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terça-feira, 30 de abril de 2013

O rapto de “Artist” em Lisboa

Johann “Johnny” Jebsen e Heinz Paul Moldenhauer chegaram aos escritórios dos serviços secretos militares alemães, a Abwehr, por volta das 18 horas. Os serviços funcionavam num complexo de apartamentos, anexos à Legação Alemã em Lisboa, no número 9 da Rua do Pau da Bandeira.

Tanto Jebsen como Moldenhauer eram agentes da organização e o convite feito por Aloys Schreiber, chefe da Abwehr na capital portuguesa, não parecia ter nada de estranho até porque o tema da conversa seria uma condecoração atribuída por Hitler a Jebsen.

Johnny Jebsen, à esquerda.

Para além de Schreiber encontravam-se nas instalações Helmut Bleil, oficial de comunicações da Abwher, e também Karl Meier, um civil, funcionário da Legação.

A conversa decorreu de forma normal durante alguns minutos até Schreiber pedir a Jebsen para este o acompanhar até outra sala. Ali informou-o de que não existia qualquer condecoração e que o objectivo do encontro era fazê-lo chegar a Berlim, mesmo que fosse necessário utilizar a força.

Jebsen tentou a fuga, mas foi derrubado com um murro e ficou inconsciente.

Quando acordou estava atado a uma cadeira. A seu lado encontrava-se Moldenhauer que tinha sido dominado por Meier. Schreiber informou-os sobre o que iria passar-se a seguir. Ambos seriam drogados, com um soporífero adquirido numa farmácia Lisboa, e metidos em duas malas de grande dimensão que já estavam preparadas. Depois seriam colocados num carro e transportados até Biarritz, em França.

Por volta das nove da noite do dia 30 de Abril de 1944 saia dos anexos da Legação Alemã um Studbaker sedan levando Schreiber, Bleil e Meier e duas malas com os adormecidos Jebsen e Moldenhauer.

Entre a meia noite e as duas da manhã o carro atravessou a fronteira entre Elvas e Badajoz. Tanto Bleil como Meier, devido às inúmeras viagens que haviam realizavam, tinham contactos entre a Guarda Fiscal e não foi feita qualquer revista à viatura ou criado qualquer entrave.

Depois de algumas paragens para descanso em Espanha chegaram a Irun, na fronteira franco-espanhola, por volta da meia noite desse mesmo dia e, pouco depois, em Biarritz, entregavam as “encomendas” ao responsável local da Abwehr. Chegava ao fim a “Operação Dora”.

Schreiber, que a tinha planeado e executado, seguindo ordens superiores, assegurou, durante um interrogatório americano em 1946, que não sabia em concreto das razões ou do destino quer de Jebsen, quer de Moldenhauer.


As várias vidas de “Artist”

Jebsen era conhecido por ser um mulherengo e um jogador. Tratava-se de um fumador e bebedor inveterado, com muitos contactos no mundo dos negócios e da finança. Extremamente versátil no jogo da intriga é ainda descrito, no livro “Jogo Duplo”, de Ben Macitire recentemente editado (ver AQUI), como um anti-nazi convicto.

Este rapto entre alemães vai colocar os serviços secretos britânicos em pânico. É que Jebsen era também “Artist”, um importante agente duplo, com conhecimentos do esquema ultra-secreto baptizado por ”Double Cross” que tinha como objectivo “alimentar” os serviços alemães com informações falsas.

Quase desde o início do conflito que os alemães tentaram infiltrar agentes no Reino Unido para obter informações. Um elevado número foi capturado ou entregaram-se voluntariamente, oferecendo-se para trocar de campo.

O grupo “Double Cross” integrava meia dúzia de agentes duplos que ainda hoje fazem parte do imaginário colectivo da II Guerra Mundial. Garbo, Trycicle ou Treasure são apenas os nomes de código de alguns desses agentes.

Já muito se escreveu sobre eles, tanto em Portugal como no estrangeiro, revelando os esquemas e as excentricidades deste pequeno grupo de personagens que, não fossem os documentos que têm vindo a surgir, seriam facilmente confundidos com ficção.

Estes agentes assumiram uma importância vital no esquema de ardis que levariam Hitler a acreditar que um desembarque em França aconteceria em Pas-de-Calais e não em Dunquerque.

Jebsen era amigo pessoal de Dusko Popov, aliás “Trycicle”, mais um importante elemento da rede “Double Cross”. Por recomendação deste último, e depois de várias vezes ter sugerido que sabia dos esquemas britânicos, foi recrutado. O agente da Abwehr começou a fornecer relatórios detalhados sobre as actividades nazis.

Aparentemente o rapto não está relacionado com estas actividades, mas sim com as inúmeras com algumas transações financeiras suspeitas e o medo de que ele se preparava para desertar.

Os serviços de espionagem militar alemães estavam envolvidos numa luta de morte com os serviços de espionagem das SS, os SD.

Esta não seria a primeira deserção nestes serviços e poderia significar o seu desmantelamento já que Hitler estava cada vez mais desconfiado em relação à sua eficácia e lealdade.

Para os britânicos e para os aliados o rapto poderia significar não só o fim da operação “Double Cross”, mas também um desastre de proporções inimagináveis. O desembarque na Normandia estava marcado para dali a semanas. Se Jebsen contasse o que sabia, todas as informações da suposta rede alemã no Reino Unido estariam em causa…

Se os alemães desconfiassem que os seus agentes estavam comprometidos bastaria uma analise critica a toda a informação enviada e uma dedução invertida: se dizem que é aqui que vai ser a invasão, então está acontecerá noutro local.

Apesar da sua aparente fragilidade Jebsen não terá confessado grande coisa durante os interrogatórios acompanhados de tortura. As últimas pistas apontam para a sua presença no campo de concentração de Sachsenhausen, de onde desapareceu depois de ter sido levado a Berlim para interrogatório, em Fevereiro de 1945.

Apesar dos esforços britânicos e de Popov, depois da guerra, o destino de “Artist” mantém-se uma incógnita.

Moldenhauer, que foi raptado apenas porque se encontrava de passagem pela casa de Jebsen em Lisboa, não sobreviveria à guerra.

Em Abril de 1945 os guardas SS de Sachenhausen obrigaram milhares de prisioneiros a fazer uma marcha forçada para escapar aos Russos. Muitos não chegaram ao fim. Heinz Paul Moldenhauer foi um deles…

Carlos Guerreiro
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segunda-feira, 29 de abril de 2013

«Escaparate de Utilidades»
FERNANDO PESSA, A VOZ DE LONDRES

Jornal "Diário de Notícias", 6 de Fevereiro de 1941.
(Hemeroteca de Lisboa)

Há onze anos morria o centenário Fernando Pessa.

Durante a II Guerra foi a voz das emissões da BBC em português (ver AQUI), uma imagem que se colou a Pessa até ao final da vida…

Fica um anúncio da Philips de 1941, onde a imagem do locutor e da marca se misturam…

Uma boa semana...

Carlos Guerreiro

segunda-feira, 22 de abril de 2013

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Conversa no "À Volta dos Livros" da Antena 1

O tema é o livro, mas também o blogue.

Uma conversa com a Ana Daniela Soares Ferreira, autora do programa "À Volta dos Livros", que passou na Antena 1 às 17.20 horas do dia 17 de Abril de 2013.
 

Um bom fim-de-semana
Carlos Guerreiro

terça-feira, 16 de abril de 2013

“Aterrem em Portugal!” na Antena 1


O Livro e o Blogue “Aterrem em Portugal” é o tema do programa “À Volta dos Livros”, da Antena 1, do dia 17 (quarta-feira).

Anúncio publicado no jornal "Diário de Notícias" de 6 de Janeiro de 1941.

Vamos conversar sobre os aviadores que aterraram no nosso país durante a II Guerra Mundial, mas também abordar muitas outras histórias que podem ser encontradas no blogue.

Fica o encontro marcado com a Ana Daniela Soares Ferreira na Antena 1, às 17.20 H; 21.20 H e às 3.40 H.

Até lá
Carlos Guerreiro

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Póvoa do Varzim à conversa sobre refugiados

No próximo dia 17, na Póvoa do Varzim, é tempo de falar sobre a entrada de Estrangeiros em Portugal durante a II Guerra Mundial.

A notícia é da publicação on-line "A Voz Local":

Joana Leandro estará, uma vez mais, no Arquivo Municipal, para abordar um tema da História Local.

A investigadora é a convidada da iniciativa À quarta (h)à conversa do mês de abril e irá falar sobre a “Entrada de estrangeiros na Póvoa de Varzim durante a Segunda Guerra Mundial”, no dia 17, às 15h00.

A conferencista já esteve no Arquivo a apresentar um outro tema que tratou num trabalho de investigação realizado para tese de mestrado em História Regional e Local na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa sobre “Registos de entrada dos Expostos na Roda: contributos para a história social da Póvoa de Varzim”.

Para além disso, em 2011, foi protagonista d’À quarta (h)à conversa de maio sobre "Os passaportes internos em meados do séc. XIX".

Sobre a sua motivação por temas da Póvoa de Varzim, Joana Leandro revelou que “sempre que possível foco os meus estudos na história local pois, na minha visão, é a história mais próxima de nós, a mais «palpável». O nosso Arquivo tem um fundo documental tão rico que merece ser mostrado. Para além disso, na investigação local há a satisfação de contribuir para a memória coletiva da nossa terra”.

Sempre na terceira quarta-feira de cada mês, o Arquivo volta a convidar a comunidade a assistir a estas sessões e a conhecerem melhor o concelho da Póvoa de Varzim.

sábado, 6 de abril de 2013

Lisboa em tempo de Guerra na TSF

O programa “Encontros com o Património” que vai de encontro ao Portugal da II Guerra Mundial, passou no sábado, dia 6 de Abril de 2013, na TSF.

O programa é conduzido por Manuel Vilas-Boas e a sonorização é de Mésicles Helin.

Pode ouvir o programa na integra AQUI. 

São convidados deste programa as historiadoras Irene Pimentel, Margarida Ramalho e o jornalista Carlos Guerreiro.

Apenas uma informação adicional e que se relaciona com o facto de Carlos Guerreiro já não ser jornalista da TVI…

Fique na boa companhia da história
Carlos Guerreiro

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Abril, iniciativas mil

Até final do mês continuam as sessões de cinema no Espaço Memória dos Exílios, no Estoril, com mais oito fitas que, como é costume, são seguidas de conversas e debates.

Esta sexta e este sábado temos a guerra vista pelos olhos das crianças. Os filmes são “Adeus, Rapazes” de Louis Malle, e “A Equação doDiabo” de Donna Deitch. Os comentadores convidados são Elena Piatok e Margarida de Magalhães Ramalho.


Como é habitual as sessões realizam-se às 21 horas de sexta-feira e às 16 horas de sábado. Os filmes que estão na calha para as próximas semanas são “A Queda”, Dresden – O Inferno”, “O Bom Alemão”, “Nuremberga”, “Criminoso de Guerra” e “Os Últimos Dias”.

Para mais informações pode consultar a agenda de Eventos deste blogue AQUI.

No Sábado, na TSF, às 12 horas, no Programa "Encontros com o Património" é tempo de falar de Lisboa e de Portugal durante a II Guerra Mundial.

Refugiados, espiões, histórias de um país que, apesar de neutro, esteve no centro de muita actividade. Os convidados são Irene Pimentel, Margarida Ramalho e eu também tive direito a um lugar nesta conversa que segue por interessantes caminhos da nossa memória...

Ainda este fim-de-semana, mas no domingo, na Bertrand do Chiado poderá contactar com José Correia Guedes, autor do romance “Na Rota do Yankee Clipper”.

O encontro está marcado para as 17.30 horas e os amantes da história da aviação terão possibilidade de conhecer não só o livro mas também um pouco da história dos transportes aéreos durante os anos 30 e 40.

A partir de segunda feira o palco das actividades passa a ser o Liceu Francês em Lisboa. Em conjunto com a Fundação Aristides de Sousa Mendes preparam-se cinco mesas redondas entre segunda e sexta feira numa iniciativa que tem como tema de fundo “Os Refugiados de Guerra”.

Historiadores, embaixadores, representantes de entidades oficiais e jornalistas vão falar sobre os refugiados da II Guerra Mundial, mas também ajudar a esclarecer quem são os refugiados de hoje.

De resto mantêm-se as exposições na Fundação Oriente, sobre a História do Porto de Lisboa, e também no Espaço memória dos Exílios, com uma colecção de objectos da II Guerra Mundial.

Para mais informações consulte a nossa página de Eventos AQUI

Um Bom mês

Carlos Guerreiro

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Memórias de Sousa Mendes

Há 59 anos morria em Lisboa, no Hospital da Ordem Terceira, Aristides de Sousa Mendes.

O ex-cônsul Português de Bordéus, no início da II Guerra Mundial, morreu pobre e acompanhado de poucos familiares que ainda estavam no país, depois de quase todos os filhos terem emigrado para os EUA.

Caído em desgraça acusado por Salazar de desobediência, depois de passar milhares de vistos especialmente a Judeus em fuga dos Alemães, Sousa Mendes terminou a vida sem bens e com grandes necessidades.

Ficam dois filmes, retirados de um documentário, chamado “Out of Europe”, de Richard Lerner, onde se podem ouvir os depoimentos de algumas testemunhas que encetaram a fuga graças aos vistos de Sousa Mendes…






Um resto de bom dia
Carlos Guerreiro

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Para ler mais sobre
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terça-feira, 2 de abril de 2013

Inauguração Memória da II Guerra Mundial em Objectos

Cerca de três dezenas de pessoas assistiram ontem à inauguração da exposição “Memória da II Guerra Mundial em objetos”, uma iniciativa que contou com a apresentações do professor Adérito de Tavares e António Fragoeiro, coleccionador e proprietário da quase totalidade das peças expostas.

Como a exposição se vai manter no Espaço Memória do Exílios, no Estoril, até Setembro ficou a promessa, por parte da autarquia, de promover outras iniciativas relacionadas com esta mostra.

Aspecto geral da Exposição. 

Professor Adérito Tavares (em cima) e António Fragoeiro (em Baixo).


Algumas das pessoas que visitaram a exposição durante a inauguração.