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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Boas entradas

(Mundo Gráfico, 30 Dezembro 1940/ Hemeroteca Digital)
O "Aterrem em Portugal!" deseja a todos um Feliz 2015...

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

«Escaparate de Utilidades»
Relógios Eterna

Revista Mundo Gráfico, 15 de Dezembro 1941

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O Postalinho...
Aquele safado do Chamberlain


O cartoon impresso neste postal de propaganda britânico foi originalmente publicado em 11 de Janeiro de 1940, no jornal "Evening Standart", num momento em que se vivia a chamada "Drôle de Guerre", ou guerra sentada, com a França e a Inglaterra esperavam pelo ataque alemão.

Durante este período a Finlândia, que se declarara neutral, estava sob ataque da União Soviética - aliada da Alemanha - e sabia-se que existiam importantes movimentações de tropas germânicas junto das fronteiras belga e holandesa, apesar de tanto um com outro se terem declarados no conflito que se desenrolava.

Curiosamente, no dia 10 de Janeiro, tinha-se despenhado um avião em território francês com dois oficiais alemães que transportavam planos de invasão da França, que incluíam a conquista da Bélgica, delineados pelo Estado Maior da Wehrmacht. O cartoon seria republicado em 1941 numa colectânea de David Low, um dos grandes nomes do desenho britânico.

Em 1940 Chamberlain era ainda primeiro-ministro do Reino Unido.

Na obra, chamada "A Europa em Guerra" o desenho vinha acompanhado de um texto legenda:

"Depois de a Finlândia, a posição dos pequenos neutros tinha-se tornado cada vez mais perigosa. Temiam a colaborar na segurança mútua para não comprometerem a sua própria neutralidade. A Bélgica, em particular, tinha, de forma rígida, evitado qualquer situação que pudessem causar problemas. No entanto chegavam inquietantes relatórios sobre a actividade alemã junto das fronteiras belga e holandesa. Hitler pensou que a sua neutralidade não era suficientemente pró-nazista . Como bons neutros eles deveriam lutar contra o bloqueio britânico . Ele suspeita de uma conspiração de Chamberlain ."

Carlos Guerreiro

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O "Aterrem em Portugal!"
deseja-lhe um Feliz Natal...

(Mundo Gráfico, 15 de Dezembro de 1941)

Desejo a todos os amigos do"Aterrem em Portugal!" um Feliz Natal com tudo o que mais desejam... E continuação de bons voos pela nossa história.

«Escaparate de Utilidades»
Insecticidas Químicos ICI

Revista Mundo Gráfico, 15 de Dezembro de 1944 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Espionagem em Lourenço Marques...
Raptos para fechar olhos e ouvidos

Alfredo Manna foi agredido mal parou o carro e continuou a ser socado até ficar inconsciente. De seguida, na sua própria viatura, foi conduzido até à fronteira de Moçambique com a Suazilândia e entregue à Polícia da Real Força Aérea. Na noite de 21 de Março de 1943 os serviços secretos ingleses concluíam, desta forma, por concluída a Operação Smokescreen (cortina de fumo) que tinha como principal objectivo dar um golpe na rede de espionagem italiana que operava em Lourenço Marques.

Folheto publicitário do Costa's Casino. 
Foi nas traseiras deste "dancing" que começou a operação de rapto do agente italiano Alfredo Manna.

Para Alfredo Manna foi o culminar inesperado de uma noite que tinha prometido algo completamente diferente. Há muito que se insinuava junto de Ana Levy, uma bailarina sul-africana do Costa’s Casino, na capital moçambicana. Quando esta lhe telefonou a marcar o encontro, deve ter acreditado que os galanteios tinham obtido resultados.

Encontrara-se com ela nas traseiras da casa de espectáculos e Ana dissera-lhe para conduzir até um café, a cerca de 20 quilómetros, na estrada que ligava Lourenço Marques à Suazilândia. Foi já perto do destino que viu um carro na berma estrada, aparentemente, avariado. Quando passou por ele, um outro automóvel, também estacionado na berma, atravessou-se na sua frente. Vários homens deram-lhe depois uma tareia. Acordou num hospital da África do Sul, onde passou vários dias, antes de ser entregue à marinha britânica, que o transportou para Inglaterra onde foi internado e interrogado no Campo 020, na ilha de Man, especialmente concebido para receber espiões inimigos.

Alfredo Manna era um elemento chave da rede de espionagem italiana que operava em Moçambique. Responsável na ex-colónia portuguesa pela Agência de Notícias Stefany, era um dos cérebros da organização liderada pelo cônsul-geral italiano Umberto Campini. A recolha de dados sobre navegação era a sua principal actividade.

Com o mar mediterrâneo demasiado perigoso, parte importante dos abastecimentos para o exército britânico no Egipto começaram a circular através do Cabo da Boa Esperança. Os navios eram tantos que os portos sul-africanos não tinham capacidade de resposta e Lourenço Marques depressa integrou a lista de escalas para os abastecimentos.

Para além dos marinheiros que chegavam nestes navios, centenas de outros encontravam em Lourenço Marques um porto de abrigo depois dos seus navios serem afundados ao largo da África do Sul ou no Canal de Moçambique. Conhecedores das rotas que os abastecimentos seguiam as frotas de submarinos alemães e japoneses organizaram, entre 1941 a 1944, diversas expedições afundado dezenas de navios. As faltas de escoltas navais e aéreas tornavam o teatro de operações muito apetecível…

Era destes homens que os agentes italianos e alemães extorquiam informações. Um copo, uma promessa ou simplesmente a falta de cuidado soltavam a língua e as informações fluíam. Grupos de noruegueses, gregos ou de outros países ocupados pelo Eixo também se deslocavam de forma voluntária ao consulado alemão em busca de apoio. Segundo Werz confessaria depois da guerra não era difícil sacar-lhes informações.

Os britânicos aperceberam-se destas movimentações em Lourenço Marques e em finais de Junho de 1942 chegava à cidade Malcolm Muggeridge, com o objectivo de reforçar e reorganizar os serviços de contra-espionagem locais.

Mal chegou, no Verão de 1942, Muggeridge contribuiu para o rapto de um outro elemento da rede de Campini. Homer Serafimides era um marinheiro grego conhecido pelas suas ligações com os italianos. Com a colaboração de Muggeridge, que exerceu pressão sobre o cônsul grego, foi possível meter Serafimides a bordo de um cargueiro grego. O comandante do navio prendeu-o em mar alto e entregou-o no porto sul-africano de Durban.

O jornalista, e futuro escritor britânico, preocupou-se um montar uma rede de vigilância que conseguisse perceber as movimentações dos homens do Eixo. Hospedou-se até no Hotel Polana, para melhor seguir as movimentações dos espiões do eixo que também ali tinham montada a sua base de operações. Entre os que foram recrutados contavam-se dois judeus polacos, um aristocrata alemão e Abel Ferreira, chefia da PVDE em Moçambique, identificado como “Inspector Y”, e que seria o cérebro e o executante da operação de rapto de Manna.

Seria ainda Ferreira a montar as operações de busca ao italiano e a conduzir a investigação policial ao seu desaparecimento. Circularam rumores de que Manna se teria oferecido aos aliados a troco de dinheiro. O inquérito policial seria inconclusivo…


Werz é mais perigoso

Quando Muggeridge chegou, em 1942 os olhos dos aliados estavam sobre Campini que surgia como o líder da mais perigosa rede a operar a África Oriental portuguesa, mas essa percepção mudou em poucos meses e não seria apenas devido aos raptos.

Em finais daquele ano tinha sido possível descodificar as mensagens que vinham de Lourenço Marques e afinal cônsul alemão tinha acesso a informações muito mais sensíveis do que Campini. A rede alemã estendia-se de Lourenço Marques a Pretória, onde contava com a colaboração de muitos Africânderes, que estavam contra o alinhamento do país ao lado da Inglaterra.

Os longos telegramas que enviava para Lisboa continham um misto de notícias sobre navegação e dados sobre a África do Sul. No interior do país estavam colocados agentes alemães, postos emissores e, num dado momento, até foram enviados sabotadores da Alemanha com o objectivo de desestabilizar o país.

As atenções deslocaram-se assim de Campini para Luitpold Werz, o vice-cônsul alemão na cidade, apontado como coordenador da enorme rede de recolha de informações que minava Moçambique e a União Sul Africana, isto apesar dos telegramas enviados para Lisboa, e para Berlim, serem assinados pelo cônsul-geral da Alemanha, um homem idoso chamado Paul Trompke.

A rede de Werz conseguiu, por exemplo, informar Berlim da eminência da invasão aliada de Madagáscar em Maio de 1942(uma possessão francesa e, por isso, sob governo de Vichy). Enviou também informação sobre os meios militares presentes naquela ilha, depois da invasão, ou maquinaria militar que estaria a caminho da União Sul-Africana a bordo de navios que vinham da América.

A sua rede de agentes era constituída por alemães evadidos de campos de prisioneiros sul-africanos, alguns residentes, vários portugueses, incluindo também um elemento da polícia, e ainda os marinheiros de dois navios mercantes alemães refugiados no porto de Lourenço Marques (Aller e Dortmund) e de um outro na Beira (Rufidji). Os navios tinham procurado refúgio no porto neutral quando rebentou a guerra. Seriam adquiridos pelos portugueses em 1943. Ancorado na capital moçambicana encontrava-se também o navio tanque italiano “Gerusalemme”, munido de um poderoso rádio utilizado tanto por italianos como por alemães para fazerem chegar informações mais urgentes a Roma ou a Berlim. Uma operação sempre difícil pois as condições estavam longe de ser ideais.

Depois dos sucessos obtidos com os raptos dos agentes italianos Muggeridge começou a delinear planos para minar a rede alemã. Werz não poderia ser o alvo porque o seu desaparecimento causaria demasiados problemas na pacata Lourenço Marques, mas existiam dois outros operacionais que pareciam importantes e cujo desaparecimento seria sentido no funcionamento da organização.

Herbert Masser, também conhecido por “Pastor”, era um alemão que havia escapado da África do Sul. Era sobejamente conhecido por ter sido julgado naquele país por um crime de espionagem. Num interrogatório no final da guerra Werz não reconheceria qualquer importância a Masser, classificando-o como o uma personagem problemática. Não seria necessário levar avante a operação "Pastmaster", pois Masser seria preso pelos aliados quando tentava chegar a Lisboa escondido a bordo de um navio.

Alois Muellner já era diferente. Conhecido também por Leo, era um dos responsáveis - com um grego de nome Batos ou Bathos - pela elaboração dos “Leo Reports” que eram entregues periodicamente a Werz.

Afinador de pianos de profissão circulava pelas casas dos mais ricos de Lourenço Marques onde alimentava longas conversas sobre os temas do momento.Era conhecido por transitar pelo porto atento às conversas e por oferecer bebidas aos marinheiros nos cafés e bares.

Este tipo de actividades acarretava alguns riscos. Um dos sócios do Hotel Savoy informou, por exemplo, os serviços britânicos de um episódio onde ele quase foi agredido por um náufrago grego. “Você afunda os nossos navios e ainda tem coragem de vir aqui falar connosco” terá gritado o homem antes de se dirigir a ele para lhe bater. O confronto físico só não aconteceu porque outros se interpuseram entre os dois homens.

A “Operação Armpit” também não sairia também do papel, mas por razões diferentes. Em Lisboa negociava-se a cedência das Lages entre portugueses e britânicos e o Foreign Office queria o caminho desimpedido de problemas. Mais um rapto poderia criar sérios problemas diplomáticos.

Manna, que inicialmente ficara calada começara também a falar e diversas mensagens, entregues para análise aos serviços de inteligência da marinha, reveleram que as informações fornecidas por Werz e por Campini, eram vagas e pouco contribuíam para a actividade dos submarinos. Excluída ficou também a suspeita de que existiriam contactos directos entre a rede e os submarinos que operavam naqueles mares.

Não haveria mais acções espectaculares. Os britânicos continuariam apenas a "alimentar" as autoridades portuguesas com informações, com o objectivo de que estes expulsassem italianos e alemães do território, o que aconteceria em 1943 e 1944…

Carlos Guerreiro

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O Postalinho...
Uma ameaça para a América do Sul


Postal de propaganda alemão, certamente posterior a Outubro de 1941 e possivelmente posterior à declaração de guerra do Japão e da Alemanha aos EUA no mês seguinte.

O desenho sugere que os EUA são uma ameaça a todos os países da América do Sul, e que poderá engoli-los, tal como fez com o Panamá.

Devido ao canal, que liga o Atlântico ao Pacífico, o país assumiu um papel estratégico essencial para o conflito.Os EUA, ainda antes de entrarem na guerra, quiseram assegurar o seu controlo e a sua defesa, mas o presidente panamiano, Arnulfo Arias, eleito em 1940 e considerado pró-eixo, dificultou ao máximo às negociações. No princípio de 1942 os EUA consideravam Arias uma ameaça para a estabilidade na zona.

Em Outubro de 1942 essa “ameaça” esfumou-se com um golpe de estado liderado por Ricardo Adolfo de La Guardia. As negociações para o controlo e defesa do canal enttre os dois países avançaram de forma muito rápida e, quando se deu o ataque a Pearl Harbour, no dia 7 de Dezembro, o Panamá foi dos primeiros países da América do Sul a declarar guerra ao Japão e à Alemanha.

Carlos Guerreiro

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A nossa Guerra Mundial no "Aero Journal"


A edição de Dezembro da revista francesa “Aero Journal” dedica várias páginas aos aviões dos países beligerantes que aterraram em Portugal durante a II Guerra Mundial.

O artigo, que me foi solicitado há alguns meses, refere vários dos mais de cem aviões que aterram no nosso país durante aquele período, sejam eles os FW200 Condor, da Luftwaffe, ou os Aircobra americanos.

Boas leituras…
Carlos Guerreiro 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Espionagem em Lourenço Marques...
Preocupações portuguesas

A denúncia da rede de espionagem alemão na capital moçambicana, publicada revista americana Colliers a 7 de Novembro de 1942, causou forte preocupação no regime e, fosse pelos detalhes ou pela sugestão de que o governo português fazia vista grossa à actividade desses espiões, foi rápida a reacção do Governo que, em poucos meses, tinha prontos inquéritos tanto da Marinha de Guerra como do Ministério das Colónias.

Lourenço Marques nos anos 40.

Todos os documentos, acompanhados de algumas notas pessoais, encontram-se no Arquivo Oliveira Salazar, na Torre do Tombo, sinal de o Presidente do Conselho, que era também ministro da Defesa e dos Negócios Estrangeiros, mostrou um interesse pessoal pelo assunto, numa altura em que se adivinhavam mudanças profundas no sentido da guerra, com o desembarque americano no Norte de África.

O Chefe de Estado-Maior da Marinha, Major General da Armada Alfredo Botelho de Sousa, é o primeiro a avançar com as conclusões de um inquérito conduzido pelo comandante do aviso “Afonso de Albuquerque”, a unidade de maior porte no índico naquele período.

Logo a 12 de Janeiro são conhecidos os resultados e, ao longo de 13 páginas, analisam-se várias passagens do artigo publicado na revista americana. Confirma o grande número de afundamentos naquela parte do Indico durante o ano de 1942, avançando com o número de 29 navios desaparecidos entre 17 de Outubro e 14 de Dezembro. Assegura, no entanto, que destes apenas 11 o tinham feito na costa da ex-colónia portuguesa, enquanto os restantes “aconteceram na costa sul-africana”.

Depois de nomear cada um dos onze navios pormenoriza que “apenas dois afundamentos se verificaram a cerca de 10 milhas da costa portuguesa - três a 20 milhas e os restantes 6 a distâncias maiores – todos fora de águas territoriais portugueses que se encontravam até às 3 milhas”.

Mesmo assim muitas dezenas de náufragos, até de navios afundados na África do Sul, vão chegar de alguma forma a Moçambique. Um documento britânico refere a presença de cerca de 500 náufragos nos anos de 1942 e 1943, só na zona da Beira.


Guerra entre portos

Entre as várias respostas enviadas a Lisboa é traçado o cenário do que se vive naquela zona do globo. O porto de Lourenço Marques conheceu um acréscimo de tráfego importante desde que os combates se aproximaram do Egipto no ano anterior, nomeadamente, para se abastecerem de combustível. Cinco dos navios afundados na proximidade da costa tinham ali feito escala. De resto nenhum destes navios chegou ou saiu em comboio ou tinha qualquer tipo de escolta, uma lacuna de “policiamento” considerado um "desafio aos apetites do adversário”.

Os oficiais da marinha portuguesa salientam também que aquela zona do continente africano está à mercê tanto de submarinos alemães, acompanhados de submarinos de abastecimento, como de submarinos japoneses. Uma análise acertada já que tanto uns como outros navegaram aquelas águas até 1944. De resto só esperam nova actividade com a aproximação do Verão, pois os ataques têm tendência para acontecer por vagas: "a considerar o ano passado (...)  houve dois períodos de grande actividade submarina: durante Junho e primeira quinzena de Julho e durante Novembro e primeira quinzena Dezembro".

O relatório exclui a possibilidade de existirem pontos de abastecimento para os submarinos ao longo da costa, mas já não avança com a mesma garantia em relação à existência de navios "amigos" que executem operações desse tipo: “É uma hipótese, que nada confirma, mas que tanto pode verificar-se na costa portuguesa, como na própria costa da África do Sul, pois não há vigilância possível que garanta que tal não se possa dar”.

O Major General da Armada Botelho de Sousa reforça a ideia de que há rivalidade entre portos, nomeadamente com o de Durban, razão porque a notícia saiu daquela forma, responsabilizando Moçambique pelos afundamentos.

Neste aspecto também o relatório do Ministério das Colónias concorda com o realizado pela Marinha, referindo que "a imprensa da União Sul Africana e dos Estados Unidos insistem" em apontar os navios atacados junto à costa Moçambicana, quando foram muitos mais afundados na costa do Natal.

Já sobre o resto do conteúdo do artigo mostra-se incapaz de confirmar as actividades de espionagem alemã. “(…) Não deve ser muito fácil a espionagem feita pelo cônsul alemão num meio relativamente pequeno como é Lourenço Marques onde a grande maioria da opinião pública é favorável aos aliados”, está escrito no relatório, apesar de haver o reconhecimento que, “em todo o caso é de crer que alguma espionagem se faça, e um facto há que contribuí para que se dê mais crédito a essas notícias, é o de na realidade o cônsul Dr. Werz enviar extensos telegramas cifrados”.

Para tentar satisfazer os reclamantes ingleses, mas sem entrar em confronto com os alemães, os responsáveis do ministério sugerem, com “fundamento de haver muito serviço telegráfico do Estado e também haver muito serviço de particulares, limitar o número de palavras dos telegramas cifrados a expedir sem sujeição a demora”. Não é possível perceber, pelo resto da documentação, se esta medida chegou a ser implementada, mas é certo que Werz, e os restantes associados, passaram a estar sob a mira das autoridades policiais em Lourenço Marques.


A esperança dos Bóer

Entre a documentação britânica, relativa à vigilância de elementos desta rede, há testemunhos de polícias locais que confirmam o crescente interesse português nas suas actividades.

Os aliados tinham um interesse muito especial nesta rede, que ia muito para além da informação naval que pudesse ser recolhida pelos seus agentes. No interior da União da África do Sul existia uma importante população bóer, descendentes de holandeses e alemães, e que sempre tinham lutado contra a presença britânica. Fatias importantes desta população eram contra a participação na guerra ao lado dos aliados e outros viam na vitória alemã a possibilidade de reconquistarem o poder.

Os aliados sabiam que existiam contactos entre grupos nacionalistas bóer e alemães. Existiam trocas de informações, emissões de rádio alemãs para o território e será até desembarcado um sabotador alemão no território.

Por todas essas razões os britânicos tinham a rede assinalada há algum tempo e andavam a recolher informações junto de diversas indivíduos portugueses e estrangeiros que residiam em Moçambique.

A partir dos princípios de 1943 Salazar vai também estar exposto a uma maior pressão dos aliados. Detalhes sobre diversas redes alemãs a operar em Lisboa e nas diversas colónias são-lhe entregues pelo embaixador britânico em Lisboa. A insistência em obter resultados passa a ser cada vez mais intensa e terá também resultados em Moçambique. Em Outubro de 1944 as autoridades portuguesas vão expulsar da colónia tanto Wertz como outros membros da sua rede.

Carlos Guerreiro

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Prisioneiros portugueses durante a II Guerra Mundial

A neutralidade portuguesa não impediu que portugueses lutassem nos vários campos de batalha da Europa dos anos 30 e 40 do século passado e acabassem por sofrer o cativeiro na sequência dessa particpação.

Entrada do Campo de Prisioneiros de Vernet onde estiveram presos várias dezenas de Portugueses durante a II Guerra Mundial.

Na guerra civil de Espanha os Viriatos e outros voluntários lutaram  com os nacionalistas rebeldes de Franco, enquanto do outro lado das trincheiras se encontravam portuguese republicanos, comunistas e anarquistas.

Terminado este “ensaio” do que viria a ser a II Guerra Mundial, os homens seguiram destinos distintos. Entre os nacionalistaas, muitas dezenas fizeram vida profissional no exército de Franco, enquanto os do outro lado - algumas centenas - atravessavam a fronteira para França, escapando à prisão e, possivelmente, à morte.

A França do princípio de 1939 colocou-os em campos de internamento até encontrar melhor solução. Os campos foram-se esvaziando através de repatriamentos ou outros destinos. Quando rebentou a II Guerra Mundial sobravam muitos comunistas, então aliados dos alemães. Mantê-los presos foi uma solução óbvia.

 Reportagem sobre prisioneiros portugueses da II Guerra Mundial. Na imagem prisioneiros comunistas no campo francês de Vernet.

No campo de Vernet juntaram-se esses combatentes da guerra civil a portugueses indocumentados, a presos de delito comum ou a elementos civis que pertentes a associações de índole comunista.

A rendição da França abriu a porta à possibilidade de trabalharem na Alemanha. Quando se dá invasão da Rússia pelos Nazis tudo muda… Alguns destes portugueses vão terminar o seu cativeiro em campos de concentração alemães. Vários morrem por lá.

 Cristina Clímaco recorda Tomás Vieira um português que morreu em cativeiro.

Na Rússia cerca de centena e meia de portugueses envergou a farda da divisão azul, uma unidade espanhola que lutou ao lado dos nazis. Pelo menos dois foram aprisionados e percorreram vários campos de prisioneiros. De um perdeu-se o rastro, mas outros conseguiu regressar a casa.

 As famílias dos prisioneiros na Rússia não sabiam que se ele estavam vivos ou mortos, explica Ricardo Silva.

Os investigadores Cristina Clímaco e Ricardo Silva seguiram o rasto destes homens e contaram parte das suas histórias. A reportagem foi emitida na Antena 1 na tarde do dia 1 de Dezembro de 2014…

Carlos Guerreiro