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sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Podcast Portugal 1939-1945
Espionagem nas sombras de Lisboa

 

Em 1943 Rogério de Menezes - funcionário da Embaixada portuguesa em Londres - foi condenado à morte em Inglaterra acusado de espiar para os alemães… A pena, no entanto, nunca foi cumprida e no final da guerra regressou a casa.

Esta é uma das histórias que vamos conhecer na conversa com José António Barreiros, advogado e autor de vários livros sobre o mundo da espionagem em Portugal durante a II Guerra Mundial. Com eles vamos também conhecer melhor personalidades como Ian Fleming, Dusko Popov ou Juan Pujol Garcia… Todos passaram por Lisboa em algum momento das suas carreiras e todos foram importantes no meio da espionagem mundial entre 1939 e 1945.

 

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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Em 1944 Salazar acreditava que a guerra seria ainda muito longa

“Ele não acredita que a intenção dos aliados de criar segunda frente obtenha resultados decisivos. Pensa que as forças em confronto se vão equivaler e que a guerra se vai prolongar por muito tempo”.

O ele refere-se a Salazar e mostra claramente que por toda a Europa se esperava a criação de uma segunda frente, que viria de facto a acontecer em 6 de Junho daquele ano.

O barão Oswald von Hoyningen-Huene,
Ministro Plenipotenciário da Legação
da Alemanha em Lisboa.
(Foto: Revista Esfera)
Esta nota é parte de uma conversa entre o presidente do Conselho e o barão Oswald von Hoyningen-Huene, Ministro Plenipotenciário da Legação da Alemanha em Lisboa, que teve lugar na segunda semana de Fevereiro de 1944 e foi enviada através de uma mensagem – possivelmente cifrada - para Berlim pelos serviços de informação das SS, o “Sicherheitsdienst”, a operar na capital portuguesa.

Esta troca de argumentos, que certamente teve um cariz reservado, foi, no entanto, reproduzida por terceiros, nomeadamente pelos serviços secretos britânicos que consideraram “sombria” esta opinião sobre o futuro da guerra de Oliveira Salazar.

O documento tem apenas uma página e aparenta ser o resumo de uma comunicação mais extensa elaborado em Bletchley Park, onde eram interceptadas e descodificadas muitas mensagens secretas trocadas pelos diversos serviços e força germânicas. Está classificado como “Most Secret” (Muito Secreto) e é recomendado que seja utilizado com “Special Care” (Especial Cuidado).

No relatório, datado 18 de Fevereiro de 1944 e intitulado "Observações de Salazar para o Ministro Alemão", os serviços secretos britânicos mostram grande interesse pelas impressões do governante português tanto no que respeita à guerra como também noutros temas, nomeadamente, o comércio e as pressões aliadas sobre Espanha.

Assim durante a conversa Salazar terá assegurado que os britânicos não sujeitavam, naquele momento, Portugal a qualquer pressão especial e que pretendia continuar a negociar com os alemães, estando a ser constituídas novas comissões com esse objectivo.

De resto assegurava que não havia quaisquer intenções de suspender o comércio entre os dois países. Sobre a Espanha o ditador português acreditava que, apesar da resistência Espanhola às pressões aliadas, Franco não iria ter capacidade para resistir muito mais tempo e seria obrigado a dar concessões aos aliados.

Não são claras as razões para a pressão aliada, mas estas poderão estar relacionadas com apoios dados pelos espanhóis aos alemães e até a retirada dos últimos voluntários da frente da russa que foi ordenada em Março de 1944.

Um relatório resumido, mas com informação relevante não só sobre as intenções do governante português como também sobre as preocupações alemãs numa altura crítica do conflito.

Carlos Guerreiro

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Espionagem em Lourenço Marques...
Preocupações portuguesas

A denúncia da rede de espionagem alemão na capital moçambicana, publicada revista americana Colliers a 7 de Novembro de 1942, causou forte preocupação no regime e, fosse pelos detalhes ou pela sugestão de que o governo português fazia vista grossa à actividade desses espiões, foi rápida a reacção do Governo que, em poucos meses, tinha prontos inquéritos tanto da Marinha de Guerra como do Ministério das Colónias.

Lourenço Marques nos anos 40.

Todos os documentos, acompanhados de algumas notas pessoais, encontram-se no Arquivo Oliveira Salazar, na Torre do Tombo, sinal de o Presidente do Conselho, que era também ministro da Defesa e dos Negócios Estrangeiros, mostrou um interesse pessoal pelo assunto, numa altura em que se adivinhavam mudanças profundas no sentido da guerra, com o desembarque americano no Norte de África.

O Chefe de Estado-Maior da Marinha, Major General da Armada Alfredo Botelho de Sousa, é o primeiro a avançar com as conclusões de um inquérito conduzido pelo comandante do aviso “Afonso de Albuquerque”, a unidade de maior porte no índico naquele período.

Logo a 12 de Janeiro são conhecidos os resultados e, ao longo de 13 páginas, analisam-se várias passagens do artigo publicado na revista americana. Confirma o grande número de afundamentos naquela parte do Indico durante o ano de 1942, avançando com o número de 29 navios desaparecidos entre 17 de Outubro e 14 de Dezembro. Assegura, no entanto, que destes apenas 11 o tinham feito na costa da ex-colónia portuguesa, enquanto os restantes “aconteceram na costa sul-africana”.

Depois de nomear cada um dos onze navios pormenoriza que “apenas dois afundamentos se verificaram a cerca de 10 milhas da costa portuguesa - três a 20 milhas e os restantes 6 a distâncias maiores – todos fora de águas territoriais portugueses que se encontravam até às 3 milhas”.

Mesmo assim muitas dezenas de náufragos, até de navios afundados na África do Sul, vão chegar de alguma forma a Moçambique. Um documento britânico refere a presença de cerca de 500 náufragos nos anos de 1942 e 1943, só na zona da Beira.


Guerra entre portos

Entre as várias respostas enviadas a Lisboa é traçado o cenário do que se vive naquela zona do globo. O porto de Lourenço Marques conheceu um acréscimo de tráfego importante desde que os combates se aproximaram do Egipto no ano anterior, nomeadamente, para se abastecerem de combustível. Cinco dos navios afundados na proximidade da costa tinham ali feito escala. De resto nenhum destes navios chegou ou saiu em comboio ou tinha qualquer tipo de escolta, uma lacuna de “policiamento” considerado um "desafio aos apetites do adversário”.

Os oficiais da marinha portuguesa salientam também que aquela zona do continente africano está à mercê tanto de submarinos alemães, acompanhados de submarinos de abastecimento, como de submarinos japoneses. Uma análise acertada já que tanto uns como outros navegaram aquelas águas até 1944. De resto só esperam nova actividade com a aproximação do Verão, pois os ataques têm tendência para acontecer por vagas: "a considerar o ano passado (...)  houve dois períodos de grande actividade submarina: durante Junho e primeira quinzena de Julho e durante Novembro e primeira quinzena Dezembro".

O relatório exclui a possibilidade de existirem pontos de abastecimento para os submarinos ao longo da costa, mas já não avança com a mesma garantia em relação à existência de navios "amigos" que executem operações desse tipo: “É uma hipótese, que nada confirma, mas que tanto pode verificar-se na costa portuguesa, como na própria costa da África do Sul, pois não há vigilância possível que garanta que tal não se possa dar”.

O Major General da Armada Botelho de Sousa reforça a ideia de que há rivalidade entre portos, nomeadamente com o de Durban, razão porque a notícia saiu daquela forma, responsabilizando Moçambique pelos afundamentos.

Neste aspecto também o relatório do Ministério das Colónias concorda com o realizado pela Marinha, referindo que "a imprensa da União Sul Africana e dos Estados Unidos insistem" em apontar os navios atacados junto à costa Moçambicana, quando foram muitos mais afundados na costa do Natal.

Já sobre o resto do conteúdo do artigo mostra-se incapaz de confirmar as actividades de espionagem alemã. “(…) Não deve ser muito fácil a espionagem feita pelo cônsul alemão num meio relativamente pequeno como é Lourenço Marques onde a grande maioria da opinião pública é favorável aos aliados”, está escrito no relatório, apesar de haver o reconhecimento que, “em todo o caso é de crer que alguma espionagem se faça, e um facto há que contribuí para que se dê mais crédito a essas notícias, é o de na realidade o cônsul Dr. Werz enviar extensos telegramas cifrados”.

Para tentar satisfazer os reclamantes ingleses, mas sem entrar em confronto com os alemães, os responsáveis do ministério sugerem, com “fundamento de haver muito serviço telegráfico do Estado e também haver muito serviço de particulares, limitar o número de palavras dos telegramas cifrados a expedir sem sujeição a demora”. Não é possível perceber, pelo resto da documentação, se esta medida chegou a ser implementada, mas é certo que Werz, e os restantes associados, passaram a estar sob a mira das autoridades policiais em Lourenço Marques.


A esperança dos Bóer

Entre a documentação britânica, relativa à vigilância de elementos desta rede, há testemunhos de polícias locais que confirmam o crescente interesse português nas suas actividades.

Os aliados tinham um interesse muito especial nesta rede, que ia muito para além da informação naval que pudesse ser recolhida pelos seus agentes. No interior da União da África do Sul existia uma importante população bóer, descendentes de holandeses e alemães, e que sempre tinham lutado contra a presença britânica. Fatias importantes desta população eram contra a participação na guerra ao lado dos aliados e outros viam na vitória alemã a possibilidade de reconquistarem o poder.

Os aliados sabiam que existiam contactos entre grupos nacionalistas bóer e alemães. Existiam trocas de informações, emissões de rádio alemãs para o território e será até desembarcado um sabotador alemão no território.

Por todas essas razões os britânicos tinham a rede assinalada há algum tempo e andavam a recolher informações junto de diversas indivíduos portugueses e estrangeiros que residiam em Moçambique.

A partir dos princípios de 1943 Salazar vai também estar exposto a uma maior pressão dos aliados. Detalhes sobre diversas redes alemãs a operar em Lisboa e nas diversas colónias são-lhe entregues pelo embaixador britânico em Lisboa. A insistência em obter resultados passa a ser cada vez mais intensa e terá também resultados em Moçambique. Em Outubro de 1944 as autoridades portuguesas vão expulsar da colónia tanto Wertz como outros membros da sua rede.

Carlos Guerreiro

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Espionagem em Lourenço Marques...
Risco em Moçambique na revista Colliers

O Hotel Polana, em Lourenço Marques, foi o local de residência do espião alemão Luitpold Werz, principal visado  no artigo da revista Colliers de Novembro de 19542.
(Foto: https://delagoabayworld.wordpress.com/)

O artigo que transcrevo foi publicado na edição de 7 de Novembro de 1942 da revista americana “Colliers”, e encontra-se assinada por Frank Gervasi, um jornalista consagrado, que cobriu a Guerra Civil de Espanha, a 2ª Guerra Mundial e foi autor de uma dezena de livros.

Este artigo encontra-se entre a documentação do Arquivo Oliveira Salazar, na Torre do Tombo, e terá causado uma forte impressão no governante português, pois tanto o Ministério da Marinha como o Ministério da Colónias elaboraram relatórios relacionados com este assunto. Esses relatórios serão tema para um artigo na próxima semana.

O tempo irá levar o governo português a assinar a expulsão de Luitpold Werz - a personagem central desta peça jornalística - e de outros colaboradores dos serviços secretos do nazismo, tanto em Moçambique como em Angola. Temas a que também voltaremos noutros artigos…

Apesar de, aparentemente, se encontrar longe dos grandes centros de decisão, aquele território e a África do Sul, foram palco de um verdadeiro choque entre agências de espionagem do Eixo e dos Aliados, com o registo de raptos, secretas operações de desembarque, ataques a navios e muitas outras peripécias…

Há certamente assunto para várias semanas de conversa…

Por agora fica o artigo que descreve o ambiente que se vivia em Moçambique, e também as suspeitas que recaiam sobre o vice-cônsul alemão, Herr Werz…


Região Africana de Risco

A linha de abastecimento dos Aliados, desde Inglaterra até às frentes de batalha do Próximo Oriente, Rússia e Índia, depois de rodear o Cabo da Boa Esperança, vai passar nas águas estreitas do Canal de Moçambique entre a Ilha de Madagáscar e a África Oriental Portuguesa. É uma das mais seguras linhas que liga os arsenais das nações unidas com os seus campos de batalha, e só é verdadeiramente vulnerável nas águas do referido canal. No momento mais crítico da luta, que procurava impedir que o inimigo alcançasse as regiões petrolíferas da Rússia e da Arábia, perdemos muitos navios nesse canal. O seu número exacto continua sendo um segredo militar.

A fim de proteger esta linha de abastecimentos, os ingleses ocuparam Diego-Suarez e a União Sul-Africana enviou tropas para terminar a ocupação de Madagáscar, para evitar que o inimigo se servisse da ilha como base donde atacasse a navegação aliada no canal e, possivelmente, donde tentasse a invasão do continente africano. Mas Madagáscar é apenas metade do problema. A outra metade é a África Oriental Portuguesa.

A colónia portuguesa neutral da África Oriental é, em determinado sentido, uma base inimiga no continente africano. Dali os espiões e agentes inimigos podem comunicar para Berlim, Roma e Tóquio, os movimentos dos navios pertencentes às Nações Unidas. Estes agentes da Gestapo, recrutam em Lourenço Marques marítimos holandeses e gregos que fazem parte das tripulações dos navios aliados. É dali que um dos mais hábeis, dos muitos, agentes alemães transmite para Berlim as informações que acumula relativas às Nações Unidas , e cujas funções no continente africano se podem comparar com as exercidas por Von Papen, nos Balcãs, e por Grobba, no Próximo Oriente.

Ele fornece a Goebbels todos os elementos para a sua propaganda contra a África do Sul – mas esta é talvez a menos perigosa das suas missões.

Se o problema fosse contrário, isto é, se a África Oriental Portuguesa estivesse rodeada de colónias alemãs em vez de o estar por territórios, colónias e domínios britânicos não haveria dúvida acerca da forma como tudo teria sido resolvido. Os alemães ter-se-iam limitado a invadi-la. Mas as Nações Unidas não procedem desta forma. Portugal é um neutro e a neutralidade portuguesa, segundo os métodos das Nações Unidas, tem de ser respeitada. Não importa que o sr. Luitpold Werz, que passa por ser o vice-cônsul alemão em Lourenço Marques, seja um dos mais seguros membros da Gestapo e que viole diariamente a neutralidade portuguesa.

Uma série e circunstâncias políticas e geográficas tornaram a tarefa de Werz relativamente fácil. Nos territórios neutrais as vantagens são sempre a favor do Eixo. Todos os neutros ou pseudo-neutros sentem-se obrigados a conformarem-se com as suas exigências. Muitos têm fronteiras comuns com o eixo ou com países ocupados e receiam a invasão se fazem qualquer objecção àquelas exigências.

Portugal, particularmente, está numa má situação, atendendo que, à mais pequena provocação, a Espanha, intimada pela Alemanha, o invadiria. Oficiais portugueses recém-chegados da metrópole a Moçambique informaram-me de que não seria possível resistir uma semana aos espanhóis se estes tentassem a invasão.

E se uma invasão tiver lugar, o império português, velho de meio século, compreendendo um território 26 vezes maior do que a metrópole, incluindo não só algumas das mais ricas das colónias de África, mas também ilhas de situação estratégica, estariam à mercê do eixo, da Grã-Bretanha ou dos Estados Unidos – do primeiro a chegar.

O vasto e rico império Português que tem sobrevivido, mais que qualquer outro, e escapado à sofreguidão imperialista dos últimos cem ou cinquenta anos, graças à protecção da poderosa esquadra Inglesa, pode tornar-se num dos impérios africanos à mercê dos acontecimentos.

O medo de perder o império, a fundamental e nítida simpatia pelo fascismo, bem impressa no seu sistema corporativo, e a secreta crença de que as Nações Unidas não ganharão a guerra explica, parcialmente, a tácita colaboração de Portugal com o Eixo. Estas circunstâncias, mais particularmente, explicam como o Dr. Werz obtém quantos fundos requisita dos bancos portugueses.


A habitual técnica nazi

É o mesmo velho “truque” que os Nazis utilizaram nos Balcãs. A Alemanha obriga Portugal a comprar-lhe os seus produtos, ferramentas e armamentos (ainda recentemente a Alemanha ofereceu-se para vender a Portugal o equipamento para quatro divisões motorizadas) e obtém, assim, largas reservas em dinheiro português nos bancos de Lisboa. O Dr. Werz, em Lourenço Marques pode, a seu belo prazer, levantar quanto precisar, desses depósitos.

A atmosfera pró-fascista de Portugal não é compartilhada pela população branca de Moçambique, onde os nativos não contam. A colónia, cuja prosperidade económica depende largamente da África do Sul e da Rodésia é, abertamente, pró Inglaterra e pró Nações Unidas.

A população ressente-se da tendência que há na metrópole para fazer de Moçambique terreno de experiência dos políticos na inactividade.

Chamam paraquedistas aos funcionários vindos de Portugal, que se apossam dos melhores lugares e não se preocupam nada com o progresso local.

Se Portugal for alguma vez invadido pelo inimigo é razoável esperar, de acordo com a opinião dos principais elementos da colónia, que Moçambique se torne o centro do movimento do Portugal livre, exactamente como sucedeu com as colónias francesas em relação à França. Nada, porém, contraria o trabalho de Dr. Werz, porque em toda a Neutrália (essa terra onde se costuma dizer “isso aqui não acontece”, e agora somente inclui meia dúzia das cinquenta nações independentes do mundo) há homens que ambicionaram alcançar o poder através de uma vitória do Eixo e outros que se podem comprar e vender.


Um porto importante e movimentado

Moçambique não constitui uma excepção.

O Dr. Werz sabe como gastar o seu dinheiro. Os seus agentes gastam-no em abundância comprando bebidas para os marítimos do porto. Lourenço Marques tornou-se um dos mais importantes portos num continente que é tristemente falho de bons fundeadouros.

Há 10 meses, os guindastes de Lourenço Marques jaziam abandonados e os seus cais estavam desocupados, excepto para uma pequena cabotagem ou para um navio ocasional, vindos de Lisboa. Hoje em dia é um dos mais movimentados portos da costa oriental, onde os cargueiros das Nações Unidas escalam para se reabastecer, reparar ou embarcar carga trazida por caminho-de-ferro da África do Sul.

Mais de dois milhões de toneladas de navios passaram por Lourenço Marques, entre Janeiro e Junho, e este ritmo aumentou à medida que as facilidades obtidas no Cabo e em Durban diminuíam devido à abundância de carga. As docas estão cheias de navios, e os cafés da beira-mar repletos de embarcadiços. Entre estes há gregos e holandeses cujas famílias estão nos territórios ocupados.

Hoje em dia os marinheiros valem como os canhões, e o Dr. Werz desenvolve um sistema capaz de nos (às Nações Unidas) privar de alguns.

Os seus agentes circulam por entre os marítimos mais inconsoláveis que ignoram se as suas famílias estão vivas ou mortas. Ganham-lhes a confiança e oferecem-se para obter novas dos seus parentes e amigos. “Basta que nos dê os nomes, donde foi o último lugar que recebeu notícias e nós faremos o resto”. Através da Gestapo em Berlim e nas áreas ocupadas o Dr. Werz obtém as notícias desejadas, em menos de 48 horas. Sempre que as notícias são desfavoráveis, claro, omitem-se os detalhes tristes. Então os agentes voltam a encontrar-se com os marítimos e transmitem-lhes as informações.

Em troca o Dr. Werz consegue preciosos detalhes para a sua principal missão, que é a espionagem naval: o último porto onde o navio tocou, tonelagem, espécie de carga e, possivelmente, o seu destino.

Pessoalmente, pode certificar-se quais os navios que largam de Lourenço Marques. Isso é o mais fácil. Basta-lhe olhar da janela do seu quarto, no Polana Hotel, que está numa elevação dominando a baía da Lourenço Marques. Telegrafa para Berlim o movimento diário dos navios. Berlim rapidamente se põe em contacto com os submarinos e corsários operando no canal de Moçambique e nas águas africanas.

Mas isto não é tudo. Os marinheiros a quem o Dr. Werz prodigaliza favores são muitas vezes influenciados para abandonar os seus navios. Lourenço Marques está cheio de embarcadiços pelas praias que o Dr. Werz levou a desertar, e de outros que naufragaram. Muitos dos barcos perdidos no canal tinham pouco antes levantado ferro de Lourenço Marques.

É um macabro estudo, este de observar um esgrouviado nórdico de cabelos louros e olhos azuis sentar-se na sala de jantar do Polana Hotel e medir com os olhos os capitães de navios que entram e saem. Deselegantemente vestidos com fatos comprados feitos, estes sobreviventes de naufrágios sentam-se para tomar a sua primeira refeição depois de dias e dias passados em baleeiras e jangadas.

A transmissão e recepção, referente ao trabalho que relatámos atrás, consome grande parte do orçamento diário do Dr. Werz em telegramas. Tornou-se o melhor cliente dos correios e telégrafos do estado, em Lourenço Marques. Todos os dias o vice-cônsul alemão manda o seu criado preto, uniformizado de caqui, à repartição dos correios com longos telegramas, dirigidos à Chancelaria Alemã, contendo numerosas linhas dactilografadas que representam palavras em cifra. No fecho, carimbadas com a águia alemã e a cruz suástica.

O criado deixa, para pagamento dos telegramas, vinte e quatro mil escudos em notas. A conta de telegramas do Dr. Werz atinge quinze mil dólares mensalmente e, sabe-se, levantou do Banco Ultramarino, o Banco Colonial do Estado, a quantia de cem mil dólares de uma só vez.

Em Moçambique os Nazis não se preocupam em colectar os duzentos alemães que vivem em Lourenço Marques, ou os quinhentos que possuem plantações de sisal no norte da colónia, próximo de porto Amélia e da cidade de Moçambique, a região próxima das antigas colónias alemãs.

As quantias que o Dr. Werz gasta com telegramas representam uma enorme despesa, no género daquela que os serviços de censura chamam “informações úteis ao inimigo”.

Certamente não enche os seus rádios com discrições dos acontecimentos e da vida de Lourenço Marques, porquanto esta cidade, embora capital da melhor colónia portuguesa, não é, positivamente, uma metrópole.

Para o cônsul americano, por exemplo, pode-se considerar uma semana ocupada aquela em que tem de expedir dois telegramas oficiais. A propósito, direi que o nosso cônsul ali é um rapaz de Buffalo, chamado Austin Roe Presont. É um funcionário de 4ª categoria, num posto classificado de 8ª, que está em inferioridade por não ser cônsul geral, porque todos os países, excepto o Japão, mantém lá cônsules gerais. E ele e a sua mulher de origem australiana, Marjorie e o seu filho , Austin Jr, constituem toda a população americana de Moçambique.


Deixam Werz trabalhar

Lourenço Marques, cenário deste drama africano de espionagem (que seria uma farsa e menos um drama se as consequências para as Nações Unidas fossem menos funestas) é uma terra triste e sombria, apesar das brochuras turísticas se lhe referirem com grandes encómios.

Aqui, 14.000 pessoas de origem portuguesa, 29.000 nativos e 5.000 sem identificação possível, arrastam uma monótona existência com dois cinemas, dois clubes nocturnos, um hotel medíocre e um “terrível” campo de golfe. Mas, apesar de tudo, ninguém se tem importado com Werz.

Alguns ingleses divertem-se arquitectando planos à Edgar Wallace para o fazer desaparecer, mas Werz prossegue serenamente como se nada fosse. Se não é o chefe local da Gestapo, personifica-o na perfeição, curva-se amavelmente diante dos portugueses e faz todo o possível para lhes cair nas graças; recebe-os e acumula-os de gentilezas.

Werz tem a mania da perseguição. Uma vez desmaiou na casa de banho e depois de ter sido socorrido pelo criado, jurou que tinha sido assaltado por agentes ingleses. Quando tornou mais tarde a desmaiar à mesa do jantar, quis provar que o tinham tentado envenenar. Não faz vida privada, nem sequer na praia, onde gosta de passear com sua mulher. Lourenço Marques é uma casa sem paredes. Uma cidade onde os europeus vivem na pequena área constituída pela sala de jantar, hall e bar do Polana Hotel. Basta-lhe jantar, uma ou duas vezes lá, para ficar sabendo tudo quanto quiser da vida local.


Um perigoso agente de espionagem

Werz é um homem novo, de trinta e tal anos, que veio para Lourenço Marques depois de ter sido expulso de Pretória, quando a África do Sul entrou na guerra. Há alguns que suspeitam que o grupo “Ossewabrandwag”, que é anti-intervencionista, de estar ligado com Werz, mas a prova dessa ligação não tem consistência.

Do que todavia, não há dúvida é que Werz, nos seus rádios para Berlim remete notícias da União, Rodésias e de toda a costa oriental até ao Cairo. Estando como está, no centro da principal linha de reabastecimento dos aliados, e no meio da linha aérea do Cairo ao Cabo, está em posição de recolher grande quantidade de “material” útil a Berlim. Seria magnífico, mesmo se se limitasse a recolher os informes que obtém dos jornais de Joanesburgo e da África do Sul, respeitantes às condições internas da União. As suas oportunidades para livremente espionar são numerosas demais para serem vigiadas pelos seus inimigos, e, daí não perder nenhuma ocasião.

Podemos perfeitamente, supor que Werz opera de Moçambique como Dietrich da cidade do México, ou como os agentes alemães do Rio, antes do Brasil alinhar com as Nações Unidas, e como continuam agora de Buenos Aires.

Mas a presença de Werz junto às fronteiras da África do Sul – a nação mais importante no esforço de guerra no continente africano e cuja contribuição a coloca logo depois da Grã-Bretanha e Estados Unidos – é mais perigosa que a de Dietrich e dos outros nos seus diferentes postos nos começos da guerra. É a mesma triste e feia história de uma nação amiga – neste caso uma colónia amiga – abrigando um agente inimigo para quem as leis do direito internacional significam apenas protecção para as suas manobras.

Moçambique é um dos mais ricos pontos de África, com ouro, magnésio, carvão, cobre e estanho. Nas suas férteis planícies cresce trigo, arroz; nas florestas o quinino, tabaco e borracha.

Para alguns portugueses leais aos princípios democráticos há dúvidas quanto às ambições da Alemanha em relação a Moçambique. Não podem haver quaisquer da parte da África do Sul, nem do seu 1º Ministro Smuts.

Ele que visiona para depois da guerra uma federação de estados africanos ao sul do Equador, talvez esteja fazendo planos no que toca a Moçambique.

De todas os homens desta guerra, é o mais preparado para alcançar uma solução para o problema de Moçambique, e para o problema do Herr Docktor Werz.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Viana dos Santos, comerciante quase espião

“Não faz ideia de como estou bem de saúde. Podia dizer isto para animar mas não. È verdade, sinceramente sinto-me com bastante saúde e só penso em vocês aí como se hão-de governar sem o meu auxílio”. Artur Viana dos Santos escrevia assim à mãe em 12 de Janeiro de 1943, poucos dias depois de ser detido na África do Sul acusado de espionagem a favor dos alemães.

Artur Viana dos Santos realizou a sua viagem de "espionagem" no paquete "Angola", da Companhia Nacional de Navegação.

Na carta assegurava à mãe que as acusações não faziam sentido. “(…) Tenho fé de em que as autoridades reconhecerão que nada de mal lhes fiz, nem farei, o que seria um crime para a minha consciência e acabarão por me pôr em liberdade e então hei-de novamente recomeçar a ganhar dinheiro para as manter e voltaremos à nossa vida normal”.

Apesar das garantias à família, Artur Viana dos Santos estava de facto envolvido numa rede de espionagem alemã que tinha como centro a cidade de Lisboa. A troco de dinheiro deveria fornecer informações sobre o movimento de navios e de tropas aliadas.

As informações seriam recolhidas durante a viagem entre Lisboa e Lourenço Marques no paquete “Angola”. Entre o embarque, a 30 de Novembro de 1942, e a chegada, programada para 29 de Dezembro, o navio passava por Leixões, Funchal, Luanda (Angola) e Cidade do Cabo (Africa do Sul) - onde foi detido - antes de aportar na capital moçambicana.

O dossier coligido pelos serviços secretos ingleses refere que as actividades de Viana dos Santos foram descobertas através de informações “de uma fonte muito secreta”, o que normalmente significa que se tratou de uma intercepção feita pelos descodificadores de Bleetchley Park, o mais secreto dos serviços da II Guerra Mundial.

Para além desta nota existe também uma biografia detalhada e o resultado de diversos interrogatórios. O português relembra como foi recrutado, pormenoriza a lista de agentes alemães que contactou, as instruções que recebeu para enviar cartas com tinta invisível e os detalhes do código que deveria ser utilizado nos telegramas que seguiriam para Lisboa com as informações recolhidas durante a viagem e a estadia em Moçambique.


Treino para espião

Nascido em 1908, Artur Viana dos Santos começou a trabalhar aos 12 anos, passando por vários empregos, para sustentar a mãe e a irmã. Pouco antes da guerra foi o pequeno comércio a sustentar a família que passou também a incluir uma noiva.

Apesar de algum sucesso nunca conseguiu viver de forma desafogada e a proposta de uma viagem de negócios pelas colónias portuguesas de então terá parecido uma excelente ideia para dar a volta à vida.

A sugestão da viagem foi feita por Eduardo Caldeira, um amigo que conhecera no final dos anos 20 quando ambos integraram a Liga 28 de Maio. Este garantiu a Viana dos Santos que não seria difícil encontrar um financiador que assumisse as despesas.

Caldeira era um conhecido colaborador dos serviços secretos alemães, integrando uma rede de espionagem liderada pelos alemães Bergner, pai e filho, que tinham um negócio em Lisboa e coordenavam uma rede ligada às informações navais.

A proposta foi feita em Julho de 42 e logo nesse mês Artur foi apresentado aos Bergner. Os alemães pagavam as despesas da viagem e em troca o português enviaria toda a informação sobre a presença de navios e o movimento de tropas aliadas que conseguisse recolher ao longo do percurso. Havia um interesse especial sobre o que se passava na África do Sul e em Madagáscar.

Em Setembro começou a ser instruído sobre a utilização de dois códigos, inventados por Bergner filho, que deveriam ser utilizados nas mensagens enviadas por telegrama. A complexidade de ambos é tão grande que os especialistas britânicos os consideraram impraticáveis.

Dois dias antes de partir recebeu também aulas sobre a utilização de tinta invisível. Uma mistura de limão e alúmen que seria aplicada no papel com um palito de madeira ou um cotonete. As cartas seriam enviadas para a Rua dos Remédios, 185, de Lisboa, sede da empresa Rodrigues & Viana, criada por Rodrigues Caldeira e Artur Viana para dar cobertura à viagem.

Viana dos Santos tornou-se também representante da Comércio, Exportadora e Importadora Lda.. Para dar maior legitimidade ao périplo colocou também anúncios em jornais oferecendo os seus préstimos como viajante, angariando a representação de outras empresas mais pequenas e também de particulares.

Os alemães começaram logo a pagar-lhe em Lisboa as horas que despendia na aprendizagem e ainda em alguns serviços de vigilância no porto de Lisboa, nomeadamente, no controlo de chegada e partida de navios aliados.

No total terá recebido entre 6 e 8 mil escudos (30 a 40 Euros) em Lisboa e ficou também combinado que a mãe receberia mil escudos (5 Euros) por mês enquanto estivesse em viagem.


Um espião inadequado

Aos interrogadores ingleses garantiu que, apesar de ter assumido a realização dos relatórios, nunca teve intenção de fazer realmente espionagem. Apenas as promessas de dinheiro o mantiveram ligado aos Bergner e, de facto, não foram encontradas quaisquer provas de tivesse sido enviado algum tipo de relatório durante as semanas de viagem.

Também não foram encontrados os livros com os complicados códigos que deveria utilizar, mas Viana dos Santos disse nunca os ter transportado. Estes seguiriam no navio com um membro da tripulação, que ele não conhecia, e só lhe seriam entregues à chegada a Moçambique.

No relatório os interrogadores britânicos salientam que o caso Viana dos Santos é “sórdido” e que se trata de um exemplo do “faro habitual” dos serviços secretos alemães para alistar “agentes inapropriados”. Consideram também que pelas suas características, formação e material transportado seria sempre um espião de baixa categoria.

Apesar destas constatações salienta “que seria um erro sugerir que ele não poderia ser perigoso”.”Trata-se de um mau carácter e enquanto os pagamentos fossem suficientes ele continuaria a actuar para os serviços secretos alemães sem escrúpulos”, conclui.

Depois de retirado do “Angola” Viana dos Santos passou vários meses nos campos de prisioneiros sul-africanos de Jagersfoentein e de Koffiefontein. Foi do primeiro campo que enviou a carta á mãe onde escrevia também que estava um “bocado queimado como se estivesse numa praia”, que já tinha “jogado dois jogos de futebol” e que ali lhe faltava apenas “trabalho e liberdade para ir embora”.

Nos meses seguintes esse estado espirito iria alterar-se. Em Setembro de 1943 foi transferido para Inglaterra e internado no campo 020, reservado aos acusados de espionagem.

Interrogado de novo parece que a sua situação psicológica de Viana dos Santos se alterou e tentado, pelo menos duas vezes, o suicídio.

Seria libertado com outros agentes portugueses ao serviço dos alemães, internados no campo 020, durante o ano de 1946.

Carlos Guerreiro

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Lisboa, cruzamento da vida dos Gerassi

Há cerca de 70 anos, mais precisamente no dia 11 de Novembro de 1943, casavam em Lisboa Helen e Alfred, um casal nascido das coincidências que as guerras sempre encontram para  - além de histórias de morte e de sofrimento - também poder contar histórias de vida.

Tanto um como outro trabalharam para a espionagem britânica ao longo da guerra. Ela fugiu de França em 1940, com rumo incerto, para acabar a trabalhar na Embaixada Britânica em Lisboa.

O casal Gerassi em finais dos anos 40.
(Foto: Patrick Gerassi)
Ele começou por fazer o caminho inverso. Cidadão francês ofereceu-se aos ingleses em Lisboa e partiu para França onde colaborou na organização de uma linha de fuga que terminava em Portugal transportando refugiados, agentes e pilotos aliados abatidos. Foi preso pelos nazis e pela PVDE (antecessora da PIDE), mas saiu sempre ileso.

As histórias de Helen Girvin Balfour e Alfred Gerassi e do seu encontro em Lisboa têm ocupado desde há muito o filho, Patrick, que conseguiu ao longo dos anos reconstituir a vida dos pais durante a 2ª guerra.


Preso duas vezes

O francês Alfred Gerassi ofereceu-se, em Lisboa, para trabalhar com os ingleses em Março de 1941.

Natural de Paris foi enviado para a sua cidade natal com o objectivo de estabelecer uma rota de fuga que permitisse retirar da França ocupada não só refugiados importantes, mas também agentes secretos e pilotos aliados cujos aparelhos tivessem sido abatidos.

As suas actividades tornaram-no suspeito aos olhos dos alemães e a Gestapo deteve-o em Março do ano seguinte. Não teriam muitas provas contra ele e, mantendo o sangue-frio, não conseguiram que fizesse qualquer confissão.

Em Maio foi libertado pelos alemães e voltou às suas actividades, mas agora em Lyon. Regressou a Lisboa em Novembro, mas não ficou parado.

Os serviços secretos britânicos encarregaram-no de organizar uma nova rota de fuga. Esta estendia-se desde a França, passava por Bilbao, em Espanha, e terminava em Lisboa.

Alfred e Helen Gerassi em Lisboa em 1944.
(Foto Patrick Gerassi)
As suas movimentações alertaram a PVDE que também o deteve. Durante nove semanas, em 1944, esteve preso e foi interrogado.

Segundo a nota de recomendação da Medalha de Coragem ao Serviço da Paz, que lhe foi entregue no final da Guerra pelo Rei de Inglaterra, Gerassi voltou a não fazer qualquer denúncia ou confissão.

A documentação recolhida pelo filho assegura que as rotas de fuga criadas por Alfred serviram para fazer sair de França diversos agentes importantes e pessoal da RAF.

Mesmo enquanto esteve detido pela PVDE a rede não cessou a sua actividade até porque da embaixada chegava, como visitante, Helen Girvin Balfour que também era sua mulher…


Uma mulher decidida

Helen foi apanhada em França, onde vivia desde 1929, pela guerra e pela chegada inesperada das forças alemãs em 1940.

Como milhares de outras pessoas rumou primeiro à fronteira franco-espanhola e, sozinha, conseguiu atravessar o país vizinho de comboio, na esperança de chegar a Lisboa e dali partir para o seu país natal, o Reino Unido.

Na fronteira com Portugal um Guardia-Civil ficou-lhe com as economias em troca do direito de passagem para terras lusas. Conseguiu, mesmo assim, chegar ao Porto onde, sem dinheiro, bateu à porta do consulado britânico.

Ficou primeiro espantada e depois desesperada quando o cônsul não lhe oferece qualquer ajuda ou solução para o seu futuro imediato.

Em lágrimas percorre sem rumo algumas ruas do Porto. Não tem dinheiro e não sabe o que fazer a seguir. Para sua surpresa depara-se com dois homens que leem, na rua, o jornal inglês “The Daily Telegraph”.

Aborda-os e conta-lhes as suas últimas desventuras.

Boletim de lactente do filho mais velho do casal Gerassi.
(Foto: Patrick Gerassi)


Os leitores do jornal eram espanhóis, de Jeres, e trabalhavam em Vila Nova de Gaia, nas Caves de Gonzáles Byas. Num inglês quase perfeito prometem ajudar Helen e colocam-na rapidamente num comboio com destino a Lisboa.

Na capital portuguesa consegue reorganizar a vida e começa até a trabalhar na Embaixada Britânica…

Meses mais tarde o consul de Porto deslocou-se a Lisboa e ficou surpreendido por a ver a trabalhar na Embaixada. Preocupado disse-lhe que o deveria ter "avisado" que era conhecida do Embaixador...

Em Maio de 1943 Helen foi uma das últimas pessoas a encontrar-se em Portugal com o actor Leslie Howard, quando este esteve no nosso país para um conjunto de conferências.

Helen era ainda prima do actor que foi um dos protagonista do filme "E tudo o Vento Levou".

No dia 1 de Junho de 1943 Leslie levantou voo do Aeroporto da Portela no Voo777 com destino ao Reino Unido. Treze passageiros e quatro tripulantes desapareceram quando o avião foi abatido pela força Aérea Alemã sobre a Baía da Biscaia.

Foi também em Lisboa que casou com Alfred, em Novembro de 1943, e foi também ali que lhes nasceu o primeiro filho, Jean-Michel ou Juan Miguel, em Fevereiro do ano seguinte.


À procura de respostas

Desde há muito que outro filho do casal, Patrick Gerassi, tenta reconstituir os passos dos pais durante o conturbado período da 2ª guerra Mundial.

Jornalista da BBC foi desenhando, entre documentos, fotografias e memórias, uma imagem cada vez mais clara do que aconteceu no mundo de intrigas onde estes se movimentaram.

Helen com Manuel González Díez, um dos irmãos que a ajudou a chegar a Lisboa depois de muitos contratempos.
(Foto: Patrick Gerassi)
Em Fevereiro deste ano conseguiu dar mais um passo. Tinha a foto de um dos homens que ajudara a mãe quando ela chegara desamparada ao Porto. Como sabia que eles eram de Jerez, enviou a imagem para um jornal dessa cidade andaluza na esperança de que alguém o conseguisse identificar.

Os arquivos da casa Byas trouxeram a resposta.

Tratava-se de Manuel González Díez, filho de um marquês andaluz, que durante duas décadas geriu as caves Byas no Porto.

Apesar de ter falecido em 1991, a esposa ainda é viva. Razão suficiente para Patrick – que neste momento vive na Galiza – se meter à estrada com a esperança de descobrir um pouco mais da sua história…

Carlos Guerreiro

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Livros...
Espiões em Portugal durante a II Guerra Mundial

A espionagem em Portugal durante a 2ª Guerra Mundial é o tema central do novo livro de Irene Pimentel que, para completar estas cerca de 400 páginas, consultou arquivos britânicos, americanos, alemães e portugueses.

O resultado desse trabalho é apresentado esta tarde em Lisboa, por volta das 18.30 horas, na Fnac do Chiado.

Esta nova obra “Espiões em Portugal durante a II Guerra Mundial” percorre – como a autora própria reconhece - um caminho já muito explorado por outros livros e autores que nas últimas décadas têm investigado este tema, mas o assunto da espionagem é, e continuará a ser, inesgotável.

Todos os dias surgem novas fontes e novos dados que individualmente ou cruzados com material já existente ajudam a redescobrir histórias ou a reescrevê-las.


Por Lisboa, a capital neutral de uma Europa em guerra, passaram muitas personalidades que renasceram no pós-guerra como personagens de ficção, tão fantásticas e inacreditáveis tinham sido as suas aventuras.

Encaixam perfeitamente nesta descrição os agentes duplos Trycicle ou Garbo, elementos fundamentais de um logro montado pelos britânicos que desviaram as atenções das praias da Normandia no Dia D. Tanto um como outro não só passaram por Lisboa, como a cidade foi um importante centro para as suas actividades.

É com a história da operação “Fortitude”, que envolveu os dois agentes já referidos, que o novo livro de Irene Pimentel arranca. Dessas primeiras páginas seguimos depois por outros caminhos.

Um resumo dos vários capítulos é apresentado logo no prefácio.

É esse resumo que aqui fica:

“O capítulo I, de apresentação das principais redes de espionagem e de Informação, britânicas e alemãs, aborda assim o período desde os anos trinta e 1940, com uma caracterização do regime salazarista, bem como breves referências à tentativa de internacionalização do fascismo e do nacional-socialismo em Portugal, o início da II Guerra Mundial e a neutralidade portuguesa. Segue-se o capítulo II, que cobre os anos de 1940 e 1941, este último o «de toda» a colaboração luso-alemã, tratando do início da actuação em Portugal das redes de propaganda e espionagem dos dois campos beligerantes, Inglaterra e Alemanha, respectivamente, o SIS/MI6, no primeiro caso, e a Abwehr e a Gestapo-SD, no último caso.

É ainda referida a actuação da Legião Portuguesa, questionando se esta era a rede de Intelligence e de contra-espionagem portuguesa.

O capítulo III trata da actuação em Portugal, em 1941 e 1942, das redes britânicas MI 9 e SOE-rede Shell, bem como o relacionamento desta última com a LP, por um lado, e das redes da Abwehr e da Gestapo/SD em solo português, nomeadamente, bem como o relacionamento destas últimas com a PVDE. Segue-se o capítulo IV, que aborda o ano de 1942, difícil para o relacionamento luso-britânico, devido ao desmantelamento da rede Shell, num período em que, do lado alemão, então com preponderância e maior liberdade de actuação, a Abwehr lança campanhas de desinformação contra os britânicos e denuncia as suas organização à PVDE.

São ainda referidas a resistência e colaboração de refugiados, judeus portugueses e comunistas alemães com as redes aliadas, em particular com a francesa e soviética. O capítulo V, sai um pouco da cronologia, pois ocupa-se da actuação dos serviços secretos franceses e norte-americano em Portugal, num período mais alargado entre os anos 40, em particular entre 1942 e 1944.

A segunda parte do livro cobre o período entre 1943 e 1945. No capítulo VI, «A caminho da vitória aliada», é tratada a reacção e retaliação dos britânicos contra o desmantelamento das suas redes, em 1941 e 1942, denunciando, por seu turno, as alemãs, actuantes em solo português. Este capítulo, cujo arco temporal é sobretudo o ano de 1943, “sai” de Portugal continental, fazendo incursões geográficas pelos Açores e por outras locais não-europeus de África e da Índia, sob administração portuguesa, nomeadamente por Moçambique e Mormugão.

Termina com uma análise de Lisboa enquanto plataforma de negociações entre personalidades do Eixo, com os Aliados ocidentais, com vista à assinatura de uma paz unilateral com estes. O capítulo VII dá conta, em 1943 e 1944, do conhecimento e desmantelamento, em Portugal, com a ajuda dos britânicos, das quatro redes alemãs, da Abwehr e da Gestapo. Segue-se o capítulo VIII, sobre os espiões duplos do Double Cross (XX) Committee, de «Snow» - o primeiro espião duplo dos britânicos - a «Garbo» e «Tricycle», passando por «Zig Zag» e «Artist», que actuaram em Portugal e tiveram um papel importantíssimo no apoio ao desembarque aliado na Normandia, em Junho de 1944.

Finalmente, o capítulo IX aborda os últimos dois anos da guerra, 1944 e 1945, analisando questões como o embargo do volfrâmio pelo governo português, o trágico rapto de Jebsen («Artist»), bem como o encarceramento deste último e da jornalista alemã Pedtra Vermehren em campos de concentração alemães, onde o primeiro acabaria por ser assassinado.

Num período em que a Abwehr, com a queda em desgraça do almirante Canaris, é integrada na estrutura da Gestapo-SD, apenas esta ainda opera em Portugal, mas os seus elementos, bem como os seus cúmplices portugueses são expulso e presos pelo governo salazarista, quando no horizonte se vê o final da guerra, marcada pela derrota dos nazi-fascistas. No final da guerra, é tempo de os serviços secretos britânicos e norte-americanos, cujo destino é brevemente apontado, interrogarem os espiões alemães, presos, e conhecer a composição das suas redes.

O livro termina com um «Epílogo, onde se inclui a vitória aliada e o fim do SD em Portugal, e é abordado um episódio, já na guerra-fria, que remete para a alegada actuação de redes comunistas durante a II Guerra Mundial e revela a hegemonia mundial do mundo ocidental pelos EUA, acertando baterias contra o novo inimigo – a União Soviética.”

Boas leituras

Carlos Guerreiro

terça-feira, 30 de abril de 2013

O rapto de “Artist” em Lisboa

Johann “Johnny” Jebsen e Heinz Paul Moldenhauer chegaram aos escritórios dos serviços secretos militares alemães, a Abwehr, por volta das 18 horas. Os serviços funcionavam num complexo de apartamentos, anexos à Legação Alemã em Lisboa, no número 9 da Rua do Pau da Bandeira.

Tanto Jebsen como Moldenhauer eram agentes da organização e o convite feito por Aloys Schreiber, chefe da Abwehr na capital portuguesa, não parecia ter nada de estranho até porque o tema da conversa seria uma condecoração atribuída por Hitler a Jebsen.

Johnny Jebsen, à esquerda.

Para além de Schreiber encontravam-se nas instalações Helmut Bleil, oficial de comunicações da Abwher, e também Karl Meier, um civil, funcionário da Legação.

A conversa decorreu de forma normal durante alguns minutos até Schreiber pedir a Jebsen para este o acompanhar até outra sala. Ali informou-o de que não existia qualquer condecoração e que o objectivo do encontro era fazê-lo chegar a Berlim, mesmo que fosse necessário utilizar a força.

Jebsen tentou a fuga, mas foi derrubado com um murro e ficou inconsciente.

Quando acordou estava atado a uma cadeira. A seu lado encontrava-se Moldenhauer que tinha sido dominado por Meier. Schreiber informou-os sobre o que iria passar-se a seguir. Ambos seriam drogados, com um soporífero adquirido numa farmácia Lisboa, e metidos em duas malas de grande dimensão que já estavam preparadas. Depois seriam colocados num carro e transportados até Biarritz, em França.

Por volta das nove da noite do dia 30 de Abril de 1944 saia dos anexos da Legação Alemã um Studbaker sedan levando Schreiber, Bleil e Meier e duas malas com os adormecidos Jebsen e Moldenhauer.

Entre a meia noite e as duas da manhã o carro atravessou a fronteira entre Elvas e Badajoz. Tanto Bleil como Meier, devido às inúmeras viagens que haviam realizavam, tinham contactos entre a Guarda Fiscal e não foi feita qualquer revista à viatura ou criado qualquer entrave.

Depois de algumas paragens para descanso em Espanha chegaram a Irun, na fronteira franco-espanhola, por volta da meia noite desse mesmo dia e, pouco depois, em Biarritz, entregavam as “encomendas” ao responsável local da Abwehr. Chegava ao fim a “Operação Dora”.

Schreiber, que a tinha planeado e executado, seguindo ordens superiores, assegurou, durante um interrogatório americano em 1946, que não sabia em concreto das razões ou do destino quer de Jebsen, quer de Moldenhauer.


As várias vidas de “Artist”

Jebsen era conhecido por ser um mulherengo e um jogador. Tratava-se de um fumador e bebedor inveterado, com muitos contactos no mundo dos negócios e da finança. Extremamente versátil no jogo da intriga é ainda descrito, no livro “Jogo Duplo”, de Ben Macitire recentemente editado (ver AQUI), como um anti-nazi convicto.

Este rapto entre alemães vai colocar os serviços secretos britânicos em pânico. É que Jebsen era também “Artist”, um importante agente duplo, com conhecimentos do esquema ultra-secreto baptizado por ”Double Cross” que tinha como objectivo “alimentar” os serviços alemães com informações falsas.

Quase desde o início do conflito que os alemães tentaram infiltrar agentes no Reino Unido para obter informações. Um elevado número foi capturado ou entregaram-se voluntariamente, oferecendo-se para trocar de campo.

O grupo “Double Cross” integrava meia dúzia de agentes duplos que ainda hoje fazem parte do imaginário colectivo da II Guerra Mundial. Garbo, Trycicle ou Treasure são apenas os nomes de código de alguns desses agentes.

Já muito se escreveu sobre eles, tanto em Portugal como no estrangeiro, revelando os esquemas e as excentricidades deste pequeno grupo de personagens que, não fossem os documentos que têm vindo a surgir, seriam facilmente confundidos com ficção.

Estes agentes assumiram uma importância vital no esquema de ardis que levariam Hitler a acreditar que um desembarque em França aconteceria em Pas-de-Calais e não em Dunquerque.

Jebsen era amigo pessoal de Dusko Popov, aliás “Trycicle”, mais um importante elemento da rede “Double Cross”. Por recomendação deste último, e depois de várias vezes ter sugerido que sabia dos esquemas britânicos, foi recrutado. O agente da Abwehr começou a fornecer relatórios detalhados sobre as actividades nazis.

Aparentemente o rapto não está relacionado com estas actividades, mas sim com as inúmeras com algumas transações financeiras suspeitas e o medo de que ele se preparava para desertar.

Os serviços de espionagem militar alemães estavam envolvidos numa luta de morte com os serviços de espionagem das SS, os SD.

Esta não seria a primeira deserção nestes serviços e poderia significar o seu desmantelamento já que Hitler estava cada vez mais desconfiado em relação à sua eficácia e lealdade.

Para os britânicos e para os aliados o rapto poderia significar não só o fim da operação “Double Cross”, mas também um desastre de proporções inimagináveis. O desembarque na Normandia estava marcado para dali a semanas. Se Jebsen contasse o que sabia, todas as informações da suposta rede alemã no Reino Unido estariam em causa…

Se os alemães desconfiassem que os seus agentes estavam comprometidos bastaria uma analise critica a toda a informação enviada e uma dedução invertida: se dizem que é aqui que vai ser a invasão, então está acontecerá noutro local.

Apesar da sua aparente fragilidade Jebsen não terá confessado grande coisa durante os interrogatórios acompanhados de tortura. As últimas pistas apontam para a sua presença no campo de concentração de Sachsenhausen, de onde desapareceu depois de ter sido levado a Berlim para interrogatório, em Fevereiro de 1945.

Apesar dos esforços britânicos e de Popov, depois da guerra, o destino de “Artist” mantém-se uma incógnita.

Moldenhauer, que foi raptado apenas porque se encontrava de passagem pela casa de Jebsen em Lisboa, não sobreviveria à guerra.

Em Abril de 1945 os guardas SS de Sachenhausen obrigaram milhares de prisioneiros a fazer uma marcha forçada para escapar aos Russos. Muitos não chegaram ao fim. Heinz Paul Moldenhauer foi um deles…

Carlos Guerreiro
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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Livros...
Lisboa - Uma Cidade em Tempo de Guerra

A Casa da Moeda lançou no dia 4 de Outubro o livro “Lisboa - Uma Cidade em Tempo de Guerra” de Margarida Magalhães Ramalho, uma obra que pode ser adquirida em Português, Espanhol e Inglês por cerca de 25 Euros.


Fica a sinopse oficial deste trabalho:

Lisboa. Uma Cidade em Tempo de Guerra: histórias verídicas sobre o impacto da Segunda Guerra Mundial

A Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM) lançou, no dia 4 de outubro, a obra Lisboa. Uma Cidade em Tempo de Guerra, da historiadora Margarida de Magalhães Ramalho. Este é um livro de histórias verídicas sobre um período ímpar da história em Lisboa, a Segunda Guerra Mundial.

Em Lisboa. Uma Cidade em Tempo de Guerra, a autora aborda temas como os refugiados, as alterações que a presença destes provocou na capital lisboeta, as guerras da propaganda e as teias tecidas pela espionagem internacional.

Portugal desempenhou um papel importante nesta época, por se ter mantido neutro durante todo o conflito, recebendo milhares de refugiados, e Lisboa foi um dos raros portos livres da Europa. Por aqui passaram, em trânsito para os Estados Unidos, casas reais no exílio, membros do governo de países ocupados, militares, artistas famosos, cientistas e muitos intelectuais.

Esta circunstância extraordinária conferiu à capital portuguesa uma atividade a que os lisboetas não estavam acostumados, exercendo influência sobre a vida da cidade e alterando as vivências e o ambiente de uma Lisboa pacata, que quase se torna num cenário cinematográfico — a Lisboa dos espiões e dos refugiados de guerra.

“Este livro não é um livro de História, mas sim de histórias”, refere Margarida de Magalhães Ramalho. Lisboa. Uma Cidade em Tempo de Guerra é uma obra que transporta o leitor para a Lisboa do final da década de trinta e início da década de quarenta do século passado, através de testemunhos, muitas vezes na primeira pessoa, dos refugiados que procuraram Portugal como o último reduto europeu para quem já não encontrava segurança numa Europa em guerra.

Escrito como se fosse um roteiro, com cinco capítulos independentes que podem ser lidos ao sabor da vontade de cada um, os temas abordados apoiam-se em documentação de arquivo, registos de imprensa, citações bibliográficas e alguns testemunhos pessoais.

A pensar nos leitores que gostam de partir à descoberta da cidade, o livro é acompanhado de um guia desdobrável, típico dos anos de 1940, onde, num mapa da cidade, estão assinalados alguns percursos relacionados com o tema da obra.

Boas viagens pela Lisboa de outros tempos
Carlos Guerreiro 
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domingo, 4 de novembro de 2012

TVI na rota dos refugiados e dos espiões

A TVI foi à procura da Lisboa que durante a II Guerra Mundial se transformou num centro de passagem para refugiados e de espiões...

Visitou espaços e falou com gente querevelou algumas das histórias desses dias...

A reportagem é da jornalista Maria Marujo, as imagens de Rui Pereira e Bernardo Magalhães e a edição de Sofia Rebola.

Para ver a reportagem clique AQUI.


Um resto de bom fim-de-semana
Carlos Guerreiro

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Até mais logo... e um bom Verão

"Um trecho de Lisboa-Praia à hora do banho". Foto publicada no "Século Ilustrado" de 22 Julho de 1944, com o título "As praias da margem sul do Tejo/ Cova do Vapor e Lisboa Praia".


Como sempre, nesta altura do ano, interrompo as publicações do "Aterrem em Portugal". 

Não sou especial adepto do Verão ou da praia, mas na nossa vida há muitas vidas - demasiadas vezes descuradas ao longo do ano - que são razão suficiente me afastar da "blogosfera" durante uns tempos...

Espero não ter defraudado - nos últimos 12 meses - aqueles que por aqui passaram...

Como este período do ano costuma ser um pouco menos "preenchido", deixo algumas sugestões de leitura sobre temas que foram abordados neste blogue nos últimos meses...

 - Aviação

- Voo 777

- Açores

- Espionagem

-Filmes e vídeos

- Livros e autores

- Navios e naufrágios

- Propaganda

- Volfrâmio

Para aceder aos textos basta clicar sobre as palavras.

Para todos um bom Verão...

... e até Setembro,
Carlos Guerreiro

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Algumas perguntas a Neill Lochery

Neill Lochery é o autor de “Lisboa - A guerra nas sombras da Cidade da Luz, 1939-1945”.

A versão original foi editada o ano passado e em português durante o mês de Maio.

A obra faz um retrato da lisboa dos espiões durante a II Guerra Mundial. Lochery é especialista em questões do Médio Oriente e há muito que se vinha interessando pelo que se passou em Lisboa durante o período da II Guerra Mundial.

A obra deverá ser editado também no Brasil e, até ao final do ano, em Espanha e na América Latina.

Aterrem em Portugal: Como se interessou pela História de Lisboa durante a II Guerra Mundial?

Neill Lochery: Vivi e trabalhei em Portugal durante os anos 80, e sempre tive um forte interesse na história do país e na sua relação com o resto do mundo.

A II Guerra Mundial foi um momento único na história contemporânea portuguesa, especialmente na cidade de Lisboa, onde o país ficou no centro de importantes acontecimentos e decisões que influenciaram o resultado da guerra.

Parece-me por isso muito natural focar-me neste curto período da II Guerra Mundial e explorar arquivos relevantes, descobrir o que aconteceu em Lisboa e no que os outros países acreditavam que se passava em Lisboa ( e existiam por vezes diferenças entre a percepção que tinham e a realidade).

A história compelia-me a continuar e era tão interessante que a pesquisa para o livro levou vários anos, e obrigou a uma longa viagem entre a sua concepção e o produto final.

Aterrem em Portugal: O que são as sombras e as luzes de Lisboa que refere no título do seu livro?

Neill Lochery: As luzes foram descritas por britânicos que estavam em Lisboa - ou que eram enviados para a cidade – como uma das características únicas numa cidade europeia durante a II Guerra Mundial. Malcolm Muggeridge, o escritor inglês, que trabalhava para os serviços secretos ingleses, faz uma descrição muito vivida da sua chegada à cidade tendo ficado fulminado pelas brilhantes luzes das ruas e com os néon dos anúncios.

As sombras referem-se mais às actividades de “faca e capa” levados a cabo pelos espiões aliados e do eixo que se encontravam na cidade.


O Livro foi lançado pela Editorial Presença,tem 326 páginas e o ISBN 978-972-23-4829-4

Aterrem em Portugal: fala do filme Casablanca mais de uma vez e a certa altura escreve que Lisboa era considerado Casablanca vezes vinte. O que quer dizer com isso?

Neill Lochery: “Casablanca Vezes 20” é um expressão de um relatório dos serviços britânicos feito por uma chefe de operações da BOAC (companhia britânica de aviação civil) em Lisboa, que descrevia o ambiente no Aeroporto de Lisboa.

Aterrem em Lisboa: Espiões, refugiados, banqueiros, cabeças coroadas, ditadores, muito dinheiro, grandes segredos, um pequeno país neutral a acabar rico depois de uma guerra de Golias. A descrição que faz ao longo do livro parece mais o argumento para um filme perfeito e não uma história real.

Neill Lochery: Parece-me que de histórias reais podem por resultar grandes filmes.

Aterrem em Portugal: Durante a investigação houve algum história que o tenha surpreendido mais que esperava?

Neill Lochery: Aí está uma questão muito boa. Sim há muitas, mesmo muitas histórias que me surpreenderam, e vou dar-lhe o exemplo de uma delas.

Tem a ver com tentativa das autoridades britânicas de persuadir Salazar a não autorizar a actividade de grupos judeus de ajuda a refugiados a operar em Lisboa, pois temiam que estes últimos deixassem Lisboa em direcção à Palestina.

Documentos mostram que Salazar rejeitou os pedidos ingleses e, como sabe, muitos grupos de apoio a refugiados operaram em Lisboa sem serem incomodados.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros Britânico queria impedir um fluxo de judeus para a Palestina, e existiam grandes restrições - quotas – para a imigração impostas pelos britânicos.

Eles temiam que a chegada de judeus à Palestina naquela altura colocasse em perigo as relações entre os aliados e os árabes.

Carlos Guerreiro

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Lançamento de “Traição a Salazar”

“Traição a Salazar” aborda o destino da chamada Rede Shell – uma organização britânica clandestina que se estendia todo o país e algumas colónias e que tinha como principal objectivo realizar sabotagens caso os alemães invadissem o país.

Significava também a violação da neutralidade e uma traição a Salazar que, nessa altura, em Londres patrocinava conversações oficiais destinadas a prever o que seria feito a nível oficial caso acontecesse uma invasão.

A Operação Félix que previa também a ocupação de Gibraltar pelas forças germano-espanholas nunca teve lugar e a PVDE, antecessora da PIDE, também não deixou que a rede Shell crescesse.

 Desmantelou a rede e prendeu diversos dos seus elementos, entre eles Cândido Oliveira.

Este é o tema central desta obra de José António Barreiros, que o ano passado teve uma espécie de pré-lançamento, quando surgiu a acompanhar um jornal diário.

Nessa altura o “Aterrem em Portugal” realizou uma pequena entrevista com o autor que pode rever AQUI.

Agora o mesmo livro vai ser lançado para a generalidade do mercado livreiro e conta com a apresentação do escritor Gonçalo M. Tavares.



Fica também a sinopse oficial: 

Em 1941, os ingleses temiam que Hitler, depois de subjugar a França, avançasse para a Península Ibérica. Receando essa invasão e desconfiando das intenções de Salazar, decidiram montar em Portugal uma rede clandestina que deveria destruir pontes, estradas e outras infra- estruturas para travar as tropas nazis.

Com esta difícil missão, foi enviado para Lisboa um agente do SOE, o serviço de operações especiais britânico encarregue da «guerra não cavalheiresca».

John Grosvenor Beevor instalou-se em Lisboa e recrutou os elementos desta rede constituída por ingleses e portugueses, entre os quais vários funcionários da empresa Shell e personalidades como o barão de Vilalva ou Cândido de Oliveira, mais tarde fundador do jornal A Bola.

Mas quando Beevor decidiu convencer a Legião Portuguesa a alinhar nos seus planos, Salazar depressa reagiu.

O ditador estava atento aos propósitos secretos de Londres. Traição a Salazar reconstitui com minúcia uma história de intrigas e conjuras, de espionagem e contra-espionagem, uma conspiração que pôs em causa a mais antiga aliança diplomática do mundo.

 Boas leituras
 Carlos Guerreiro

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segunda-feira, 2 de julho de 2012

Entrevista a Ronald Weber

Oiça algumas das respostas dadas por Ronald Weber à Antena 1, relacionadas com o livro que escreveu sobre os refugiados que passaram por Lisboa, durante a II Guerra Mundial.

O autor de "Passagem para Lisboa" já tinha respondido a algumas questões colocadas pelo "Aterrem em Portugal" e o livro também foi apresentado (ver AQUI), mas esta entrevista à Antena 1 é posterior e são abordadas também outros temas relacionadas com a obra e a II Guerra Mundial em Portugal.


Esta entrevista foi emitida no dia 25 de Junho de 2012, no programa "Visão Global". Se quiser ouvir o programa na integra pode clicar AQUI.

Carlos Guerreiro

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Há bombas no Entroncamento

O caixote de madeira era relativamente pequeno.

No interior encontrava-se uma segunda caixa de um material isolante que envolvia duas cargas explosivas, uma de 500 e outra de 200 gramas.

Os caminhos de ferro na zona do Entroncamento eram o alvo da sabotagem.

Encontravam-se também instruções em inglês e uma rude tradução portuguesa dactilografada. Dava instruções precisas sobre a forma de utilizar os explosivos para levantar carris, detalhando inclusive a dimensão dos rastilhos que deveriam ser utilizados.

Apesar de ter sido afastado da investigação, pela entrada em cena de dois elementos da Policia de Vigilância e Defesa do estado (PVDE), o tenente António Antunes Basílio, comandante da Polícia de Segurança Pública do Entroncamento, avança com diversos detalhes sobre a descoberta no seu relatório de 2 de Maio de 1943.

No documento, que se encontra entre os arquivos do Ministério do Interior, na Torre do Tombo, o oficial de polícia não tem dúvidas de que se trata de “uma coisa perfeita no género se os técnicos não concluírem o contrário”.

A proximidade das linhas de comboio do Entroncamento também não deixa dúvidas sobre o objectivo de uma potencial sabotagem. O caixote tinha sido encontrado perto da estrada que liga o Entroncamento a Torres Novas por alguns miúdos.

“Uns garotos viram (…) um automóvel estacionado com dois indivíduos, que usavam óculos escuros e descascavam e comiam laranjas. Os garotos afastaram-se mas observando depois, viram que esses indivíduos faziam, no local uma cova no chão. Voltando (…) e, lembrando-se do que haviam visto, notaram a terra mexida e escavando depararam com um caixote pequeno que conduziram para sua casa. Ali, o pai, julgando tratar-se de coisa que ele pudesse aproveitar, abriu o caixote e deparou com explosivos e uns papéis com instruções dactilografadas para a sua utilização como arma“, relata o comandante da PSP que explica também que foi o pai dos miúdos a informar as autoridades sobre o achado.

“Pelo que dizem os garotos, trata-se de um automóvel azul-escuro, pequeno, aberto com capota, e de dois indivíduos; um bastante novo, alto e magro, usando chapéu cinzento e outro de meia-idade, baixo, um pouco calvo, trajando casaco branco de linho e calças cinzentas. Ambos traziam luvas calçadas e óculos pretos contra o sol” continua o relatório.

 Apesar dos miúdos terem detetado as movimentações dos dois homens, não lhes foi fácil descobrir onde e o que tinham enterrado.

A cova tinha sido coberta e camuflada “lançando a terra sobejante numa vala próxima cobrindo-a com retraços de arbustos, ervas e até de cascas das laranjas que estiveram comendo”.

Apesar da intenção de encobrir a actividade o tenente Basílio revela um detalhe que salienta como curioso. “No local existem uns blocos de pedra facilmente referenciáveis e foi junto de um deles, o de melhor indicação, que a caixa foi enterrada”.






Desenho com a localização dos explosivos descobertos no Entroncamento. 
Este "croqui" faz parte de um conjunto de mapas desenhados por um agente que montou uma rede de sabotagem em Portugal.








Com base nos dados que recolheu este oficial da PSP não tem dúvidas de que se trata de “uma acção dirigida e com plano prévio, sendo credível que outros depósitos semelhantes ao encontrado hajam sido estabelecidos para actuação no momento próprio”.

Tem ainda menos em dúvidas em atribuir a propriedade dos explosivos a sabotadores comunistas. Apesar de ser “uma impressão pessoal” acredita que “a organização comunista recrudesceu de actividade, parecendo-me recomendável a mais apertada vigilância e ligação entre os organismos policiais”.

António Basílio baseia a sua “impressão” no facto de serem relatados há algum tempo movimentações de elementos identificados como comunistas ou como democratas na zona.

O facto das instruções contidas na caixa dos explosivos estarem em inglês, ainda reforça mais esta impressão. A ligação dos serviços secretos britânicos a grupos do “reviralho” há muito que era comentada…

O oficial tinha razão, mas apenas de forma parcial.

Não se tratava de facto de uma situação isolada. Várias destas caixas ficarem escondidas perto de pontos estratégicos em país como pontes, cruzamentos ou bases militares e só seriam reveladas já depois do fim do conflito…

Já em relação aos proprietários do caixote António Antunes estava muito longe da verdade. Os explosivos não pertenciam a movimentos do reviralho ou aos serviços secretos britânicos.

Tinham de facto origem em Inglaterra e haviam sido fornecidos à resistência Francesa… mas acabaram nas mãos dos alemães que os queriam utilizar numa campanha de sabotagem, caso Portugal fosse invadido pelos aliados.

 Mas essa é uma história que o “Aterrem em Portugal” já tinha contado em Maio de 2011, quando revelou documentos do interrogatório de Rudolf Blaum, um agente alemão em Portugal, em “A REDE DE SABOTAGEM ALEMÔ, numa altura em que não tínhamos conhecimento destes relatórios da PSP.

As histórias da História são mesmo assim... vão-se construindo.

Carlos Guerreiro 

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quinta-feira, 8 de março de 2012

Sobre a luz de Lisboa (Livros em inglês)

Durante a II Guerra Mundial as luzes de Lisboa iluminaram mais do que apenas as ruas da cidade. Numa Europa mergulhada no “blackout”, o brilho da capital portuguesa atraiu milhares de refugiados, mas também espiões e oportunistas que transformaram este extremo do continente no centro do mundo.

Ao longo de seis anos Portugal seria palco de todas as intrigas, tráficos e histórias. É este o retrato que dois livros editados o ano passado apresentam.

Tanto um como outro não têm ainda edição em português, mas as edições originais em inglês têm merecido atenção por parte dos críticos.

Não tive ainda oportunidade de ler qualquer deles, mas após diversas referências positivas na imprensa ficam aqui as transcrições de algumas das suas linhas e também as sinopses oficiais…


Lisbon: War in the Shadows of the City of Light, 1939-1945
De Neill Lochery
(Lisboa: A Guerra nas Sombras da cidade da Luz, 1939-1945)


“No final do filme Casablanca, quando Rick Baline e o Capitão Louis Renault partem para iniciar a sua a “maravilhosa amizade”, juntando-se aos Franceses Livres na guarnição em Brazzaville, o avião levando Victor Laszlo e Ilsa Lund levanta no nevoeiro. É para a “neutral” Lisboa que eles partem com os seus vistos de trânsito. Na vida real, a cidade de Lisboa durante a II Guerra Mundial mais do que se assemelhava ao filme; para muitas pessoas que trabalharam na cidade durante as fases finais da guerra Lisboa ficou conhecida, de modo, “afectivo” como “Casablanca II”. A versão da vida real tinha todos os ingredientes da história de ficção: romances acabados; refugiados desesperados procurando a documentação certa enquanto vendiam as joias da família para financiar o resto da viagem; um crescente mercado negro que fez cair para valores recorde os preços dos diamantes e de outras pedras raras; cafés e bares de hotéis cheios de refugiados e espiões espalhados pelo centro e ao longo da linha de costa da área Lisboeta”
In “Lisbon: War in the Shadows of the City of Light, 1939-1945” (Tradução livre)

Sinopse:
Data de publicação: Novembro de 2011
Lisboa teve um papel essencial na história da II Guerra Mundial, apesar de ali não se ter disparado um tiro. Foi a única cidade europeia onde tanto os Aliados como o Eixo operaram às claras, foi morada temporária de muitas cabeças coroadas no exílio, mais de um milhão de refugiados procuraram passagem para os EUA, e ainda hospedou espiões, polícia secreta, chefe das industria, banqueiros, judeus proeminentes, escritores e artistas, prisioneiros de guerra fugidos e gente do mercado negro. Um oficial de operações, escrevendo em 1944, descreveu o dia-a-dia de Lisboa como sendo Casablanca vezes vinte.



“The Lisbon Route: Entry and Escape in Nazi Europe”
De Ronald Weber
(A Rota de Lisboa: Entrar e Escapar da Europa Nazi)


“Hoje Lisboa está uma vez mais no centro de grandes acontecimentos. Assim começava um longo artigo no National Geographic Magazine de Agosto de 1941. Num ilustre passado, aventureiros tinham partido daquela cidade portuária navegando a partir da ponta sudoeste do Velho Mundo para reclamar novas terras e um império mundial; agora, numa período de proeminência invertida, Lisboa está no extremo contrário recebendo uma enchente de refugiados que tenta escapar de um Velho Mundo em guerra. A geografia e a neutralidade portuguesa atraiu a atenção mundial como a última porta de fuga do terror Nazi.”
In The Lisbon Route: Entry and Escape in Nazi Europe (Tradução livre)



Sinopse:
Data de Publicação: Março de 2011
A Rota de Lisboa conta a história extraordinária da transformação da tranquila cidade portuguesa, numa das maiores portas de saída da Europa Nazi durante a II Guerra Mundial. Realeza, celebridades, diplomatas, militares em fuga, e cidadãos ordinários percorreram desesperadamente os caminhos através de França e Espanha para chegar a esta nação neutral. Aqui os exilados encontraram paz e fartura apesar de muitas vezes enfrentarem desesperados atrasos e incertezas antes de conseguirem reservar passagens em barcos ou aviões que os levariam ao seu destino final. Para além de oferecer a paz da guerra, Lisboa fornecia a espiões, contrabandistas, assistentes de socorro, militares e aventureiros uma porta para as oportunidades oferecidas pelo conflito. Ronald Weber esboça um retrato da passagem de muitos destes transeuntes enquanto desfrutavam do charme e do clima benigno da cidade, da sua abundante comida e bebida, do seu jogo no casino e das suas praias atlânticas. No entanto, e apesar do ar jovial, pairou sempre uma sombra sobre a frágil natureza da neutralidade portuguesa, pois tanto o eixo como os aliados poderiam decidir – a qualquer momento – acabar com ela.


Ficamos à espera de edições portuguesas.

Até lá, boas leituras…
Carlos Guerreiro

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