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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Livro "Álbum de Memórias - Aviação Naval 1917-1952"



Os centros da aviação naval, os raids aéreos de 1921 e 1922, a formação, os aparelhos e obviamente os homens que passaram pela aviação naval portuguesa - entre a sua formação em 1917 e a sua extinção em 1952 – são os temas em destaque no “Álbum de memórias – Aviação Naval” publicado no princípio desta semana pela Comissão Cultural da Marinha.

O livro foi coordenado pelo tenente Gonçalves Neves que pesquisou vários álbuns que neste momento “residem” nos Arquivos e no Museu da Marinha e reúne cerca de uma centena de imagens em pouco mais de oitenta páginas.





O coordenador do álbum, Tenente Gonçalves Neves, com o livro, junto ao Santa Cruz. Este é o avião que completou a travessia do Atlântico Sul em 1922 e que se encontra no Museu da Marinha.











Existem diversas imagens inéditas e tanto o modelista mais aplicado como o simples curioso têm muito com que se manter ocupados.

As fotografias têm de um modo geral bastante qualidade revelando diversos pormenores interessantes como esquemas de pintura ou símbolos.

O coordenador do álbum, tenente Gonçalves Neves, referiu à Antena1 que o objectivo não é contar a história da Aviação Naval – o que já aconteceu no livro “Quando a Marinha Tinha Asas” de Viriato Tadeu -, mas sim revelar alguma da iconografia que estão nos arquivos da marinha, que até agora não tinham chegado ao público em geral.

Considero que o objectivo foi amplamente conseguido.

Só é pena que – pelo menos por agora – a venda esteja confinada à loja do Museu da Marinha – onde poderá obter o seu exemplar.

Acho que o trabalho merecia mais…

O custo de aquisição é de 15 Euros e, caso não se encontre em Lisboa, pode encomendar o álbum através do e-mail loja.museu@marinha.pt ou pelo telefone 21 362 45 56...

Boas leituras  
Carlos Guerreiro

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terça-feira, 24 de abril de 2012

Grândola, vila morena noutros tempos

Abril é mês de se falar da Grândola, vila morena, símbolo da chamada revolução dos cravos nos idos de 1974.

 Através de uma colecção de postais, vamos fazer uma visita guiada pela Grândola dos anos 30 e 40.

A primeira vez que vi uma destas imagens foi em 2000 quando recebi correspondência de Don Howell.

Este navegador da RAF tinha chegado de forma atribulada, em Dezembro de 1944, quando o avião em que seguia para o Egipto, teve de aterrar de emergência perto da vila, depois de ter sido atacado sobre a baía da Biscaia por aparelhos alemães (ver “Ano novo atribulado de Don Howell”).

Enquanto esteve na cidade comprou um postal que mostrava a rua onde estava localizada a pensão onde passou uma noite.

Entre as cópias de fotos e documentos que ele me enviou encontrava-se também uma cópia desse postal.

Há algum tempo reencontrei por acaso a mesma imagem, acompanhada de outras da mesma série.

 Trata-se de uma colecção numerada e no conjunto falta pelo menos um dos postais.

 O postal com a Rua Jacinto Nunes foi o primeiro que conheci desta série. Não aparece na imagem, mas era nesta rua que se encontrava a pensão onde Don Howell e o resto da tripulação do Hudson ficou alojada.


 Praça de D. Jorge.


O Mercado Municipal.


Jardim Dr. Júlio do Rosário Costa.
 


A outra "face" destes postais. No local onde se coloca o selo existe uma numeração. Curiosamente os postais foram impressos na Alemanha.

 




Avenida Jorge Nunes. 

Casa onde viveu e faleceu o Dr. Jacinto Nunes.


Um Bom Feriado,
Carlos Guerreiro

sábado, 21 de abril de 2012

Refugiado da II Guerra em reportagem

"Portugal Refúgio" e uma reportagem que aborda a questão dos refugiados nos últimos 80 anos em Portugal.

Entre os entrevistados podemos ouvir Eric Le Jeune, que enquanto criança passou por Portugal com os pais.

Esta família belga foi surpreendida pelo avanço das tropas alemães.

Ao longo da reportagem, que passou no programa da Antena 1 "Este Sábado", existem também depoimentos de Reginaldo Godoy, um refugiado chileno que chegou a Portugal em 1975 e também Balai, membro de uma tribo etíope, alvo de perseguição por parte do governo daquele país.

Maria Teresa Tito Morais Mendes, do Conselho Português dos Refugiados, também foi abordada...

São apenas 11 minutos...


Boa sintonia
Carlos Guerreiro

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Refugiado da II Guerra na Antena 1


As memórias de um refugiado belga que passou por Portugal durante a II Guerra Mundial podem ser ouvidas sábado, no programa “Este Sábado” que vai para o ar depois do noticiário do meio dia da Antena1.

Trata-se de Eric Le Jeune que passou por Portugal em 1940. Tinha apenas cinco anos e veio com os pais e uma irmã… esteve por cá apenas uns meses antes de seguir viagem para Inglaterra.

A reportagem aborda a questão dos refugiados em Portugal nos últimos 80 anos. Para além de Eric Le Jeune foram também ouvidas outras pessoas que tiveram de procurar refúgio no nosso país.


Reginaldo Godoy foi preso e torturado no Chile quando Augusto Pinochet tomou o poder em 1973. Depois de muitas voltas pela Europa fixou-se em Portugal onde, apesar de todas as dificuldades, criou quatro filhas…

Há também uma conversa com um e um cidadão etíope que cá chegou há cerca de dois anos. Balai quer trabalhar e espera poder juntar-se com a mulher – que ainda está na Etiópia - em breve.

A reportagem de Carlos Guerreiro, com edição de Carlos Felgueiras, chama-se “Portugal Refúgio…”

Um bom fim-de-semana…


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Ouça a reportagem AQUI.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

«Ministério das Propagandas» REVISTA VITÓRIA

Como explica logo na segunda página, a revista “Vitória” tem como objectivo divulgar as informações e os relatórios dos mais importantes acontecimentos militares alemães.

Este número, o primeiro, começa por avançar com os dados relativos aos primeiros cinco meses de 1941.

Desconheço se posteriormente saíram mais alguns números desta publicação.

A mais conhecida revista de propaganda de guerra alemã (em português) chamou-se “Sinal”, uma edição “gêmea” da “Signal” que saia em várias línguas em países ocupados e neutrais.

Encontrar uma outra revista, dentro do mesmo género e com pretensões de se assumir como periódica, foi por isso uma surpresa e apesar do mau estado não tive, no entanto, dúvidas em juntá-la à minha colecção.

Peço já agora a quem tiver outros números ou informações sobre esta revista que me contacte ou deixe essas informações no blogue.

De qualquer forma este primeiro número faz – ao longo de 16 páginas com muitas fotografias e ilustrações - um balanço da actividade das forças alemãs que nesta altura tinham diversas razões para estarem satisfeitos.

No mar a frota de submarinos somava vitórias sobre a marinha britânica. Garantem os números apresentados que dispersaram 19 comboios de navios e afundaram um cruzador de batalha. Em comparação as suas perdas são quase insignificantes.

 Já a Força aérea alemã continuou os “furiosos” ataques à ilha britânica. Especialmente a portos e estaleiros para “destruir a capacidade produtiva dos britânicos”… Reforça-se também a ideia de que foi a Inglaterra a começar os ataques nocturnos a cidades e centros civis da Alemanha, razão porque foram obrigados a responder na mesma moeda.

As intervenções no mediterrâneo – através da força aérea em Janeiro de 1941 e em Fevereiro desse mesmo ano através dos Africa Corps – comandados pelo General Rommel, merecem também destaque.

Com um pouco menos de atenção merece também referência a intervenção na Jugoslávia, noutras áreas dos balcãs e também na ilha de Creta…

Apesar de vitoriosa no campo de batalha, em 1941, a máquina de propaganda alemã tinha dificuldade em penetrar nos meios de comunicação portugueses. são vários os protestos dirigidos às autoridades pelo facto de certos comunicados não surgirem nas páginas dos jornais lusos.

O lançamento desta publicação talvez seja uma tentativa de resposta a essa dificuldade em chegar aos portugueses.




Capa e “editorial” do número 1 da revista “Vitória” publicada em Julho de 1941.



Fotografias da guerra no mar e no ar contra o Reino Unido. 






Os Africa Corps no deserto Líbio. Mapas, números e esquemas asseguram uma fácil compreensão da mensagem. 






No ataque a creta, destaque para o corpo de paraquedistas que conquistou a ilha aos britânicos. 



Uma forma simples de resumir as intervenções em curso quando a revista foi impressa. 



Penúltima página com gráficos de leitura fácil para exemplificar as perdas dos britânicos desde o princípio de 1941. 



Fotografias da última página e parte do texto onde negro é reforçado o número de perdas por parte do inimigo. 


 Carlos Guerreiro

Nota: A 4 de Maio de 2012 foram publicadas novas informações sobre esta revista. Pode lê-las AQUI.


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Para ler mais sobre
                           "Ministério das Propagandas"
                           Propaganda


quarta-feira, 11 de abril de 2012

Contar a guerra na costa sudoeste


São mais de uma dezena de páginas onde se podem encontrar uma excelente recolha de testemunhos, fotografias e ilustrações dedicadas à II Guerra Mundial na Costa Vicentina e Sudoeste Alentejano.

A jornalista Teresa Pires, da “Fundação Odemira Magazine”, percorreu a costa entre Vila do Bispo e Cabo Sardão, no rastro de vários histórias relacionadas com combates aéreos e aterragens de emergência, mas há mais do que isso.

Encontramos também o enquadramento histórico de cada momento e as principais operações militares que passaram pela costa portuguesa.

Desenvolvidas estão as histórias da destruição do bombardeiro alemão FW200 em Aljezur, com fotos do funeral das vítimas e documentação, - (Ver Focke-Wulf  FW200 - W.Nr.0178) – do abate de um caça britânico Beaufighter por um aparelho alemão - ( Ver Bristol Beaufighter - T3423) – e também a excelente história de amizade entre o carteiro de Vila Nova de Milfontes, José Sequeira, e o piloto Harold Hall, que tripulava um bombardeiro inglês Blenheim que ali terminou a viagem (Ver Bristol Blenheim - BB101).

A revista saiu na última semana e só pode ser encontrada nas bancas no concelho de Odemira. No caso de querer adquirir um exemplar pode contactar a Fundação Odemira em marketing@fundacao-odemira.pt...

Boas leituras
Carlos Guerreiro

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Veja outros aviões que aterraram em Portugal AQUI.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Aterragem forçada de Red Tails

Depois de muita promoção e maiores promessas parece que os europeus só terão possibilidade de ver o filme “Red Tails” quando este for lançado… em DVD ou Blue Ray. A mega produção de George Lucas fez uma dura aterragem de barriga depois da estreia em 20 de Janeiro e dificilmente deverá voltar a voar nas telas das salas de cinema.

No “Aterrem em Portugal”, baseado em notícias que davam como certa a vinda da fita até Portugal, adiantei a informação em 15 de Janeiro de 2012, e coloquei também várias sequências promocionais do filme (ver A historia dos Red Tails). Na data da suposta estreia nada aconteceu e, logo depois, desapareceram as poucas notícias que a ele se referiam.



A história dos primeiros aviadores negros americanos da II Guerra Mundial tinha-se desintegrado… A edição de Abril da revista “Classic Aircraft” explica porquê. O filme parece ter sido um desastre monumental e um buraco financeiro ainda maior, deixando George Lucas algumas dezenas de milhões de dólares mais pobre.

 O artigo da revista é assinado por Mike Shreeve que, em Los Angeles, tentou ver o filme quatro semanas depois da estreia. Mal conseguiu encontrar uma sala com ele ainda em cartaz, e acabou por seguir as duas horas de aventuras de Cuba Gooding Jr e companhia ao lado de… dois espectadores.

Para os amantes da aviação o artigo é interessante pois traz as histórias da participação de cerca de uma dezena de aviões clássicos – P-51’s, P-40’s, B-17 e c-47 – que na Europa e nos Estados Unidos participaram na fita.

Fora isso faz um triste retrato do filme produzido por Lucas. Shreeve – e vários outros críticos – apontam duas grandes falhas: uma grande falta de realismo, que transformaram “Red Tails” num misto de guerra das estrelas com um jogo de computador, e um conjunto de personagens que garantam dar “personalidade e profundidade” à história.

Lucas e o realizador - Anthony Hemingway – não quiseram fazer uma biografia da esquadrilha ou dos seus elementos. Os Red Tails foram apenas a inspiração. O criador de Star Wars não escondia antes da estreia que reconhecia que o filme era “lamechas (ou piegas)”, mas queria, simultaneamente, que fosse “patriótico e inspirador para os jovens”.

Na verdade “Red Tails” foi um filme complicado desde o princípio. A produção começou em 2009, e deveria ter sido lançado em 2010. Lucas mandou parar o seu lançamento e depois de ter filmado na Europa, ordenou que várias sequências fossem refeitas nos estados Unidos.

Calcula-se que a Lucasfilms tenha investido quase 60 milhões de dólares no projecto. Depois foi impossível interessar uma distribuidora e foi mais uma vez Lucas que desembolsou quase 40 milhões para promover e pagar a distribuição da fita, e apenas para os mercados americano e canadiano.

Até agora terá sido recuperado metade do investimento…

Para, deste lado do Atlântico, confirmar as críticas mais negras parece que teremos de esperar por uma edição mais caseira.

Até lá deixo uma ligação ao filme produzido pela HBO em 1995 sobre a história dos "Red Tails", baseada nos relatos dos primeiros primeiros pilotos "negros" que chegaram a Tuskegee, a base onde seriam treinados antes de chegar à frente de batalha.

O filme da HBO vai às raízes dos Red Tails, faz eco dos problemas raciais e da questão política que rodeou a formação da esquadrilha... Vale a pena acompanhar e - para quem gosta - também tem boas imagens de aviões e combates aéreos.

Por coincidência  Cuba Gooding Jr também faz parte do elenco que é liderado por Laurence Fishburne.

O filme (sem legendas) está no Youtube, dividido em 11 partes com cerca de 10 minutos cada uma. Fica a ligação à primeira sequência... depois basta - com paciência - continuar a clicar para ver o resto.



Boa sessão...
Carlos Guerreiro 

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segunda-feira, 2 de abril de 2012

A “Riviera” em Lisboa

Na imprensa portuguesa da época não são fáceis de encontrar artigos relacionados com a presença ou as actividades dos refugiados que a partir de meio de 1940 começaram a chegar a Portugal. A censura estava instruída para eliminar, ou pelo menos aliviar, os “incómodos” que iam atingindo o país e a questão dos refugiados era claramente um desses casos.

Mais tarde a chegada de dezenas de crianças judaicas, numa operação que tinha Lisboa como porta de saída para Inglaterra e para os Estados Unidos, viria a merecer outro destaque na imprensa nacional, mas nos primeiros anos a “invasão” de refugiados foi olhado como uma grande inconveniência.

Crianças refugiadas de passagem por Portugal em 1943. 
(Século Ilustrado, edição de 24 de Abril 1943)

Uma das formas de contornar a censura passava por copiar artigos que tinham saído na imprensa internacional. Não se pense que esta era muito mais livre que a Portuguesa, pois os correspondentes estrangeiros também tinham de sujeitar os seus artigos às autoridades portuguesas antes destes serem enviados para os respectivos países.

Quem não o fizesse estava sujeito a ordem de expulsão, enquanto os jornais podiam ser proibidos de circular ou de manter outros correspondentes radicados, naquela que era uma das últimas portas para uma Europa continental cada vez mais fechada.

Portugal era por isso uma montra onde circulavam as mais recentes notícias e boatos oriundos dos países ocupados. Por vezes acontecia que esta censura aos correspondentes estrangeiros não era tão rigorosa como acontecia à imprensa caseira e esta tentava aproveitar-se disto.

No dia 2 de Abril de 1941 O Diário de Lisboa, puxava para a primeira página uma reportagem do “Daily Telegraph”. Por considerar que se trata de um interessante retrato do clima que se vivia em Lisboa, voltamos a fazê-lo 71 anos depois…


Lisboa saída de recurso para os refugiados da Europa 

Subindo e descendo o pavimento empedrado do Chiado que é a “Bond Street” e o “Strand” de Lisboa, desde manhã até muito depois da meia-noite, vê-se a multidão mais cosmopolita que é possível encontrar em qualquer parte do mundo.
 Se nos aproximamos dos grupos que passam podemos ouvir meia dúzia de línguas diferentes. Dezoito meses depois do deflagrar da guerra e oito após a derrota da França, os refugiados continuam ainda a chegar em números importantes.

Os estrangeiros que dispõem de fundos são objecto de vaga suspeita da parte dos seus companheiros, mas usualmente, seja qual for a nacionalidade dos indivíduos que despertam essas suspeitas, a explicação é simples: têm a felicidade de dispor de dinheiro na América.

Contudo, mesmo os mais afortunados vivem à margem de um futuro incerto. Ninguém sabe até quando pode durar a chegada de fundos.

Os Serviços de Repatriação de refugiados britânicos estão organizados com a maior ordem e eficiência. Os escritórios que tratam desse serviço em Lisboa são ocupados especialmente por empregados voluntários, os quais têm acudido e facilitado os meios de regressar à pátria a muitas centenas de ingleses aqui recém-chegados.

Mesmo agora, aqueles escritórios são frequentados por mais duma centena de refugiados mensalmente que ali vão pedir indicações sobre assuntos de dinheiro e para obterem passagens para Inglaterra.

Em França são os americanos que prestam o primeiro auxílio aos ingleses que regressam ao seu país. Dali é feita a comunicação para Lisboa, após a qual decorrem várias semanas até à entrada dos interessados em Portugal.


A entrada em Portugal 

É na estação fronteiriça portuguesa de Marvão que os refugiados entram pela primeira vez, sob a protecção directa dos Serviços de Repatriação, os quais lhes oferecem uma recepção carinhosa e lhes facultam todo o auxílio possível. Muitas das pessoas que chegam aqui são pessoas ricas, mas temporariamente estão sem dinheiro algum.

Ricos e pobres sujeitam-se igualmente aos mesmos preceitos, visto que os fundos britânicos devem ser mantidos para objectivos mais importantes do que o interesse individual. Os Serviços de Repatriação impõem um limite de 10 libras esterlinas por mês para as despesas de cada refugiado enquanto aguarda passagem para a pátria, mas felizmente é possível viver com duas libras esterlinas por semana nas pensões modestas ou em casas particulares.

Além disso é também fornecido dinheiro àqueles que precisam adquirir vestuário ou às pessoas idosas ou enfermas. Ninguém ignora que refugiados que vêm de sofrer privações usuais em França preferem viver em Portugal, mesmo que seja apenas com 10 libras por mês, ao mesmo tempo que figuram na sua imaginação e abominam os bombardeamentos, o apagar de luzes e o racionamento na Grã-Bretanha, mas o governo não desmobiliza as suas divisas para que as pessoas troquem por outra, uma vida que se assemelha à da “Riviera”.

O único documento que pode garantir a autorização para uma mais longa permanência nesta agradável terra é um atestado médico. O abono de 10 Libras termina com a partida do navio para o qual o interessado tem bilhete de passagem. Outros governos estrangeiros têm igualmente os seus organismos para refugiados em Lisboa.

O organismo holandês fez seguir cerca de 200 refugiados do seu país para as Índias Orientais Neerlandesas, assim como alguns belgas seguiram para o Congo. Apesar destes drenos ainda se encontram aqui cerca de 1200 refugiados, na sua maior parte polacos, demorados em Portugal.

E embora Lisboa pareça toda cheia com estas idas e vindas duma população poliglota, verifica-se apenas uma pequena proporção no que diz respeito à enorme multidão de europeus sem asilo. Só em território da França não ocupada há cerca de 50 mil pessoas exiladas até ao fim da guerra.

Os refugiados em Lisboa são os felizes. Ainda que vivam da caridade ou a crédito estejam impossibilitados de exercer os seus ofícios ou profissões vivem, no entanto, debaixo do sol de um país livre.



E.T.


Um olhar do outro lado, sobre um Portugal que era um dos centros do mundo…
Carlos Guerreiro