Domingos Amaral publicou recentemente “O Retrato da Mãe de Hitler” (Ver
Aqui), um livro de ficção que continua a seguir as pisadas de Jack Deane, uma personagem já apresentada num outro livro do mesmo autor: “Enquanto Salazar Dormia”.
Agora a acção passa-se numa Lisboa do pós-guerra, uma cidade onde se continuam a cruzar homens que lutaram tanto do lado do Eixo como do lado dos Aliados.
Para sabermos um pouco mais sobre este "Retrato" que o novo livro traz, pedimos a Domingos Amaral para nos responder a algumas questões…
Aterrem em Portugal - Que retrato é este que surge no centro deste novo livro?
Domingos Amaral - Em 1945, desapareceu de Munique um pequeno baú com objectos pessoais de Adolf Hitler, que só viria a ser descoberto nos anos 60, já nos Estados Unidos da América.
Esse "tesouro" está hoje no museu da Academia de West Point e pode ser visto por quem visite o museu.
Entre os vários objectos pessoais do ditador alemão, encontra-se um retrato da mãe de Hitler, Klara Hitler, assinado pela própria e dedicado ao filho.
Foi com base nesta situação verídica que imaginei a história do meu livro, onde um coronel das SS se apodera deste pequeno "tesouro" e atravessa a Europa, fugindo, até chegar a Lisboa, onde tenta vender o "tesouro" aos coleccionadores deste tipo de relíquias, um dos quais é o pai do protagonista do meu livro.
Aterrem em Portugal - Neste novo livro, e apesar da guerra ter terminado, Lisboa continua misteriosa e centro de uma grande actividade onde se continuam a cruzar homens do eixo e dos aliados. Isto é apenas ficção ou esta é uma imagem verdadeira da Lisboa daqueles tempos?
Domingos Amaral - É uma imagem verdadeira. Já com a guerra terminada na Europa, continuavam a passar por Lisboa não só alguns nazis em fuga para a América Latina, como muitos homens importantes dos aliados, americanos ou ingleses.
É nesse ambiente fluido e bastante misterioso que se passa a história do meu livro. Jack Gil, o protagonista, é um ex-espião inglês, mas continua a conhecer as redes alemãs que ainda existiam em Portugal, e isso permite-lhe tentar "caçar" os nazis que por aqui fugiam.
Aterrem em Portugal - Não é o primeiro livro que escreve que tem como pano de fundo a II Guerra Mundial. Porquê este regresso?
Domingos Amaral - Porque é um período muito rico da história de Portugal, onde devido à neutralidade do país durante o conflito militar, se podem movimentar com muito à vontade os protagonistas da guerra na Europa, sejam eles dos Aliados ou do Eixo.
Além disso, Portugal encheu-se de refugiados da guerra e isso alterou bastante os hábitos dos portugueses, e esse choque de "culturas" é muito interessante. A sociedade portuguesa é obrigada a adaptar-se à guerra mesmo não participando nela.
Por fim, as divisões políticas que existiam em Portugal são exacerbadas devido à guerra, e o regime Salazar tem dificuldade em enfrentar as novas questões que o conflito europeu e mundial lhe coloca.
Aterrem em Portugal - O seu livro “Enquanto Salazar Dormia” continua a ser reeditado com frequência. Porque acha que isto acontece?
Domingos Amaral - Sinceramente, acho que é uma história bonita e bem contada, e por isso os leitores gostam muito do livro e continuam a procura-lo.
Aterrem em Portugal - Nos últimos anos foram surgindo diversos livros de ficção e não-ficção sobre Portugal e a II Guerra Mundial. Acha que estamos a redescobrir a nossa história?
Domingos Amaral - Sim e ainda bem. A maior parte dos portugueses tem uma ideia muito distante da Segunda Guerra Mundial, pensam que foi uma coisa que não nos afectou só porque não entrámos no conflito militar.
No entanto, os efeitos da guerra em Portugal foram enormes e as divisões existentes em Portugal, entre os pró-germânicos e os pró-aliados também foram muito fortes.
É bom que se conheça e estude melhor toda essa época.
Carlos Guerreiro