José Henriques e a página do diário onde conta o passeio que fez à Exposição do Mundo Português.
Estão ali duas, três ou quatro décadas de rascunhos de uma vida. É o testemunho de alguém muito atento ao que se passava à sua volta. É o testemunho de um português comum que não se deixa ir em conversas e gosta de tirar as suas próprias conclusões…
Entre as várias passagens encontrei uma que trata de um passeio pela Exposição do Mundo Português, que teve lugar em Belém em 1940. A mostra, que foi um marco do Estado Novo nos anos 40, abriu as portas no dia 23 de Junho e encerrou a 2 de Dezembro.
Tratou-se de uma espécie de glorificação da história de Portugal e também a afirmação do seu estatuto de Nação Imperial. Por ali passaram milhares de portugueses, mas também estrangeiros, muitos recém chegados de um França invadida pelas forças nazis. Entre eles encontrava-se por exemplo Antoine de Saint-Exupéry, que escreveu mesmo um texto sobre a sua passagem pela capital portuguesa.
José Henriques visitou a exposição, na companhia do cunhado, no dia do encerramento. Agradeço à Ana Paula Henriques ter-me autorizado a transcrever este momento do diário… O texto foi copiado tal como está no original… deixo-vos então com este “paceio”…
Paceio à Exposição do Mundo Português
Até a pá de ferro que dizem ser aquella com que a padeira de Aljubarrota matou 7 Castelhanos.
Entre as nomerosas coisas dignas de nota, destaca-se o efeito da iluminação sobre um inorme repuxo, a nao Portugal que eu tive ocasião de visitar nesse barco grandioso nessa cravela que representa a navegação com que os nossos antepassados tornarão Portugal um paíz conquistador e colonizador – Do passeio à nao, foi das coisas que mais apreciei, a sala de ouro aonde se via as moedas em ouro de todos os reinados – a marinhagem vestidos com os trajos daquelas épocas! Tudo aquilo era surpriendente.
Inormes lagos com desenas de barcos de recreio, a gasolina e outros tocados a pés e remos de todas as variedades. Às 11 e 23 minutos veio o snr general Carmona presidir ao encerramento das festas centenárias!
Em tão foi deslumbrante ver o lindo fogo de artifício e 6 bandas de músicas regimentais a tocarem a portuguesa e o povo a cantar juntamente nunca vi coisa que mais gostasse.
Foi realmente mais uma das grandes obras do estado novo – transportes por metade do preço de as partes do país, fica na memoria de todas as pessoas que virão.
José Henriques