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sexta-feira, 2 de maio de 2014

O Postalinho...
Salvando a Holanda da fome

O Postalinho de hoje é um pouco diferente dos que habitualmente publico por aqui. Não se trata de um postal de propaganda, nem é português. Trata-se do agradecimento pela ajuda alimentar, fornecida no último inverno da guerra, pelos aviadores aliados ao povo holandês.

Milhares de pessoas morreram de fome e inanição e muitas mais teriam perecido se os beligerantes e a Cruz Vermelha não tivessem sido capazes de realizar um acordo que permitiu às tripulações dos bombardeiros aliados lançar comida em vez de bombas sobre os países baixos.


Apesar de ténue, esta história tem também algumas ligações a Portugal.

Lisboa serviu de depósito para milhares de toneladas de comida compradas pela Suíça e pela Cruz Vermelha, que cedo tinham recebido informações da Holanda alertando para a escalada catastrófica da fome no país.

A 26 de Janeiro de 1945 zarpou do Tejo o vapor suíço Henry Dunant. Tinha como destino a cidade de Delfzijl. Primeiro ainda passou passou pela Suécia, onde carregou medicamentos entregando um total  de cinco mil toneladas de abastecimentos.

Parece muito, mas não chegava…


As operação Market Garden, Maná e Chowhound

A fome tomou conta da Holanda, em 1944, por razões diversas.

Por um lado o país continuava ocupado pelos nazis, um regime em desagregação e com óbvios problemas de abastecimento. A política de racionamento dividia alimentos cada vez mais escassos e os soldados alemães tinham prioridade.

Mas os aliados também eram responsáveis pelo agravamento da situação.

Em Setembro de 1944 avançaram com a operação Market Garden com o objectivo de libertar a Holanda. Foram utilizadas forças paraquedistas e terrestres e resultou num desastre, com milhares de perdas.

Pouco antes da operação, e para evitar que os alemães recebessem reforços, foi pedida à resistência que tornasse inoperante a rede de caminho-de-ferro. Centenas de maquinistas abandonaram o trabalho e entraram na clandestinidade.


Imagens das operações Maná e Chowhound. Em cima: parte de um documentário onde se conta a história da operação. As imagens têm má qualidade. Em baixo: imagens captadas pelos holandeses de Roterdão de uma dessas operações. 
 
Quando a operação militar não conseguiu alcançar os objectivos, a falta de ligações de comboio complicaram ainda mais a distribuição dos alimentos. Muitos lares tinham ainda de dividir as escassas rações com os maquinistas que continuaram escondidos.

A situação degradou-se de tal forma que a Cruz Vermelha da Suíça conseguiu mediar um acordo entre beligerantes. Para garantir um abastecimento pelo ar o comandante das forças alemãs autorizou que em determinadas horas e rotas pudessem circular aviões aliados. Estavam montadas as operações Maná e Chowhound.

Maná foi o nome da operação britânica que começou a 29 de Abril. No total realizaram quase 3300 sortidas com diversos tipos de bombardeiros e caças-bombardeiros.

Os americanos iniciaram a Chowhound logo depois realizando mais de 2000 mil sortidas.

Como as pessoas foram avisadas das largadas saíram aos milhares para os campos para poder receber os abastecimentos. Registaram-se alguns incidentes. Pelo menos um avião foi atingido por fogo antiaéreo e, vários outros, apresentaram marcas de disparos de armas ligeiras quando regressaram às bases.

Perderam-se três aviões devido a acidentes, mas no final tinham sido lançadas mais de dez mil toneladas de comida… Muitos aviadores aliados que consideraram estas as mais importantes operações em que participaram.

A guerra terminaria oficialmente no dia 8…

Em 1983 foi realizada um grande cerimónia de agradecimento pelo estado holandês. Vários aviadores britânicos e americanos foram convidados a voltar ao país, agora como heróis.

Mas logo em Maio e Junho de 1945 foram impressos milhares de postais - como o que está no topo desta página - agradecendo os esforços realizados. Os holandeses enviaram-nos para Inlgaterra e para os Estados Unidos.

Talvez o destino exista e - lembrando a carga do Henry Dunant - pelo menos um dos postais chegou a Portugal. Comprei-o por 50 cêntimos, numa daquelas feiras que misturam antiguidades com artesanato.

Era uma história boa demais para não a trazer para aqui…

Bons voos
Carlos Guerreiro

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