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quarta-feira, 9 de abril de 2014

Algumas perguntas a Ferreira Almeida

“A Campanha do Ananás – Os Açores na II Guerra Mundial” é um livro da autoria de Ferreira Almeida, editado no final do ano passado .

São mais de 400 páginas resultantes da compilação de diversas publicações impressas ao longo de dois anos no semanário açoriano “Terra Nostra”.

Por aqui se podem ler como decorreram as relações entre militares e civis, a intensa disciplina que foi imposta aos milhares de soldados que foram deslocados do continente para as ilhas, os problemas de abastecimento que colocaram a todos à beira de fome, para além de episódios dramáticos ou hilariantes, que ainda hoje se contam pelas ilhas.

O livro custa 22 Euros e pode ser encomendado directamente na editora Publiçor através do e-mail publicor@publicor.pt , ou nas livrarias Solmar, em Ponta Delgada, e Ferin em Lisboa.


Aterrem em Portugal Porque chamou ao livro “A Campanha do Ananás – Os Açores na II Guerra Mundial”?

Ferreira Almeida - Campanha do Ananás é uma expressão chistosa por que ficou conhecida a concentração, em situação de campanha, do forte contingente de forças militares expedicionárias nos Açores, particularmente na ilha de S. Miguel, durante a II Guerra Mundial.

O ananás – o “rei dos frutos” – é um dos principais símbolos da ilha. A sua cultura – a mais importante indústria à data do conflito – foi muito prejudicada devido a os principais mercados de exportação serem justamente a Inglaterra e a Alemanha.

O subtítulo do livro decorre do facto de situar-se na ilha de S. Miguel o Comando Militar dos Açores, o principal centro de decisão do arquipélago.


Aterrem em Portugal – O governo transferiu milhares de soldados para os Açores. Qual era o objectivo?

Ferreira Almeida - A missão das forças expedicionárias nos Açores é a defesa do arquipélago, nomeadamente as ilhas “guarnecidas” – S. Miguel, Terceira e Faial, por ordem decrescente de importância – contra qualquer ameaça, quer dos Aliados quer das potências do Eixo.

O inimigo é o que atentar contra a soberania nacional.


Aterrem em Portugal – Como é que a população reagiu a este aumento do número de populares?

Ferreira Almeida - A primeira reacção popular é um misto de curiosidade e desconfiança. A pronúncia dos “soldados de Lisboa” encanta as moças, o que está naturalmente na origem de atritos entre continentais e açorianos. Mas, de um modo geral, a tropa, que fica instalada em praticamente todos os povoados é bem recebida pela população e criam-se laços de família que ainda perduram.


Aterrem em Portugal – Não terá sido fácil – num período de escassez – manter a população e os militares abastecidos. Houve alguns problemas?

Ferreira Almeida - Houve diversos problemas de abastecimentos, decorrentes da presença de várias unidades militares numa ilha com elevada densidade populacional e escassos recursos locais, não obstante a cadeia de reabastecimento do Exército.

Acrescia que, estando a motorização ainda numa fase embrionária, as unidades tinham um considerável efectivo de solípedes, que se impunha também alimentar.

Ao longo da campanha são uma constante o racionamento de alimentos (cereais, carnes, açúcar…), combustíveis (gasolina, petróleo, óleo de cachalote), etc., e as providências das autoridades, militares e civis, quer na gestão dos abastecimentos quer no combate ao açambarcamento e à especulação.


Aterrem em Portugal – Pairou sempre a ameaça de uma invasão estrangeira. Como reagiriam a população e as forças deslocadas a esta ameaça constante?

Ferreira Almeida - Em termos gerais, o Eixo tinha simpatizantes nos quadros do Exército e da Legião Portuguesa e no principal centro ananaseiro da ilha (Fajã de Baixo). A população pendia para os Aliados, dada a ligação aos Estados Unidos pela corrente migratória.

As medidas de protecção e o enquadramento da população para a eventualidade de invasão estavam a cargo da Legião Portuguesa, na sua vertente “Defesa Civil do Território”.

Pelo dispositivo defensivo e espírito das forças instaladas no terreno, deduz-se que estas teriam feito frente ao invasor, não obstante uma previsível desproporção de meios em confronto.

Aterrem em Portugal – Como foi o relacionamento com as forças estrangeiras que começaram a chegar em 1943?

Ferreira Almeida - O relacionamento quer de forças nacionais quer de populações com forças estrangeiras ocorre somente na ilha Terceira e, em menor escala, na ilha de Santa Maria. A presença estrangeira em S. Miguel é irrelevante – um pequeno destacamento da RAF.

A relação é amistosa, nomeadamente no campo desportivo. Ficaram famosos os jogos de futebol entre militares ingleses, militares portugueses e clubes desportivos locais, sendo assinaláveis as deslocações de equipas da RAF da base das Lages à ilha de S. Miguel.

1 comentário:

  1. Sou dententor de um espólio de fotos de tropas estacionadas nos Açores durante a segunda-guerra mundial, para além de muitas interessantes cartas escritas nessa altura, e desse e para esse local, algumas histórias bastante interessantes sem dúvida.

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