo de publicação na versão portuguesa na National Geographic Magazine.

O ”SS Dago” não é o único navio afundado na nossa costa, durante o período da Segunda Guerra Mundial, a merecer este tipo de atenção. Outros destroços também têm sido alvo de diversas investigações, mas em poucos casos o trabalho foi tão detalhado.

Carlos Guerreiro

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O afundamento do "Empire Warrior"

Lembro-me de ver este documentário há alguns anos na RTP2.

Conta a história do afundamento do navio britânico Empire Warrior, bombardeado por aviões alemães em 1941…


EMPIRE WARRIOR - UM NAUFRÁGIO DA II GUERRA MUNDIAL AO LARGO DA FOZ DO RIO GUADIANA from joão sá pinto on Vimeo.

O cargueiro foi alvo de um ataque por parte de três aparelhos FW200 enquanto esperava a manhã para subir o Rio Guadiana em direcção ao Pomarão.

Não se registaram vítimas mortais, apenas feridos entre os tripulantes.

Este filme-documentário conta a história do afundamento e também mostra algumas interessantes imagens submarinas dos destroços que se encontram algumas milhas a sul da Foz do Guadiana.

Um bom filme
Carlos Guerreiro

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Dia da memória em Aljezur

O piloto Karl-Gunther Nicolaus (foto ADPHA)

O cemitério de Aljezur, onde se encontram sepultados sete aviadores alemães que morreram durante a II Guerra Mundial, recebe este fim-de-semana a comunidade e as autoridades daquele país no âmbito das cerimónias do Dia da Memória, que os alemães realizam todos os anos, por todo o mundo, a meio de Novembro.

O Volkstrauertag, criado em 1952, pretende lembrar os soldados caídos nas várias guerras, mas também as vítimas da violência.

Em Aljezur a realização desta cerimónia já faz parte das tradições do concelho. Há muitos anos elementos da Força Aérea Alemã (então baseados em Beja) deslocavam-se neste dia ao cemitério para colocar flores.

Após a saída desta força foi a comunidade alemã da zona, em colaboração com a Embaixada, que assumiu a organização das cerimónias deste dia.

A cerimónia junto das campas terá lugar por volta das 11 horas de domingo e contará também com a presença das autoridades portuguesas.

Os sete aviadores morreram na sequência de um combate aéreo com aparelhos britânicos baseados em Gibraltar.

Integrado numa esquadrilha de quatro aviões FW200 Condor, os alemães estavam a realizar uma patrulha de combate junto da nossa costa, quando foram surpreendidos pela presença de caças bombardeiros ingleses.

Os britânicos tentaram vários ataques, mas a formação cerrada dos alemães, impediu que qualquer dos Condores sofresse estragos de maior. Um dos “caçadores” virou, no entanto, para terra e aproveitando o relevo conseguiu aproximar-se de um dos extremos do grupo alemão, que nesta altura já tinha virado para norte, depois de terem descido a costa portuguesa, pelo menos desde Sines.

Condecoração alemã dada a um morador de Aljezur (Foto ADAPHA)

Os disparos atingiram o quadrimotor do sargento-aviador Karl-Gunther Nicolaus incendiando pelo menos um dos quatro motores.

O aparelho foi visto a perder altitude e a dirigir-se para terra, mas não conseguiu realizar a aterragem de emergência e esmagou-se contra uma zona de Arriba que dá para o mar.

Uma das asas ficou suspensa no topo da ravina e o resto desfez-se numa praia algumas dezenas de metros mais abaixo.

Os sete tripulantes morreram e foram sepultados em Aljezur, numa cerimónia que contou com a presença das autoridades portuguesas e alemãs (para saber mais clique AQUI).

A Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur (ADPHA) tem estado a recolher tudo o que pode sobre este aparelho, sobre a sua história e sobre os homens que morreram.

Livro "A Batalha de Aljezur"
Existe uma pequena vitrine-museu com alguns objectos que foram recolhidos junto ao local do acidente.

Têm ainda diversa documentação relacionada com o caso e até uma das condecorações que o Governo Alemão atribuiu a alguns residentes pelos esforços realizados na tentativa de salvar os tripulantes.


Há alguns anos publicaram também um pequeno livro que conta com vários testemunhos sobre o que aconteceu na Batalha de Aljezur e que pode adquirir directamente na ADPHA por 7.50 Euros mais os portes de envio (ver AQUI).

Se for a Aljezur vale a pena dar uma volta pela sede da Associação e fazer umas perguntas (Pode encontrar a ligação para o seu site AQUI).

Estes não são, no entanto, os únicos aviadores alemães sepultados  no nosso país.

Também na Amareleja, no Alentejo, os habitantes foram supreendidos por uma forte explosão que desfez, no ar, um outro Condor em Junho de 1941 (ver AQUI).

Terá sido atingido durante o combate com um comboio marítimo aliado ao largo do Algarve. Provavelmente queria chegar a Espanha, mas a avaria acabou por ser fatal, e os seis tripulantes ficaram sepultados naquela localidade.

Bom dia da memória
Carlos Guerreiro 

segunda-feira, 19 de março de 2012

Mergulhar na História do Dago

A história do afundamento do SS Dago, um navio britânico bombardeado por um avião alemão em 1942, perto de Peniche, vai ser contada e mostrada no próximo dia 23 de Março, na sede do Centro Português de Actividades Subaquáticas (CPAS), em Lisboa.


Uma fotografia do SS Dago que hoje se encontra a cerca de 50 metros de profundidade na zona da Berlengas.
(Foto publicada em http://pinturasempeniche.blogspot.com)

Os mergulhadores Paulo Costa e Jorge Russo vão conduzir esta viagem pela história e pelos destroços do Dago afundado no dia 15 de Março de 1942, quando navegava entre Lisboa e Leixões.

Durante a viagem foi atacado por um bombardeiro alemão Fw-200 Condor, muito habitual na nossa costa até 1943. Apesar da tripulação ter ripostado com diverso armamento que tinha a bordo, e após várias passagens o aparelho largou três bombas que atingiram o alvo.

O navio afundou-se em poucos minutos. Apesar de tudo os 37 tripulantes tiveram sorte e apenas quatro sofreram ferimentos ligeiros, tendo sido transportados para terra pelos salva-vidas motorizado de Peniche.

O Dago seria referido continuamente durante as décadas seguintes, mas só em 2007 foi possível confirmar quais os destroços pertenciam ao Dago e quais pertenciam a outro naufrágio.

Poderá ver e ouvir mais pormenores sobre esta história do Dago, um navio cargueiro que participou nas duas guerras, no dia 23, às 21 horas, na sede da CPAS, Rua Alto do Duque, nº 45.


Um filme com imagens dos destroços do Dago. 
(vídeo colocado no youtube por XpertDiver em 2008)

Um bom mergulho na história…
Carlos Guerreiro

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Para ler outras histórias de NAUFRÁGIOS clique AQUI.

terça-feira, 13 de março de 2012

Quando o S. Vicente se afundou

A passagem de aviões de guerra sobre as águas portuguesas era tão normal que ninguém ligou muito ao aparelho de “grandes dimensões” que seguia de norte para sul, perto do Cabo Roca. O comandante do “Açor” lembrava-se que isso acontecera – talvez - por volta das 18 horas. A alguma distância, no “Cabo de S. Vicente”, também pouco se ligou à passagem da enorme silhueta, mas isso iria mudar depressa.

Apesar de todas as medidas a marinha mercante portuguesa foi muitas vezes alvo de ataques.
(Foto revista "Defesa Nacional", reportagem sobre Marinha Mercante Portuguesa, Outubro 1944)


Depois de passar, o avião voltou para trás e, sempre a baixa altura, dirigiu-se de novo ao “S. Vicente” onde, perante o espanto dos tripulantes, abriu fogo, varrendo a coberta com metralha, e, de seguida, largou duas bombas que caíram muito perto do casco causando uma série de avarias que levaram ao seu afundamento. 

Por sorte nem os tiros nem as explosões causaram vítimas e o comandante, acompanhado dos 18 tripulantes, conseguiu saltar para um salva-vidas de onde foram recolhidos pelo “Açor”, que aportou no cais de Santos, em Lisboa, na manhã seguinte, depois de cobrir as cerca de 30 milhas que separavam terra do local do afundamento. 

Durante o inquérito, promovido pela marinha, nenhum dos capitães conseguiu identificar quaisquer marcas no avião. Garantiram que era grande, um quadrimotor, de cor cinza escuro mas nada podiam dizer quanto à sua nacionalidade ou outro pormenores. Ao contrário de outros casos envolvendo navios portugueses afundados, este caso chegaria ao final do conflito como mais um mistério por resolver. Não só ficou na obscuridade a autoria do afundamento, mas também as razões que a enquadraram.

O navio encontrava-se identificado, tanto com as marcas que o identificavam como barco de pesca, mas também como português. As cores nacionais estavam pintadas nas amuras e por cima da casa de navegação. Uma bandeira "nova", de dois panos, encontrava-se içada no penol".

“Porque razão teria esse avião passado junto do Açor sem o molestar, para logo a seguir (…) ir atacar o S. Vicente. E para que fez uma guinada para Oeste e só depois (…)o foi atacar a rumo perpendicular, quando o bombardeamento é mais certeiro (…) segundo a linha de rumo ao alvo? Não andaria à procura do S. Vicente por razões impossíveis de prever?”, referia um primeiro relatório enviado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, pelo Ministério da Marinha.

O relatório refere também que já tinha sido questionada a Embaixada Britânica sobre a presença de aparelhos britânicos naquelas paragens, e que esta tinha negado que qualquer avião aliado voasse por aquelas paragens no dia 10 de Março de 1942. A verdade é que estas informações eram tudo menos fidedignas.

Só quando era inegável – devido ao número de testemunhos ou a existência de provas físicas – qualquer uma das partes reconhecia uma violação do espaço aéreo ou o ataque à neutralidade de um país.

No final do conflito, e num relatório da marinha que faz o levantamento sobre os diversos afundamentos de navios portugueses, foi avançada uma explicação que pode ter algum fundamento. O arrastão S. Vicente tinha sido construído em Inglaterra, onde era chamado um “trawler”, um tipo de navio que teve extensa utilização durante a Guerra.

A Marinha Real requisitou vários destes arrastões aos seus armadores civis, armou-os e colocou-os em patrulha ou em protecção de comboios. Não eram por isso estranhos aos FW200, o tipo de avião que terá provavelmente protagonizado o ataque, já que se encontravam muitos activos na nossa costa durante o ano de 1942.

A imprensa lamentou-se nos dias seguintes por mais um ataque “à neutralidade”.

O Diário de Lisboa recordava que já se elevava a seis o número de navios que tinham ido a pique em resultado de ataques desde o início da guerra. Na sua reportagem de 11 de Março continuava: “Não podemos deixar de lavrar o nosso o nosso veemente protesto contra mais esta violência inútil e brutal praticada contra um barco indefeso tripulado por humildes trabalhadores que grangeavam o pão de suas famílias, contribuindo ao mesmo tempo para o abastecimento da população, já difícil em virtude da crise provocada pela guerra”.

 Carlos Guerreiro

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Leituras de Verão 2011 (não-ficção em inglês)

Fica mais uma leitura de Verão, mas esta em inglês.
Já há alguns meses que o José Carias Silva me emprestou o livro e já deveria ter colocado um nota no blogue. A edição é de 2010 e é um livro que importa guardar apesar de lhe faltarem alguns detalhes que ajudariam a completar a informação: a lista de perdas de navios e aviões, por exemplo, transformaria este trabalho muito bom num livro extraordinário.

FW 200 CONDOR Vs ATLANTIC CONVOY de Robert Forczyk


Edição de Osprey Publishing, 2010 (ISBN 9781846039171)

Atravessada de forma regular por comboios de navios que ligavam a Inglaterra aos vários teatros de operações espalhados pelo mundo - e vice-versa - a costa portuguesa foi um activo palco da batalha do Atlântico.

Num constante jogo do gato e do rato encontramos os submarinos alemães, acompanhados dos Fw200 Condors, contra os comboios de navios e respectivas escoltas aéreas e navais.

É o confronto entre o bombardeiro da Luftwafe FW 200 Condor – baptizado pelo próprio Churchil de maldição do Atlântico - e os seus alvos que merecem a atenção do autor deste livro com cerca de 80 páginas.

Nas primeiras páginas são detalhadas as características dos dois adversários. Primeiro conta-se a história do FW 200, desde o pedido da Lufthansa para um aparelho civil de longo curso até à sua transformação em bombardeiro de longo alcance.

Avaliam-se os pontos fortes e fracos deste quadrimotor de linhas elegantes.

Do outro lado da barricada encontramos os comboios britânicos e todas as medidas defensivas que implementarem para dificultar o trabalho do inimigo.

O autor compara a evolução das tácticas e das técnicas de parte a parte ao longo do conflito. Sistemas de ataque e de defesa, armamento, radares, caças lançados de catapulta ou de porta aviões de escolta entre outros aspectos são apresentados e dissecados, apontando os efeitos imediatos e a prazo da sua introdução e aperfeiçoamento.

Também importante é o facto de ficarmos a conhecer muitas das pessoas que, de um lado e do outro, se destacaram ao longo do conflito.

Para os portugueses existe um atractivo suplementar. Vários recontros que aconteceram ao longo da nossa costa são referidos e – em alguns casos – são acrescentados detalhes interessantes, resultantes do cruzamento de informações obtidas em arquivos dos beligerantes envolvidos.

Merecem referência os Fw200 que terminaram as suas viagens no Alentejo e na Apúlia. Outras perdas em mar alto – que serão incluídas no site do "Aterrem em Portugal" numa próxima actualização – são também salientadas.

O livro está muito bem ilustrado, com desenhos artísticos e técnicos, apresenta muita infografia, fotografia e mapas. Tem um leitura fácil e muito completa que recomendo - apesar de algumas falhas - a todos os que se interessam por este tema.

Carlos Guerreiro