Wilfrid Israel, o calmo empresário germano-britânico que terá salvado cerca de 30 mil judeus durante a 2ª Guerra Mundial
(Foto cedida por Michael Simonson do Leo Baeck Institute)
Ele é associado ao salvamento de 30 mil judeus da Alemanha, cerca de um terço, eram crianças.
Israel tinha chegado a Portugal em Março encarregado de uma missão da Jewish Agency for Palestine, uma das várias organizações humanitárias que montaram quartel em Lisboa durante a Guerra, com o objectivo de ajudar e retirar judeus e outros refugiados de Portugal e da Europa.
Trazia consigo cerca de 200 certificados de imigração britânicos que permitiriam chegar à Palestina. Salvar vidas não era uma novidade Wilfrid. Apesar de ter nascido em Inglaterra, em 11 de Julho de 1899, era herdeiro de um dos maiores estabelecimentos comercias de Berlim, onde trabalhavam cerca de 2000 pessoas.
Compras por Vidas
Desde 1933, quando subiram ao poder os Nacional-Socialistas, que financiava a saída de famílias judaicas da Alemanha. Compras por vidas As suas ligações à alta sociedade alemã e aos meios económicos – a empresa "N. Israel" esteve cotada em bolsa – deram-lhe alguma protecção nos primeiros anos do nazismo e permitiram-lhe realizar algumas acções que granjearam o respeito da comunidade.
Numa primeira fase a solução de Hitler para os Judeus passava por obriga-los a sair do país e não pela sua exterminação. Wilfrid envolveu-se no “Kindertransport”, um programa de retirada de crianças judaicas que terá evacuado da Alemanha cerca de 10 mil crianças antes do início da guerra.
Quando os alemães foram aconselhados a não fazer compras em estabelecimentos judeus, o armazém de Wilfrid continuou a trabalhar.
Livro sobre Wilfrid Israel, da autoria de Naomi Shepherd, editado em 1984.
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Após a “Noite de Cristal”, em Novembro de 1938, quando os nazis invadiram e destruíram milhares de lojas, propriedade de judeus, Wifrid Israel protegeu como pôde os seus empregados judeus e familiares.
Depois fez um levantamento dos tinham sido presos e dirigiu-se ao campo de concentração de Sachenhausen, para negociar com o comandante. Trocou a liberdade deles por dinheiro e “convidou” o comandante a fazer as compras de natal na sua loja, gratuitamente…
Nesse ano ele e o irmão foram finalmente obrigados a vender o negócio e retiraram-se para Inglaterra. Está num Kibutz na Palestina quando estala a guerra. Regressa ao Reino Unido para ajudar a separar os verdadeiros refugiados de agentes alemães que se infiltraram entre os milhares de fugitivos.
Assume ainda um cargo na Universidade de Oxford, mas nunca perde de vista as diversas agências envolvidas no salvamento de judeus na Europa ocupada, razão porque ninguém estranha a sua nomeação para a função em Lisboa da Jewish Agency for Palestine.
Verdadeiro Pimpinela Escarlate
No livro de 1984 sobre a sua vida são descritas as últimas semanas de vida de Wilfrid passadas em Portugal e Espanha. No nosso país visitou refugiados em Lisboa, Caldas da Rainha e Ericeira. Entendeu que os judeus se encontravam bem alojados e numa posição relativamente segura.
Por outro lado, em Espanha, relata as “terríveis condições” em que ali viviam os judeus nos campos de internamento criados pelo governo de Franco. Decide-se por entregar a maioria dos certificados britânicos de imigração aos que se encontram no país vizinho.
Por coincidência encontra-se em Madrid com Leslie Howard – um dos principais actores de “E Tudo o Vento Levou” - que desenvolvia uma campanha de propaganda a favor dos aliados falando de cinema e de Shakespeare. Conferências semelhantes foram realizadas em Lisboa.
"Trailer" do filme documentário sobre a vida de Wilfrid Israel, lançado este ano.
Howard tinha também produzido e actuado no filme “Pimpinela Escarlate”, relato da história de um nobre inglês que durante o período negro da revolução francesa salva aristocratas franceses da guilhotina. A versão de Howard, de 1941, é claramente um filme de denúncia do nazismo…
Israel explica a Howard a sua missão durante um almoço na embaixada britânica. Quer retirar dos campos espanhóis os judeus que conseguisse e envia-los para a Palestina. Procurava especialmente jovens com idades entre os 14 e os 16 anos. Gente nova com vontade de recomeçar…
Por outro lado tentava também perceber a possibilidade resgatar cerca de mil crianças que ainda se encontravam em França…
“Mas você é o pimpinela escarlate. Eu apenas desempenhei o papel”, terá referido Leslie Howard.
Voltariam a encontrar-se na manhã de 1 de Junho de 1943, em Lisboa, junto do "Ibis", o avião que os conduziria para a morte…
Mais tarde, e com base no trabalho de Wilfrid partiriam, de Lisboa em navios portugueses, cerca de 750 imigrantes judeus destinados à Palestina.
Várias crianças seriam também retiradas através de rotas alpinas de França. Um rota difícil que cobraria em vidas essa ousadia.
De Wilfrid Israel ficou ainda uma colecção de arte oriental resultante de uma paixão de juventude. Armazenada em Inglaterra durante a Guerra seria herdada pelo kibutz de Hazorea, em Israel (país), que montou um museu em sua memória e, recentemente, produziu também um filme/ documentário sobre a sua vida…
Carlos Guerreiro
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