Jornal "Diário de Notícias", 13 de Abril de 1941.
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segunda-feira, 28 de abril de 2014
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segunda-feira, 21 de abril de 2014
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Candeeiros Duartes
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quinta-feira, 17 de abril de 2014
O caso do Santa Irene
Foram disparados cerca de quinze obuses à queima-roupa que não deram qualquer hipótese ao Santa Irene ou à sua tripulação. O cargueiro português incendiou-se e afundou-se de popa levando consigo as vidas de 17 tripulantes e um passageiro.
Minutos antes António Henriques Troia, que terminara o seu quarto, apercebera-se de uma embarcação a bombordo. Apesar da escuridão, pois já passava da meia-noite, tanto ele como alguns outros identificaram esse navio, que se aproximava de través, como sendo um submarino.
Os tiros de canhão começaram pouco depois, sem qualquer aviso. Era impossível não atingir o Santa Irene. Estava muito próximo e completamente iluminado, mostrando de forma bem visível parte do convés, as cabinas, o nome do navio pintado junto da chaminé, a bandeira e o nome de Portugal pintados no casco.
Após os primeiros disparos António Troia saltou para uma baleeira, com outros quatro homens, mas esta seria atingida por um dos obuses.
Ligeiramente ferido nadou para junto de outra baleeira, cheia de água, que se encontrava à deriva. “Mergulhou” no seu interior. Deixou apenas a cabeça de fora para respirar e tentou não fazer barulho. Temia que os tripulantes do submarino o matassem.
Foi cheio de medo que viu o submersível passar entre ele e o Santa Irene que ardia intensamente enquanto se afundava.
Em redor de António flutuavam boias e outros destroços, mas do resto dos homens que estavam no navio não encontrou sinal. De avistou terra e quando se dirigia para ela, após montar uma vela no bote, foi recolhido pelo navio hospital italiano “Epomeu”. Ali seria tratado e levado para Livorno de onde daria notícias do desastre para Lisboa.
Trigo na ida, armas na volta
O Santa Irene era um cargueiro da Companhia Industrial Portuguesa que partira de Lisboa para Génova a 23 de Março de 1943. Transportava trigo com destino à Suíça e, no regresso, deveria trazer material de guerra para o Exército Português.
Em Génova tinha descarregado o trigo e, segundo uma nota entregue pelas autoridades portuguesas aos britânicos, carregado cerca de 900 quilos de material de guerra, distribuídas por 165 caixas. Continham metralhadoras e peças fornecidas pela Breda que assinara um contrato de fornecimento de material bélico com o Governo Português.
No dia 12 de Abril, pela manhã, estava pronto para partir de novo, agora para Civitavecchia, onde o esperavam mais material de guerra fornecido pela empresa Ansaldo.
Nunca chegaria ao destino.
Por volta dos 10 minutos do dia 13, quando o navio se encontrava entre as ilhas da Córsega e de Elba, foi avistado pelo submarino. O ataque foi fulminante e vinte minutos depois apenas restavam destroços.
Alarme em Inglaterra
As primeiras notícias sobre o desastre chegaram no dia 16 aos jornais de Lisboa que destacaram “a mais viva repulsa” que mais este ataque estava a causar.
Não era o primeiro navio português afundado devido à guerra e não seria o último. Segundo o jornal “O Século” elevavam-se já a 59 o número de marítimos portugueses mortos em incidentes deste tipo durante a guerra.
Nos dias seguintes chegaram mais pormenores sobre o ataque e sobre os homens que morreram perto da costa italiana. Um grande número deles eram naturais de ílhavo.
Também neste dia o Foreign Office britânico (FO - Ministério dos Negócios Estrangeiros) recebia um primeiro telegrama da Embaixada de Lisboa, como informações sobre o afundamento do navio. O mesmo aconteceu com o Almirantado que recebeu uma mensagem mais detalhada do adido naval na capital portuguesa.
O primeiro telegrama recordava também que no dia 12 tinham sido enviadas informações sobre a presença do navio português em águas italianas.
No dia 21 começa a notar-se a preocupação britânica quando alemães e italianos lançaram um comunicado conjunto onde negavam categoricamente qualquer participação no afundamento.
As fotografias e os nomes dos 18 tripulantes foram publicadas no dia 16 de Abril de 1943 pelo jornal "O Século". O único sobrevivente foi António Troia.
Falta referir também um passageiro que embarcou em Génova. A única informação disponível indica que se tratava de alguém chamado Carlos e que era filho de um português e uma chinesa.
Na informação enviada de Lisboa para o Reino Unido John Balfour – um alto funcionário diplomático da embaixada - sugere que o FO prepare uma nota admitindo a responsabilidade e pedindo desculpa caso se venha a confirmar que o afundamento foi causado por um submarino britânico ou aliado.
Como alemães e italianos nunca tinham assumido qualquer responsabilidade em casos anteriores – mesmo quando os indícios deixavam poucas dúvidas sobre a sua culpabilidade - Balfour achava que era uma forma de dar credibilidade às posições britânicas. Por outro lado reforçaria o estatuto moral dos aliados.
Ficava também a sugestão de avançar com indemnizações aos familiares das vítimas.
Culpas divididas?
Não passaram muitos dias para confirmar os receios ingleses. A 23 foram conhecidos os registos do submarino HMS Taurus que assinalavam um afundamento na hora e no local onde o Santa Irene tinha tido o encontro fatal.
O assunto passaria a ser tratado ao mais alto nível.
Através dos canais diplomáticos foram discutidas diversas abordagens antes de enviar uma nota verbal ao Governo Português, entregue pessoalmente pelo Embaixador Ronald Campell a Salazar na tarde de 13 de Maio.
Os britânicos assumiam a responsabilidade, propunham uma indemnização aos familiares dos marinheiros, mas chamavam também atenção para a responsabilidade portuguesa, pois não tinham enviado - a tempo - qualquer aviso assinalando a rota do navio.
Desde o início da guerra que os países neutros foram obrigados a informar as autoridades britânicas sobre as rotas e as cargas dos seus navios. Essas informações deveriam ser enviadas, pelo menos, com quatro dias de antecedência.
A empresa responsável pelo Santa Irene, que iria cruzar águas consideradas “especialmente perigosas”, só o fez na manhã da partida de Génova. Para os ingleses isto ilibava o comandante do submarino de qualquer culpa.
Campell disse a Salazar que a nota não tinha sido tornada pública para evitar o alarme social que esta negligência poderia causar. Deste modo evitavam-se problemas para ambos os lados.
O Embaixador Inglês escreveu no seu relatório que Salazar não se mostrou surpreendido com o assumir de responsabilidades, agradecendo o facto de não ter sido tornada pública a nota. Terá ainda reconhecido que foi uma negligência grosseira por parte da empresa, até porque a empresa teria enviado atempadamente avisos às autoridades alemãs e italianas, apesar destas não terem feito qualquer pedido nesse sentido.
Pouco depois Campell viria a ser repreendido pelo FO por ter proposto as indemnizações, mas elas seria mantidas. Salazar enviou a nota para o Estado-Maior Naval para análise. Este desmantelou a nota britânica, parágrafo por parágrafo, considerando nas conclusões que o afundamento aconteceu à margem das leis da guerra, pois para além do navio estar iluminado e identificado, não se podia realizar uma afundamento apenas porque o navio se encontra numa zona perigosa.
O Chefe de Estado-Maior recomenda também que não seja aceite a proposta de compensação e que sejam tomadas providências “no sentido de que às famílias das vítimas sejam concedidas indemnizações que tornem dispensável a generosidade britânica”.
Estas propostas terão sido aceites e, com ampla cobertura noticiosa, foram atribuídas, em Julho de 1943, cerca de 11 mil contos em indemnizações por parte da Comissão de Seguros de Guerra do Ministério das Finanças”.
Carlos Guerreiro
Minutos antes António Henriques Troia, que terminara o seu quarto, apercebera-se de uma embarcação a bombordo. Apesar da escuridão, pois já passava da meia-noite, tanto ele como alguns outros identificaram esse navio, que se aproximava de través, como sendo um submarino.
Os tiros de canhão começaram pouco depois, sem qualquer aviso. Era impossível não atingir o Santa Irene. Estava muito próximo e completamente iluminado, mostrando de forma bem visível parte do convés, as cabinas, o nome do navio pintado junto da chaminé, a bandeira e o nome de Portugal pintados no casco.
Após os primeiros disparos António Troia saltou para uma baleeira, com outros quatro homens, mas esta seria atingida por um dos obuses.
Ligeiramente ferido nadou para junto de outra baleeira, cheia de água, que se encontrava à deriva. “Mergulhou” no seu interior. Deixou apenas a cabeça de fora para respirar e tentou não fazer barulho. Temia que os tripulantes do submarino o matassem.
Foi cheio de medo que viu o submersível passar entre ele e o Santa Irene que ardia intensamente enquanto se afundava.
Em redor de António flutuavam boias e outros destroços, mas do resto dos homens que estavam no navio não encontrou sinal. De avistou terra e quando se dirigia para ela, após montar uma vela no bote, foi recolhido pelo navio hospital italiano “Epomeu”. Ali seria tratado e levado para Livorno de onde daria notícias do desastre para Lisboa.
Trigo na ida, armas na volta
O Santa Irene era um cargueiro da Companhia Industrial Portuguesa que partira de Lisboa para Génova a 23 de Março de 1943. Transportava trigo com destino à Suíça e, no regresso, deveria trazer material de guerra para o Exército Português.
Em Génova tinha descarregado o trigo e, segundo uma nota entregue pelas autoridades portuguesas aos britânicos, carregado cerca de 900 quilos de material de guerra, distribuídas por 165 caixas. Continham metralhadoras e peças fornecidas pela Breda que assinara um contrato de fornecimento de material bélico com o Governo Português.
No dia 12 de Abril, pela manhã, estava pronto para partir de novo, agora para Civitavecchia, onde o esperavam mais material de guerra fornecido pela empresa Ansaldo.
Nunca chegaria ao destino.
Por volta dos 10 minutos do dia 13, quando o navio se encontrava entre as ilhas da Córsega e de Elba, foi avistado pelo submarino. O ataque foi fulminante e vinte minutos depois apenas restavam destroços.
Alarme em Inglaterra
As primeiras notícias sobre o desastre chegaram no dia 16 aos jornais de Lisboa que destacaram “a mais viva repulsa” que mais este ataque estava a causar.
Não era o primeiro navio português afundado devido à guerra e não seria o último. Segundo o jornal “O Século” elevavam-se já a 59 o número de marítimos portugueses mortos em incidentes deste tipo durante a guerra.
Nos dias seguintes chegaram mais pormenores sobre o ataque e sobre os homens que morreram perto da costa italiana. Um grande número deles eram naturais de ílhavo.
Também neste dia o Foreign Office britânico (FO - Ministério dos Negócios Estrangeiros) recebia um primeiro telegrama da Embaixada de Lisboa, como informações sobre o afundamento do navio. O mesmo aconteceu com o Almirantado que recebeu uma mensagem mais detalhada do adido naval na capital portuguesa.
O primeiro telegrama recordava também que no dia 12 tinham sido enviadas informações sobre a presença do navio português em águas italianas.
No dia 21 começa a notar-se a preocupação britânica quando alemães e italianos lançaram um comunicado conjunto onde negavam categoricamente qualquer participação no afundamento.
As fotografias e os nomes dos 18 tripulantes foram publicadas no dia 16 de Abril de 1943 pelo jornal "O Século". O único sobrevivente foi António Troia.
Falta referir também um passageiro que embarcou em Génova. A única informação disponível indica que se tratava de alguém chamado Carlos e que era filho de um português e uma chinesa.
Na informação enviada de Lisboa para o Reino Unido John Balfour – um alto funcionário diplomático da embaixada - sugere que o FO prepare uma nota admitindo a responsabilidade e pedindo desculpa caso se venha a confirmar que o afundamento foi causado por um submarino britânico ou aliado.
Como alemães e italianos nunca tinham assumido qualquer responsabilidade em casos anteriores – mesmo quando os indícios deixavam poucas dúvidas sobre a sua culpabilidade - Balfour achava que era uma forma de dar credibilidade às posições britânicas. Por outro lado reforçaria o estatuto moral dos aliados.
Ficava também a sugestão de avançar com indemnizações aos familiares das vítimas.
Culpas divididas?
Não passaram muitos dias para confirmar os receios ingleses. A 23 foram conhecidos os registos do submarino HMS Taurus que assinalavam um afundamento na hora e no local onde o Santa Irene tinha tido o encontro fatal.
O assunto passaria a ser tratado ao mais alto nível.
Através dos canais diplomáticos foram discutidas diversas abordagens antes de enviar uma nota verbal ao Governo Português, entregue pessoalmente pelo Embaixador Ronald Campell a Salazar na tarde de 13 de Maio.
Os britânicos assumiam a responsabilidade, propunham uma indemnização aos familiares dos marinheiros, mas chamavam também atenção para a responsabilidade portuguesa, pois não tinham enviado - a tempo - qualquer aviso assinalando a rota do navio.
Desde o início da guerra que os países neutros foram obrigados a informar as autoridades britânicas sobre as rotas e as cargas dos seus navios. Essas informações deveriam ser enviadas, pelo menos, com quatro dias de antecedência.
A empresa responsável pelo Santa Irene, que iria cruzar águas consideradas “especialmente perigosas”, só o fez na manhã da partida de Génova. Para os ingleses isto ilibava o comandante do submarino de qualquer culpa.
Campell disse a Salazar que a nota não tinha sido tornada pública para evitar o alarme social que esta negligência poderia causar. Deste modo evitavam-se problemas para ambos os lados.
O Embaixador Inglês escreveu no seu relatório que Salazar não se mostrou surpreendido com o assumir de responsabilidades, agradecendo o facto de não ter sido tornada pública a nota. Terá ainda reconhecido que foi uma negligência grosseira por parte da empresa, até porque a empresa teria enviado atempadamente avisos às autoridades alemãs e italianas, apesar destas não terem feito qualquer pedido nesse sentido.
Pouco depois Campell viria a ser repreendido pelo FO por ter proposto as indemnizações, mas elas seria mantidas. Salazar enviou a nota para o Estado-Maior Naval para análise. Este desmantelou a nota britânica, parágrafo por parágrafo, considerando nas conclusões que o afundamento aconteceu à margem das leis da guerra, pois para além do navio estar iluminado e identificado, não se podia realizar uma afundamento apenas porque o navio se encontra numa zona perigosa.
O Chefe de Estado-Maior recomenda também que não seja aceite a proposta de compensação e que sejam tomadas providências “no sentido de que às famílias das vítimas sejam concedidas indemnizações que tornem dispensável a generosidade britânica”.
Estas propostas terão sido aceites e, com ampla cobertura noticiosa, foram atribuídas, em Julho de 1943, cerca de 11 mil contos em indemnizações por parte da Comissão de Seguros de Guerra do Ministério das Finanças”.
Carlos Guerreiro
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segunda-feira, 14 de abril de 2014
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quarta-feira, 9 de abril de 2014
Algumas perguntas a Ferreira Almeida
“A Campanha do Ananás – Os Açores na II Guerra Mundial” é um livro da autoria de Ferreira Almeida, editado no final do ano passado .
São mais de 400 páginas resultantes da compilação de diversas publicações impressas ao longo de dois anos no semanário açoriano “Terra Nostra”.
Por aqui se podem ler como decorreram as relações entre militares e civis, a intensa disciplina que foi imposta aos milhares de soldados que foram deslocados do continente para as ilhas, os problemas de abastecimento que colocaram a todos à beira de fome, para além de episódios dramáticos ou hilariantes, que ainda hoje se contam pelas ilhas.
O livro custa 22 Euros e pode ser encomendado directamente na editora Publiçor através do e-mail publicor@publicor.pt , ou nas livrarias Solmar, em Ponta Delgada, e Ferin em Lisboa.
Aterrem em Portugal – Porque chamou ao livro “A Campanha do Ananás – Os Açores na II Guerra Mundial”?
Ferreira Almeida - Campanha do Ananás é uma expressão chistosa por que ficou conhecida a concentração, em situação de campanha, do forte contingente de forças militares expedicionárias nos Açores, particularmente na ilha de S. Miguel, durante a II Guerra Mundial.
O ananás – o “rei dos frutos” – é um dos principais símbolos da ilha. A sua cultura – a mais importante indústria à data do conflito – foi muito prejudicada devido a os principais mercados de exportação serem justamente a Inglaterra e a Alemanha.
O subtítulo do livro decorre do facto de situar-se na ilha de S. Miguel o Comando Militar dos Açores, o principal centro de decisão do arquipélago.
Aterrem em Portugal – O governo transferiu milhares de soldados para os Açores. Qual era o objectivo?
Ferreira Almeida - A missão das forças expedicionárias nos Açores é a defesa do arquipélago, nomeadamente as ilhas “guarnecidas” – S. Miguel, Terceira e Faial, por ordem decrescente de importância – contra qualquer ameaça, quer dos Aliados quer das potências do Eixo.
O inimigo é o que atentar contra a soberania nacional.
Aterrem em Portugal – Como é que a população reagiu a este aumento do número de populares?
Ferreira Almeida - A primeira reacção popular é um misto de curiosidade e desconfiança. A pronúncia dos “soldados de Lisboa” encanta as moças, o que está naturalmente na origem de atritos entre continentais e açorianos. Mas, de um modo geral, a tropa, que fica instalada em praticamente todos os povoados é bem recebida pela população e criam-se laços de família que ainda perduram.
Aterrem em Portugal – Não terá sido fácil – num período de escassez – manter a população e os militares abastecidos. Houve alguns problemas?
Ferreira Almeida - Houve diversos problemas de abastecimentos, decorrentes da presença de várias unidades militares numa ilha com elevada densidade populacional e escassos recursos locais, não obstante a cadeia de reabastecimento do Exército.
Acrescia que, estando a motorização ainda numa fase embrionária, as unidades tinham um considerável efectivo de solípedes, que se impunha também alimentar.
Ao longo da campanha são uma constante o racionamento de alimentos (cereais, carnes, açúcar…), combustíveis (gasolina, petróleo, óleo de cachalote), etc., e as providências das autoridades, militares e civis, quer na gestão dos abastecimentos quer no combate ao açambarcamento e à especulação.
Aterrem em Portugal – Pairou sempre a ameaça de uma invasão estrangeira. Como reagiriam a população e as forças deslocadas a esta ameaça constante?
Ferreira Almeida - Em termos gerais, o Eixo tinha simpatizantes nos quadros do Exército e da Legião Portuguesa e no principal centro ananaseiro da ilha (Fajã de Baixo). A população pendia para os Aliados, dada a ligação aos Estados Unidos pela corrente migratória.
As medidas de protecção e o enquadramento da população para a eventualidade de invasão estavam a cargo da Legião Portuguesa, na sua vertente “Defesa Civil do Território”.
Pelo dispositivo defensivo e espírito das forças instaladas no terreno, deduz-se que estas teriam feito frente ao invasor, não obstante uma previsível desproporção de meios em confronto.
Aterrem em Portugal – Como foi o relacionamento com as forças estrangeiras que começaram a chegar em 1943?
Ferreira Almeida - O relacionamento quer de forças nacionais quer de populações com forças estrangeiras ocorre somente na ilha Terceira e, em menor escala, na ilha de Santa Maria. A presença estrangeira em S. Miguel é irrelevante – um pequeno destacamento da RAF.
A relação é amistosa, nomeadamente no campo desportivo. Ficaram famosos os jogos de futebol entre militares ingleses, militares portugueses e clubes desportivos locais, sendo assinaláveis as deslocações de equipas da RAF da base das Lages à ilha de S. Miguel.
São mais de 400 páginas resultantes da compilação de diversas publicações impressas ao longo de dois anos no semanário açoriano “Terra Nostra”.
Por aqui se podem ler como decorreram as relações entre militares e civis, a intensa disciplina que foi imposta aos milhares de soldados que foram deslocados do continente para as ilhas, os problemas de abastecimento que colocaram a todos à beira de fome, para além de episódios dramáticos ou hilariantes, que ainda hoje se contam pelas ilhas.
O livro custa 22 Euros e pode ser encomendado directamente na editora Publiçor através do e-mail publicor@publicor.pt , ou nas livrarias Solmar, em Ponta Delgada, e Ferin em Lisboa.
Aterrem em Portugal – Porque chamou ao livro “A Campanha do Ananás – Os Açores na II Guerra Mundial”?
Ferreira Almeida - Campanha do Ananás é uma expressão chistosa por que ficou conhecida a concentração, em situação de campanha, do forte contingente de forças militares expedicionárias nos Açores, particularmente na ilha de S. Miguel, durante a II Guerra Mundial.
O ananás – o “rei dos frutos” – é um dos principais símbolos da ilha. A sua cultura – a mais importante indústria à data do conflito – foi muito prejudicada devido a os principais mercados de exportação serem justamente a Inglaterra e a Alemanha.
O subtítulo do livro decorre do facto de situar-se na ilha de S. Miguel o Comando Militar dos Açores, o principal centro de decisão do arquipélago.
Aterrem em Portugal – O governo transferiu milhares de soldados para os Açores. Qual era o objectivo?
Ferreira Almeida - A missão das forças expedicionárias nos Açores é a defesa do arquipélago, nomeadamente as ilhas “guarnecidas” – S. Miguel, Terceira e Faial, por ordem decrescente de importância – contra qualquer ameaça, quer dos Aliados quer das potências do Eixo.
O inimigo é o que atentar contra a soberania nacional.
Aterrem em Portugal – Como é que a população reagiu a este aumento do número de populares?
Ferreira Almeida - A primeira reacção popular é um misto de curiosidade e desconfiança. A pronúncia dos “soldados de Lisboa” encanta as moças, o que está naturalmente na origem de atritos entre continentais e açorianos. Mas, de um modo geral, a tropa, que fica instalada em praticamente todos os povoados é bem recebida pela população e criam-se laços de família que ainda perduram.
Aterrem em Portugal – Não terá sido fácil – num período de escassez – manter a população e os militares abastecidos. Houve alguns problemas?
Ferreira Almeida - Houve diversos problemas de abastecimentos, decorrentes da presença de várias unidades militares numa ilha com elevada densidade populacional e escassos recursos locais, não obstante a cadeia de reabastecimento do Exército.
Acrescia que, estando a motorização ainda numa fase embrionária, as unidades tinham um considerável efectivo de solípedes, que se impunha também alimentar.
Ao longo da campanha são uma constante o racionamento de alimentos (cereais, carnes, açúcar…), combustíveis (gasolina, petróleo, óleo de cachalote), etc., e as providências das autoridades, militares e civis, quer na gestão dos abastecimentos quer no combate ao açambarcamento e à especulação.
Aterrem em Portugal – Pairou sempre a ameaça de uma invasão estrangeira. Como reagiriam a população e as forças deslocadas a esta ameaça constante?
Ferreira Almeida - Em termos gerais, o Eixo tinha simpatizantes nos quadros do Exército e da Legião Portuguesa e no principal centro ananaseiro da ilha (Fajã de Baixo). A população pendia para os Aliados, dada a ligação aos Estados Unidos pela corrente migratória.
As medidas de protecção e o enquadramento da população para a eventualidade de invasão estavam a cargo da Legião Portuguesa, na sua vertente “Defesa Civil do Território”.
Pelo dispositivo defensivo e espírito das forças instaladas no terreno, deduz-se que estas teriam feito frente ao invasor, não obstante uma previsível desproporção de meios em confronto.
Aterrem em Portugal – Como foi o relacionamento com as forças estrangeiras que começaram a chegar em 1943?
Ferreira Almeida - O relacionamento quer de forças nacionais quer de populações com forças estrangeiras ocorre somente na ilha Terceira e, em menor escala, na ilha de Santa Maria. A presença estrangeira em S. Miguel é irrelevante – um pequeno destacamento da RAF.
A relação é amistosa, nomeadamente no campo desportivo. Ficaram famosos os jogos de futebol entre militares ingleses, militares portugueses e clubes desportivos locais, sendo assinaláveis as deslocações de equipas da RAF da base das Lages à ilha de S. Miguel.
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segunda-feira, 7 de abril de 2014
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sábado, 5 de abril de 2014
Comentários sob moderação…
Por razões que já aqui foram expostas antes os comentários dos leitores do “Aterrem em Portugal!” passam a estar sob minha moderação…
Carlos Guerreiro
Carlos Guerreiro
quarta-feira, 2 de abril de 2014
Algumas perguntas a Luís Silva
Descontentes com estado a que chegou a Casa do Passal, o solar de Aristides de Sousa Mendes, e fartos de promessas de resolução que não têm levado a quaisquer resultados práticos, um grupo de pessoas resolveu organizar no próximo domingo um cordão humano junto ao edifício.
O "Aterrem em Portugal!" colocou algumas perguntas a Luís Silva, um dos elementos que organizou esta iniciativa.
Aterrem em Portugal - Porque que resolveram organizar esta iniciativa?
Luís Silva - Muito simples. Quem conhece a história do acto do Aristides de Sousa Mendes e olha para a casa dele, não pode ficar contente com a "imagem" degradante e triste em que se encontra a Casa do Passal. Então, uns amigos de escrita nas páginas do facebook de Aristides de Sousa Mendes, resolveram pôr mãos a obra, fartos de esperar por promessas que tardam a realizar-se e que só prejudicam o futuro da casa.
O engraçado neste grupo é que as pessoas praticamente não se conhecem pessoalmente. Um mora em Lisboa, outros no Porto, em Santa Comba Dão, Cabanas de Viriato e um em Inglaterra.Um grupo de pessoas
Aterrem em Portugal - Que actividades estão previstas para esta iniciativa?
Luís Silva -Vamos realizar um cordão humano e colocar uma coroa de flores no jazigo da família.
Estão também previstas palestras feitas por um dos netos de Aristides de Sousa Mendes e a leitura duma carta, escrita pelo Frei Ventura, que infelizmente não pode estar fisicamente presente.
Aterrem em Portugal - Em que estado se encontra a casa?
Luís Silva -A casa está nas últimas. Só com muita boa-fé e muito dinheiro se poderá recuperar a casa. Neste momento é quase impossível entrar.
Aterrem em Portugal - Prevêem a presença de quantas pessoas nesta iniciativa?
Luís Silva - Honestamente, estão previstas mais de 700 pessoas, o que será muito bom, visto que o evento é organizado por pessoas sem qualquer experiência, mas com uma vontade enorme para que se faça justiça e se conserve o nome de Aristides de Sousa Mendes e do seu legado para as gerações seguintes.
Aterrem em Portugal - Há algumas viagens programadas para chegar a Cabanas do Viriato?
Luís Silva -Temos o conhecimento de duas. Uma do Porto e outra de Lisboa, como também sabemos que há pessoas que vão dividir carros o que demonstra a vontade de participar nesta causa.
O "Aterrem em Portugal!" colocou algumas perguntas a Luís Silva, um dos elementos que organizou esta iniciativa.
Aterrem em Portugal - Porque que resolveram organizar esta iniciativa?
Luís Silva - Muito simples. Quem conhece a história do acto do Aristides de Sousa Mendes e olha para a casa dele, não pode ficar contente com a "imagem" degradante e triste em que se encontra a Casa do Passal. Então, uns amigos de escrita nas páginas do facebook de Aristides de Sousa Mendes, resolveram pôr mãos a obra, fartos de esperar por promessas que tardam a realizar-se e que só prejudicam o futuro da casa.
O engraçado neste grupo é que as pessoas praticamente não se conhecem pessoalmente. Um mora em Lisboa, outros no Porto, em Santa Comba Dão, Cabanas de Viriato e um em Inglaterra.Um grupo de pessoas
Aterrem em Portugal - Que actividades estão previstas para esta iniciativa?
Luís Silva -Vamos realizar um cordão humano e colocar uma coroa de flores no jazigo da família.
Estão também previstas palestras feitas por um dos netos de Aristides de Sousa Mendes e a leitura duma carta, escrita pelo Frei Ventura, que infelizmente não pode estar fisicamente presente.
Aterrem em Portugal - Em que estado se encontra a casa?
Luís Silva -A casa está nas últimas. Só com muita boa-fé e muito dinheiro se poderá recuperar a casa. Neste momento é quase impossível entrar.
Aterrem em Portugal - Prevêem a presença de quantas pessoas nesta iniciativa?
Luís Silva - Honestamente, estão previstas mais de 700 pessoas, o que será muito bom, visto que o evento é organizado por pessoas sem qualquer experiência, mas com uma vontade enorme para que se faça justiça e se conserve o nome de Aristides de Sousa Mendes e do seu legado para as gerações seguintes.
Aterrem em Portugal - Há algumas viagens programadas para chegar a Cabanas do Viriato?
Luís Silva -Temos o conhecimento de duas. Uma do Porto e outra de Lisboa, como também sabemos que há pessoas que vão dividir carros o que demonstra a vontade de participar nesta causa.
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