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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

“A memória do Holocausto na Cultura Europeia”

Termina no dia 06 de Fevereiro de 2012 a inscrição para um curso avançado na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, denominado “A memória do Holocausto na Cultura Europeia”.




Trata-se de uma organização conjunta entre a Universidade Católica e a Memoshoá (Associação Memoria e Ensino do Holocausto) e tem como objectivo estudar o impacto histórico, político e social do Holocausto na Europa.

As aulas do curso realizam-se às quartas e quintas-feiras entre as 18.30 e as 21.30 horas, num total de 16 sessões, que começam a 8 de Fevereiro e terminam a 28 de Março.

Para saber mais sobre o curso pode contactar Helena Eça, no telefone 217 214 060 ou através do e-mail helena.eca@fch.lisboa.ucp.pt .

Pode encontrar mais informação se clicar AQUI…

O Aterrem em Portugal deixa-lhe também o plano de estudos e os respectivos coordenadores:


>>>> Origens, contexto e natureza do anti-semitismo

Coordenadores: Esther Mucznik e Pe. Peter Stilwell

. Deus, os judeus e a história

. O anti-semitismo: um fenómeno único de longevidade

. Ruptura das confissões cristãs e do magistério da Igreja Católica com o anti-semitismo na 2ª metade do século XX.

. O anti-semitismo hoje: passado ou presente?


>>>> A Alemanha Nazi: paroxismo anti-semita e "banalidade do mal"

Coordenadores: José Miguel Sardica e Ana Paula Rias

. O Zeitgeist da Europa finissecular: imperialismo, nacionalismo, irracionalismo, pessimismo, darwinismo e racismo.

. A racialização do anti-semitismo na cultura do II Reich alemão: Deutschtum versus Judentum (1871-1918).

. A politização do anti-semitismo na República de Weimar: o choque do pós-Guerra ("Dolchtosslegende") e o abismo sócioeconómico de 1918-1923.

. As origens e a ascensão de Adolf Hitler: a adolescência vienense, o heroísmo da guerra, o orador revolucionário e o putschista do Völkish ariano.

. A nacionalidade e a raça no Mein Kampf: o judeicídio anunciado.

. A crise da República de Weimar: a segunda metade dos anos 20, o impacto do crash de 1929 na Alemanha e a progressão eleitoral do Partido Nazi.

. O triunfo da vontade hitleriana: a conquista da Chancelaria, o incêndio do Reichstag e o Acto de Habilitação.

. A Weltanschauung nazi e o anti-semitismo como programa de governo (1933-1939).

. As Leis Raciais de Nuremberga de 1935 e a legalização da violência anti-semita.

. Calúnias e boicotes, perseguições e pogroms: a Reichkristallnacht de 1938 e a popularização da violência anti-semita.


>>>> A guerra e a destruição dos judeus europeus

Coordenadores: Ricardo Presumido e Adérito Tavares

. A II Guerra Mundial e a ocupação da Europa

. Inicio da "Solução final": Operação Barbarossa, a Conferência de Wannsee e a escalada do Holocausto

. O processo da "Solução final": organização, estrutura e desenvolvimento

. Geografia do extermínio

. A Europa e o mundo face ao Holocausto



>>>> Propaganda nazi e cultura popular: Entre Goebbels e Der Stürmer

Coordenadores: Isabel Gil e Teresa Seruya

. A cultura popular e a mediatização do estereótipo: arquitectura, imprensa, imagem e cinema ao serviço do nazismo

. A arte moderna e a modernidade conservadora: A arte degenerada.

. ‘Onde se queimam livros...' (Heine): Os autores malditos do III Reich, exílio, morte e imigração interior.

. Estudo de caso: Leon Feuchtwanger e o caso Jüd Süss.



>>>> Memória e esquecimento: debates actuais

Coordenadores: Esther Mucznik e Isabel Gil

. Memória e identidade - O lugar do Holocausto na sociedade europeia

. Holocausto ou Holocaustos: aspectos universais e singulares do Holocausto

. A Musealização da memória: Museus, esculturas e memoriais

. A representação do Holocausto na literatura e nas artes plásticas (exemplos representativos de Paul Celan e Primo Levi a Anselm Kiefer).

. Banalização, revisionismo e negacionismo



>>>> O Holocausto em testemunhos: vítimas, carrascos, libertadores e observadores

Coordenadores: Ricardo Presumido, Isabel Gil

. Testemunho, autenticidade e ficção.

. O lugar do testemunho na memória do Holocausto.

. O discurso do sobrevivente: Colaboração do Yad Vashem e da Spielberg Foundation.



>>>> Portugal durante a guerra

Coordenadores: Irene Pimentel, António Matos Ferreira

. A questão religiosa e anti-semita: a Republica, o Estado Novo e os Judeus

. Política de neutralidade e política de fronteiras

. Refugiados: os que ficaram e os que partiram

. Papel das organizações judaicas e dos Justos portugueses

. Atitude do Estado Novo: os casos do repatriamento dos judeus portugueses e dos judeus da Hungria

. Atitudes da "opinião pública" portuguesa



>>>> Mesa redonda - Holocausto na consciência europeia

Moderação: Isabel Gil

Participantes: Rui Ramos, Manuela Franco, Esther Mucznik, Joachim Bernauer, Richard Zimler



>>> Visita de Estudo - Espaço Memoria dos Exílios

Coordenação: Ricardo Presumido e António Carvalho (CMC)

Exposição "O Holocausto Visto pelas Crianças".



Boas aulas...
Carlos Guerreiro



segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Algumas perguntas a Patricia Martinez di Vicente



Patricia Martinez di Vicente publicou em 2010, em Espanha, “La Clave Embassy”, um livro que recorda a história do pai, um médico de Madrid, que durante a II Guerra Mundial construiu um rede que se encarregava de passar, de forma clandestina para Portugal, detidos no campo de concentração espanhol de Miranda del Ebro.

Nesse campo – que funcionou até 1943 – as autoridades espanholas reuniam refugiados, apátridas e até militares dos países beligerantes – especialmente dos aliados.

O pai de Patrícia, o médico Eduardo Martínez Alonso, passou atestados médicos falsos que permitiram a libertação de muitos destes detidos, e ainda montou um sistema de fuga que passava pelo norte do país.

“La Clave Embassy” foi editado por “La Esfera”. Não existe uma tradução portuguesa, mas pode-se adquirir um exemplar em http://www.amazon.es/ por cerca de 23 Euros. 

A descoberta desta parte da história familiar ficou a dever-se a um diário de Eduardo que a filha acabou por descobrir já depois da sua morte. Patricia Vicente completou a investigação consultando a mãe – a sua principal fonte de informação – e também os arquivos britânicos, que mantêm um ficheiro sobre este seu agente do Special Operation Executive (SOE).

No final da guerra Eduardo Martínez Alonso recebeu a “King George Medal for Courage” do Reino Unido e também a Cruz de Ouro polaca, pois muitos dos que ajudou a escapar de Miranda del Ebro eram desta última nacionalidade.

Aterrem em Portugal: Quem era e o que fazia o seu pai?

Patricia Martinez di Vicente: O meu pai era um médico espanhol que trabalhava para a cruz Vermelha espanhola e na Embaixada britânica em 1939, quando rebentou a II Guerra Mundial. Tinha estudado medicina em Liverpool e em Madrid sendo completamente boolingue em inglês e em espanhol. Tinha uma casa de solteiro em Madrid e uma casa de família em Redondela, a 15 quilómetros de Vigo.




O pai, a mãe e Patrícia de Vicente numa foto nos 
anos 40. 







Aterrem em Portugal: Como se apercebeu que o seu pai tinha estado envolvido em actividades dê espionagem durante a II Guerra Muandial?

Patricia Martinez di Vicente: Desde muito cedo intuí que os meus pais não tinham ido em “lua-de-mel” a Londres em 1942, regressando a Madrid em 1946.

Tinha de haver mais qualquer coisa. Sempre tive amigos ingleses e até aos anos 60 sempre recebemos visitas de gente da embaixada britânica em Madrid. Nós vivíamos mesmo em frente.

O que me fez suspeitar dói a sua longa presença em Londres onde eu também nasci. Não pensavam em voltar e não era culpa de Franco, mas sim dos nazis.

Quando terminou a II Guerra Mundial, acabaram os problemas e por isso voltaram.

Aterrem em Portugal: Há um diário que foi importante para perceber o que ele fazia como o fazia?

Patricia Martinez di Vicente: Sim o diário está em meu poder e é importante por causa dos nomes que aparecem. Encontrei-o durante uma mudança de casa em Madrid durante o ano de 1986 e graças à minha mãe, consegui perceber a qual pertenciam aqueles nomes.

Mapa da fronteira, na zona de Tui, desenhado por Eduardo Martínez Alonso. A sua rota clandestina passava por aqui. 

Aterrem em Portugal: que outras investigações fez e onde as fez?

Patricia Martinez di Vicente: Sou antropóloga social. Licenciada em estudos latino-americanos pela Universidade de Portsmouth, em Inglaterra.

Fui ajudante do professor Julian Pitt-Rivers, durante 15 anos em Espanha m festas populares e taurinas. Nada tem a ver com este tema, mas aprendi com ele a rebuscar arquivos.

A minha principal fonte de informação foi a minha mãe e o diário do meu pai. Também os “Public record’s Office de Londres (em Kew) que estão abertos ao mundo.

A actividade do meu pai no SOE – provavelmente um dos primeiros activos em Espanha – não aparece em nenhum arquivo espanhol e tenho dúvidas que aparece noutro qualquer do mundo, mas o britânico tem pelo menos 200 páginas dedicadas a ele e às suas actividades.




Eduardo Martínez Alonso 
e a mulher em Lisboa. 





Aterrem em Portugal: Como funcionava a rede em que esteve envolvido o seu pai?

Patricia Martinez di Vicente: O meu pai actuava directamente em ligação com a embaixada britânica em Madrid e por isso não pertenceu a nenhuma rede.

Foi  um sistema particular de resgate e evacuação de presos de Miranda del Ebro – com saída através da nossa casa na Galiza.

A certa altura teve de fugir – recém-casado com a minha mãe – e daí vem a conversa da lua-de-mel em Janeiro de 1942, perseguido pela Gestapo.

Essa fuga nada teve a ver com Franco ou com anti-franquismo. Ela era franquista, democrata, liberal e monárquico.

Carlos Guerreiro 

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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Três portugueses no centro da tragédia

No dia em que se comemora o “Dia Internacional do Holocausto” recordam-se também, numa exposição, as acções e três portugueses que em períodos diferentes da II Guerra Mundial se envolveram no salvamento de milhares de pessoas – a maioria judeus – que de outra forma teriam morrido às mãos de Hitler.

Aspecto da exposição sobre os três diplomatas portugueses.
(Foto: Hugo Araújo/J.F. dos Anjos)

Numa iniciativa da Junta de Freguesia dos Anjos, em Lisboa, encontra-se na sede do Conselho Distrital da ordem dos Advogados (Rua dos Anjos, 79), uma exposição documental com o nome “Vidas Poupadas – A Acção de Três Diplomatas portugueses na II Guerra Mundial”. Os três diplomatas são Aristides de Sousa Mendes, Sampaio Garrido e Teixeira Branquinho.


A história do primeiro é talvez a mais conhecida. Na exposição vai ter oportunidade de ver cópias dos documentos que foram trocados entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros e o cônsul de Bordéus durante o curto período em que passou milhares de vistos a estrangeiros, contra as ordens do Governo português. Também lá estão a nota de culpa do processo disciplinar, as inquirições, autos diversos, cartas e toda a documentação oficial relacionada com o caso.




Sampaio Garrido (ao lado).





Após a inauguração da exposição foi também descerrada uma placa em memória de Sampaio Garrido, junto à Delegação Distrital da Ordem dos Advogados.
(Foto: Hugo Araújo/J.F. dos Anjos)

Por desrespeitar as ordens Sousa Mendes seria expulso da carreira diplomática, sendo reabilitado apenas depois do 25 de Abril. Pelos seus actos Sousa Mendes foi agraciado, em 1967, com a medalha dos justos pela instituição israelita Yad Vashem.

Até 2010 seria o único português a ver atribuída uma medalha e uma árvore com o seu nome no museu do holocausto. Nesse ano também Sampaio Garrido seria distinguido pela sua acção na Hungria em 1944, quando conseguiu – com a colaboração posterior  de Teixeira Branquinho – salvar cerca de um milhar de judeus húngaros que de outra forma teriam certamente sido deportados para campos de concentração.

A história destes dois homens é menos conhecida mas foi recuperada em 2008 numa grande reportagem  dos jornalistas Sofia Leite e António Louçã, que passou na RTP. O trabalho viria receber o mais alto galardão atribuído a um trabalho jornalístico – o Prémio Gazeta…

Aproveite o fim de semana e conheça um pouco da nossa história, numa reportagem excelente…

“A lista de Chorin” – reportagem RTP – parte 1

“A lista de Chorin” – reportagem RTP – parte 2

Já agora sugiro que tentem levar para casa o catálogo da exposição. É um documento que faz um resumo muito interessante da vida e do trabalho dos três homens...

Um bom fim de semana
Carlos Guerreiro



quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Conferência sobre Portugal e o holocausto

O papel de Portugal durante o holocausto e a II Guerra Mundial são tema de uma conferência internacional que deverá reunir no nosso país investigadores portugueses e americanos. O anúncio foi feito pelo Embaixador Americano em Lisboa, Alan Katz, que adiantou já existirem contactos com universidades, instituições e investigadores americanos e portuguesas para avançar com esta iniciativa, provavelmente, durante o próximo Outono.


Qual o papel de Portugal na II Guerra Mundial e durante o holocausto. Este é o tema que deverá servir de pano de fundo para uma conferência internacional que vai ser organizada pela Embaixada dos estado Unidos em Lisboa.

“A forma do mundo se proteger de situações semelhantes é saber o máximo sobre o que se passou”, explicou à Antena 1 Alan Katz, para quem o tema tem um significado pessoal. O pai, com 18 anos, esteve internado no campo de concentração de Buchenwald, antes de ser deportado e escapar para os Estados Unidos. Também a tia esteve internada em Aushwitz, onde perdeu o marido, enquanto a filha era escondida por holandeses até ao fim do conflito.

O anúncio da conferência aconteceu durante a inauguração de uma exposição, na sede da ordem dos advogados em Lisboa, dedicada à acção de três diplomatas portugueses durante a II Guerra Mundial: Aristides de Sousa Mendes, Sampaio Garr ido e Teixeira Branquinho.
A iniciativa, organizada pela Junta de Freguesia dos Anjos,em Lisboa, reúne uma série de documentos e fotografias onde é detalhada a actividade dos diplomatas. Cópias de telegramas trocados com Lisboa, relatórios, inquirições e autos diversos contam passo a passo o desenrolar dos acontecimentos que levaram ao salvamento de milhares de judeus e outros fugitivos em diferentes períodos da II Guerra Mundial.

Carlos Guerreiro

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Uma guerra acaba, outra se adivinha

Nos princípios de 1939 o semanário “Século Ilustrado”, conhecido pelas suas capas com rostos femininos, destacou dois momentos da actualidade. A 28 de Janeiro Francisco Franco espreitava, às portas de Barcelona, o fim da guerra civil espanhola e uma semana depois, a 4 de Fevereiro, era Hitler que olhava o mundo do alto do seu púlpito.




Franco às portas de Barcelona. Capa do “Século Ilustrado” de 28 de Janeiro de 1939.




Hitler discursa no sexto aniversário da subida ao poder na Alemanha do Nacional Socialismo. Capa do “Século Ilustrado” de 4 de Fevereiro de 1939.









No primeiro número os “clichés do correspondente particular” da revista, Enrique Gartner, sobre a ofensiva de Barcelona começam por ocupar as páginas centrais da publicação.

Franco está no centro da acção, rodeado de fotografias dos seus principais generais, da cidade, da frente de combate e também de “provas” da presença e das atrocidades dos “vermelhos”.

Estamos em vésperas da vitória total dos nacionalistas comandados por Franco o que, segundo o “Século Ilustrado”, “corresponde a dizer que a Espanha está prestes a ver-se (…) senhora dos seus próprios destinos (…) sem influências alheias à sua própria vontade”.


As páginas centrais (em cima) dedicadas à batalha de Barcelona. Em baixo, algumas imagens e o texto dessa página.







Mas o destaque dado à guerra de Espanha não termina nas centrais. Oito páginas mais à frente mostram-se fotografias de “milhares de prisioneiros de todas as raças feitos no assalto a Barcelona”.

A notícia refere que “entre essa mocidade não se encontram apenas espanhóis batendo-se contra os próprios irmãos. Há gente de todas as raças, novos e velhos, que o chamado governo de Negrin contratara para cumprir as nefastas e terminantes ordens de Moscovo”.

Página com “clichés” sobre os prisioneiros estrangeiros feitos às portas de Barcelona: “estrangeiros que sem a ideia de Pátria se batiam numa pátria que não era deles”.

Não há qualquer referência ao facto da agressão ter sido conduzida inicialmente pelos nacionalistas que desencadearam a guerra contra um governo eleito democraticamente. A intervenção dos Soviéticos e das chamadas brigadas internacionais, que trouxeram gente de todos os continentes para combater ao lado dos republicanos, são posteriores ao ataque que partiu de Marrocos em Julho de 1936.

Uma semana depois o grande destaque é o discurso de Hitler durante a comemoração dos seis anos da subida ao poder do partido Nacional Socialista. Um grande destaque para uma notícia que ocupa… meia página.

Só a tensão da hora justifica a importância dada ao discurso onde, garante o “Século Ilustrado”, o “Fuhrer” falou “claro, com senso e com calma, como homem que sabe as responsabilidades que pesam sobre os seus ombros”.



Em poucas linhas e meia página o “Século Ilustrado” conta os pormenores sobre o discurso de Hitler.

Em poucas linhas e meia página o “Século Ilustrado” conta os pormenores sobre o discurso de Hitler.
Setenta anos depois da publicação um olhar para as últimas linhas da notícia deixa uma estranha sensação: “Aos que esperavam que o fuhrer soprasse o clarim anunciador das grandes batalhas – o discurso de Hitler causou, possivelmente, decepção. Mas agradou e bem dispôs a todos que crêem que na estabilidade da Paz está a melhor maneira de os povos se engrandecerem e dignificarem!”

Oito meses depois as tropas alemãs cruzavam a fronteira polaca e davam os primeiros disparos naquela que viria a ser chamada a II Guerra Mundial…

Carlos Guerreiro

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

ESCAPARATE DE UTILIDADES: KODAK, “para agora recordar”

Ao fim de 133 anos de história a Kodak anunciou, nos Estados Unidos da América, a falência. Por enquanto é apenas uma forma de evitar a pressão dos credores, mas o futuro desta grande marca é sombrio.

A afirmação da Kodac como líder na produção de película – para fotos e para filmes – vem de longe. Eram basicamente o tipo de empresa ideal, pois controlavam toda a cadeia de produção. Faziam as películas, os químicos que as revelavam, o papel onde os negativos das películas eram reproduzidos e também os químicos para os tratar. Pelo meio ainda construíam máquinas fotográficas e de filmar…

O mundo digital afundou este império que tem lutado, nas últimas décadas, para se manter a par da tecnologia e da preferência dos consumidores.

O “Aterrem em Portugal” reviu alguma da imprensa portuguesa e encontrou também uma forte presença publicitária da Kodak, no Portugal do período da II Guerra Mundial… são alguns momentos para “agora” recordar.



Em todas as condições de tempo a Kodak a garantir sempre “boas fotografias”. As películas foram sempre o principal mercado da empresa. 
(Publicação “Mundo Gráfico”, 18-10-1942, e “O Século” 07-09-1940)



A “Kodak” a abrir portas para o mercado amador. 
(Publicação “Diário de Lisboa”, 14-09-1943) 



Em 1940 Portugal comemorou o ano dos centenários, uma alusão à restauração e outras datas fundadoras. A Kodak associou-se à iniciativa com uma dupla promoção. Máquina fotográfica e três rolos por 65 escudos (cerca de32.5 Euros). Uma forma de acompanhar a exposição do Mundo Português. 
(Publicação “O Século”, 03-06-1940) 


E porque o mundo estava em movimento a Kodak também estava. Para melhor lembrar “casamentos e baptizados” ou os “os gestos e as atitudes” de quem nos é querido. Ainda por cima é fácil, assegura a empresa na apresentação da sua máquina de filmar com película de oito milímetros.
(Publicação “O Século”, 10-06-1940) 


Para manter as boas memórias
Carlos Guerreiro

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Procuram-se "fugitivos" de Sousa Mendes

A Fundação Sousa Mendes, com sede em Seattle, começou uma busca pelos milhares de anónimos que foram salvos por Aristides de Sousa Mendes. A campanha começou no dia 9 deste mês, e foi lançada no site da instituição.

Aparecem também os nomes de algumas pessoas ou famílias que foram salvas pela acção do Cônsul português de Bordéus, que em 1940 passou, contra as ordens do Governo,  milhares de vistos a refugiados que queriam chegar a Portugal.

 Aristides de Sousa Mendes e a família. 
(Foto Sousa Mendes Foundation)

O "link" para a página da "SOUSA MENDES FOUNDATION" está AQUI.


Fica também a notícia publicada pelo "Diário Digital" ...


terça-feira, 17 de Janeiro de 2012 | 15:34

Iniciada busca global por milhares salvos por Sousa Mendes


O mérito do diplomata português Aristides Sousa Mendes, que durante a Segunda Guerra Mundial salvou do Holocausto mais de 10 mil judeus e outros refugiados que fugiam de França, está finalmente a ser reconhecido a nível internacional. Assim, foi lançada uma busca global para encontrar pessoas salvas por «um dos grandes heróis anónimos» daquele tempo, como é descrito pelo escritor canadiano Peter C. Newman, segundo o jornal National Post.
Newman, que várias vezes enalteceu o «herói» e «dissidente» Sousa Mendes, afirma que este ajudou a sua própria família a fugir às câmaras da morte nazis.

Sousa Mendes, que na época era cônsul em França, nunca recebeu o tipo de atenção dada a Oskar Schindler, o industrial alemão que salvou mais de mil judeus do Holocausto dando-lhes emprego nas suas fábricas.

Enquanto o filme «A lista de Schindler» - que ganhou um Oscar em 1993 apontou os focos de Hollywood para aquela história, as «corajosas» ações de Sousa Mendes para ajudar 10 mil judeus e outros refugiados a fugir de França em 1940 – o número pode ser o dobro, ou mais – permanecem desconhecidas, disse Harry Oesterreicher, porta-voz da Fundação Sousa Mendes, sedeada em Seattle.

Enquanto alguns dos que receberam os «vistos salva-vidas» estão identificados – como figuras notáveis como o pintor espanhol Salvador Dali e os autores de «Curious George», Hans e Margret Rey — milhares de outros refugiados nunca souberam quem lhe abriu caminho para a liberdade e os seus descendentes continuam «no escuro», disse Oesterreicher.

Por essa razão, a organização anunciou o que designa como «uma busca sem precedentes por refugiados» que receberam vistos de Sousa Mendes em Junho de 1940, apesar de ter ordens estritas do governo português para não o fazer.

A «desobediência» valeu-lhe um julgamento em Portugal, tendo sido «severamente punido», salientou.
Aristides de Sousa Mendes morreu em 1954 «na pobreza e oficialmente em desgraça, praticamente apagado da história», disse ainda.

Newman, nascido na Áustria, tinha 11 anos quando fez, juntamente com a sua família, uma dramática tentativa para emigrar para o Canadá, fugindo aos horrores da guerra. Na sua auto-biografia «Here Be Dragons», publicada em 2004, contou como o «esquecido santo» Sousa Mendes foi a chave para a sua bem sucedida fuga de França, no início da invasão alemã, acabando por conseguir chegar ao Canadá.

«Lisboa não aceitava judeus», escreveu Newman, «mas esta ordem foi ignorada por (. . .) Sousa Mendes, um católico devoto com uma atitude iluminada que decidiu ajudar os apavorados refugiados com um gesto humanitário».


Uma boa busca...

Carlos Guerreiro

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A rede de fuga das três irmãs

A reportagem é de um estação televisiva da Galiza - a V Television, ligada ao jornal La Voz de Galicia - e conta a história de três mulheres que esconderam e ajudaram Judeus a escapar para Portugal durante a II Guerra Mundial.

A reportagem deixa muitas questões em aberto, mas as autoras dos feitos nunca quiseram que o tema fosse tornado público enquanto fossem vivas...




Cumprimentos
Carlos Guerreiro

domingo, 15 de janeiro de 2012

A historia dos Red Tails

Não tem ligação a Portugal, mas é parte da história da aviação na II Guerra Mundial.

O filme sobre os "Red Tails" estreia ainda este mês. Conta a história da primeira esquadrilha de aviadores negros da Força Aérea Americana...

Já agora o filme - e não os acontecimentos - tem uma ligação ao nosso país. A actriz Daniela Ruah é uma das actrizes que faz parte do elenco...

Fica a publicação do "Diário de Notícias", vários trailer's de apresentação, um pequeno resumo de sete minutos e um "making of...


Cinema 
George Lucas prepara filme sobre aviadores negros 
 por Alexandre Elias 

Cuba Gooding Jr., Terence Howard e Daniela Ruah são alguns dos atores que protagonizam o novo filme de George Lucas, 'Red Sails', que conta a história verídica do primeiro esquadrão da força aérea norte-americana totalmente composto por pilotos e técnicos afro-americanos.

A história dos Tuskegee Airmen, que tiveram um papel fundamental em várias ações de combate da Segunda Guerra Mundial, esteve segundo o realizador e produtor mais de 20 anos em limbo devido à hesitação dos estúdios de Hollywood, que (disse Lucas recentemente no programa 'Daily Show', de Jon Stewart) "não sabiam como colocar um filme destes no mercado".

"[Os estúdios e distribuidoras] não acreditam que exista algum mercado para estes filmes", disse o realizador, apontando o exemplo contraditório dos filmes de Tyler Perry (que assinou por exemplo 'Porque é que me Casei?'), realizador negro autor xde vários sucessos comerciais, mas ainda assim relegado para segundo no meio cinematográfico, segundo Lucas.

O realizador investiu já 45 milhões de euros no novo filme do seu próprio bolso (mais 27 milhões para distribuição), que chega às salas americanas já no dia 20.

Trailer 1

Trailer 2 Trailer 3

7 minutos de Filme O "Making of..."

Uma boa ida ao cinema...
Carlos Guerreiro

domingo, 8 de janeiro de 2012

Desastre no Tejo

O avião estava sobre o Tejo quando um dos motores se incendiou. O piloto tentou realizar a amaragem mas não conseguiu. Testemunhas garantem que se registou uma explosão antes do avião tocar na água, outras asseguram que ele se esmagou contra o rio, e só depois se desintegrou.

Reconstituição do acidente publicada no jornal "Século Ilustrado". Desenho de Rodrigues Alves.
(Século Ilustrado, Arquivo Distrital de Portimão)

Eram 10.33 horas da manhã do dia 9 de Janeiro de 1943. Menos de cinco minutos depois a maior parte dos destroços afundavam-se arrastando consigo vários tripulantes e passageiros.

O radiotelegrafista britânico Uttley teve sorte. Foi cuspido da cabine, provavelmente através de uma vigia existente no topo da cabine e, fora uns arranhões, ficou ileso. Foi recolhido pelo rebocador “África”, que interrompeu o serviço quando se apercebeu do acidente. A tripulação comandada pelo mestre Berardo Pedro, também retirou da água António Chamiço Heitor, gravemente ferido mas que conseguiria sobreviver ao acidente.

Ainda vivo foi também recolhido Júlio de Sousa, proprietário de dois automóveis que faziam serviços para a British Overseas Air Corporation (BOAC). Os tripulantes de uma lancha da Pan American Airways retiraram-no da água e tentaram mantê-lo a respirar com “flexões de estilo”, mas sem resultado. Quando chegaram a terra estava morto.

Mais ninguém se salvou. Cinco corpos foram recolhidos por outro rebocador e barcos de pesca. A imprensa conta desta forma a operação de resgate. Um relatório da PSP apresenta pequenas diferenças especialmente, no que refere ao “Àfrica”. Reconhece apenas que terá retirado do rio um dos dois sobreviventes.

Certo é que dois homens chegaram com vida ao Aeroporto Marítimo de Cabo Ruivo e cinco corpos – 3 mulheres e 2 homens – deram entrada na morgue.

Por encontrar ficaram oito pessoas que também tinham embarcado no hidroavião Sunderland, com a matrícula G-AFCK, baptizado como “GOLDEN-HORN”.

O trágico voo tinha começado cerca de 40 minutos antes como um simples teste mecânico. Desde o dia 28 de Dezembro que o aparelho se encontrava na doca de Cabo Ruivo à espera de um novo motor. As avarias na frota da BOAC eram uma constante, mas nem sempre tão graves. A 6 de Janeiro chegou o novo motor, e três dias depois estava instalado e pronto para o teste.






Fotos de algumas 
das vítimas do acidente. 
(Século Ilustrado, Arquivo Distrital de Portimão)





















As coisas não correram bem desde o inicio.

O respeito pelas regras da companhia e, das próprias autoridades portuguesas, ficaram esquecidas numa gaveta. Um voo deste tipo deveria contar apenas com a presença das pessoas essenciais.

A BOAC tinha regras muito rigorosas e o mesmo acontecia com as autoridades portuguesas, mas tudo indica que o piloto e os responsáveis locais da companhia ligavam pouco a regras.

Para bordo foram convidados diversos funcionários - portugueses e britânicos - da companhia. A esposa de um destes funcionários foi também e havia ainda gente com pouca ou nenhuma ligação à BOAC.

Maria Fernanda Paixão era uma jovem que trabalhava na Junta Nacional do Café; José Martins pertencia à Guarda Fiscal; Júlio de Sousa era motorista e proprietário de dois carros que prestavam serviço à British Overseas.

O desastre ceifaria a vida a quase todos e nos dias seguintes o comportamento da companhia em Portugal iria estar sob escrutínio.

Relatório demolidor 

Na sequência do acidente foi pedido um relatório à chefia local da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado – responsável por acompanhar os estrangeiros em Portugal - sobre o comportamento da BOAC, no Aeroporto Marítimo de Cabo Ruivo é pouco lisonjeiro.

Foto do Golden Horn. 
(Arquivo da revista Life)

A 12 de Janeiro de 1943, ao longo de duas páginas, o agente (não foi possível identificá-lo através da assinatura) da PVDE começa por descrever a frota da empresa, constituída por um Total de 12 hidroaviões, entre Boeing’s - com capacidade para 12 tripulantes e 55 passageiros – e Catalinas – com capacidade para 5 tripulantes e oito passageiros.

A actividade em Cabo Ruivo é tão intensa que, refere o relatório, “é frequente encontrarem-se nesta Base 6 e 7 aparelhos amarrados, (…) mais do que as bóias existentes, razão porque são muitas vezes requisitadas as 2 boias da Sacor, actualmente vagas”.

O número de funcionários também tinha cresceu durante a guerra, mas isso pouco contribuía para a qualidade do serviço que se encontra “em completa desorganização, sendo vulgar os passageiros estarem 2 e 3 horas e mesmo mais à espera do sinal de embarque,(..) muitas das vezes deitados sobre os bancos de madeira da sala de espera do Aeroporto, aguardando que os Capitães dos aparelhos se resolvam a sair”.

As observações negativas continuam. “Muitas são as vezes, que, já com os respectivos passageiros a bordo, e tudo pronto para a partida, as tripulações vão tomar mais um café, atrasando assim, ainda mais a partida, sem a menor consideração tanto para os passageiros, como para todos aqueles que trabalham no Aeroporto e cuja saída depende da largada dos aparelhos”.

“Outras vezes há que, sem motivo justificado e depois de tudo se encontrar a bordo e já o Avião ao largo, haver um motor avariado, ou então ser tarde para a largada, quando assim é, a culpa cabe apenas ao Capitão, que só embarca quando lhe apraz. Na ajustagem e rectificação dos motores, e segundo tenho sido informado, todo o pessoal trabalha, quer sejam os respectivos mecânicos, quer o pessoal das lanchas, etc…, o que dá em resultado por falta de conhecimentos, serem muitas as vezes em que nos aparelhos à hora da partida, se encontram deficiências, falhas de motores, etc., que impedem a saída, sendo retardada 24 horas”.

Um dos aparelhos esteve sete dias na doca sem razão aparente e, todas as noites, ali chegavam tripulantes e passageiros que eram aconselhados a voltar no dia seguinte.


Buscas difíceis 

Os jornais assumiram de imediato que os desaparecidos tinham perecido. No dia seguinte nenhum dos periódicos consultados refere sequer a existência de desaparecidos. Há apenas mortos encontrados ou por encontrar.


Imagens dos trabalhos de recuperação dos destroços, no caso a recolha dos motores.
(Século Ilustrado, Arquivo Distrital de Portimão)

As primeiras buscas tentaram localizar os destroços, uma operação difícil apesar do número de testemunhas. Foram necessárias várias passagens de dois rebocadores ligados por um cabo submerso para se ter a certeza onde estes se encontravam.
 
Para ajudar nos trabalhos chamaram-se dois mergulhadores profissionais com uma longa folha de serviços.

Os irmãos Jaime e Januário Almeida Lopes são descritos pelo “Diário de Lisboa” de forma épica: “O Jaime é curioso. Um verdadeiro gigante com 1”80 de altura e 107 quilos de peso. O pai era mergulhador e nunca fez outra coisa na vida. Ensinou-a ao irmão e assim ambos partilham fraternalmente da vida e da morte. Fala pouco. Dir-se-ia que o mistério das cavernas abissais do mar tornou mais sombria a sua alma. Nem um sorriso. O irmão também é uma torre, mas mais magro, e também calado como uma noite de naufrágio”.

Nas semanas seguintes foram retirados destroços e também vários corpos. Os funerais das vítimas encontradas logo após o acidente realizaram-se no dia 14, e assistiu-se a uma sucessão de funerais até meio do mês seguinte.

Quando a conversa à volta deste desastre começou a esmorecer o Tejo voltou a ser palco de uma tragédia área. A 23 de Fevereiro um aparelho da Pan Am falhava aterragem e também se desfazia nas águas do Tejo, causando quase o dobro de vítimas mortais. Mas essa é outra história (ver aqui)…

Carlos Guerreiro 

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domingo, 1 de janeiro de 2012

Um próspero ano novo

Espero que 2012 seja um bom ano para todos os amigos e leitores do “Aterrem em Portugal”.

Começo por agradecer todas as mensagens de apoio, com sugestões e com histórias deixadas no blog, na página do Facebook e no e-mail neste último ano. Já fiz novos amigos à conta desta experiência.

Registo com satisfação que desde Maio a média de visualizações mensais se fixou ligeiramente acima das mil. No último mês de 2011 chegámos às 1400 visualizações…


Foto e legenda do "Século Ilustrado" de 30 de Dezembro de 1939. 
(Arquivo Municipal de Portimão)

Não menos satisfatório foi o facto do número de seguidores ter duplicado neste ano.

Como contratempo apenas o desaparecimento da anterior página no "facebook" – pelo facto da rede social ter descontinuado as páginas mais antigas - onde já estavam associados meio milhar de pessoas.

Recomeçou-se do zero e, felizmente, temos vindo a crescer. Aos que continuaram e aos recém-chegados - um muito obrigado.

Capa de primeira edição do "Século Ilustrado" de 1942
(Arquivo Municipal de Portimão)


Espero continuar a levar a todos histórias da nossa história…

Um bom ano…
Carlos Guerreiro