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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Algumas perguntas a Robert M. Stitt

Por Carlos Guerreiro

Robert Stitt lançou recentemente o seu primeiro livro “Boeing B-17 Fortress in RAF Coastal Command Service” (Boeing B-17 Fortress no Comando Costeiro da RAF), que já foi apresentado neste blogue.
O “Aterrem em Portugal” contactou o autor e enviou-lhe algumas questões sobre esta obra que explora a história da Fortress ao serviço da RAF e a sua missão em terras portuguesas, mais especificamente, nos Açores.
As primeiras esquadrilhas utilizando este bombardeiro chegaram pouco depois da assinatura do acordo com a Inglaterra em 1943 envolvidas no esforço de combater a actividade dos submarinos no Atlântico Norte.

Aterrem em Portugal: Porque razão escreveu um livro sobre as “Fortress” no Comando Costeiro da RAF (RAF Coastal Command)?
Robert Stitt: Escrevi em tempos um artigo sobre um Boeing B-17 “Fortress”, da USAAF, que realizou uma aterragem de emergência na Papua Nova Guiné em Janeiro de 1943. Visitei o local em 1977. Este avião deveria ter seguido para a Grã-Bretanha para integrar a campanha contra os submarinos. Documentar o historial deste tipo de aparelho no Comando Costeiro da RAF surgiu como uma forma natural de dar seguimento a esse primeiro trabalho.
AP: Quanto tempo e onde pesquisou para realizar este trabalho?
RS: O projecto “Fortress no Comando Costeiro” levou seis anos a completar. Visitei os Arquivos Nacionais no Reino Unido (National Archives, Kew) por duas vezes para começar. Ao mesmo tempo cresceu de forma rápida uma grande rede de ajudantes e tive a felicidade de contactar muitos investigadores de todo mundo. Contactei também com veteranos que serviram neste tipo de avião e com as famílias de vários outros.


Fortress IIA FL459 - Este aparelho esteve envolvido no afundamento do U-707 em 9 de Novembro de 1943. Este é um dos 14 perfis a cores, feitos por Juanita Franzi, para este livro
AP: Que opinião tinham os tripulantes sobre o avião?
RS: Todos parecem amar e confiar na Fortress. Era estável, de confiança e confortável (bem, relativamente) e fiquei com a impressão que, apesar do Liberator (B-24 na RAF) ter um maior alcance e uma maior capacidade para carregar bombas, as tripulações preferiam as “Fortress”.
AP: Qual foi, para si, a importância dos Açores na fase final da guerra?
RS: Foram muito importantes por duas razões. Primeiro as perdas de navios aliados no Atlântico central estavam a ficar insustentáveis, até a base nos Açores ficar operacional. Depois transformou-se também num importante ponto de passagem para os aviões que eram entregues no Reino Unido, no Médio Oriente e no Oriente.






Uma página do livro onde se podem ver duas fotografias. A primeira pode ver como o moderno e o antigo conviviam e, na outra, uma imagem aérea onde se pode ver parte da pista e da base. Consegue perceber-se, pelo enorme número de tendas, as difíceis condições em que as tripulações viviam.






AP: Como é que as tripulações olhavam para os Açores e para os Açorianos?
RS: Julgo que eles tinham muito orgulho no papel que desempenharam na guerra e se deram muito bem com os locais, excepto quando se transformavam em alvos dos muito zelosos artilheiros anti-aéreos portugueses, que tinham sido recentemente equipados com armas inglesas, uma das contrapartidas pela utilização da base! Sei também que o comandante de uma das Fortress casou com a filha do Governador!
AP: Quais foram as maiores dificuldades que encontraram na ilha?
RS: Só existiam tendas para acomodar as tripulações que foram chegando, razão porque viveram praticamente na rua durante muito tempo. A água era escassa e existia uma colónia de ratos bastante grandes. A pista, construída com placas metálicas, estava coberta de pó vulcânico vermelho. O ambiente era poeirento e muito barulhento, sempre que os aviões aterravam ou levantavam, tanto de dia como de noite. O pó também contribuiu para um surto mortal de poliomielite.
A única pista encontrava-se muitas vezes desalinhada com os fortes ventos que varriam a ilha e a visibilidade era reduzida, obrigando os pilotos a escolher entre uma aproximação às cegas, entre dois cumes, ou a divergir para Santana (Aeródromo de Santana, em Rabo de Peixe, ilha de S. Miguel) onde a pista era mole e o mau tempo muito semelhante.
Do lado positivo havia muita fruta, vegetais, cigarros e bebidas alcoólicas, uma cidade para visitar que não estava em “Blackout” e onde não existiam aviões inimigos.
AP: O que mais o impressionou enquanto pesquisava para este livro?
RS: A ajuda recebida por outros pesquisadores e a confiança que recebi das famílias dos veteranos que me cederam preciosos documentos, fotografias e memórias.

AP: O que gostaria de dizer ao seu leitor?
RS: Os jovens que voaram as Fortress e outros aviões no Comando Costeiro da RAF – as tripulações tinham normalmente uma média de idades inferior aos 21 anos – fizeram coisas extraordinárias para assegurar a sobrevivência da Grã-Bretanha e dos aliados. Eles merecem ser recordados e tenho esperança que o meu livro possa ajudar, de alguma forma, a manter essa memória viva.

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