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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Faleceu tripulante do "Enola Gay"


Mais uma vez não é em Portugal, mas tem a ver com aviação. Faleceu mais um dos tripulantes do "Enola Gay". O caderno P2 do Público traz hoje notícia muito bem explicadinha...

Fica o link e a transcrição da notícia:
http://jornal.publico.pt/noticia/12-04-2010/temas-19165741.htm

1922-2010 Morris R. Jeppson
O jovem tenente que activou a bomba atómica e nunca se arrependeu

A 6 de Agosto de 1945 "Dick" ia a bordo do Enola Gay. Tinha uma missão a cumprir e cumpriu-a. Sem alegria, mas também sem remorsos. Viveu quase 65 anos com as memórias daquele dia



Morris R. Jeppson, um dos dois activadores que armaram a bomba atómica que foi lançada sobre Hiroxima em 1945, acelerando a rendição das tropas japonesas e o fim da Segunda Guerra Mundial, morreu a 30 de Março, aos 87 anos, num hospital de Las Vegas. A família não avançou com uma causa específica para a sua morte, mas declarou que ele fora hospitalizado devido a dores nas costas e uma forte dor de cabeça.

Conhecido como "Dick", Jeppson tinha 23 anos e era segundo-tenente da Força Aérea dos Estados Unidos quando embarcou no Enola Gay, um bombardeiro B-29, para aquela que seria a sua primeira e última missão de combate.

Foi às primeiras horas de 6 de Agosto de 1945, e "Little Boy", a bomba que iria apresentar ao mundo o conceito de armamento nuclear, estava na barriga do avião em modo de segurança. Tinha que ser armada durante o voo em direcção ao seu alvo, para evitar uma possível detonação durante a descolagem do avião.

Às duas horas e 45 minutos, o Enola Gay e a sua carga descolaram da ilha de Tinian, no arquipélago das Marianas, e dirigiram-se para Hiroxima, situada a 2900 quilómetros e seis horas de distância. O tenente Jeppson, oficial de testes de armamento, e o seu superior directo, capitão da Marinha William S. Parsons, içaram-se até ao compartimento do avião onde se encontrava a bomba para preparar a "Little Boy" para ser lançada.

Parsons era responsável pela instalação da carga que seria disparada para o núcleo de urânio da arma, desencadeando uma explosão nuclear. Jeppson activou o sistema eléctrico da bomba, retirando três cavilhas de segurança verdes e substituindo-as por cavilhas vermelhas para disparo.

Apenas os dois activadores sabem com certeza qual dos dois foi o último a tocar na cabeça da bomba que albergava o material explosivo e o detonador.

Mas é provável que tenha sido Jeppson a "colocar na bomba a última peça que a colocou operacional", afirma Dik Daso, conservador de aviões militares no Museu Nacional do Ar e do Espaço da Smithsonian Institution, em Washington.

Os dois homens terminaram o seu trabalho cerca de meia hora após a descolagem. Depois subiram para a cabina pressurizada e aguardaram mais cinco horas e meia até que o avião subitamente se elevou no ar, o que significava que a "Little Boy" tinha sido lançada.

O clarão surgiu 43 segundos depois, enviando uma imensa nuvem em forma de cogumelo em direcção ao céu e matando e ferindo mais de 100 mil pessoas. "Não senti na altura nenhuma alegria", disse Jeppson em 2005 à revista Time. "Foi um trabalho que estava terminado."

Um segredo bem guardado

O Enola Gay regressou a Tinian, onde os 12 homens da tripulação foram recebidos como heróis. Uma semana mais tarde, após uma segunda bomba atómica ter sido lançada sobre a cidade de Nagasáqui, os japoneses aceitaram render-se. A rendição oficial foi assinada a 2 de Setembro.

Jeppson recebeu a medalha Estrela de Prata e, enquanto civil, seguiu uma carreira na área da electrónica e de radiações aplicadas. Sempre manteve que não tinha remorsos em relação à bomba. Disse a jornalistas que o carro da sua mulher tinha um autocolante onde se lia "Se não tivesse acontecido Pearl Harbor, não teria acontecido Hiroxima."

Morris Richard Jeppson nasceu em Logan, no Utah, a 23 de Junho de 1922. Alistou-se na Força Aérea quando tinha 19 anos, ansioso por ser piloto. Mas, não conseguindo passar nos testes de visão, foi enviado para os programas de treino em electrónica e radar nas universidades de Yale e Harvard e no MIT, Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

Integrou um pequeno grupo enviado para se juntar ao 509º Grupo Composto em Wendover, no Utah. Treinaram-se para a sua missão atómica em segredo na região dos lagos salgados de Bonneville, uma perturbadora paisagem lunar a oeste de Salt Lake City.

A preparação dos militares para o uso de uma bomba atómica era tão secreta que Jeppson teve que retirar as insígnias do seu uniforme quando visitou cientistas no Laboratório Nacional de Los Alamos, no Novo México.

"As palavras "atómico" ou "nuclear" nunca eram ouvidas em Wendover", contou Jeppson a um jornal de Las Vegas em 2005. "A verdadeira missão do 509º Grupo era um segredo que foi mantido até estarmos no ar e a caminho de Hiroxima."

Depois da guerra

Após a guerra, Jeppson recebeu o bacharelato em Física pela Universidade da Califórnia em Berkeley. Foi trabalhar no laboratório de radiações desta universidade e no Laboratório Nacional Lawrence Livermore, e mais tarde fundou a sua própria companhia, que fabricava aceleradores lineares para investigação e aplicações médicas.

Em 1962, lançou uma segunda empresa, que produziu fornos de micro-ondas industriais. Reformou-se em 1970, após ter vendido esta companhia. Morou na Califórnia, até se mudar para Las Vegas, há cerca de 20 anos. O seu primeiro casamento, com Marge Jeppson, terminou em divórcio. Estão ainda vivos os seguintes familiares: a segunda esposa, Molly Ann Hussey, de Las Vegas, com quem esteve casado 49 anos; duas filhas do seu primeiro casamento - Carol English, de Medford, estado do Oregon, e Nancy Hoskins, de Colorado Springs; uma filha do segundo casamento, Sally Jeppson, de Gackle, Dakota do Norte; três enteados - Jane Ross, de Midland, Ontário, Mike Sullivan, de Pahrump, Nevada, e John Sullivan, de Lakeport, Califórnia; um irmão; 11 netos; e dez bisnetos.

Dos nove tripulantes e três cientistas que voaram até Hiroxima a bordo do Enola Gay, apenas um ainda sobrevive: o navegador Theodore van Kirk.

Em 2002, Jeppson abriu um cofre onde, ao longo de mais de meio século, tinha guardado duas cavilhas da bomba "Little Boy". Uma era uma cavilha de segurança verde; outra era uma sobressalente com cobertura vermelha. Vendeu-as em leilão por 167.500 dólares.

O Departamento de Justiça dos EUA processou-o, visando impedir que a venda se realizasse, argumentando que o desenho de peças de armamento era secreto.

Apoiando Jeppson, um juiz decidiu que as cavilhas poderiam ser entregues ao comprador, um antigo cientista de foguetões que afirma que a bomba o inspirou a ser físico.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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