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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Ano novo atribulado de Don Howell

Na manhã do dia 31 de Dezembro de 1943 aterrava de emergência, perto de Grândola, um bimotor Lockheed Hudson da Real Força Aérea Britânica.

Don Howell era o navegador deste avião que esteve envolvido num combate com aviões alemães, sobre Baía da Biscaia, onde viu um dos seus motores ser destruído.

Depois de muita troca de correspondência tive o prazer de o receber no Algarve no ano 2000. Uma madrugada arrancámos para a zona de Grândola em busca da sua história e, se possível, do local onde havia aterrado quase 60 anos antes.

Depois de algumas voltas que nos levaram até ao Rio Sado - muito longe do local onde tudo acontecera - voltámos para trás e conseguimos encontrar o rasto daquele pequeno momento em plena segunda Guerra Mundial.

Na aldeia da MUDA - a cerca de 20 quilómetros de Grândola - encontrámos testemunhas do incidente e também o local onde Don e os seus três companheiros realizaram a aterragem de emergência.

 Recuperámos várias peças de metal derretido enterradas na areia. O incêndio que destruiu toda a fuselagem "enterrou" na areia a confirmação do sítio.



Don Howell (à esquerda), com os irmãos Júlio e José Pereira  e ainda o filho de um deles perto da Muda, no local onde o avião do inglês aterrou de emergência no dia 31 de Dezembro de 1943.

Durante a sua visita a Portugal fiz pessoalmente um registo de imagens da viagem à Muda. A câmara foi-me emprestada pelo João Bispo e o meu desconhecimento sobre o funcionamento do equipamento resultou em imagens sobre-expostas que mesmo assim ainda consegui utilizar.

Felizmente pedi, posteriormente, a um amigo - o Jorge Belo - repórter de imagem profissional que me ajudasse a gravar uma entrevista em condições com o Don. Durante mais de uma hora o britânico respondeu a todas as minhas perguntas...

Agradeço tanto ao João Bispo como ao Jorge Belo a disponibilidade mostrada para me aturar...

Em 2007, durante a realização da disciplina de inglês na Universidade do Algarve, foi-me pedido para apresentar um vídeo - obviamente em inglês - sobre um tema à escolha.

A entrevista e as imagens de Don nunca tinham sido utilizadas. Propus aproveitar algum desse material.

O professor António Lopes abriu-me a porta a essa possibilidade e deixou claro que tinha grandes expectativas...

Espero ter correspondido...

O trabalho tem pouco mais de 20 minutos e está narrado no meu inglês nem sempre perfeito.

Tanto as declarações de Don como as testemunhas portuguesas são apresentadas tal como foram recolhidas. Peço desculpa a quem não entende inglês, mas não me é possível fazer tudo...

Nestes minutos Don conta apenas a sua aventura até à aterragem na Muda.


A sua experiência em Portugal, nas Caldas da Rainha e os seus contactos com os refugiados que ali se encontravam, ficarão para outra oportunidade...


Quando este vídeo foi editado já Don Howell não se encontrava entre nós. Fica o meu abraço para ele e para a família.

O aterrem em Portugal aproveita para desejar a todos os sues amigos e leitores um feliz 2012...

Um Abraço
Carlos Guerreiro
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sábado, 24 de dezembro de 2011

Desejos de um Bom Natal 2011

O "Aterrem em Portugal" deseja a todos os seus seguidores, amigos, leitores, enfim a todos os que passam por aqui um NATAL MUITO FELIZ.

Para ilustrar estes desejos ficam umas senhas de racionamento com o Bacalhau, a Massa e o Arroz devidamente levantados. Ingredientes para uma refeição de Natal, dentro do possível...



Para recordar outros tempos... (ou talvez não).

Um Bom Natal
Carlos Guerreiro

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Campanha de Natal

No “Aterrem em Portugal” é Natal durante todo o ano, razão porque oferecermos histórias do Portugal da II Guerra Mundial COMPLETAMENTE GRATUITAS.

Durante o próximo ano queremos oferecer mais histórias, a mais pessoas. Se ainda não o fez, junte-se a nós e “Partilhe” esta oferta com os seus amigos… diga-lhes para também fazerem um “Like” na nossa página do "Facebook".

E para entrarmos no espírito da época ficam alguns artigos do Boletim da Mocidade Portuguesa Feminina da edição de Dezembro de… 1940.



Uma capa muito prendada…



Uma crítica ao Natal “materializado e desvirtuado”, onde se “compra um pinheirito que, em vez de queimar-se ou plantar-se no quintal, se manda envasar na sala. Depois enfeita-se com luzes, ouropéis, vidrilhos, cromos, avelórios e bocadinhos de algodão em rama, que fingem neve que não cai…





(Para facilitar a leitura a página foi digitalizada em separado. Clique sobre ela para a ampliar.)



(Para facilitar a leitura a página foi digitalizada em separado. Clique sobre ela para a ampliar.)









“Foi S. Francisco de Assis, em 1223, que idealizou o presépio de que deu origem aos presépios de figuras que se espalharam pelo mundo inteiro”. A história do presépio nas páginas centrais...


(Para facilitar a leitura a página foi digitalizada em separado. Clique sobre ela para a ampliar.)

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“E agora que a guerra alastra, deixando rastos de sangue sobre a terra, cumpri bem o vosso dever.” O apelo de uma das filiadas na última página (contra-capa) da revista.


Ofereça pequenas grandes histórias aos seus amigos…


O "Aterrem em Portugal" deseja-lhe UM BOM NATAL!!

Carlos Guerreiro

sábado, 17 de dezembro de 2011

Uma "doce" herança da II Guerra Mundial

Os rebuçados Dr. Bayard são são mais um exemplo das "heranças" que ficaram no país após a II Guerra Mundial. Fica a reportagem de Rui Pedro Antunes no "Diário de Notícias"...

Amigos do peito há mais de sessenta anos
por RUI PEDRO ANTUNES
16-12-2011


Dr. Bayard. Numa pequena fábrica da Amadora são produzidas três toneladas de rebuçados todos os dias. A culpa é da II Guerra Mundial.

Os dedos franzinos de José António Matias, ainda criança, habituaram-se desde cedo a enrolar rebuçados com a cara Dr. Bayard. A história do agora proprietário e gerente da fábrica confunde-se com a dos famosos rebuçados peitorais. Os doces, no entanto, "já eram conhecidos" quando José António nasceu. Foi o pai, Álvaro Matias, quem construiu a pulso a marca Dr. Bayard.

Tudo começou com a Segunda Guerra Mundial. Em 1939, Álvaro trabalhava numa mercearia da capital, quando conheceu um farmacêutico francês refugiado em Lisboa: o dr. Bayard. O gaulês julgava ficar pouco tempo em Portugal, mas a guerra prolongou-se e Bayard encontrou em Álvaro um amigo que lhe facilitava o acesso à comida numa altura em que esta era racionada.

"O meu pai servia de cicerone e levava o casal Bayard a visitar Lisboa e as redondezas ao fim-de-semana", conta José António. Foi o início de uma grande amizade. Com o fim da guerra, os Bayard regressaram a França, mas não sem antes retribuir a delicadeza de Álvaro Matias.

Antes de partir, dr. Bayard deixou ao português uma receita de rebuçados num papel escrito à mão, ainda hoje guardada num local secreto pela família Matias. Álvaro não lhe pegou logo, continuando a trabalhar em mercearias e a fazer horas extras nocturnas para vender rebuçados nos bares dos cinemas lisboetas. "Foi aí que ele pensou: se posso vender rebuçados, porque não fazê-los? E decidiu tentar executar a receita do dr. Bayard, com a ajuda da minha mãe", explica José António.

(...)

Para ler o resto da notícia clique AQUI.

Boas leituras...
Carlos Guerreiro

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Memórias para o olhar

Pratos e cartazes podem não ter nada em comum, mas neste caso contribuem para perceber como a arte popular ou as enormes máquinas de propaganda acompanharam a II Guerra Mundial. Em Alcobaça e em Lisboa exposições reúnem peças que podem ser vistas até Fevereiro.


Mais de 200 cartazes, panfletos e filmes contam a história da propaganda de guerra dos vários países que participaram no conflito. Co-produzida pelo Museu do Caramulo e Museu Colecção Berardo, a exposição divulga material produzido pelos Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Japão e União Soviética.

Numa nota da organização pode ler-se que o cartaz “foi a principal forma de propaganda” durante a guerra, “pela facilidade de produção e de aplicação em qualquer local, permitindo que a mensagem estivesse sempre presente junto dos cidadãos, apelando a que dessem, produzissem e se sacrificassem”.








Unidos somos fortes...






... Vocês transportam os estandartes contra o bolchevismo...







... a caminho da Liberdade...







... Não vencemos sem elas...





Reportagem da Sic sobre a exposição «A Arte da Guerra - Propaganda na II Guerra Mundial» que pode ser vista até 8 de Fevereiro, todos os dias, entre as 10 e as 19 horas.


Estes trabalhos foram produzidos por agências governamentais ou artistas de nomeada dos vários países e incorpora já muito do que será a propaganda e a publicidade dos anos do pós-guerra: imagens fortes e frases ou slogans de fácil percepção.

Em Alcobaça, no Armazém das artes, encontra-se uma exposição ainda mais curiosa. São 31 pratos de uma colecção, produzidos pela Olaria de Alcobaça e que reproduzem - através de frases e quadras – distintos momentos da II Guerra Mundial.


«Pratos de Guerra – Pratos de Paz» pode ser visitada até 26 de Fevereiro, no Armazém das Artes em Alcobaça, de 2ª a 6ª entre as 11 e as 18 horas e durante o fim de semana, das 14 às 18 horas.


Aparentemente os pratos eram produzidos na olaria quase de forma clandestina, pois poucas pessoas pareciam ter conhecimento disso , sempre que se registavam momentos importantes do lado aliado – vitórias importantes ou invasões, por exemplo.



O número exacto destes “Pratos de Guerra - Pratos de Paz” é desconhecido, e os 31 presentes na exposição encontravam-se na posse de um particular.

Boas visitas!

Carlos Guerreiro

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

«Ministério das Propagandas» MILHÕES VOAM PARA COMBATER

São cerca de 20 páginas, onde os americanos atiram para a máquina de propaganda uma das principais armas do seu arsenal: o número de combatentes que podem colocar no campo de batalha.

Não é por acaso que este folheto associa esses números – 2 milhões – à arma que mais fascinava o mundo (e Portugal) na época: a aviação. Olhados como a nata das tropas, os pilotos encarnavam o espírito heróico da nova guerra.

Capa do folheto, que dá ênfase ao número de aviadores que estão a ser treinados nos Estados Unidos da América.


Nesta altura já a Batalha de Inglaterra tinha terminado, e o elogio de Churchill aos pilotos que a tinham combatido – “Nunca tantos deveram tanto a tão poucos” (Never was so much owed by so many to so few, no original) – ainda ecoava nos ouvidos de todos.

O folheto é provavelmente do segundo semestre de 1942. Já se encontra uma referência ao ataque a Tóquio (Abril de 1942), mas ainda não surgem imagens de aparelhos modernos como fortalezas voadoras ou caças, que deixarão a marca americana na guerra.


Mais referências ao “poderio” americano reafirmando o número de aviadores que estão a ser preparados, as exigências que são feitas aos candidatos e a quantidade de aviões que os americanos esperam colocar no ar até ao final de 1943.




Algumas fases do treino dos cadetes aviadores que passam pela preparação física e técnica.



Diversas fases do treino de voo dos candidatos a aviadores, em vários tipos de aparelhos.


Os primeiros actos “heróicos” dos aviadores americanos….








A contracapa do folheto com as cores da América...
















Carlos Guerreiro



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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A ocasião faz... o espião

“O nacional indicado, encontra-se detido sob a acusação de ter colaborado em uma organização de espionagem a favor de uma potência em beligerância. Essa colaboração residiu no facto do mesmo ter cedido à organização uns mapas da ilha de S. Miguel e nos quais apôs as respectivas posições de tropas ali concentradas”.


Gravura inserida num conto de espionagem -  "O mistério do sector Z", de Pinto Guimarães - publicado no Século Ilustrado de 28 Janeiro de 1939.
(Colecção do Autor)

As acções de Clemente M. são assim referidas, de forma sucinta, num relatório enviado pela Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE, antecessora da PIDE) ao Ministro do Interior, Botelho Moniz, em Dezembro de 1944.

O filho enviara uma carta onde pedia a libertação do pai, pelo menos para passar com ele o natal. A detenção ocorrera em Janeiro de 1944, mas a situação continuava pouco clara para a família. Sabiam que tinham ocorrido várias prisões relacionadas com o mesmo caso, mas apenas Clemente se mantinha atrás das grades.

A PVDE tinha, de facto, efectuado mais do que uma detenção na sequência da venda do mapa aos serviços de espionagem alemães, mas concluíra que os restantes arguidos ou não tinham colaborado no esquema, ou o tinham feito de forma inocente.

Clemente M. era amigo do Major Tomáz I., colocado em S. Miguel e aproveitou essa amizade para colocar várias perguntas ao militar, quando este se deslocou ao continente na sequência de uma promoção. Foi assim que soube os locais onde estavam acantonadas tropas, “bem como outros elementos, os quais lhe facultaram a confecção do “cróqui” fornecido à organização”, refere o relatório da PVDE. O preço cobrado pelo mapa não é referido.

A carta do filho de Clemente M. é apenas uma das muitas que o ministro do Interior recebia de familiares de presos que apelavam à compaixão e à complacência. Outras vezes pediam-se apenas informações sobre as razões que tinham levado à prisão um marido, um pai ou um filho. Podiam passar-se meses sem que uma acusação fosse formulada.

Sempre que surgiam estas solicitações o chefe de Gabinete do Ministro solicitava informação à força responsável pela detenção - PVDE, PSP ou GNR.

Entre os documentos do Gabinete do Ministro do Interior, existentes na Torre do Tombo, encontram-se pedidos de informação sobre presos de delito comum, mas também sobre alegados comunistas, reviralhistas, grevistas, revolucionários e outros portugueses envolvidos em casos de colaboração com "organizações estrangeiras de actividade suspeita".

É também este o caso de Dagoberto P., mais um português que aproveitou o momento para aplicar um golpe de… oportunidade.

Em Novembro de 1944 a mulher Aninhas P., envia uma missiva ao ministro estranhando o atraso no processo do marido. De resto acredita que a sua prisão é um erro.

Em resposta a PVDE informa o Ministro que ainda não foi dado andamento ao processo porque este se encontra no Ministério da Guerra para que o sub-secretário de estado “se digne a dar o seu parecer sobre as penalidades a aplicar aos arguidos de nacionalidade portuguesa”.

As razões para a detenção são consideradas graves, mas não deixam de dar mostra do engenho de muitos portugueses naquele período. Diz o relatório que “Dagoberto P. encontra-se preso, por, com outros indivíduos, ter forjado informações de carácter secreto que eram vendidas a um italiano, como se fossem elementos furtados ao Ministério da Guerra, chegando ao ponto de elaborarem uma cópia «autêntica» de um documento daquela secretaria de Estado, «assinado» em nome de Sua Excelência o sub-secretário de Estado”.

E não se pense que Dagoberto era novo nestas andanças, pois já estivera “preso por idêntico delito, de 17 de Junho a 29 de Novembro de 1943, tendo sido restituído à liberdade por ordem do Governo”.

Espiões à portuguesa.



Carlos Guerreiro

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domingo, 27 de novembro de 2011

O cão medalhado

Nas últimas semanas fomos bombardeados com histórias de cães que esperam donos em paragens de autocarro ou de comboio (alguns durante meses), e que são heróis por isto ou aquilo...

Não é coisa nova o interesse dos meios de comunicação pelos feitos de animaizinhos de estimação...

Para "seguir a moda" e partir à conquista de mais uns leitores - espero que muitos - fica o apontamento de um cão herói, que até mereceu a recebeu uma medalha de prata como retribuição pelo seu acto...

A estória e os "Clichés" - como se dizia na época - foram publicados no "Século Ilustrado" do dia 4 de Fevereiro de 1939.



Carlos Guerreiro

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Como gostaria de me lembrar...

Com apenas 20 anos o oficial de comunicações da marinha mercante inglesa, Alan Comes, sobreviveu ao afundamento do seu navio logo após o início da guerra.

Semanas depois contou, numa carta enviada à prima australiana, o pesadelo que viveu e a sua perda de memória que resultou da desventura…

Alan era tripulante do “Darino”, um pequeno navio mercante britânico, afundado no dia 19 de Novembro de 1939, pouco depois de largar do Porto.

O submarino alemão U-41, comandado por Gustav-Adolf Mugler, realizou vários ataques até conseguir afundar o navio que levou 16 dos 27 tripulantes com ele até ao fundo do mar, incluindo o comandante, William James Ethelbert Colgan.


Foto de um naufrágio publicada no Século Ilustrado de 30 de Setembro de 1939.
(Arquivo Histórico de Portimão)


A carta de Alan foi publicada na edição de “The Australian Women’s Weekly”, a 3 de Fevereiro de 1940…

Minha querida prima Dorothy,

Esta será a carta mais difícil que alguma vez escrevi na vida.

Sabes, toda a gente me diz que estive na Austrália, contigo, com o tio Mick e a tia Tone, mas tragicamente não me consigo recordar nada disso.

Perdi parte da minha memória e, se tudo o que ouvi sobre a minha viagem à Austrália é verdade, perdi a melhor parte da minha vida.

De qualquer forma agradeço muito a tua carta e as felicitações de Natal que me enviaste. Pela minha parte desejo que vocês tenham o mais feliz dos natais e das passagens de ano.

Dizes na tua carta que te enviei uma jóia. A minha mãe também me falou nisso, mas tenho de dizer-te que não me lembro de como era, ou de a ter enviado.

A guerra veio comigo para casa como uma experiência terrível.

O meu navio o “Darino” foi torpedeado há três semanas, às 3 horas de uma negra segunda feira, quando regressávamos a Liverpool do Porto, em Portugal (19 de Novembro). Estávamos a 300 milhas da terra mais próxima (Cabo Finisterra), algures na Baía da Biscaia.

O submarino não nos deu qualquer aviso. Éramos 27 tripulantes mas apenas 11 escapámos.

O torpedo atingiu-nos perto da escotilha número 3 na popa do navio, partindo-nos praticamente em dois. Éramos apenas um pequeno navio de 800 toneladas. O mastro da popa partiu-se e esmagou a sala de comunicações, não me acertando por pouco.

Estava dormir quando o torpedo nos atingiu, por isso vestia apenas o pijama.

Tínhamos dois barcos salva-vidas que ficaram reduzidos a átomos.

Tive de lutar para conseguir sair da minha cabina porque os sacos de areia estavam a prender-me lá dentro.

O gerador deve ter rebentado, pois tudo isto acontecia com tudo escuro como breu.
Consegui apanhar o meu casaco, ma não encontrei o colete salva-vidas. Dei a volta à sala de rádio, mas ela estava completamente destroçada, e os gritos dos homens presos nas cobertas de baixo estavam a deixar-me louco.

Tudo isto aconteceu em três minutos porque no momento a seguir fui projectado directamente borda fora. O meu relógio, que ainda tenho comigo, parou exactamente às três, e o torpedo atingiu-nos quando faltavam três minutos para a hora certa.

De repente surgiu na água uma enorme sombra negra. Julguei que era o pobre “Darino” a reerguer-se das ondas devido à explosão das caldeiras, mas era o submarino.

Tinha-me esquecido completamente dele.

Primeiro pensei que nos iam metralhar na água, mas em vez disso eles gritaram-nos para nadarmos na direcção deles o mais depressa possível para nos salvarem.

Recolheram-nos a bordo, mas não me recordo de muito porque estava quase inconsciente. De qualquer forma os alemães trataram-nos muito bem, embrulharam-nos em mantas, e dormiram na coberta de ferro para nos cederem os beliches.

Quando nos contámos vimos que éramos apenas onze. O capitão e o meu camarada, o terceiro imediato morreram, e os engenheiros também -todos eles - e o cozinheiro, o criado, o rapaz grumete e o bombeiro, no total de 16 mortos.

O imediato e o segundo imediato salvaram-se.

O comandante do submarino convidou-nos – os três oficiais – para jantarmos como ele, e deram-nos comida excepcional, e manteiga fresca também.

Por volta das 11 horas o submarino mergulhou e a tripulação tomou as posições de combate; estava a passar um comboio britânico por cima de nós!

Temíamos que cargas de profundidade nos fizessem explodir a qualquer momento, porque os homens por cima de nós não sabiam que existiam sobreviventes no submarino.

Felizmente os Destroyers não nos detectaram, ou não estaria a escrever neste momento. Acredita-me que estava completamente aterrorizado e não tenho vergonha de o admitir.

Eventualmente fomos transferidos para o navio neutral chamado “Caterina Gerolimich”, uma embarcação italiana.

Os alemães deram-nos dois pacotes de cigarros, e também me deram um par de calças.

Os italianos também nos trataram muito bem.

Tivemos uma viagem de pesadelo até Dover no navio italiano, porque ela não tinha mapas das áreas minadas e vagueamos por entre os campos de minas. Esperávamos explodir a qualquer momento.

Afinal estou aqui, mais ou menos intacto sofrendo apenas de choque, perda de memória e uma anca ligeiramente ferida.

Não consigo dormir muito bem, nem me atrevo a fazer a barba, e peço desculpa pela minha letra porque as minhas mãos não estão muito firmes.

Sinceramente

Alan



Carlos Guerreiro

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sábado, 12 de novembro de 2011

"O Espião Alemão em Goa"

No próximo dia 21 de Novembro (segunda-feira), pelas 18:30, na Livraria Barata (Avenida de Roma, 11-A), em Lisboa, será lançado o livro "O Espião Alemão em Goa", de José António Barreiros.

O General Ramalho Eanes fará a apresentação da obra.



Fica a sinopse do livro:

«Os factos são reais. No Carnaval de 1943 três navios alemães e um italiano, todos civis, foram incendiados e afundados, pela sua tripulação, no porto de Mormugão, no então Estado Português da Índia. Resistiam assim a um ataque do SOE britânico, o serviço de operações especiais encarregado "da guerra não cavalheiresca". 

Para proteger os interesses aliados, as autoridades portuguesas condenaram judicialmente os tripulantes, dando como não provado que tivessem resistido a uma tentativa de apresamento, com violação da nossa neutralidade. Ao erro judiciário seguiu-se a propaganda: para os britânicos o fiasco da expedição foi convertido em vitória. Só os portugueses saíram mal da história.

Salazar teve de intervir junto do poder judicial. O silêncio caiu sobre a história. Este livro tenta repor a verdade, para além das conveniências».


Boas leituras...

Carlos Guerreiro

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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

«Ministério das Propagandas» A PÁ COMO SÍMBOLO DE JUVENTUDE

O folheto tem cerca de 30 páginas e faz parte da intensa campanha de propaganda desenvolvida pelos alemães no nosso país.

“A Pá, emblema de trabalho da juventude alemã” desenvolve a apologia do trabalho como fundamento de uma vida saudável tanto a nível pessoal como social.


Ao contrário de outros folhetos de propaganda alemã que apostam em textos extensos, este utiliza muito a fotografia e a legenda curta.

Na capa encontramos uma imagem típica da estética nacional-socialista, com um jovem a trabalhar utilizando a dita pá. No interior começamos por encontrar o artigo 1º da Lei do Trabalho do Reich, seguindo-se páginas amplamente ilustradas – em vários casos – com a simbologia do regime.

O folheto faz também a distinção entre sexos e refere claramente o que se espera dos jovens e das jovens alemãs. Há uma clara distinção onde o homem surge como símbolo de força e destreza física enquanto a mulher assume o papel de fada do lar e mãe delicada…








O primeiro artigo da Lei do Trabalho do III Reich.















Simbologia nazi que fazia do “corpo são” um dos seus pilares.



A alegria do trabalho.



O trabalho e o seu contributo para o esforço de guerra.



Também as mulheres dão – à sua maneira – um contributo para o esforço de guerra com o trabalho.



As jovens dão também um importante contributo no trabalho rural da Alemanha.




Contra-capa do folheto com uma foto de Hitler e o elogio ao trabalho que “não é maldição” e sim “bênção divina”.


Carlos Guerreiro

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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Uma ponte para a verdade

Dois meses depois da Invasão da Polónia pelos alemães – e do início da II Guerra Mundial - o “Século Ilustrado” publicou esta página e chamou-lhe simplesmente “Assim se faz história”.

Certamente existiriam outras frases para descrever o conjunto de imagens publicada por este semanário a 4 de Novembro de 1939:



- “A primeira vítima da guerra é a verdade”;

- “A verdade de cada um”;

- “Uma boa imagem vale por mil palavras” (ou por todas as palavras que quisermos);

- “Seis formas de o enganar…”

Muitas outras também fariam sentido…

O esquema utilizado é bastante simples. Repete-se a imagem e mudam as legendas, mostrando a facilidade como se alteram ou criam acontecimentos. É uma crítica directa à manipulação e à propaganda que, por aqueles tempos, dava já passos firmes visando o controlo da sociedade…

Não deixa de ser curioso que isto aconteça num jornal editado sob a bandeira da censura do Estado Novo, também criada para policiar e controlar informação…

Quem sabe se o autor da página não pretende mesmo isso:

- “Já agora, não acredite em tudo o que lê” - (mesmo que o leia aqui)…

Ficam a foto e as legendas…


NUMA REVISTA INGLESA: O brutal invasor da Polónia fez na nação mártir estragos, como este, no valor de muitos milhões de libras.
(Século Ilustrado - Arquivo Municipal de Portimão)



NUMA REVISTA FRANCESA: A pata do invasor. Selvagens bombardeamentos alemães destruíram na Polónia obras de engenharia sem valor militar.
(Século Ilustrado - Arquivo Municipal de Portimão)



NUMA REVISTA ALEMÃ: O capitalismo inglês levou os polacos à loucura de destruírem pontes para retardar a libertação da Polónia.
(Século Ilustrado - Arquivo Municipal de Portimão)



NUMA REVISTA ITALIANA: O avanço glorioso das tropas germânicas obrigou os polacos a destruírem pontes para retardar a invasão da Polónia.
(Século Ilustrado - Arquivo Municipal de Portimão)



NUMA REVISTA JAPONESA: O mal entendido entre a Polónia e a Alemanha originou estragos lamentáveis.
(Século Ilustrado - Arquivo Municipal de Portimão)



LEGENDA PORTUGUESA: Uma ponte construída pelos polacos e desfeita não se sabe por quem.
(Século Ilustrado - Arquivo Municipal de Portimão)


Carlos Guerreiro

domingo, 30 de outubro de 2011

Livro "Reis no Exílio"

O livro foi lançado há pouco.

Muitas famílias reais encontraram refúgio em Portugal durante a II Guerra Mundial. O país foi uma verdadeira "República de Reis Exilados..."

Ainda não li, mas fica a capa e a sinopse oficial...



"A Europa era devastada por uma guerra cruel e mortífera, Portugal, país neutral, torna-se num destino apetecível para milhares de refugiados que procuram fugir dos horrores da ameaça nazi. Entre estes estão príncipes, reis sem coroa e membros das grandes monarquias europeias que encontram em Portugal um refúgio real. Em 1940, Wallis Simpson e o duque de Windsor e o rei Carol da Roménia que acabava de ser deposto, chegam a Portugal. Seis anos depois é a vez da família real espanhol se instalar no Estoril. Segue-se o rei Humberto e a rainha Maria José de Itália e a família real francesa. Cascais, Estoril e Sintra, o chamado Triângulo Dourado, locais que recebem estes visitantes de luxo. O bar do Hotel Palácio serve o conde de Barcelona e o conde de Paris, as águas do Guincho acolhem as proezas dos jovens príncipes espanhóis e franceses, o restaurante «O Pescador» é o eleito da condessa de Barcelona que adora os «santiaguinhos», o São Carlos acolhe o rei Humberto ávido de divertimento. O autor Charles PhillipPe d’Orleans, duque de Anjou, não viveu estes tempos, mas têm-nos bem presentes na memória graças às histórias que a sua avô, a condessa de Paris, lhe contava sobre a Quinta do Anjinho, a casa da felicidade, refúgio da família real francesa. Aqui se casaram as infantas espanholas Pilar e Marguerita num ambiente de festa nunca antes visto. Maria Pia elegeu Cascais, a vila onde cresceu, como cenário de um matrimónio que encheu as primeiras páginas dos jornais europeus, foi na Villa Giralda, no Estoril, que morreu, em circunstâncias trágicas, Alfonsito irmão de Juan Carlos, atual rei de Espanha."


... tal como uma reportagem da SIC com o autor...



A revista do Expresso desta semana também traz apontamentos interessantes sobre esta história...acontecendo o mesmo com muitas revistas do social (LUX, CARAS, etc...)

Boas leituras.
Carlos Guerreiro

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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

ESCAPARATE DE UTILIDADES: Na busca do barbear perfeito

O último “Escaparate…” foi dedicado às damas e donzelas, com anúncios de pó de arroz e complementos. Agora o “Aterrem em Portugal” apresenta aos cavalheiros produtos, que nos idos anos de 40, serviam para escanhoar a face.
Obviamente eram todos modernos, cientificamente testados e a bom preço… tal como nos dia de hoje.


Começamos pelos cremes com o “Rapide”, também utilizado pelo cantor e actor Tino Rossi.
(Revista “Mundo Gráfico” 16-12-1943 - Colecção do autor)


Quem gosta de “produtos modernos, cientificamente testados”e com “tónico adstringente”  - seja lá o que isso for - pode sempre escolher “Oatine, A Marca Da Elite"…
(Revista “Mundo Gráfico” 15-10-1943 - Colecção do autor)



Mas talvez para começar o melhor seja escolher o D’Euxlay , até porque marca – caso não fique satisfeito – está disponível para a “reembolsá-lo “ se o creme não corresponder às expectativas.
(Revista “Mundo Gráfico” 15-10-1943)



Em termos de lâminas não encontrámos muita escolha, mas fica pelo menos uma – a Nacet – com “um preço modesto, boas” e que “barbeiam suavemente”.
(Revista “Mundo Gráfico” 16-12-1943 - Colecção do autor)




Depois de escanhoar a face há algumas opções como “mentol creme” Nally – que “não é oleoso, nem viscoso”, “é indispensável como preventivo contra as infecções” e “cicatriza quaisquer pequenos golpes” entre outras propriedades.
(Jornal “O Século” 03-06-1940 - Colecção do autor)



Pode também escolher o “TARR”. O nome pode não ser muito bonito, mas certamente não será surpreendido pelo preço. O preço do frasco começa nos 8$50 (pouco mais de 4 cêntimos).
(Jornal “O Século” 03-06-1940 - Colecção do autor)

Um bom barbear...


Carlos Guerreiro