As apaixonadas conversas que aos doze anos manteve os primos, sobre a campanha do Norte de África que opôs os Marechais Erwin Rommel a Bernard Montgomery,
criou-lhe um fascínio que mais tarde desencadeou a enorme vontade de
coleccionar peças do período da II Guerra Mundial.
António Fragoeiro e algumas peças da sua colecção.
(Foto António Fragoeiro)
Passaram dezoito anos desde essas trocas de
ideias e a colecção de António Fragoeiro continua a crescer com peças de todos
os tipos. Reuniu capacetes, armas, uniformes, artigos patrióticos, bandeiras,
propaganda, condecorações, equipamento diverso, artigos pessoais e todo o
género de relíquias de “militaria”.
Representadas estão também as diversas facções
em conflito. Chapéus e capacetes britânicos, alemães ou americanos convivem com
uma bandeira japonesa, uma gabardine alemã ou uma farda americana.
A peça favorita é uma gabardine da “Luftwaffe”
(Força Aérea Alemã), de que António Fragoeiro conhece os passos desde
Dunquerque, na invasão de França, até às duras batalhas da frente Russa.
A gabardine da "Luftwaffe" é uma das peças que mais agrada ao coleccionador.
(Foto António Fragoeiro)
Portugal não escapou, no entanto, à atenção
deste coleccionador que entre as diversas peças tem, por exemplo, uma farda
completa da Mocidade Portuguesa dos anos 40.
António Fragoeiro
reúne esta grande colecção na sua própria casa, onde recebe amigos e outros
colecionadores, mas todos podem aceder a este interessante conjunto de peças.
Uma farda americana da 43ª Divisão que combateu no Pacífico também pertence à colecção de Fragoeiro.
(Foto António Fragoeiro)
Para abrir as portas a todos, criou uma visita virtual onde se podem encontrar
os elementos da colecção, mas também um conjunto de filmes sobre o período e
ligações para o espólio recolhido em diversas viagens que realizou. A mais
recente foi à cidade alemã de Kiel, berço da arma submarina e onde existe um
museu dedicado ao tema.
Uma reportagem da SIC sobre a extracção de volfrâmio (tungsténio) em Rio de Frades, para os alemães e para ao ingleses, está nomeado para o prémio internacional da Federação Comercial de Filmotecas (Federation of Comercial Audio-Visual Libraries - FOCAL).
Este prémio - um dos principais desta área - distingue a boa utilização de imagens de arquivo.
A reportagem concorre com nove trabalhos oriundos dos Estados Unidos, Inglaterra, França, Bulgária e Irlanda.
A reportagem chamada "Volfrâmio Nazi", é da jornalista Amélia Moura Ramos, a imagem é de Rafael Homem e a edição de João Nunes...
O vencedor do prémio será anunciado no dia 2 de Maio. Até lá, fica o trabalho que a SIC passou no dia 12 de Outubro de 2012
Sinopse da reportagem publicada pala SIC.
Em 1942, António Pinho Freitas era comandante na Guarda Nacional Republicana em Aveiro. Uma vez por mês deslocava-se a cavalo a Rio de Frades, um lugar perdido na Serra da Freita, em Arouca. Ia lá para garantir que nenhum homem do destacamento da GNR de Rio de Frades desertasse para entrar na corrida ao volfrâmio e fazer dinheiro rápido.
Em Arouca, nas explorações de volfrâmio, eram os ingleses e os alemães que retiravam das serras o minério com que endureciam armamento.
Separadas por cinco quilómetros, as minas de Rio de Frades, pertencentes aos alemães, e de Regoufe, dos ingleses, foram simbólicas não pela grandeza das explorações mas porque durante cinco anos os beligerantes conviveram em paz, num lugar esquecido de Portugal, para conseguirem fazer a guerra por essa Europa fora.
Curioso, ciente da importância desse momento, o comandante da GNR deixou em herança um documento único desses dias: um filme de pouco mais de 14 minutos que rodou na mina dos alemães, com milhares de portugueses a trabalhar para o esforço de guerra nazi. É esse filme que transporta esta edição do Perdidos e Achados ao ano de 1942.
A história do afundamento do SS Dago, um navio britânico bombardeado por um avião alemão em 1942, perto de Peniche, vai ser contada e mostrada no próximo dia 23 de Março, na sede do Centro Português de Actividades Subaquáticas (CPAS), em Lisboa.
Uma fotografia do SS Dago que hoje se encontra a cerca de 50 metros de profundidade na zona da Berlengas.
(Foto publicada em http://pinturasempeniche.blogspot.com)
Os mergulhadores Paulo Costa e Jorge Russo vão conduzir esta viagem pela história e pelos destroços do Dago afundado no dia 15 de Março de 1942, quando navegava entre Lisboa e Leixões.
Durante a viagem foi atacado por um bombardeiro alemão Fw-200 Condor, muito habitual na nossa costa até 1943. Apesar da tripulação ter ripostado com diverso armamento que tinha a bordo, e após várias passagens o aparelho largou três bombas que atingiram o alvo.
O navio afundou-se em poucos minutos. Apesar de tudo os 37 tripulantes tiveram sorte e apenas quatro sofreram ferimentos ligeiros, tendo sido transportados para terra pelos salva-vidas motorizado de Peniche.
O Dago seria referido continuamente durante as décadas seguintes, mas só em 2007 foi possível confirmar quais os destroços pertenciam ao Dago e quais pertenciam a outro naufrágio.
Poderá ver e ouvir mais pormenores sobre esta história do Dago, um navio cargueiro que participou nas duas guerras, no dia 23, às 21 horas, na sede da CPAS, Rua Alto do Duque, nº 45.
Um filme com imagens dos destroços do Dago.
(vídeo colocado no youtube por XpertDiver em 2008)
Um bom mergulho na história… Carlos Guerreiro
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Para ler outras histórias de NAUFRÁGIOS clique AQUI.
Para este fim-de-semana, que não se anuncia muito solarengo, ficam como sugestão dois filmes que passam pelo Estoril, inseridos num ciclo que se estende até Abril. A notícia é da página on-line do "desporto da Linha"...
Heróis da Segunda Guerra Mundial em destaque no Estoril
A 2ª edição do Ciclo de Cinema Imagem e Memória, promovido pela Câmara Municipal de Cascais e a Memoshoá – Associação Memória e Ensino do Holocausto, prossegue este fim de semana no Espaço Memória dos Exílios.
Os filmes exibidos realçam as histórias verídicas de dois heróis da Segunda Guerra Mundial, que se destacaram por terem salvado milhares de judeus do Holocausto.
No final de cada exibição há lugar a uma sessão de cometários protagonizada, respetivamente nesta semana por José Carlos Vasconcelhos, diretor do Jornal de Letras e Fernanda Rollo, historiadora.
Na sexta-feira, 16 de março, às 21h00, é projetado o filme “O Outro Lado do Holocausto” (“Varian’s War”), de Lionel Chetwynd, que no final será comentado pelo jornalista José Carlos Vasconcelos, diretor do jornal de Letras.
Neste filme, o ator William Hurt veste o papel de Varian Fry, um jornalista americano que, em novembro de 1938, assistiu em Berlim aos primeiros sinais de uma tragédia que previu vir a ser de “proporções inimagináveis”.
Em 1940, Fry chegou a França com uma lista de cerca de 200 nomes e uma elaborada rede de fuga, sendo rapidamente contactado por milhares de outros refugiados que ansiavam em escapar à Gestapo. No ano que se seguiu, Fry conquistou a liberdade para milhares de homens e mulheres que enfrentavam a morte certa.
Com o passar dos anos, Fry foi esquecido; contudo entre os nomes que ajudou a salvar contam-se consagrados artistas e intelectuais como Marc Chagall, André Breton, Max Ernst, Jacques Lipchitz, Heinrich Mann e Hannah Arendt.
sábado, 17 de março, é exibido às 16h00, o filme “A História de Irena Sendler” (“The Courageous Heart of Irena Sendler”).
Protagonizado por Anna Paquin, o filme baseia-se na vida de Irena Sendler, assistente social polaca que salvou mais de 2500 crianças judias no Gueto de Varsóvia, durante a ocupação alemã da Polónia.
Com grande risco pessoal, Irena arquitetou esquemas extraordinários para passar as crianças pelos guardas nazis.
Muitas vezes comparada a uma “versão feminina” de Oskar Schindler Irena Sendler não só salvou milhares de vidas, como incontáveis gerações dos seus descendentes. Esta sessão contará com comentários da historiadora Fernanda Rollo.
O Ciclo de Cinema Imagem e Memória tem entrada livre e decorre até 28 de abril no Espaço Memória dos Exílios.
As próximas sessões incluem a exibição dos filmes “Flame & Citron - Os Resistentes” e “O Exército do Crime”. O Espaço Memória dos Exílios fica no 1.º piso do edifício da Estação dos CTT no Estoril, Av. Marginal, 7152-A, Estoril.
Bom fim-de-semana e melhores filmes Carlos Guerreiro
A passagem de aviões de guerra sobre as águas portuguesas era tão normal que ninguém ligou muito ao aparelho de “grandes dimensões” que seguia de norte para sul, perto do Cabo Roca. O comandante do “Açor” lembrava-se que isso acontecera – talvez - por volta das 18 horas. A alguma distância, no “Cabo de S. Vicente”, também pouco se ligou à passagem da enorme silhueta, mas isso iria mudar depressa.
Apesar de todas as medidas a marinha mercante portuguesa foi muitas vezes alvo de ataques.
(Foto revista "Defesa Nacional", reportagem sobre Marinha Mercante Portuguesa, Outubro 1944)
Depois de passar, o avião voltou para trás e, sempre a baixa altura, dirigiu-se de novo ao “S. Vicente” onde, perante o espanto dos tripulantes, abriu fogo, varrendo a coberta com metralha, e, de seguida, largou duas bombas que caíram muito perto do casco causando uma série de avarias que levaram ao seu afundamento.
Por sorte nem os tiros nem as explosões
causaram vítimas e o comandante, acompanhado dos 18 tripulantes, conseguiu
saltar para um salva-vidas de onde foram recolhidos pelo “Açor”, que aportou no
cais de Santos, em Lisboa, na manhã seguinte, depois de cobrir as cerca de 30
milhas que separavam terra do local do afundamento.
Durante o inquérito, promovido pela marinha, nenhum
dos capitães conseguiu identificar quaisquer marcas no avião. Garantiram que
era grande, um quadrimotor, de cor cinza escuro mas nada podiam dizer quanto à
sua nacionalidade ou outro pormenores.
Ao contrário de outros casos envolvendo navios portugueses afundados, este caso chegaria ao final do conflito como mais um mistério por resolver. Não só ficou na obscuridade a autoria do afundamento, mas também as razões que a enquadraram.
O navio encontrava-se identificado, tanto com as marcas que o identificavam como barco de pesca, mas também como português. As cores nacionais estavam pintadas nas amuras e por cima da casa de navegação. Uma bandeira "nova", de dois panos, encontrava-se içada no penol".
“Porque razão teria esse avião passado junto do Açor sem o molestar, para logo a seguir (…) ir atacar o S. Vicente. E para que fez uma guinada para Oeste e só depois (…)o foi atacar a rumo perpendicular, quando o bombardeamento é mais certeiro (…) segundo a linha de rumo ao alvo? Não andaria à procura do S. Vicente por razões impossíveis de prever?”, referia um primeiro relatório enviado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, pelo Ministério da Marinha.
O relatório refere também que já tinha sido questionada a Embaixada Britânica sobre a presença de aparelhos britânicos naquelas paragens, e que esta tinha negado que qualquer avião aliado voasse por aquelas paragens no dia 10 de Março de 1942.
A verdade é que estas informações eram tudo menos fidedignas.
Só quando era inegável – devido ao número de testemunhos ou a existência de provas físicas – qualquer uma das partes reconhecia uma violação do espaço aéreo ou o ataque à neutralidade de um país.
No final do conflito, e num relatório da marinha que faz o levantamento sobre os diversos afundamentos de navios portugueses, foi avançada uma explicação que pode ter algum fundamento. O arrastão S. Vicente tinha sido construído em Inglaterra, onde era chamado um “trawler”, um tipo de navio que teve extensa utilização durante a Guerra.
A Marinha Real requisitou vários destes arrastões aos seus armadores civis, armou-os e colocou-os em patrulha ou em protecção de comboios.
Não eram por isso estranhos aos FW200, o tipo de avião que terá provavelmente protagonizado o ataque, já que se encontravam muitos activos na nossa costa durante o ano de 1942.
A imprensa lamentou-se nos dias seguintes por mais um ataque “à neutralidade”.
O Diário de Lisboa recordava que já se elevava a seis o número de navios que tinham ido a pique em resultado de ataques desde o início da guerra.
Na sua reportagem de 11 de Março continuava: “Não podemos deixar de lavrar o nosso o nosso veemente protesto contra mais esta violência inútil e brutal praticada contra um barco indefeso tripulado por humildes trabalhadores que grangeavam o pão de suas famílias, contribuindo ao mesmo tempo para o abastecimento da população, já difícil em virtude da crise provocada pela guerra”.
Durante a II Guerra Mundial as luzes de Lisboa iluminaram mais do que apenas as ruas da cidade. Numa Europa mergulhada no “blackout”, o brilho da capital portuguesa atraiu milhares de refugiados, mas também espiões e oportunistas que transformaram este extremo do continente no centro do mundo.
Ao longo de seis anos Portugal seria palco de todas as intrigas, tráficos e histórias. É este o retrato que dois livros editados o ano passado apresentam.
Tanto um como outro não têm ainda edição em português, mas as edições originais em inglês têm merecido atenção por parte dos críticos.
Não tive ainda oportunidade de ler qualquer deles, mas após diversas referências positivas na imprensa ficam aqui as transcrições de algumas das suas linhas e também as sinopses oficiais…
Lisbon: War in the Shadows of the City of Light, 1939-1945 De Neill Lochery
(Lisboa: A Guerra nas Sombras da cidade da Luz, 1939-1945)
“No final do filme Casablanca, quando Rick Baline e o Capitão Louis Renault partem para iniciar a sua a “maravilhosa amizade”, juntando-se aos Franceses Livres na guarnição em Brazzaville, o avião levando Victor Laszlo e Ilsa Lund levanta no nevoeiro. É para a “neutral” Lisboa que eles partem com os seus vistos de trânsito. Na vida real, a cidade de Lisboa durante a II Guerra Mundial mais do que se assemelhava ao filme; para muitas pessoas que trabalharam na cidade durante as fases finais da guerra Lisboa ficou conhecida, de modo, “afectivo” como “Casablanca II”. A versão da vida real tinha todos os ingredientes da história de ficção: romances acabados; refugiados desesperados procurando a documentação certa enquanto vendiam as joias da família para financiar o resto da viagem; um crescente mercado negro que fez cair para valores recorde os preços dos diamantes e de outras pedras raras; cafés e bares de hotéis cheios de refugiados e espiões espalhados pelo centro e ao longo da linha de costa da área Lisboeta” In “Lisbon: War in the Shadows of the City of Light, 1939-1945” (Tradução livre)
Sinopse: Data de publicação: Novembro de 2011
Lisboa teve um papel essencial na história da II Guerra Mundial, apesar de ali não se ter disparado um tiro. Foi a única cidade europeia onde tanto os Aliados como o Eixo operaram às claras, foi morada temporária de muitas cabeças coroadas no exílio, mais de um milhão de refugiados procuraram passagem para os EUA, e ainda hospedou espiões, polícia secreta, chefe das industria, banqueiros, judeus proeminentes, escritores e artistas, prisioneiros de guerra fugidos e gente do mercado negro. Um oficial de operações, escrevendo em 1944, descreveu o dia-a-dia de Lisboa como sendo Casablanca vezes vinte.
“The Lisbon Route: Entry and Escape in Nazi Europe” De Ronald Weber
(A Rota de Lisboa: Entrar e Escapar da Europa Nazi)
“Hoje Lisboa está uma vez mais no centro de grandes acontecimentos. Assim começava um longo artigo no National Geographic Magazine de Agosto de 1941. Num ilustre passado, aventureiros tinham partido daquela cidade portuária navegando a partir da ponta sudoeste do Velho Mundo para reclamar novas terras e um império mundial; agora, numa período de proeminência invertida, Lisboa está no extremo contrário recebendo uma enchente de refugiados que tenta escapar de um Velho Mundo em guerra. A geografia e a neutralidade portuguesa atraiu a atenção mundial como a última porta de fuga do terror Nazi.” In The Lisbon Route: Entry and Escape in Nazi Europe (Tradução livre)
Sinopse: Data de Publicação: Março de 2011
A Rota de Lisboa conta a história extraordinária da transformação da tranquila cidade portuguesa, numa das maiores portas de saída da Europa Nazi durante a II Guerra Mundial. Realeza, celebridades, diplomatas, militares em fuga, e cidadãos ordinários percorreram desesperadamente os caminhos através de França e Espanha para chegar a esta nação neutral. Aqui os exilados encontraram paz e fartura apesar de muitas vezes enfrentarem desesperados atrasos e incertezas antes de conseguirem reservar passagens em barcos ou aviões que os levariam ao seu destino final. Para além de oferecer a paz da guerra, Lisboa fornecia a espiões, contrabandistas, assistentes de socorro, militares e aventureiros uma porta para as oportunidades oferecidas pelo conflito. Ronald Weber esboça um retrato da passagem de muitos destes transeuntes enquanto desfrutavam do charme e do clima benigno da cidade, da sua abundante comida e bebida, do seu jogo no casino e das suas praias atlânticas. No entanto, e apesar do ar jovial, pairou sempre uma sombra sobre a frágil natureza da neutralidade portuguesa, pois tanto o eixo como os aliados poderiam decidir – a qualquer momento – acabar com ela.