Nem acreditam como estou orgulhoso… e não é por mim.
É por duas pessoas e por uma ideia que fizeram crescer ao longo de anos e que agora vai ter um importante reconhecimento.
Diga-se que o trabalho está praticamente feito – por eles e por amigos… mas o envolvimento da Universidade do Algarve dá um novo estatuto ao que foi realizado.
O velho bombardeiro americano da 2ª Guerra Mundial, que repousa frente a Faro desde Novembro de 1943, vai ver nascer à sua volta um roteiro subaquático nos próximos dias.
Quatro dos seis sobreviventes
do PB4Y-1, versão da marinha do B-24. A fotografia foi tirada em Lisboa, pouco depois de saírem de Faro em
1943.
Da esquerda para a direita temos Lyle Van Hook, Richard L. Trum, John W.
Eden e Julian O. Pierce.
Na fotografia mais pequena está Lyle Van Hook em 1999.
Os destroços do "nosso" bombardeiro – as asas, invertidas estão a cerca de 20 metros de profundidade – vão ter um conjunto de guias montadas em seu redor e cinco placas explicativas.
Há muito que o Vieira e a Fátima realizam mergulhos no bombardeiro… há muito que contam a história daquela noite de Inverno em que três pescadores portugueses salvaram seis americanos das águas geladas do Algarve.
Cinco outros companheiros não tiveram a mesma sorte e foram engrossar a lista de desaparecidos de uma guerra que deixou milhares sem sepultura conhecida.
Há uns 20 anos conheci um dos três pescadores que esteve envolvido no salvamento dos aviadores.
Jaime Nunes foi-me apresentado pelos netos.
Ele repetia a história do salvamento dos americanos a quem a quisesse ouvir… era um espécie de mito, longínquo.
Ti Jaime descrevia a noite fria. A queda do aparelho e a recolha dos feridos.
Chegados a terra foi necessário reactivar a central eléctrica da cidade para que os médicos – arrancados à cama – pudessem ter uma luz decente enquanto verificavam o estado dos feridos.
Contava também alguns episódios mais rocambolescos que aconteceram nos dias seguintes.
Depois os americanos foram-se embora de autocarro… e ficou a apenas a história.
Jaime Nunes a receber a placa de homenagem das mãos do Tenente Coronel Kelly, em 1999.
Descobri a data do desastre e os nomes “aportuguesados” dos tripulantes salvos, numa ficha dos bombeiros daquele período.
Essas informações e a versão do salvador dos americanos foram publicadas numa “Gazeta do Cenjor”, que saiu juntamente com o desaparecido semanário “Algarve Região” – em 1993.
Faltava o outro lado. Como seria interessante saber o que contariam os resgatados. Escrevi umas cartas desgarradas para os Estados Unidos sem grandes resultados…
A internet veio mudar tudo. Publiquei a história numa página de veteranos da II Guerra Mundial e houve uma alma caridosa que revirou primeiro os arquivos americanos do exército e depois da marinha para descobrir a História deste voo.
Um envelope triunfante de Gordon Brant chegou-me às mãos com uma cópia do relatório oficial do desastre.
Continuava - com mais dados - a busca pelos sobreviventes.
Enviei cartas para aqui e para ali e finalmente consegui localizar Lyle Van Hook em 1998.
Respondeu via internet a uma carta… fê-lo no dia dos meus anos. Que prenda.
Van Hook contou como se tinham perdido e, sem combustível, tentaram aterrar - noite cerrada - naquilo que pensavam ser uma praia...
Tornei-me no canal de ligação entre Van Hook e Ti Jaime e em Junho de 1999 consegui colocá-los frente a frente, com as despesas a sair do bolso da embaixada americana.
Foi apenas uma videoconferência, mas seria difícil um encontro pessoal entre duas pessoas de idade avançada e com diversos problemas de saúde…
Van Hook agradeceu comovido ao seu salvador e o Ti jaime, recebeu uma plca de agradecimento da Marinha Americana...
Poderia o livro nunca sair, que este momento teria valido todos os esforços…
Infelizmente nenhum dos protagonistas viveu o suficiente para ver as sus histórias impressas nas páginas do meu livro. Ti Jaime Nunes faleceu em 2007 e Lyle Van Hook poucas semanas antes do lançamento do trabalho, em 2008.
José Vieira e Fátima Noronha, no seu ambiente. Depois de
anos de buscas, encontraram o bombardeiro B-24.
Hoje realizam mergulhos
nos seus destroços.
Finalmente em 2001 tocou-me o telemóvel. Anunciavam-me a descoberta dos restos de um avião no mar, em frente a Faro. Julgavam que era o mesmo que eu tinha investigado.
Era o José Vieira.
Voei para me encontrar com ele na Hidropespaço, a escola de mergulho que, mais do que um negócio, é o projecto de sonho dele e da Fátima.
Tinham enviado mensagens para os Estados Unidos e foram surpreendidos quando receberam como resposta que as informações que queriam estavam, praticamente, à porta.
Ambos procurávamos há anos a mesma história - sob ângulos diferentes - e nunca nos tínhamos cruzado.
Tendo em conta que Faro não é assim tão grande, foi obra.
Os desenhos e as fotografias que me trouxeram confirmavam que se tratava do “nosso” B-24, ou melhor o PB4Y-1, aversão do B-24, utilizada pela Marinha Americana…
Imagem de um PB4Y-1 e um "croqui" onde se podem ver como se encontram dispostos os destroços do aparelho no fundo do mar.
Sem saber o que fariam as autoridades, resolveram cumprir todas as formalidades, como mandava a lei.
Declararam o achado e passaram pela selva burocrática no sentido de obter uma autorização que permitisse o mergulho.
Foram os primeiros – e talvez ainda dos únicos no país – a assinar um protocolo com o Instituto Português de Arqueologia que lhe permite legalmente mergulhar num destroço, tornando-se também seus guardiões.
Já trouxeram mergulhadores dos quatro cantos do mundo para visitar o “Bombardeiro”. Muitos mais portugueses também o fizeram…
Fotografia de um dos hélices do avião.
Agora vai ser musealizado com a colaboração da Universidade do Algarve. Mais um passo…
Esta história, com todos os seus pormenores, abre o livro do “Aterrem em Portugal”.
Dediquei-lhe os primeiros três capítulos do livro e um deles está disponível para leitura no site.
São quatro páginas que se encontram logo depois do Index e do Prefácio. Clique sobre elas para as aumentar.
As páginas podem ser encontradas
AQUI.
A Lista dos tripulantes está
AQUI.
Para "mergulhar" nesta história deixo também a ligação da Hidroespaço
AQUI.
Por fim reproduzo também o essencial da história que a Agência Lusa publicou:
Bombardeiro submerso na II Guerra Mundial vai constar num roteiro subaquático
6 de Agosto, 2012
Uma escola de mergulho vai montar na quarta e na quinta-feira, ao
largo de Faro, um roteiro subaquático que permitirá aos turistas
mergulhadores navegar junto dos destroços de um bombardeiro afundado
durante a Segunda Guerra Mundial.
A acção, que conta com a
parceria do Centro de Ciências do Mar (CCMar) da Universidade do
Algarve, consiste na colocação de cabos guia e cinco placas
identificativas nos destroços do bombardeiro “Liberator” PB4Y, versão da
Marinha dos Estados Unidos da América do famoso B-24.
As
placas vão possibilitar a navegação dos mergulhadores entre as
diferentes partes deste local e a identificação da respectiva fauna, num
percurso total de cerca de 250 metros.
O projecto da
escola de mergulho Hidroespaço, designado ECOSUB, tem como objectivo
proporcionar aos turistas mergulhadores nacionais e estrangeiros um
atractivo extra num local com uma envolvência histórica única.
O local de mergulho corresponde ao que resta de um bombardeiro
americano que em plena Segunda Guerra Mundial (1943), se perdeu,
acabando por se despenhar no mar ao largo de Faro.
(...)
Lusa
Um bom mergulho
Carlos Guerreiro
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