Um sargento da Real Força Aérea a desembarcar do comboio.
(Foto Século Ilustrado/ Arquivo Histórico de Portimão)
Os transportes traziam mais de 800 prisioneiros de guerra italianos e britânicos obrigando a grande actividade logo às 9 da manhã, na Estação de Marítima de Alcântara, no Tejo,quando acostou o navio hospital “Newfoundland”. Tinha partido do Reino Unido e há dois dias que se encontrava ao largo esperando notícias de dois comboios, vindos de Itália, que ali também deveriam chegar.
No navio esperavam 409 prisioneiros italianos enquanto nos comboios viajavam 448 britânicos. Lisboa, sob tutela da Cruz Vermelha, era, naquele dia de 18 de Abril de 1943, palco da troca de 857 prisioneiros, a maioria doentes ou vítimas de ferimentos incapacitantes.
O navio hospital “Newfoundland” que trouxe os prisioneiros italianos atrás de um dos comboios com prisioneiros britânicos.
(Foto Século Ilustrado/ Arquivo Histórico de Portimão)
As descrições dos jornais não escondem, aliás, o estado em muitos destes homens chegaram a terras lusas. Entre os italianos - 33 oficiais (dois deles capelões) e 376 sargentos e soldados - havia, segundo o Diário de Lisboa, “11 loucos, 84 doentes mentais e nervosos, alguns tuberculosos e numerosos mutilados”. Razão mais que suficiente para a comitiva ser acompanhada por uma equipa de 135 médicos, enfermeiros e maqueiros.
Em Alcântara encontrava-se também pessoal médico português pronto para qualquer eventualidade.
Nos comboios, entre os prisioneiros britânicos, encontravam-se “289 impossibilitados de marchar, 3 cegos, 2 loucos e dois feridos em estado grave”, esclarece por sua vez o Século Ilustrado. Entre os oficiais aprisionados encontrava-se o general Willis, capturado pelos italianos no Norte de África.
O Newfoundland foi recebido por uma vasta comitiva constituída por autoridades portuguesas, elementos da Cruz Vermelha e representantes italianos e alemães. O Embaixador de Mussolini em Lisboa fez um discurso de boas vindas e o mesmo fez um representante alemão, durante um almoço no Edifício da Comissão Reguladora do Comércio do Bacalhau.
O Século Ilustrado chamou ao artigo, publicado a 24 de Abril de 1943, “Portugal, oásis da Europa”. (Século Ilustrado/ Arquivo Histórico de Portimão)
O primeiro comboio com britânicos chegou pouco antes do meio-dia e o outro uma hora depois. Os casos mais graves foram embarcados de imediato no navio britânico e “os que tinham relativa saúde e podiam andar estiveram em diversos organismos britânicos”, explica o Século Ilustrado. O Diário de Lisboa especifica que “seguiram em autocarros da Carris para o Club Inglês, o Seamen’s Institute e o British Repatriation Office, onde almoçaram”.
Ao fim da tarde os italianos foram metidos nos comboios levando um pacote com “conhaque, vermute, chocolate, tabaco, sabonetes” entre outros produtos, oferecidos pela colónia italiana em Portugal.
Italianos a desembarcar do Newfoundland
(Foto Século Ilustrado/ Arquivo Histórico de Portimão)
Um militar britânico a abandonar o comboio numa maca.
(Foto Século Ilustrado/ Arquivo Histórico de Portimão)
Os ex-prisioneiros britânicos, agraciados com “doces e tabaco”, levantaram ferro no “Newfoundland” às 22 horas, encerrando – segundo o Diário de Lisboa – “mais um admirável capítulo da acção Humanitária de Portugal e da Cruz Vermelha nesta guerra”.
Carlos Guerreiro