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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Portugal em guerra nos EUA

Portugal foi o tema de uma conferência no Museu Nacional da 2ª guerra mundial, em Nova Orleãs, nos EUA, (The National WWII Museum) em final do ano passado.

O responsável pela conferência foi Walt Burgoyne que começa por referir o caso do bombardeiro que se despenhou em Faro em 1943. Continua depois com o projecto de construção de um monumento para recordar os salvamentos feitos por portugueses durante aquele período. Uma ideia que está a ser acarinhada pelo cidadão britânico Michael Pease.

Nem todos os dados batem certo com os trabalhos de pesquisa deste caso, mas está lá o essencial.

A apresentação continua depois com as histórias de espionagem em Lisboa, os agentes duplos – Garbo e Trycicle –, as missões de Humberto Delgado, Salazar e, obviamente, a questão dos Açores e importância do arquipélago para o batalha do Atlãntico.

s difíceis relações entre o Governo de Salazar e de Roosevelt também merecem menção.

Esta conferências, denomindas “Lunchbox Lectures”, são curtas apresentações que acontecem de forma gratuita no Museu desde o ano 2000. A conferência está em inglês...

Carlos Guerreiro

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

«Escaparate de Utilidades»
Gravação de Discos

Jornal "Diário de Notícias", 19 de Janeiro de 1941

sábado, 25 de janeiro de 2014

Para sair de casa

Por razões diversas não me foi possível, nas últimas semanas, fazer a actualização da AGENDA do “Aterrem em Portugal!”…

Questão ultrapassada fica muito por onde escolher…

Hoje há no Museu do Ar os Dakota Talks, por volta das 15 horas. O tema são as operações deste aparelho no teatro de operações da guerra no ultramar.

Existem exposições também no Estoril, em Beja e em Sines.

Pelo Estoril continua patente a exposição dedicada ao abate do bombardeiro alemão FW200 em Aljezur, durante o ano de 1943.

No Alentejo temos duas exposições. Em Beja são “soldados de recorte” da II Guerra Mundial. Peças da colecção particular de Rogério Fialho. Por Sines temos a exposição sobre as crianças austríacas que chegaram a Portugal, através da Cáritas, após a guerra.

Por Lisboa as segundas-feiras à são preenchidas com cinema no Centro Mário Dionísio. A Segunda Guerra em Histórias traz diversas películas relacionadas com o tema até Março…

Dê uma volta pela nossa AGENDA e boas saídas…

Carlos Guerreiro 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A FAP nos "Dakota Talks"

O serviço prestado pelos Dakotas à Força Aérea Portuguesa é o tema do “Dakota Talks” que tem lugar amanhã no Museu do Ar, frente ao aparelho que se encontra em exposição.

Em destaque neste encontro vão estar, especialmente, as operações executadas por estes aparelhos no teatro de operações durante a guerra do ultramar.

Vários destes aparelhos aterraram em Portugal durante a II Guerra Mundial integrando, depois do conflito, a TAP e também a FAP.

O encontro está marcado para as 15 horas no Museu do Ar em Sintra.

Carlos Guerreiro

O Postalinho...
É exquisito... Não vem nenhum atrás

Postal alemão de propaganda com data incerta, talvez produzido entre 1940 e 1942, que retrata Churchill e Roosevelt sozinhos no mar, a bordo de um bote com o nome "Prince of Wales", sob um clima pouco auspicioso, à espera de alguém que os siga, de um amigo ou de ajuda.

O "Prince of Wales" foi o navio que transportou Churchill, através do Atlântico, para a sua primeira conferência com Roosevelt em Agosto de 1941. Nessa conferência seria assinado o documento que ficou conhecido como a "Carta do Atlântico" onde se definiam as regras para o mundo do pós-guerra, criando as bases para fundação da ONU.

A "Carta do Atlântico" serviria mais tarde para dar algumas garantias a novos aliados e a países neutrais ou ocupados pelos alemães.

De um modo geral a falta de apoios foi um problema sentido pelos britânicos durante um largo período da guerra. Para além da Commonwealth, que desde o princípio se reuniu em redor da Inglaterra, apenas os americanos se mostraram dispostos a dar uma ajuda.

Tratou-se, inicialmente, de um apoio quase envergonhado e muito graças à vontade de Roosevelt, porque as forças isolacionistas nos EUA eram muito fortes. Primeiro a pronto pagamento, e depois encapotado sob um programa de empréstimos, começaram a atravessar o atlântico navios, comida e equipamento militar diverso.

Poucos outros países mostraram vontade de quebrar o isolamento dos britânicos, especialmente até fins de 1942 quando se efectivou a entrada em força dos americanos nos teatros de operações europeu e asiático.

O "Prince of Wales" seria afundado pelo Japoneses em Outubro de 1941.

Carlos Guerreiro

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Investigação portuguesa em navio da 2ª Guerra ganha prémio internacional

Nos próximos meses será possível aceder, na revista “The International Journal of Nautical Archaeology”, aos resultados de uma investigação sobre o navio “SS Dago”, afundado, ao largo da costa portuguesa, por um avião alemão durante a 2ª Guerra Mundial. Trata-se de uma pesquisa documental e aos destroços – realizada por uma equipa portuguesa - que foi premiado, em Novembro, no Reino Unido, com o “Adopt a Wrek Award” atribuído anualmente pela Nautical Archaeology Society.

O coordenador da investigação, Jorge Russo, recebe o “Adopt a Wrek Award” atribuído pela Nautical Archaeology Society.
Em baixo: Modelo do destroço do Dago no fundo do mar.



As investigações submarinas sobre o “Dago” foram coordenadas por Jorge Russo e levadas a cabo por uma equipa de mergulhadores do grupo XploraSub, recorrendo a técnicas avançadas de mergulho profundo, à qual se juntou o também mergulhador e fotógrafo Armando Ribeiro dos In-Silence, responsável por grande parte das imagens colhidas no destroço. Foram eles que realizaram o levantamento exaustivo dos destroços do navio que se encontra ao largo do Cabo Carvoeiro.

Com base nesse trabalho foi mesmo possível realizar um modelo, em escala reduzida, do destroço que se encontra a cerca de 50 metros de profundidade.

Para além deste trabalho no terreno foi também reunida uma importante colecção de documentos e fotografias que permitem contar a história do navio e dos acontecimentos que levaram ao seu afundamento.


Conferência de Jorge Russo sobre o "SS Dago" dada durante a entrega do prémio. 
A conferência está em inglês.

O “SS Dago” era um navio britânico que tinha como destino Leixões, uma viagem que não era estranha para os tripulantes. O navio seria atacado durante a tarde por um bombardeiro FW200 que o metralhou e bombardeou na tarde de 15 de Março de 1942, conseguindo afundá-lo, apesar de, incrivelmente, não causar vítimas.

Os trabalhos de pesquisa submarina foram realizados entre 2004 e 2010. Os reduzidos apoios levaram a que a maior parte do investimento fosse feito pela própria equipa.

Este trabalho também já tinha sido premiado nas Jornadas do Mar da Marinha Portuguesa em 2012 e alvo de publicação na versão portuguesa na National Geographic Magazine.

O ”SS Dago” não é o único navio afundado na nossa costa, durante o período da Segunda Guerra Mundial, a merecer este tipo de atenção. Outros destroços também têm sido alvo de diversas investigações, mas em poucos casos o trabalho foi tão detalhado.

Carlos Guerreiro

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

O Postalinho...
A marcha sobre a Albânia


Não foi possível confirmar a data de publicação do cartoon original, mas deve ser dos princípios da guerra, provavelmente 1939, quando os italianos iniciaram a invasão da Albânia.

O reduzido número de tropas da Albânia tornou a conquista do país relativamente fácil. Maiores dificuldades iriam surgir quando o líder italiano resolveria fazer o mesmo com a Grécia, utilizando a Albânia como ponto de partida.

Apesar do postal poder indiciar o contrário, e de terem existido algumas, o país foi ocupado em apenas cinco dias e a o rei Zog I, forçado a exilar-se. A coroa do reino passou para o rei italiano.

Quando a Itália mudou de lado na guerra, em 1943, o país seria ocupado pelos alemães.

A imprensa britânica nunca perderia a oportunidade para ridicularizar as figuras do Eixo e Mussolini foi certamente uma personagem sempre presente nos desenhos de vários cartoonistas britânicos ao longo de toda a guerra.

Fica o primeiro postalinho de 2014…

Carlos Guerreiro


Nota publicada em 02/02/2014: 

O leitor Carlos Vitorino chamou-me a atenção para alguns factos relacionados com este Postal, trazendo diversos detalhes da tentativa de invasão da Grécia por parte dos italianos, em finais de 1940.

Com estas informações a história contada por este cartoon torna-se bastante mais clara.

Koritza é de facto uma cidade albanesa que foi tomada pelas forças gregas num contra-ataque após a invasão do seu país pelos italianos.

Nesse contra-ataque as tropas helénicas quase destruíram uma unidade italiana, a Divisão Júlia.

Assim fica claro porque o soldado, que persegue os italianos, se apresenta com a farda de gala da infantaria e elite helénica - os Evzones.

Obrigado pelos esclarecimentos Carlos Vitorino…

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

“A batalha de Aljezur” no Estoril

O livro e a exposição sobre a "Batalha de Aljezur", que envolveu a aviação alemã e britânica durante a II Guerra Mundial, vão ser apresentados este sábado no Espaço Memória dos Exílios, no Estoril.

O livro de José Augusto Rodrigues será apresentado às 15.30, altura em que também se inaugura a exposição que conta com fotografias, documentos e peças de um aparelho alemão abatido durante o combate.

Tanto o livro como a exposição recordam um episódio ocorrido em 9 de Julho de 1943, quando uma esquadrilha de bombardeiros “Condor” da Luftwaffe encontrou alguns caças-bombardeiros britânicos da RAF.

José Augusto Rodrigues, autor do livro "A Batalha de Aljeezur" e pormenor da exposição que será apresentada no Estoril este sábado.
 

Do recontro resultou o abate de um dos Condor’s que se despenhou numa arriba matando os sete tripulantes que se encontram sepultados no cemitério de Aljezur.

O livro “A Batalha de Aljezur” refere não só os acontecimentos, como também o que se seguiu. Os funerais, as questões diplomáticas e a condecoração de algumas das pessoas que tentaram ajudarem quando se registou o incidente. As páginas revelam, no entanto, mais informações.

É possível perceber o enquadramento desta batalha no quadro mais geral, a forma como na costa portuguesa se movimentavam redes de espiões com o objectivo de controlar a navegação entre outros aspectos.

Com muitos pormenores é também possível seguir a história do faroleiro de Sagres que comunicava informações navais à embaixada alemã.

Muitas razões para dar uma vista de olhos…

Eu estarei por lá.

Boas leituras…

Carlos Guerreiro

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Viana dos Santos, comerciante quase espião

“Não faz ideia de como estou bem de saúde. Podia dizer isto para animar mas não. È verdade, sinceramente sinto-me com bastante saúde e só penso em vocês aí como se hão-de governar sem o meu auxílio”. Artur Viana dos Santos escrevia assim à mãe em 12 de Janeiro de 1943, poucos dias depois de ser detido na África do Sul acusado de espionagem a favor dos alemães.

Artur Viana dos Santos realizou a sua viagem de "espionagem" no paquete "Angola", da Companhia Nacional de Navegação.

Na carta assegurava à mãe que as acusações não faziam sentido. “(…) Tenho fé de em que as autoridades reconhecerão que nada de mal lhes fiz, nem farei, o que seria um crime para a minha consciência e acabarão por me pôr em liberdade e então hei-de novamente recomeçar a ganhar dinheiro para as manter e voltaremos à nossa vida normal”.

Apesar das garantias à família, Artur Viana dos Santos estava de facto envolvido numa rede de espionagem alemã que tinha como centro a cidade de Lisboa. A troco de dinheiro deveria fornecer informações sobre o movimento de navios e de tropas aliadas.

As informações seriam recolhidas durante a viagem entre Lisboa e Lourenço Marques no paquete “Angola”. Entre o embarque, a 30 de Novembro de 1942, e a chegada, programada para 29 de Dezembro, o navio passava por Leixões, Funchal, Luanda (Angola) e Cidade do Cabo (Africa do Sul) - onde foi detido - antes de aportar na capital moçambicana.

O dossier coligido pelos serviços secretos ingleses refere que as actividades de Viana dos Santos foram descobertas através de informações “de uma fonte muito secreta”, o que normalmente significa que se tratou de uma intercepção feita pelos descodificadores de Bleetchley Park, o mais secreto dos serviços da II Guerra Mundial.

Para além desta nota existe também uma biografia detalhada e o resultado de diversos interrogatórios. O português relembra como foi recrutado, pormenoriza a lista de agentes alemães que contactou, as instruções que recebeu para enviar cartas com tinta invisível e os detalhes do código que deveria ser utilizado nos telegramas que seguiriam para Lisboa com as informações recolhidas durante a viagem e a estadia em Moçambique.


Treino para espião

Nascido em 1908, Artur Viana dos Santos começou a trabalhar aos 12 anos, passando por vários empregos, para sustentar a mãe e a irmã. Pouco antes da guerra foi o pequeno comércio a sustentar a família que passou também a incluir uma noiva.

Apesar de algum sucesso nunca conseguiu viver de forma desafogada e a proposta de uma viagem de negócios pelas colónias portuguesas de então terá parecido uma excelente ideia para dar a volta à vida.

A sugestão da viagem foi feita por Eduardo Caldeira, um amigo que conhecera no final dos anos 20 quando ambos integraram a Liga 28 de Maio. Este garantiu a Viana dos Santos que não seria difícil encontrar um financiador que assumisse as despesas.

Caldeira era um conhecido colaborador dos serviços secretos alemães, integrando uma rede de espionagem liderada pelos alemães Bergner, pai e filho, que tinham um negócio em Lisboa e coordenavam uma rede ligada às informações navais.

A proposta foi feita em Julho de 42 e logo nesse mês Artur foi apresentado aos Bergner. Os alemães pagavam as despesas da viagem e em troca o português enviaria toda a informação sobre a presença de navios e o movimento de tropas aliadas que conseguisse recolher ao longo do percurso. Havia um interesse especial sobre o que se passava na África do Sul e em Madagáscar.

Em Setembro começou a ser instruído sobre a utilização de dois códigos, inventados por Bergner filho, que deveriam ser utilizados nas mensagens enviadas por telegrama. A complexidade de ambos é tão grande que os especialistas britânicos os consideraram impraticáveis.

Dois dias antes de partir recebeu também aulas sobre a utilização de tinta invisível. Uma mistura de limão e alúmen que seria aplicada no papel com um palito de madeira ou um cotonete. As cartas seriam enviadas para a Rua dos Remédios, 185, de Lisboa, sede da empresa Rodrigues & Viana, criada por Rodrigues Caldeira e Artur Viana para dar cobertura à viagem.

Viana dos Santos tornou-se também representante da Comércio, Exportadora e Importadora Lda.. Para dar maior legitimidade ao périplo colocou também anúncios em jornais oferecendo os seus préstimos como viajante, angariando a representação de outras empresas mais pequenas e também de particulares.

Os alemães começaram logo a pagar-lhe em Lisboa as horas que despendia na aprendizagem e ainda em alguns serviços de vigilância no porto de Lisboa, nomeadamente, no controlo de chegada e partida de navios aliados.

No total terá recebido entre 6 e 8 mil escudos (30 a 40 Euros) em Lisboa e ficou também combinado que a mãe receberia mil escudos (5 Euros) por mês enquanto estivesse em viagem.


Um espião inadequado

Aos interrogadores ingleses garantiu que, apesar de ter assumido a realização dos relatórios, nunca teve intenção de fazer realmente espionagem. Apenas as promessas de dinheiro o mantiveram ligado aos Bergner e, de facto, não foram encontradas quaisquer provas de tivesse sido enviado algum tipo de relatório durante as semanas de viagem.

Também não foram encontrados os livros com os complicados códigos que deveria utilizar, mas Viana dos Santos disse nunca os ter transportado. Estes seguiriam no navio com um membro da tripulação, que ele não conhecia, e só lhe seriam entregues à chegada a Moçambique.

No relatório os interrogadores britânicos salientam que o caso Viana dos Santos é “sórdido” e que se trata de um exemplo do “faro habitual” dos serviços secretos alemães para alistar “agentes inapropriados”. Consideram também que pelas suas características, formação e material transportado seria sempre um espião de baixa categoria.

Apesar destas constatações salienta “que seria um erro sugerir que ele não poderia ser perigoso”.”Trata-se de um mau carácter e enquanto os pagamentos fossem suficientes ele continuaria a actuar para os serviços secretos alemães sem escrúpulos”, conclui.

Depois de retirado do “Angola” Viana dos Santos passou vários meses nos campos de prisioneiros sul-africanos de Jagersfoentein e de Koffiefontein. Foi do primeiro campo que enviou a carta á mãe onde escrevia também que estava um “bocado queimado como se estivesse numa praia”, que já tinha “jogado dois jogos de futebol” e que ali lhe faltava apenas “trabalho e liberdade para ir embora”.

Nos meses seguintes esse estado espirito iria alterar-se. Em Setembro de 1943 foi transferido para Inglaterra e internado no campo 020, reservado aos acusados de espionagem.

Interrogado de novo parece que a sua situação psicológica de Viana dos Santos se alterou e tentado, pelo menos duas vezes, o suicídio.

Seria libertado com outros agentes portugueses ao serviço dos alemães, internados no campo 020, durante o ano de 1946.

Carlos Guerreiro