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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Internamento de pilotos... na Irlanda

O internamento de pilotos durante a II Guerra Mundial não foi um exclusivo de Portugal. Na Suécia, Suíça, Espanha ou Irlanda também aterraram centenas de pilotos e aviões...

Fica um vídeo que me foi mandado por Yann Araújo e que mostra o que aconteceu na Irlanda... um filme muito interessante - e bem feito - para quem gosta da aviação daquele período. O combate aéreo está excelente...


The German from Nick Ryan on Vimeo.

Deixo também um link para um site muito semelhante ao Aterrem em Portugal, mas que se dedica aos aparelhos que aterraram na Irlanda durante o mesmo período. Um trabalho muito bem feito do Dennis Burke...



Bons voos
Carlos Guerreiro

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

«Ministério das Propagandas» FÁBRICAS DA LIBERDADE

O folheto tem cerca de trinta páginas dedicadas ao que chama o “exército civil da Grã-Bretanha”. Uma força que inclui os milhares de operários e trabalhadores que contribuem para o esforço de guerra.
O folheto é quase de certeza de 1941, numa altura em que a batalha de Inglaterra já tem um vencedor claro, e o objectivo é mostrar o poder industrial e capacidade de trabalho britânico. 

O complexo industrial alemão tinha sido arrasado depois da I Guerra Mundial e, especialmente, após a crise de 1929. Com a subida de Hitler ao poder a produção industrial disparou, o que foi usado como propaganda mesmo antes do conflito. 

O partido Nazi investiu também no turismo do operariado através de organizações próprias. A Portugal, antes da guerra, chegaram diversos navios com estes novos turistas que vinham desfrutar das paisagens de Sintra ou da vida lisboeta.

Este panfleto – onde claramente foi feito um grande investimento – parece ser uma resposta britânica à imagem que o Nacional-Socialismo foi passando ao longo dos anos.


O folheto faz referência a Ernest Bevin - nomeado por Churchill para reestruturar a indústria britânica em tempo de guerra – e compara o trabalho realizado por ele com o que diz acontecer na Alemanha:  “Viu-se por acaso Bevin constrangido a ameaçar, forçar ou empunhar uma pistola? Não. O povo britânico deu-lhe logo sem hesitação o seu melhor esforço, com um entusiasmo que seria impossível de obter em qualquer país escravizado à maneira nazi.”





















O folheto destaca também a capacidade de sacrifício e o engenho dos trabalhadores Britânico.


A “Indústria da liberdade” destaca também o contributo da Comonwealth para o esforço de guerra: “o entusiasmo não se limita, porém, às ilhas britânicas. Manifesta-se através de todo o esforço bélico das nações dos povos que constituem a Comunidade Britânica.”



“Ao terminar o ano de 1940 já as encomendas de guerra, feitas ao Canadá, se cifravam em 50 milhões de contos. As suas fábricas produzem canhões, «tanks», carros, navios e aviões.”
“Construiu a Austrália milhares de carros para o exército e está enviar aeroplanos não só para a Índia, mas também para outras frentes, cujo apetrechamento se faz em condições mais fáceis, vindo das regiões do Pacífico.”



“Também a África do Sul está a produzir em vasta escala toda a classe de munições.”

































Para mostrar a superioridade dos “recursos do Império” fica também uma lista das principais matérias-primas que estão disponíveis para o esforço de guerra e o olhar calmo e confiante dos operários britânicos.
 



Um olhar para um poderio económico que viria a ser reforçado com a entrada - em pleno - do aliado americano - e o seu "Arsenal da Democracia" -  em finais de 1941...
Carlos Guerreiro

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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Japoneses desafiaram Salazar há 70 anos com invasão de Timor

Fica a história publicada pela Agência Lusa:


"A invasão japonesa de Timor-Leste aconteceu há 70 anos, deixando em três anos um rasto de destruição e 50 a 70 mil mortos na única parte do território português que, apesar da neutralidade de Salazar, viveu a II Guerra Mundial.


Investigadores portugueses contactados pela Lusa consideraram «trágica» e «catastrófica» a invasão, já que a resistência transformou Timor-Leste num teatro de guerrilha, estimando-se que 50 mil pessoas tenham morrido directamente devido à guerra e outras devido à fome, às doenças e aos trabalhos forçados pelos japoneses. No total, estima-se que mais de 10 por cento da população timorense tenha desaparecido naquele período.   



Folhetos Australianos lançados de avião sobre Timor durante a II Guerra Mundial. 
(Australian War Memorial, http://www.awm.gov.au/atwar/timor.asp)

 Há também registo da morte de 75 pessoas de origem europeia, 10 em combate, 37 assassinadas e oito em detenção, contou investigador António Monteiro Cardoso.

Além disso, acrescentou, «a destruição foi imensa», devido aos bombardeamentos efectuados, tanto pelos japoneses, como pelos aliados que tentavam expulsá-los. «Díli sofreu 94 ataques aéreos», disse o investigador, autor do livro Timor na 2.ª Guerra Mundial — O Diário do Tenente Pires, acrescentando que poucas foram as casas que ficaram de pé e a maioria das povoações timorenses desapareceu neste período.
A invasão, que ocorreu a 20 de Fevereiro de 1941, um dia depois de um bombardeamento a Darwin, «foi facilitada» porque não havia tropas portuguesas no território, contou o investigador. As tropas vinham de Moçambique e estavam já próximo de Timor-Leste quando os japoneses desembarcaram em Díli.

Apesar de a data não ter sido assinalada oficialmente hoje em Timor-Leste, na segunda-feira o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, referiu-se a estes acontecimentos históricos, durante uma visita que efectua à Austrália.

«Foi um momento definidor na relação entre timorenses e australianos», disse num memorial da guerra, em Sydney, considerando-o também «uma época em que a nacionalidade foi transcendida e, como seres humanos, os nossos povos não só sofreram uma dor profunda mas também fizeram actos de grande altruísmo, o que resultou numa ligação de amizade e de honra numa herança duradoira».

No mesmo dia 20 de Fevereiro de 1941, militares japoneses desembarcaram também em Kupang, no lado holandês da ilha, mas as autoridades do lado ocidental renderam-se ao fim de cinco dias. No lado oriental, tropas australianas preparadas para a guerra de guerrilha infiltraram-se nas montanhas e lançaram emboscadas logo que os japoneses começaram a sair de Díli.

Cedo estes militares contaram com o apoio dos timorenses, chocados com a violência da ocupação dos japoneses, que fizeram pilhagens e violaram mulheres. Também muitos dos portugueses que haviam sido deportados para Timor, sobretudo por questões políticas, se juntaram à guerrilha.

Segundo o investigador Moisés Fernandes, os portugueses não eram mais de 350 a 400 e havia uma divisão entre a elite da administração, que era pró-japonesa, e os restantes, pró-aliados.

Esta ideia é refutada por António Monteiro Cardoso, que defende que os principais administradores do território tomaram partido pelos aliados, contra a vontade do governo do chefe do governo português, António Oliveira Salazar, que exigia a manutenção da neutralidade e manteve relações diplomáticas com o Japão ao longo de toda a guerra.

Para António Monteiro Cardoso, Portugal «esqueceu» a invasão japonesa de Timor durante anos porque «a Salazar não interessava dizer que havia uma zona tocada pela guerra» e também porque a ausência de tropas em 1941 - destinada a garantir a neutralidade portuguesa - poderá ter facilitado a entrada das tropas nipónicas.

FPA/ Lusa"

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Roubando vidas ao mar

A roupa encontrava-se rasgada, muitos apresentavam-se feridos e com fracturas. A exaustão era geral. Distribuídos por cinco salva vidas cerca de 200 sobreviventes do paquete “Ávila Star”, estavam numa situação preocupante desde que tinham sido torpedeados pelo submarino alemão U-201, no dia 5 de Junho de 1942.

Os dois torpedos inutilizaram um salva-vidas e, dos sete que conseguiram baixar, dois foram abandonados no dia seguinte porque metiam água. Apertados e em dificuldades tinham visto as cinco embarcações separarem-se e tentaram, cada uma à sua maneira, procurar salvação.

 O contratorpedeiro Lima. 

É só na noite de 7 para 8 de Julho que o contratorpedeiro da marinha portuguesa “Lima” – em trânsito de Lisboa para Ponta Delgada - se apercebe da existência de uma luz à distância. É um dos salva vidas. Os primeiros sobreviventes que sobem a bordo indicam ao comandante Sarmento Rodrigues a zona onde se encontram outros. Ao fim da noite já tinham recolhido 110 pessoas, de três embarcações.

“Estava tudo cheio, por toda a parte escorria nafta dos andrajos que iam sendo substituídos. Oficiais, sargentos, marinheiros, cedem as suas camas, emprestam as suas roupas, multiplicam-se em caridades para com os náufragos, cujo estado metia compaixão”, conta a Revista da Marinha, na sua edição de Janeiro de 1943.
A publicação traz uma reportagem épica sobre o trabalho feito pela marinha portuguesa no salvamento dos sobreviventes do “Ávila Star. O Lima continuou a sua busca enquanto pode, mas quando combustível escasseou, foi obrigado a abandonar as buscas.

Os responsáveis da marinha portuguesa não desistem dos outros sobreviventes e com recurso a aviões procuram as duas balsas desaparecidos.



 Algumas fotografias tiradas a bordo do "Lima", publicadas na "Revista da Marinha" em Janeiro de 1943.

 Três semanas depois do afundamento do navio é descoberta uma nova balsa. O avião larga viveres atados a coletes salva-vidas e reacende a esperança dos que se encontram a bordo. O navio “Pedro Nunes” acorre à zona, mas só três dias depois -no dia 25 - localiza e iça para bordo os últimos sobreviventes do “Ávila Star”. No pequeno barco tinham morrido 10 dos 39 ocupantes.
 
“O estado em todos os que vinham era indiscritível. Inanimados, moribundos quási. As senhoras choravam. Muitos foram retirados inertes, debaixo das bancadas onde jaziam. Um deles agonizava ao chegar ao convés do navio salvador. Outros devem a vida ao extraordinário esforço que o 2º tenente médico Nobre Leitão, desenvolveu durante longas horas, em que até uma transfusão de sangue teve de ser feita, com as mais rudimentares disposições para tal”, continua o relato da Revista da Marinha. Esta reportagem não refere, no entanto, que a bordo do “Pedro Nunes” se registou mais uma morte e que dois outros pereceram já em Lisboa, no Hospital.


O "Pedro Nunes" também mereceu o agradecimento da comunidade britânica pela participação na operação de salvamento dos sobreviventes do "Ávila Star". Fotos publicadas na "Revista da Marinha".
Apesar do empenho o quinto salva-vidas nunca foi encontrado. Dos 199 passageiros e tripulantes do Ávila Star, 73 não sobreviveram…


Um obrigado americano 
           
“No cumprimento de instruções do meu Governo, desejo apresentar (…) a expressão do profundo apreço do Governo dos Estados Unidos pela heróica acção praticada pela tripulação do contratorpedeiro Lima, salvando numerosos náufragos de navios americanos afundados na região dos Açores. Este acto, que foi praticado com extraordinária coragem e perícia, nas mais difíceis condições de tempo, fará, estou certo, uma profunda impressão no público americano quando se tornem conhecidas todas as suas circunstâncias”.

Esta é apenas parte da nota entregue no dia 3 de Fevereiro de 1943 por Robert Fish, Ministro dos Estados Unidos em Lisboa, ao Governo português depois de nova operação de salvamento do “Lima” que recuperou 119 pessoas pertencentes a dois navios americanos.

Através de um relatório oficial, guardado na Torre do Tombo, sabemos que o pedido de socorro chegou através de uma mensagem de rádio, no dia 26 de Janeiro. O Lima zarpou de Ponta Delgada, à procura dos sobreviventes do navio americano “City of Flint”, afundado por um submarino alemão.


 Notícia Publicada no jornal "Diário de Lisboa" de 04 Janeiro de 1943.

O navio português teria de percorrer cerca de 300 milhas para chegar ao local, mas iria começar a trabalhar antes disso.

Na madrugada do dia 28, por volta das cinco da manhã, avistaram duas jangadas transportando 71 pessoas, mas não eram do navio que procuravam. Pertenciam ao “Julia Ward Howe” que também fora metido a pique por um submarino alemão.

Tanto este, como o “City of Flint”, pertenciam ao mesmo comboio. Tinham saído de Nova Iorque no dia 13 de Janeiro de 1943, mas uma forte tempestade separou-os dos restantes navios.

O “Howe” seria atingido, no dia 27, por um torpedo do submarino U-442. A explosão abriu-lhe um rombo, destruiu dois salva-vidas e o rádio. Mesmo com o navio a inclinar-se, a tripulação tentou responder ao ataque disparando três tiros na direcção do submarino, sem resultados.

Já nos salva-vidas viram um segundo torpedo partir o navio ao meio. O mestre, um guarda e um passageiro morreram durante o ataque. Todos os sobreviventes foram recolhidos pelo “Lima”. A bordo ainda iria falecer o chefe maquinista, ferido com gravidade durante o ataque.


A proa do "Lima", numa fotografia da "Revista da Marinha".

O “Flint”, por seu lado, afastou-se do resto do comboio porque a carga, mal acondicionada, se deslocou com o temporal, deixando-o desequilibrado. Sozinho continuou a progressão em ziguezague para tentar escapar aos submarinos, mas às 22 horas do dia 25 encontrou o U-575.

Um torpedo incendiou a carga de óleo e gasolina transformando a proa numa tocha. A tripulação mal teve tempo para chegar aos quatro salva vidas, antes de outro torpedo confirmar o afundamento do navio. Dois tripulantes e quatro guardas perderam a vida.

O cozinheiro, Robert Daigle, foi recolhido pelo submarino e levado como prisioneiro. Os restantes 58 sobreviventes ficaram à espera de salvação.

Três salva-vidas conseguem manter-se juntos, mas o quarto afasta-se. Os primeiros tentam rumar aos Açores, navegando à vela, e acabam por ser encontrados pelo Lima. 48 homens são retirados da água.


Um difícil regresso

O Lima tem 119 náufragos a bordo e ainda procura a quarta embarcação. A aviação Naval volta a colaborar, mas sem resultados.

A 30 de Janeiro há notícias de mais um afundamento, 150 milhas a sudoeste do Faial e o “Lima” ainda se dirige-se para a zona, sem resultados. “O mau tempo e a escassez de combustível obrigaram-no a suspender a busca e a regressar a Ponta Delgada na tarde de 30, ao fim de 108 horas de esforços feitos em condições de sacrifício para toda a guarnição, cujos mantimentos eram escassos em virtude da urgência da saída e de ter a bordo grande número de náufragos, aos quais foram cedidos alojamentos e roupas”, esclarece o relatório do Ministério da Marinha enviado a Salazar.

O regresso seria complicado. Uma tempestade e uma avaria nas caldeiras, quase causaram o naufrágio do próprio Lima. Sem máquinas, o navio esteve exposto às ondas, “durante 45 minutos, atravessado ao mar, chegando a dar 67 graus de balanço e adormecendo apesar de ter, por precaução, enchido de água os tanques de nafta”, continua o relatório.

O "Lima" inclinado a mais de 60 graus no regresso a Ponta Delgada.
(Imagem cedida por  http://velhosnavios.blogspot.com/)

Quando chega a Ponta Delgada o relatório apresenta um extenso número de estragos: “uma baleeira perdida, outra avariada, o bote arrombado, um turco retorcido, toda a balaustrada de bombordo arrasada, o portaló do mesmo bordo levado pelo mar, grande parte do mobiliário das câmaras dos oficiais e sargentos e da enfermaria partida, telefonia completamente destruída, o rádio goniómetro avariado, um dos tanques de nafta fazendo água e vários cunhetes de munições levados pelo mar. Um dos marinheiros da guarnição teve uma perna partida em dois pontos e vários náufragos tiveram também ferimentos.”

Os últimos dez sobreviventes do “City of Flint” seriam recolhidos por um navio britânico e levados para Gibraltar. 

Carlos Guerreiro

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                                                                "ÀVILA STAR"
                                                                "CITY OF FLINT"
                                                                "JÚLIA WARD HOWE"