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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Lisboa, Arte e Guerra
O Excalibur e o senhor Fabiani

O comandante americano, Samuel Grove, opôs-se como pôde tentando evitar que violassem o cofre do seu navio. Perante os protestos, os ingleses abriram a porta de aço com um maçarico de acetileno e apreenderam os caixotes que continham quase seiscentos quadros de nomes grandes das artes francesas e não só. Foi também retirado um caixote com livros raros.

Esta aguarela de Cézanne ficou "esquecida" na Galeria Nacional do Canadá, em 1949, depois da entrega das obras apreendidas no "Excalibur" ordenada por um tribunal. Os responsáveis pelo Museu garantem que estão a procurar os herdeiros legítimos para a entregar.

Entre as pinturas e desenhos, que pertenciam à conhecidíssima colecção Vollard, encontravam-se cerca de 270 obras de Renoir, várias dezenas de Cézanne e de Ruoault, para além de trabalhos de Picasso, Degas, Gaugin, Domier, Vuillard, Utrillo, Morizot e vários outros.

Os britânicos conheciam bem a carga até porque tinham autorizado a sua exportação. Em 25 de Setembro de 1940, os caixotes contendo a carga preciosa, tinham embarcado em Lisboa, no navio americano e neutral da “American Export”, o S.S. Excalibur, que ligava regularmente Portugal à América.

A licença tinha sido pedida por Martin Fabiani, uma personalidade duvidosa envolvida no tráfico de obras de arte pilhadas, muitas delas roubadas pelo regime nazi.

Foram dúvidas sobre a posse das peças, a personalidade de Fabianni e as suas intenções que levaram os ingleses a dar a ordem de apreensão. O Excalibur foi forçado a aportar nas Bahamas, em 3 de Outubro, pelas autoridades aduaneiras britânicas. Os caixotes, que se destinavam à Galeria Bignou de Nova Iorque, ficariam retidos naquele porto durante cerca de um mês e depois – temendo que o clima húmido danificasse as obras – foram colocadas à guarda da Galeria Nacional do Canada, onde ficariam até depois da guerra.


A colecção Vollard

Ambrose Vollard foi uma daqueles galeristas com olho para a arte e para o negócio. Um mecenas à moda antiga, descobriu e lançou artistas que hoje são incontornáveis na história da arte. Apoiou-os e financiou-os quando eram desconhecidos e não tinham recursos. Lançou-os quando entendeu que estavam prontos.

Foi ele que descobriu Cézanne e durante toda a sua vida seria o único galerista autorizado a vender as suas obras. Muitos outros recorreram aos seus préstimos e conhecimentos. Entre os seus protegidos estiveram também Renoir, Picasso, Gaugin, Rouault e Van Gogh.

Quando morreu, no dia 21 de Junho de 1939 aos 73 anos, diz-se que a sua casa era um enorme armazém com peças empilhadas em todas as divisões. Seriam mais de dez mil quadros, desenhos e esculturas. É após a sua morte, na sequência de um acidente de automóvel, que parte da sua colecção entra no estranho circuito que as vai levar até ao Canada.

Por vontade de Vollard a colecção seria dividida entre a amante e um dos seus irmãos, Lucien. Este último, um toxicodependente, terá pedido a Fabiani para organizar um leilão para vender a sua parte da herança que terá aproveitado para comprar centenas de peças por uma ninharia.

Quando os nazis ocuparam a França terá tentado proteger o seu investimento e em Maio de 1940 transportou os quadros para a chamada zona livre da França. Em 17 Junho conseguiu colocá-los em Espanha onde espera pela licença de exportação inglesa - navicert – para os levar até Lisboa e embarcar no Excalibur.


O sinistro senhor Fabiani

Martin Fabianni era um corso radicado em Paris. Antes da guerra era um galerista de segunda ou terceira linha, mas a chegada dos Nazis vai transformar tudo isso e no final da guerra os americanos consideram-no um dos principais negociantes colaboracionistas dos Nazis.

É logo após a chegada dos alemães que sai da sombra. Ocupa uma loja que pertencera a um negociante e galerista de renome, Andre Weill, um judeu obrigado a escapar para a América. Na sua posse serão assinalados quadros pilhados da colecção Rosenberg e outros pertencentes a vários pequenos comerciantes e coleccionadores de origem judaica. (parte da colecção de Andre Weill também passou por Portugal. Ver "Turtuosos caminhos para as Américas").

Sabe-se que teve relações privilegiadas com o “doutor” Bruno Lohse, o homem de mão de Goering que foi só um dos mais ávidos colecionadores do Reich. Várias “trocas” entre ambos são registados ao longo do conflito.

Lohse era também um dos líderes da unidade especial Rosenberg encarregada de reunir peças para colocar no grande museu de arte que Hitler queria construir em Linz, na Áustria. Entre os seus clientes contava-se também Maria Dietrich, dona de um galeria em Berlim, mulher de confiança de Hitler e que estava autorizada a comprar obras em seu nome não só para o futuro museu, mas também para a Chancelaria do Reich.

Vendeu até um quadro a Pablo Picasso – que continuou a viver em França durante a Guerra – e quando o espanhol lhe exigiu um documento que provasse que a pintura não era pilhada este terá forjado o papel.

Entre trocas e vendas Fabianni, que também mantinha ligações com a Suiça e com o continente americano, terá amealhado uma incalculável fortuna. O seu nome aparece repetido uma e outra vez nos ficheiros americanos que no final da guerra investigaram a pilhagem de obras de arte.

O truculento corso só veria a sua ascensão travada pelo fim da guerra. Em Março de 1945 quando as forças aliadas chegaram a Paris ele não se encontrava na cidade. Entre os bens que estavam na galeria encontravam-se muitos quadros, sendo que vários pertenciam à colecção Vollard.

Em Setembro seria detido acusado de abuso de confiança, aquisição de bens roubados e colaboração económica. Terá pago uma multa de 145 milhões de francos, mas ficou pouco tempo na prisão.

Em 1948 Fabiani vai exigir os quadros do Excalibur de volta. Segundo a documentação que apresentou era de facto o proprietário das peças, mas um tribunal britânico vai decidir-se pela entrega de um quarto dos quadros a duas irmãs de Vollard.

A 30 de Maio de 1949 Fabianni e o representante das duas irmãs encontram-se no Canada para dividir o que se encontrava armazenado no cofre da galeria há quase dez anos.

Em 1951 as irmãs decidem vender algumas peças à galeria Canadiana que durante anos armazenara as peças. Fabianni vai oferecer uma das peças em 1956…

Estranhamente durante a partilha, uma das pinturas ficou esquecida. Uma aguarela de Cézanne subordinada ao tema árvores – pouco mais que um esboço – foi encontrada no cofre da Galeria nos anos 60 e, desde essa altura, que a galeria tenta estabelecer quem são os diversos herdeiros - de ambos os lados - para proceder à entrega da obra…

Carlos Guerreiro

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Lisboa, Arte e Guerra
Negócios e boatos pelas ruas de Lisboa

“Falta-lhe todo e qualquer patriotismo, é completamente egoísta e sem quaisquer escrúpulos”. É assim que serviços secretos americanos descrevem o francês Jean Rolland Ostins, um negociante de arte com ligações suspeitas e perigosas que, em 1941, se instalou em Lisboa.

Francês, colaboracionista desde a primeira hora e com ligações privilegiadas ao governo de Vichy, Ostins é uma das mais intrigantes personalidades referida nos diversos relatórios e fichas coligidas pelos serviços secretos americanos OSS em Lisboa no ano de 1945.

Quando os alemães conquistam França tem pouco mais de quarenta anos e é um negociante de arte relativamente conhecido em Paris. A falta de escrúpulos transformam-no rapidamente no colaborador perfeito de Bruno Lohse e da unidade especial Rosenberg.

O primeiro é o homem de confiança e fornecedor de obras de arte do Marechal Goering - um dos coleccionadores mais sedentos do regime - e a Unidade Especial Rosenberg (ERR) é responsável pela política cultural do Reich, liderando o saque de milhões de peças pertencentes a colecções particulares e públicas em países ocupados. Um espólio que deveria integrar uma enorme rede museus sonhada por Hitler no seu Reich e, especialemente, o grande Museu de Arte de Linz, na Áustria - uma obra que deveria começar logo que a guerra acabasse.
 

Uma das versões do quadro "Salomé" de Ticiano terá passado por Lisboa quando uma negociante estrangeira o traficou para Inglaterra. A mulher era também suspeita e vender diamantes enviados pelos alemães. 

Os colaboradores de Lohse e da ERR ajudam na localização das colecções e de obras individuais. Conhecedores dos meandros do negócio sabem quem são os colecionadores e quais as obras que possuem. As colecções pertencentes a judeus são especialmente apreciadas pois são simplesmente apreendidas. Galerias públicas também não escapam ao apetite deste enorme polvo.

Para além de receberem comissões muitos destes colaboracionistas têm acesso privilegiado às “sobras” do processo. Peças realizadas por judeus ou obras consideradas “degeneradas” – praticamente todos os modernistas - não têm lugar na cultura e no gosto alemão. Entram no circuito subterrâneo controlado por estes negociantes que conseguem não só importantes divisas para os nazis como também acumular importantes fortunas.

Ostins está envolvido nestes negócios desde cedo, mas em 1941 surge repentinamente em Lisboa. A sua chegada coincide com um escândalo no Governo de Vichy que envolve o ministro dos abastecimentos, Jean Louis Achard. A ineficácia na gestão dos recursos alimentares e no sistema de distribuição de senhas de racionamento trazem milhares de franceses para a rua em protesto, obrigando à demissão do responsável político.

Não é fácil perceber se a sua saída de França está ligada a este acontecimento ou se se tratou de uma coincidência. Certo é que as suas ligações políticas em França lhe flanqueiam as portas da Embaixada onde é tratado como um VIP.

Apresenta-se inicialmente como representante da Cruz Vermelha e do Socorro Nacional de França, mas as suas actividades são suspeitas até para os responsáveis da embaixada. A certa altura começam a evitar encontros e reuniões.

Nos seus negócios utiliza a mala diplomática da Embaixada Francesa para traficar diamantes que vende por bom lucro em Lisboa. Os navios da União Fabril, que ligam Lisboa a Marselha, servem para traficar de tudo incluindo obras de arte. Nos diversos relatórios elaborados pelos serviços americanos regista-se o movimento de grandes somas de dinheiro entre a Argentina e a Europa.

Cartas interceptadas pelos serviços americanos revelam negócios com quadros e outros objectos através de uma rede de negociantes e amigos que se estende da Europa para a América do Sul e para os EUA. Um desses sócios, instalado em Nova Iorque procura, por exemplo, sensibilizar Ostins para encontrar e enviar quadros "com qualidade de museu", deixando claro que telas de "Ruoault ou de Picasso" são as que melhor se vendem.

Todos estes negócios são feitos sob cobertura da empresa LAOS, que mantém em sociedade com uma britânica. A vida não parece correr-lhe mal, mas o fim da guerra cria-lhe dificuldades inesperadas. Em 1945 é preso pela PVDE durante alguns dias. Nas suas reclamações diz não entender as razões porque foi detido… Libertado regressará às Caldas da Rainha onde ficará a aguardar ordens..

Os seus passos perdem-se por aí... Talvez as e enomes quantias acumuladas na América do Sul lhe tenham servido de porto de abrigo.


Uma longa lista de nomes

Ostins é apenas o nome que mais se destaca numa comprida lista de negociantes e colecionadores de arte que povoavam a Lisboa da 2ª Guerra Mundial.

Alguns são referidos como completamente insuspeitos. É o caso de Calouste Gulbenkian identificado apenas como “coleccionador de arte português” ou Ricardo Espírito Santo que merece mais algumas linhas, sendo apresentado como um colecionador “bem conhecido” que deve ser mantido sob vigilância, pois “qualquer objecto de importância ser-lhe-á certamente oferecido”.

Mas entre as mais de vinte fichas individuais com informações sobre negociantes, galeristas e colecionadores portugueses ou a viver em Portugal, surgem outras personagens com relações pouco claras.

Uma alemã, chamada Margareth Eisen, ou Cifla Duarte, divorciada de um oficial português, era suspeita de ter traficado o quadro “Salomé” de Ticiano, para o Reino Unido, onde estaria escondido no cofre de um banco. Era também acusada - com o sócio Ruy D’Andrade – de vender diamantes que lhe chegavam através dos alemães.

Os estrangeiros John Conrad (ou Konrad), Leon Josippovicci e a portuguesa Elfrida Marques Pereira eram  suspeitos de utilizarem a sua galeria, localizada na Rua Nova da Trindade, para traficar diversos objectos de arte, especialmente tapetes originários de colecções pilhadas.

Uma certa senhora Wohwill, na Estrada de Benfica, vendia visas para passaportes e obras de arte enquanto Jackes Kugel, suspeito de estar envolvido em negócios sombrios estava também envolvido na espionagem ao lado dos alemães.

Entre os portugueses encontravam-se Fausto Albuquerque, que teria tido importantes negócios com os italianos antes da queda de Mussolini e ainda Paiva Raposo, uma mulher que andara a oferecer obras de arte em vários locais. Alegava que se tratavam de peças de importantes famílias portuguesas com necessidades económicas. Os americanos consideravam-na uma excelente testa de ferro para colocar obras pilhadas no mercado.


O alemão Buchholz

Entre os vários nomes investigados surge também e com algum destaque o alemão Karl Buchholz.

O fundador da livraria, com o mesmo nome, na baixa lisboeta é referenciado em diversos relatórios que tentam reunir provas sobre as suas actividades. Numa deleas resume-se a sua história em poucas linhas: “Antigo negociante de Berlim alega ser um refugiado porque a avô era de origem judaica. Suspeito de ter trabalhado para altas individualidades nazis e de ter para venda obras de arte pilhadas”.

Os americanos queriam perceber como alguém conseguia sair da Alemanha, em 1943, com “meio milhão de marcos em livros”. Garantiam também que mantinha relações pessoais e comerciais com Ribbentrop e Goebbels.

Os indícios recolhidos apontavam para a possibilidade do negócio de Buchholtz servir de cobertura para o tráfico de quadros para a América do Sul.

Já com a guerra a alastrar tivera galerias em Berlim e Budapeste, fazendo parte importante dos seus negócios com aquilo a que o regime nazi chamava “arte degenerada”. Tinha estreitos contactos com outros negociantes em Espanha,  Suíça, Alemanha e Estados Unidos. Neste último país havia até uma Galeria Buchholz, Abrtea por um ex-sócio de origem de judaica e que agradecia desta forma o apoio de Buchholz durante o seu processo de fuga.

Na sua livraria em Lisboa foram encontradas fotografias de três quadros que estavam para venda. As pinturas pertenceriam a um negociante Suíço. Buchholz não escondia aliás a sua forma de conduzir o negócio das artes. Estava disponível para, a troco de uma comissão, vender quadros e outras peças de arte.

Parte importante destes negócios pouco claros vão desaparecer do olhar público em Março de 1945 quando, após diversas pressões dos aliados, Salazar aprova um decreto onde declara ilegais e inválidos os negócios envolvendo bens artísticos pilhados em países ocupados pelos alemães. A legislação não tem contemplações mesmo para com compradores que desconheciam estar a adquirir bens roubados.

nada disto impede que, nos últimos meses da guerra, Lisboa continue a ser uma cidade onde correm todo o tipo de rumores e boatos. Fala-se, por exemplo, de um cofre gigante recentemente instalado na Legação Alemã e que estará cheio de quadros.

Apesar disso, em 1945 os aliados consideram que não deverá existir em Portugal muita arte pilhada, mas revelam a necessidade de manter uma vigilância apertada pois suspeitam que o país possa servir para armazenar e esconder algumas obras até que a perseguição aos nazis acalme..

Não será por isso estranho que, em 1948, surjam notícias de um Goya que estaria para venda num circuito subterrâneo da capital portuguesa.

Carlos Guerreiro

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Exposição no Museu Militar de Lisboa e livro no Chiado

No dia 13 de Março o Museu Militar de Lisboa inaugura uma exposição onde vai pode ver fardas, equipamentos e armamento militar utilizado durante a 2ª Guerra Mundial pelas diversas forças beligerantes.


As fardas pertencem à colecção particular de António Fragoeiro, mas a grande atracção serão certamente várias armas que integram o espólio do Museu Militar e que também vão estar patentes.

O Museu tem no seu espólio material de guerra utilizado por todos os contendores, incluindo equipamento japonês, capturado em Timor quando as tropas nipónicas se renderam e abandonaram a ilha no final da guerra…

Voltaremos a falar desta exposição nas próximas semanas…

Já esta sexta-feira é lançado na Fnac do Chiado um novo livro de ficção que tem lugar em Lisboa durante a 2ª guerra Mundial.

“A Última Noite em Lisboa”, assinado por Sérgio Luís de Carvalho,  será apresentado às 18.30 horas naquele espaço da baixa lisboeta.

para além destas há outras saídas que pode consultar a nossa AGENDA

Boas saídas.

Carlos Guerreiro

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Lisboa, arte e guerra
Tortuosos caminhos para as Américas

Em 1944 o actor Errol Flynn comprou um Van Gogh por 48 mil dólares, um preço considerado exorbitante para a época. Seria um dos quadros que mais estimaria ao longo da sua vida. A pintura “O homem está no mar”, é baseado numa gravura chamada “Mulher com criança ao colo” que o artista holandês terá visto numa exposição em Paris. Foi uma das muitas pinturas que passaram por Lisboa durante a segunda guerra mundial.

O homem que transportou o quadro da Europa para a América, foi Paul Graupe, um refugiado que se estabeleceu, de forma provisória, em Lisboa a 1 de Janeiro de 1941, depois de um sinuoso percurso à frente das tropas nazis.

Para além de ser considerado um democrata, era também judeu, uma combinação pouco saudável na Europa dominada pelos nazis. Especialista nos velhos mestres da pintura foi obrigado a abandonar o seu negócio de leilões de arte em Berlim em 1936, quando os nazis fecharam o cerco aos comerciantes judeus.

(Foto: http://www.theerrolflynnblog.com/) 

Errol Flynn fotografado em sua casa com o quadro 
pintado por Van Gogh. 
"O Homem está no Mar" é um trabalho baseado numa gravura que o holandês terá visto em Paris. 


Estabeleceu-se em Paris e estendeu o seu negócio a Londres. Quando as tropas de Hitler invadem a França em 1940 encontra-se na Suíça e nada pode fazer para salvar as obras que mantinha na sua galeria no número 16 da Place Vendome. Foi tudo apreendido pelos alemães.

Outros quadros - entre eles o Van Gogh – estavam, no entanto, armazenados em nome de um britânico num outro armazém. O sócio de Graupe, Arthur Goldschmidt, conseguiu contrabandear oito quadros para fora de França através de um esquema, que envolveu um grupo de “gangsters” e muito dinheiro.

Para escapar aos alemães Goldschmidt, que também era judeu e também já fugira da Alemanha quando Hitler assumira o poder, foi instalar-se, com a mulher, em Cannes, na chamada zona livre.

Os “gangsters” tinham documentos que lhes permitiam circular livremente entre as zonas ocupada e livre da França, razão porque foram solicitados a traficar os quadros desde Paris até ao sul de França. Para além do Van Gogh trouxeram também dois Brouwer, um Cruyp, um Breughel, um Altdorfer, um Ostade e um Van Dyke.

Arthur conseguiu resgatar apenas quatro quadros, pagando por isso 85 mil francos. Os traficantes ameaçaram entregar as restantes telas aos alemães caso não fosse possível encontrar mais dinheiro.

As pinturas recuperadas foram enviadas para casa de uns amigos em Veneza, Itália, enquanto tentava encontrar uma forma de reunir dinheiro para recuperar as que faltavam. Quando os “gangsters voltaram Goldschmidt vendeu um dos quadros por 400 mil francos, que entregou ao grupo. Realizou capital para sair do país vendendo outra peça também por 400 mil francos, enquanto dois outros quadros ficavam na Suíça entregues a Hans Wendland, um outro negociador de arte com estranhas ligações ao esquema dos nazis.

Os quatro quadros que sobraram destes negócios – os Van Gogh, Breughel, Brouwer e Cuyp - foram contrabandeados até Bilbau onde ficaram aguardar a atribuição de passes de exportação para chegarem às mãos de Graupe.


Mundo de artes no porto de Lisboa

Pelo facto do filho estar a servir no exército britânico desde 1940, Graupe tinha estatuto de prioritário e conseguiu autorização para emigrar para os EUA em Março de 1941. Partiu, no entanto, sem os seus quadros.

As licenças de exportação só seriam passadas pelos britânicos em Maio de 1942, mas a burocracia iria arrastar a entrega das pinturas até Agosto desse ano.

Mas Graupe foi apenas um dos muitos galeristas e coleccionadores que passaram ou fizeram passar os seus tesouros artísticos por Lisboa em direcção a outros destinos. Num relatório da secção de negócios do Ministério dos Negócios Estrangeiros Britânico, elaborado em Abril de 1945 e onde se faz um balanço dos passes de exportação passadas durante os anos da guerra, Lisboa é referida dezena e meia de vezes.

Entre os que solicitaram passes de exportação encontram-se coleccionadores como Otto Gugenheim ou o galerista Andre Weill. Para os navios ancorados em Lisboa desfilaram pinturas de Brueghel, Corot, Degas ou Van de Velde.

Duas destas “exportações” autorizadas a partir de Lisboa, e para os EUA, assumem importância pela sua dimensão e história.

Mais de 500 quadros foram embarcados no navio americano S.S. Excalibur. Pertenciam à famosa colecção Vollard e incluíam quase três centenas de pinturas e desenhos de Renoir, dezenas de telas de Cezanne, Gaugin, Degas, Picasso, Manet, Corot, Guys, entre outros.

A licença de exportação foi passada em nome de Martin Fabiani, mas suspeitas sobre as suas ligação aos nazis e sobre a propriedade das obras levaram os britânicos a apreender a carga. O “Aterrem em Portugal!” desenvolve este tema no artigo "O Excalibur e o senhor Fabiani".

Em Maio de 1944 centenas de peças de porcelana, pratas, bronzes e pedra seguiram para Nova Iorque em nome do antiquário judeu Leopold Blumka. De origem austríaca também ele tinha passado por Lisboa como refugiado em 1941, depois de se ter tentado fixar na Suíça sem sucesso.


Guerra de divisas

Com a atribuição de passes de exportação os britânicos queriam evitar que os países do Eixo realizassem lucros, vendendo bens artísticos em/ou através de países neutrais.

A política cultural dos nazis, cuja gestão foi entregue ao Reichsleiter Rosenberg e à sua unidade especial, passou pela pilhagem de colecções particulares e públicas em todos os países ocupados. Esta unidade estava também encarregada de fazer desaparecer toda a arte de origem judaica ou “degenerada”, onde se incluíam praticamente todas as correntes da arte moderna.

Para amealhar divisas, necessárias à economia alemã, estas peças não eram destruídas, mas entregues a comerciantes da confiança do regime que se encarregavam de as vender, através de uma rede que se estendia pelo mundo. A América neutra, rica e isolacionista, surgia como um mercado natural para as peças e o mesmo acontecia com alguns países da América do Sul.

A política de passes ou certificados de exportação (navicerts) surgiu com o objectivo evitar aquele tipo de transacções. As autorizações só eram concedidas depois dos portadores provarem, por exemplo a proveniência dos objectos e a data das aquisições. As regras impunham ainda que as obras não poderiam ter sido compradas após o início da guerra.

Apenas quando se tratavam de refugiados as restrições eram aligeiradas.

A partir de 1941 as autoridades inglesas passaram também a exigir o envio de fotografias de peças que eram levadas para análise a Kenneth Clark , um dos maiores historiadores de arte do Reino Unido.

Foi com base nestas directivas que vários galeristas, coleccionadores e refugiados fizeram sair os seus pertences através de portos portugueses, espanhóis e suíços, mas o problema eram as exportações ilegais e o que se poderia esconder entre as autorizações.

Os britânicos reconhecem que “não têm a certeza” de que entre as autorizações não existissem objectos pilhados. Investigações posteriores levadas a cabo nos EUA revelam a existência de um elevado número de negócios suspeitos e elaborados esquemas para realizar os transportes.

Em Novembro de 1943, por exemplo, uma empresa suíça de transportes informava uma congénere americana de que não era possível “o quadro seguir por correio aéreo para Lisboa”, sugerindo a utilização do caminho-de-ferro numa viagem que demorava “cerca de quatro semanas”. Seria ainda “possível enviar o quadro para Marselha e deste porto, num navio suíço, para Filadélfia através de Lisboa”. A informação surge no relatório de uma investigação dos serviços de censura postal, mas não é especificado de que quadro se falava.

A Suíça surge com frequência como um país central na intrincada rede de negócios que foi estabelecida pelos negociantes envolvidos na compra e venda de arte pilhada. Os ramos estendem-se depois por Espanha, Portugal, América do Sul e Estados Unidos.

Entre as investigações de diversas redes de “traficantes surge, por exemplo, o nome de Blumka. O alarme foi dado, mais um vez pelos serviços postais, que interceptaram a carta de um tal de Friedrich Stirnemann, que na Suíça teria quadros de Rubens para enviar à consignação. Nunca se provará que o envio foi realizado ou que Blumka estivesse envolvido no tráfico de obras de arte.

Embrulhado nesta rede de traficantes surge, ainda com maior frequência, o nome de Paul Graupe. São consideradas extremamente suspeitas as suas ligações a Hans Wendland, o tal negociante que viver na Suíça e, apesar de ser judeu, é apontado como tendo ligações privilegiadas com os nazis. Um memorando americano assegura que terá recebido, de uma das vezes, várias carruagens de comboio cheias de quadros directamente de Paris.

Entre a correspondência trocada por Graupe e Wendland falam-se de negócios, de transferência de obras da Europa para os EUA e de formas de disfarçar as transacções.

Graupe cortará relações com Wendland e até com Goldschmidt, com a colocação se processos judiciais mútuos relacionados com comissões e sociedades em pinturas.

Será também suspeito devido às suas relações com outros negociantes – refugiados - a residir na América do Sul. Apesar de todas estas investigações, os americanos nada conseguem provar contra Graupe, que se tornará cidadão americano depois da guerra.

Curiosamente o sinal de alarme para estas investigações foi dado pela venda do Van Gogh que passou por Portugal em 1941. O FBI teve dúvidas sobre a data da sua aquisição e não encontrou provas de que o tivesse adquirido antes da Guerra. Graupe afirmava que o tinha comprado em 1939 a um bem conhecido coleccionador chamado Paul Gachet.

Apesar do sinuoso caminho a obra tem vindo a valorizar-se a uma velocidade vertiginosa. Graupe vendeu-o a Caesar Diorio, um comerciante de Nova Iorque, em Julho de 1943. Sobre a mesa foram colocados 32 mil dólares. Flynn comprou-o por 48 mil e tê-lo-à vendido anos mais tarde por cerca de 120 mil dólares.

Após passar por mais algumas mãos e, no princípio deste mês de Fevereiro, “O homem está no mar” foi arrematado no Sotheby’s por pouco mais de… 20 milhões de Euros.

Carlos Guerreiro

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O Postalinho...
Exportações alemãs retidas


O cartoon original foi publicado no jornal britânico Evening Star em 31 de Janeiro de 1940 e está assinado por David low.

O cartoon reflecte o que se passava com as exportações alemãs que tinham de atravessar qualquer dos mares.

Para atingir a economia do nazismo a Inglaterra impôs um conjunto de medidas que passavam, nomeadamente, pela entrega de certificados marítimos – os navicerts – para qualquer transacção comercial que passasse pela utilização de um navio.

Desta forma os produtos alemães não saiam da Europa e a Inglaterra controlava também cargas que estivessem a caminho do continente.

Nada que pudesse ajudar o esforço de guerra alemão poderia passar…

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Lisboa, arte e guerra...
Inconfidências fatais e negócios de ocasião

Quando Hugo Andriesse encontrou Georg Hoffmann nas ruas de Lisboa, em finais de 1940, deve ter pensado que encontrara a solução para recuperar a colecção de quadros que deixara escondida à guarda do Museu Nacional da Bélgica. Não podia adivinhar como estava errado...

Andriesse era um importante industrial e colecionador de obras de arte. Nascido na Holanda e radicado na Bélgica, seria um dos muitos judeus a engrossar as colunas de refugiados que chegaram a Lisboa depois do avanço alemão sobre a Bélgica e sobre a França em 1940.

"A rapariga com o Papagaio", de Caspar Netscher, é um dos quadros da colecção de Hugo Andriess que nunca foi recuperado. No Von der Heydt Museum, na cidade de Wupertal, na Alemanha, está exposta uma pintura muito semelhante, mas o facto de existirem diversas cópias tem impedido as autoridades de o reclamar.

Com mais de setenta anos a sua posição social garantiu-lhe um bilhete para a América, mas para trás deixou, protegida nos abrigos antiaéreos do Museu Nacional da Bélgica - o “Musee Cinquantenaire” -, toda a sua colecção de pinturas e outras peças artísticas.

Durante anos prometera aos responsáveis da instituição deixar-lhes alguns quadros em testamento. O museu não colocou, por isso, quaisquer dificuldades para “abrigar” as obras de arte.

Em Lisboa os seus passos cruzaram-se com os do alemão Georg Hoffmann em Outubro de 1940. Conheciam-se. Hoffmann era um dos representantes comerciais da Galeria Katz, de Paris, onde o industrial tinha adquirido parte importante das obras da sua colecção.

Andriesse terá acreditado que Hoffmann - um alemão - conseguiria recuperar o seu tesouro. Confiou-lhe um pedido de ajuda. Queria que ele resgatasse da Bélgica os quadros, as tapeçarias e os tapetes.

O alemão mostrou-se interessado em ajudar e extorquiu todas as informações que pode. Depois dirigiu-se ao Cônsul Alemão em Lisboa e fez a denúncia: o museu nacional belga guardava a colecção particular de um judeu.

Estranhamente nada aconteceu…

Mas em Agosto de 1941 Hoffmann foi preso em Berlim e, durante o interrogatório, voltou a denunciar a existência dos quadros. Garantiu que eram mais de 60, entre eles “A Jovem” De Rembrant, para além de telas de Ticiano, Salomon e Ruysdael.

Mostrou-se também disponível para ajudar na sua identificação, pois conhecia-as do tempo em que negociara com Andriesse na Katz, em Paris. Assegurava também que o chauffeur do empresário - que conhecia apenas como Jean – ajudara a esconder a colecção e, com “um incentivo financeiro”, não teria problemas em dar uma ajuda na sua recuperação.

Em Outubro os alemães começaram a interrogar e a pressionar os responsáveis do Musee Cinquantenaire. Estes agarravam-se às promessas Andriesse. Se após a morte do empresário iriam herdar as pinturas eram legítimos proprietários do estava encerrado nos seus abrigos antiaéreos.

De pouco serviram as questões levantadas. O chauffeur ajudou a identificar as caixas que pertenciam ao ex-patrão e a meio de Dezembro foi tudo confiscado pela Unidade Especial Rosenberg (Einsatzstab Reichsleiter Rosenberg ou ERR) encarregada por Hitler de cuidar das questões culturais da Alemanha.

Esta unidade especial seria responsável pelas maiores pilhagens da guerra, devidamente registadas e catalogadas. Num documento de 1944, encontrado mais tarde pelos americanos, a ERR assegurava orgulhosamente, ter “salvo para a Europa” quase 30 mil peças de arte entre quadros, esculturas, tapeçarias, pratas, ouros, loiças, livros e muito mais. Parte deste saque nunca seria recuperado…

A colecção de Andriesse era constituída por cinco tapeçarias e 17 tapetes orientais antigos, para além de 28 quadros encerrados em caixas especiais. Entre estes encontravam-se, para além dos autores já referidos, também um Netscher, um Goyen e um Cuyp.

Andriesse viria a morrer em Nova Iorque, em 1942 e não voltaria a ver os seus quadros. Depois da guerra o Museu Cinquantenaire e familiares deram início ao processo de recuperação das obras de artes. Setenta anos passados, algumas nunca reapareceram.


Na arte do negócio

Há poucas certezas sobre a quantidade e a qualidade das obras de arte que circularam pelo país durante a guerra, até porque, como se viu, era importante manter a discrição para evitar o apetite dos nazis e dos seus protegidos.

Pela capital portuguesa circularam centenas, senão milhares, de pinturas, esculturas e outras peças artísticas. Para muitos refugiados, equivaliam a um seguro, uma garantia de dinheiro rápido em caso de emergência, razão porque encontravam facilmente lugar na bagagem, mesmo quando esta era de magro porte.

Talvez por isso podiam-se encontrar, em Março de 1942, diversos quadros de Hooch, Brueghel, Van Goyen, Tiepolo Diaz, Troyon, Whistler, Potter e Liebermann nas mãos da empresa Eco Trading, sedeada em Lisboa.

A informação - contida num relatório do Ministério dos Negócios Estrangeiros Britânico, elaborado em Abril de 1945 - adianta que a companhia justificou a propriedade com a aquisição de algumas pinturas em “leilões e lojas de antiguidades de Lisboa”, enquanto outras pertenciam ao refugiado judeu alemão, Wilhelm Artmann, um dos milhares que tinham chegado a Portugal após a invasão da França.

Negociante de arte comprara os Liebermann em Berlim quando Hitler mandara retirar de todas as galerias públicas os trabalhos de artistas judeus. Outros sete quadros tinham sido comprados no Luxemburgo e mais quatro ou cinco já em Lisboa.

Ainda em Portugal, um outro refugiado chamado Adolph Weiss tinha à venda um conjunto de tapeçarias e um tríptico. Fora cônsul de Portugal em Viena, na Áustria, durante 25 anos, mas por ser judeu tivera de fugir depois da anexação do seu país, estabelecendo-se no Estoril.

Assegurava que as obras lhe tinham sido entregues pelo Arquiduque Frederico da Áustria em pagamento de uma dívida. As autoridades britânicas e americanas suspeitavam, no entanto, que estas eram pilhadas, facto que “talvez” Weiss desconhecesse.

Em 1944, o ex-cônsul propôs ao Governo de Salazar a compra das sete tapeçarias. Retratavam a “história de Esther” e teriam sido oferta de casamento da rainha francesa Maria Antonieta à Irmã, Maria Cristina, no século XVIII.

O Governo português não se terá interessado pela proposta e o mesmo aconteceu, mais tarde, com o Governo britânico. O tríptico foi oferecido a uma galeria britânica, mas também aqui se gorou o negócio.

A única proposta concreta para a aquisição das tapeçarias terá vindo do Governo de Vichy, que terá adiantado 55 milhões de Francos pelas tapeçarias, mas estas nunca lhe chegaram às mãos.

O intermediário neste negócio era Antonio Pacetti, uma das muitas figuras intrigantes que passaram por Lisboa. Era suspeito de ser um agente do eixo envolvido no tráfico de obras de arte, e, em 1945, vivia na Suíça, enquanto estava sob investigações dos vencedores da guerra.

Curiosamente Pacetti apresentava-se, no pós-guerra, como vendedor das tapecçarias, não sendo claro se o fazia em nome pessoal ou em representação de Weiss, pois ambos – aparentemente - se diziam donos das peças e, tanto um como outro, procuravam clientes americanos para vender as vender por muitos “milhões de dólares”.

Carlos Guerreiro

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Lisboa na guerra das artes

Durante a Segunda Guerra Mundial centenas de obras de artes passaram por Lisboa nas mãos de refugiados ou negociantes de todos os tipos, entre eles vários suspeitos de ter perigosas ligações aos nazis.


Pelo porto da Lisboa passou um lote  de quinhentos quadros que foi apreendido pelos britânicos. Por lá passou também um Van Gogh que foi comprado por um actor de Hollywood e vale hoje vinte milhões de Euros.

Vários galeristas e negociantes de Lisboa estiveram também sob suspeita de vender obras de arte de origem duvidosa…

Na semana em que se anuncia a estreia do filme “The Monuments Men – Caçadores de Tesouro”, de George Clooney, o “Aterrem em Portugal!” foi descobrir histórias do mundo da arte em Lisboa durante a Segunda Guerra Mundial.

Da análise de documentação americana e britânica foi possível encontrar algumas histórias que vão ser contadas ao longo de quatro artigos. O primeiro já amanhã, quarta feira. O próximo na sexta e os restantes na quarta e sexta-feira da próxima semana.

Confesso que algumas destas histórias me surpreenderam, mas não prometo revelações bombásticas, apenas alguns momentos interessantes.

Até amanhã… numa Lisboa mergulhada na guerra das artes.

Carlos Guerreiro

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Dia Mundial da Rádio…

No dia Mundial da Rádio o “Aterrem em Portugal!” deixa-lhe algumas das vozes – e das caras – dos que fizeram a história da rádio portuguesa.

Na edição de 27 de Novembro de 1943 a revista “Século Ilustrado” trazia uma reportagem onde apresentava ao público as vozes da Emissora nacional…

Deixo a sintonia de 1943...








Desejo a todos um bom dia da Rádio…


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Cordão humano para salvar casa de Aristides de Sousa Mendes

O impacto negativo dos recentes temporais na antiga casa de Aristides de Sousa Mendes, em Cabanas de Viriato, levou um grupo de pessoas a organizar um cordão humano, em 6 de Abril, com o objectivo de recordar ao governo as promessas feitas no ano passado e que apontavam para a recuperação do edifício.

Os organizadores criaram no Facebook uma página de eventos onde divulgam aspectos da iniciativa. 
Pode consultar a página AQUI.

“O Inverno tem sido catastrófico, parte do telhado ruiu e a casa está cada vez mais próxima da ruína. Queremos desta forma recordar ao poder político que foram prometidas obras para Setembro, mas que até agora nada aconteceu”, explicou ao “Aterrem em Portugal!” António Gallobar, um dos promotores da iniciativa.

Para além de uma página de Facebook dedicada a Aristides de Sousa Mendes, que conta com mais de 11 mil seguidores, a divulgação do cordão humano está também a ser feito nas redes sociais numa página de eventos, onde cerca de 400 pessoas já prometeram estar presentes.

António Gallobar diz que “a casa é visitada por muita gente, muitos deles estrangeiros, e o que está a acontecer deixa uma imagem de desmazelo do país que não se compreende”.

Os organizadores temem que o prolongamento do Inverno cause ainda mais estragos, tornando insuficiente a verba de cerca de 300 mil euros que foi anunciada pelo Governo no ano passado.

Carlos Guerreiro

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O Postalinho...
Esta bomba pesa 900 Kg


É um postal com um desenho criado claramente com o objectivo de ser utilizado pela propaganda britânica, numa altura em que se tornava importante a afirmação do Comando de Bombardeiros no quadro da guerra aérea.

Em 1940 a batalha de Inglaterra tinha sido seguida por todo o mundo com muita atenção. Soara a primeira grande derrota das forças alemãs, mas os pilotos dos caças da RAF tinham ficado com todas as glórias.

Um ano passado os ingleses tinham necessidade de mostrar que também eram capazes de atacar o inimigo pelo ar e destruir as suas casas e as suas fábricas.

Também precisavam de mostrar que tinham capacidade industrial para construir armas grandes e potentes. Um postal assim mostra tudo isso... Juventude e força.

Em Portugal, numa sociedade onde existia uma elevada taxa de analfabetismo, uma imagem deste tipo também fazia todo o sentido. Não são necessárias palavras para perceber a mensagem.

A verdade é que os bombardeamentos ingleses em 1941 são relativamente dispersos e, até certo ponto, ineficazes. São utilizadas algumas dezenas de aviões de aviões de cada vez e por vezes algumas centenas.

A partir de 1942/ 43 começam a regista-se grandes mudanças quando "raids" de mil aviões começam a cruzar os céus alemães para realizar bombardeamentos sobre as suas cidades.

Em 1941 este braço musculado era ainda uma miragem, mas era preciso mostrar força na fraqueza...

Carlos Guerreiro

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Livros
“Última Noite em Lisboa” de Sérgio Luís de Carvalho

É mais um novo livro de ficção sobre o Portugal da II Guerra Mundial. Segunda as notícias que vão surgindo em noticiário especializado da indústria livreira ele será lançado no próximo dia 19 de Fevereiro.

Ficaremos à espera.


Até lá, fica a sinopse oficial do livro de Sérgio Luís de Carvalho:

«A II Guerra Mundial vai no seu quarto ano. Numa Lisboa pobre, pacata e marialva, apenas os refugiados, as manobras militares da Legião Portuguesa e as filas que se começam a fazer à porta das lojas denunciam a existência de um distante e sangrento conflito.

Henrique é um jornalista que trabalha na revista A Esfera*, subsidiada pelos serviços secretos nazis, quando conhece a nova vizinha do lado, Charlotte, uma refugiada austríaca, cuja liberdade e antinazismo lhe vão abrir novas perspetivas.

Cada vez mais, Henrique sente-se entre dois mundos antagónicos. De dia, trabalha entre convictos nazis; à noite, está com Charlotte e com Maria Carolina.

O que Henrique desconhecia é que os segredos e os mistérios da vida de Charlotte implicariam uma escolha dramática para os seus destinos.

* Embora se tivesse mantido imparcial durante a II Guerra Mundial, o regime salazarista mantinha uma clara preferência. Provam-no os obstáculos à entrada de refugiados no país, sobretudo de origem judaica, e a autorização de publicações que assumiam o seu apoio aos países do Eixo. A revista A Esfera era uma dessas publicações.»

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Monumento para lembrar salvamentos portugueses em conferência on-line

O projecto de monumento para lembrar as acções dos portugueses que, durante a II Guerra Mundial, salvaram milhares de vidas, é o tema central de uma conferência on-line (um “webinar”), promovida pela Portuguese American Leadership Council of the United States (PALCUS) – uma entidade que reúne luso-americanos - e vai ter como orador o promotor da ideia, o britânico Michael Pease.


Para seguir esta conferência é necessário inscrever-se num site, o ”Palcus Webinar” que depois enviará a informação necessária para que todos os interessados tenham acesso às imagens.

Para obter mais informações pode-se também recorrer à página de facebook que está a promover a iniciativa. Com este sistema qualquer pessoa, desde que tenha assegurada uma ligação à internet, pode acompanhar a apresentação em tempo real.

Para os portugueses o único problema vai ser o horário. Michael Pease vai fazer hoje a sua apresentação entre as 8 e as 9 da manhã no fuso horário do Pacífico ou PST, o que para nós – que nos movimentamos em horário GMT – quer dizer que a conferência decorrerá entre as 16 e as 15 horas de quinta-feira.

Michael Pease vive há vários anos no Algarve e abraçou a ideia de colocar em Faro um monumento para recordar a acção dos pescadores e marinheiros portugueses que durante a 2ª Guerra Mundial salvaram milhares de náufragos do mar. A ideia surgiu depois de tomar conhecimento da história de três pescadores de Faro que conseguiram resgatar seis americanos quando o seu bombardeiro se despenhou ao largo da cidade em 1943.

Carlos Guerreiro

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014