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sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Meios aéreos em operações de busca e salvamento durante a II Guerra Mundial

Os primeiros registos do envolvimento de meios aéreos nas operações de busca e salvamento datam de 1940, mas não envolvem unidades da Aviação Naval ou da Aeronáutica Militar e sim aparelhos civis pertencentes a companhias de transporte de passageiros, que nem portuguesa era.

Um Grumman Widgeon da Aviação Naval
No Atlântico a mais antiga referência a um pedido de apoio aéreo que foi possível encontrar data de 14 de Agosto de 1940, quando as autoridades portuguesas solicitaram a um Clipper da Pan American para que este ficasse atento à presença de baleeiras com os sobreviventes do “British Fame”, um petroleiro torpedeado na zona dos Açores. Em qualquer dos casos parece que a intervenção aérea não teve papel relevante no salvamento de náufragos.

No Índico, encontramos também referências à utilização de aparelhos civis. Foi isso que aocnteceu por exemplo a10 de junho de 1942 quando os registos britânicos salientam a presença de aviões da DETA, a companhia de aviação criada pelo Governo Colonial de Moçambique em 1936. As aeronaves estavam a dar apoio a unidades navais como o aviso Gonçalves Zarco, o patrulha Tete e o costeiro Sena que saíram para uma operação de busca a náufragos, no caso, pertencentes ao Atlantic Gulf e ao Wilford.

Pelo que foi possível apurar só em 1941 os aviões da Aviação Naval assumissem um papel coerente e persistente no sistema de busca e salvamento português. A chegada, em 1940, dos bimotores Grumman Goose, com grande alcance, deram um importante contributo para o trabalho que os pilotos da armada iriam desenvolver nos anos seguintes.

A primeira ação de busca e salvamento registada pela Aviação Naval teve lugar a 24 de junho de 1941, quando os Grumman Goose 107 e 108 realizaram voos de mais de cinco horas procurando sobreviventes do cargueiro português Ganda torpedeado pelo U-123, mas sem resultados já que estes tinham sido recolhidos por uma embarcação espanhola que por esta altura já se dirigia a Huelva.

Nos Açores a primeira destas operações aconteceu a 4 de Agosto do mesmo ano. Apesar de já se encontrarem Grumman’s nas ilhas o aparelho utilizado foi um Avro 86, um monomotor com curto raio de ação. Possivelmente tentava encontrar os sete tripulantes do Robert Max que chegaram pelos próprios meios ao arquipélago.

Se estas primeiras missões não tiveram sucesso outras houve que demonstraram a eficácia do uso dos meios aéreos. Nos dias 17 e 18 de Dezembro de 1941 levantaram voo do Centro de Aviação Naval (CAN) de Lisboa cinco aviões na tentativa de localizar a última baleeira do cargueiro português “Cassequel” afundado pelo submarino alemão U-108.

O relatório da operação é bastante detalhado não só em relação à descoberta do salva-vidas, mas também cno que concerne à forma como estas operações eram preparadas pelas tripulações. Cada aparelho levava cantis com água e latas com bolachas devidamente embaladas para poderem ser lançadas aos sobreviventes. Seguia também um invólucro capaz de conter uma mensagem escrita, que neste caso serviu para avisar os náufragos de que um navio estava a caminho e também para lhes dar um rumo para terra. As encomendas foram entregues aos destinatários e os hidroaviões aproveitaram também para tirar fotografias que ainda hoje existem no arquivos… 

A cobertura do Atlântico por parte de meios aéreos parece ter-se concentrado nos CAN de Lisboa e dos Açores. Da capital saíram Gruman’s Goose, Widgeon e Fleet's realizando um total de 250 horas e 50 minutos de voo relacionadas com busca e salvamento entre Setembro de 1939 e Dezembro de 1944.

No continente também foram solicitados, pontualmente, aviões da Escola Aeronaval Gago Coutinho, em São Jacinto, Aveiro, que deixaram registo de pelo menos 23 horas e 30 minutos de voo relacionadas com operações de busca e salvamento. Neste caso foram utilizados apenas Grumman’s Goose.

Já dos Açores voaram-se, pelo menos, 35 horas em Avro’s 626, Goose’s e Widgeon’s, mas as Ordens de Marinha daquele período nem sempre trazem os quadros espelhando a atividade daquele Centro Aeronaval, sendo por isso possível que tenham existido outros voos.

Sem acesso aos Grumman o apoio aéreo para a busca e salvamento no Índico socorreu-se dos meios que existiam. Entre os da marinha surge referida a utilização do Avro 86 do aviso Bartolomeu Dias (2 horas) e do Monospar que operava com a Missão Hidrográfica da Colónia de Moçambique e foi desviado para realizar um total de 3 horas e 20 minutos de operações de busca e salvamento no Canal de Moçambique.

Os aparelhos da marinha voaram, entre 1939 e 1944, pelo menos 312 horas e 45 minutos em missões de resgate.

Destaque-se ainda a utilização dos aviões da DETA no Canal de Moçambique nas operações de salvamento. Para além do caso já referido existe ainda na entre a documentação britânica o relato desconfiado do comandante de um navio britânico naufragado que mal tinha posto o pé em Lourenço Marques e já estava a ser interrogado pelo capitão de porto português de uma forma que considerou suspeita. No entanto quando se queixou ao cônsul britânico na cidade foi aconselhado de imediato a responder de forma verdadeira às perguntas do oficial português pois este era uma “pessoa diligente” e costumava enviar rapidamente navios e aviões para os locais dos afundamentos de modo a socorrer os possíveis sobreviventes. Não sendo normal a presença de aviões militares naquele território, pode supor-se que eram os aviões da DETA a realizar estas operações.

Carlos Guerreiro 

2 comentários:

  1. A fotografia deste artigo mostra um Grumman G-44 Widgeon e não um Grumman G-21 Goose

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    1. Tem toda a razão. Já foi alterado. O artigo tinha inicialmente duas fotos - um Goose e um Widgeon - e à última hora ficou apenas uma, mas com a legenda errada... Obrigado.

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