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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Modelismo em Maceda e Montijo

Vai ser um fim de semana em grande para quem gosta de modelismo em Portugal. Duas exposições com tradição no meio acontecem este fim de semana... Em Maceda e Montijo será possível ver o que de melhor se faz pelo país.

Em Maceda, a exposição tem lugar na Base Aérea, e espera juntar milhares de pessoas como todos os anos... Fica o cartaz e a ligação à página de facebook AQUI.



Mais a sul é o Pavilhão Desportivo do Montijo que se vai transformar no centro das atenções... Para mais informações fica também o cartaz e a ligação à página de facebook AQUI

Bom fim de semana
Carlos Guerreiro  

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Um morto português na frente russa

Os médicos foram apanhados de surpresa e terão tentado, de todas as formas estancar a hemorragia, causada pela ruptura da artéria da coxa esquerda do capitão de engenharia Mariano Augusto Lopes Pires.

Às 23 horas e 53 minutos, da noite de 15 Setembro de 1941, o doutor Tempel, declarou o óbito do oficial português, no Hospital Militar Lazaret 122, em Berlim Tempelhof, depois de várias tentativas de reanimação que incluíram pelo menos três transfusões de sangue.

Esta fotografia da cerimónia fúnebre de Lopes Pires, em Berlim, circula pela internet há varios anos. Deve fazer parte do lote de seis imagens fornecidas pelas autoridades alemãs à família do oficial português. 

Desde a chegada de Lopes Pires e outros três oficiais portugueses a Berlim que os médicos alemães, com dois anos de experiência em lesões de guerra, tinham considerado, os seus ferimentos como ligeiros. A ruptura da artéria e a morte deste paciente foi, por isso, um acontecimento inesperado.

Todos tinham chegado da frente no dia 11 com ferimentos causados por estilhaços, resultado da explosão de uma bomba incendiária, num aeródromo da frente russa, no Kursk.

Faziam parte de uma comitiva de 12 oficiais de estado-maior portugueses, que tinha chegado a Berlim a meio de Agosto, com o objectivo de contactar “com os mais recentes ensinamentos da guerra moderna” e, nesse sentido, tinham agendadas visitas a diversas escolas de formação na Alemanha e também uma passagem pela “frente oriental” (Ver "Oficiais Portugueses na Frente Russa").

A comitiva viajava sob alçada do programa de rearmamento do exército. Algum material, nomeadamente obuses, tinha sido adquirido no ano anterior aos alemães e outro poderia seguir-se.

Não era também a primeira vez que uma delegação de oficiais realizava este tipo de visitas a países beligerantes, ou à “frente oriental”.

Todas as missões tinham os seus perigos, especialmente, quando se aproximavam das frentes de combate. Nos relatórios das missões que passaram pela Rússia, por exemplo, existem notas sobre as precauções relacionadas com ataques na retaguarda por grupos de resistentes ou militares inimigos infiltrados. Pelo menos em duas ocasiões registaram-se explosões de obuses russos perto das comitivas.

Não seriam, no entanto, qualquer destes perigos óbvios a vitimar os oficiais portugueses. Durante a visita a um aeródromo, nas linhas secundárias, onde se encontrava o Grupo de Bombardeamento Boelcke foi manuseado, para demonstração, uma bomba incendiária. Supostamente tratava-se de um “engenho não explosivo”, mas ele rebentou.

Vários soldados e oficiais alemães ficaram feridos e o mesmo aconteceu a nove dos 11 oficiais portugueses que faziam parte da comitiva (um dos portugueses já tinha regressado a Lisboa, por ter necessitado de cuidados médicos relacionados com uma doença).

Dos nove atingidos o comandante da missão, coronel Teles Ferreira de Passos e os capitães Carlos Miguel Lopes da Silva Freire, Mariano Augusto Lopes Pires e Almeida Fernandes ficariam internados num hospital de campanha no Kursk e mais tarde, no dia 11, evacuados “em avião sanitário” para Berlim, onde Lopes Pires veio a falecer.

Um difícil regresso

Os preparativos para transladar o corpo para Lisboa levaram alguns dias já que burocracia se estendeu a três países diferentes, que teriam de ser atravessados pelo féretro. A França ocupada não foi problema, mas a passagem por Espanha obrigou a um intenso trabalho diplomático que passou pela embaixada de Madrid em Berlim.

“Em 23 teve lugar uma cerimónia religiosa de corpo presente dedicada à memória do Capitão Lopes Pires, em que oficiou o capelão H. Kreutsberg e em que falou o General Olbricht. Assistiram o Ministro de Portugal (Conde de Tovar) e vários Generais e oficiais, entre eles o General Von Hase comandante militar de Berlim. Após as honras militares prestadas por uma companhia de aviação foi o corpo transportado em armão à estação de Tempelhof e transportado a Lisboa acompanhado pelo Major do Estado-Maior alemão Von Armin”, esclarece o relatório da missão que seria publicado em livro no ano seguinte.

O que o relatório não traz é a informação sobre toda a difícil viagem até à capital portuguesa. Uma viagem, em vagões de comboio especiais, que pode ser reconstruída através de um vasto conjunto de documentos que também se encontram nos Arquivo Histórico-Militar.

A supervisão alemã estendeu-se até à fronteira francesa, mas em Irun, onde era esperado pelo cônsul local e pelo adido militar da embaixada portuguesa em Madrid, Major Jorge santos Pedreira, tudo se complicou.

Algumas das notícias que saíram a 27 e a 28 de Setembro de 1942 n'O Comércio do Porto e n'O Século.
 (Fonte: Hemeroteca de Lisboa)


“As autoridades alemãs cuidaram desveladamente do transporte dos restos do desditoso oficial até à fronteira francesa mas não devem ter previsto que a diferença de via ia dar lugar a uma mudança de wagon e a uma espera de bastantes horas numa estação fronteiriça antes que o féretro pudesse circular novamente através da Espanha no seu caminho para Portugal (..). De facto foi preciso improvisar tudo: instalar capela ardente, pedir pessoal militar para o transporte do corpo, guarda para o velar, conseguir wagon e pagar o respectivo frete inclusivamente arranjar bilhetes e com grande dificuldade para que viajassem no mesmo comboio, tanto o oficial português de começo mencionado como o oficial alemão e o soldado intérprete que desde Berlim acompanhavam o féretro”, explica de forma pormenorizada um relatório da embaixada em Madrid.

Nas semanas seguintes iriam chegar duas facturas ao Ministério da Guerra, uma do consulado e outra da Embaixada. A primeira de quase mil pesetas e segunda de cerca de 2000 pesetas… são diversas despesas onde se incluem, entre outros, os gastos com o comboio, alojamento, instalação da capela ardente, agência funerária e acto religioso…

De novo em viagem o major Pedreira seria substituído em Vilar Formoso pelo major Frederico Vilar e tenente Ferraz Oliveira, da arma de engenharia, que tinham também integrado a missão à frente oriental e haviam regressado a Portugal na noite em que Mariano Lopes Pires faleceu.

Engenheiro na base da Ota

Ao longo de todo o conflito o governo português foi extremamente cuidadoso a revelar as suas relações com os diversos beligerantes. Neste caso, no entanto, fez ampla publicidade dos acontecimentos e da morte do capitão Lopes Pires no decurso da “missão de estudo relacionada com o plano de rearmamento do exército”.

Um longo comunicado explicando todos os factos foi enviado aos jornais para ser publicado no dia do funeral. Seria transcrito na íntegra n’O Século do dia 27 de Setembro. Nessa nota informativa são destacadas algumas notas biográficas que salientam, porexemplo, os laços familiares com outros oficiais das forças armadas.

Também destaca o facto de ter sido um dos oficiais escolhidos para dirigir “as obras de engenharia da Base Aérea da Ota, um dos trabalhos de Engenharia Militar mais notáveis até hoje realizados em Portugal, tendo sido louvado em ordem do exército pela forma como se desempenhou dessa missão”.

Fotos dos oficiais portugueses que foram hospitalizados na sequência da explosão de um bomba no Kursk. Lopes Pires acabou por falecer. 
Outras fotos do funeral publicadas em jornais. As Primeiras são d'O Século e a última d'O Comércio do Porto. Nas imagens do funeral são bem visíveis os oficiais alemães.
 (Fonte: Hemeroteca de Lisboa)
 
No dia 28 “O Comércio do Porto” e o também “O Século”, realizam pormenorizadas reportagens sobre o funeral, relatando a chegada do comboio especial à estação do Rossio às 10.15 da manhã, onde era esperado tanto por familiares como por oficias do exército ligados à Engenharia e ao estado-maior.

Presença assinalada a dos adidos alemães da marinha, exército e força aérea, que surgem em destaque nas fotos de ambos os periódicos. Na igreja da Estrela, onde a guarda de Honra foi assegurada pelo Regimento de sapadores do Caminho-de-ferro, destacavam-se, entre os ramos e as coroas de “flores naturais (…) as oferecidas pelos oficias alemães com grandes fitas vermelhas com a cruz suástica…”

As exéquias prolongaram-se e só depois das 16 horas o caixão seguiu da Igreja da Estrela para o Cemitério dos Prazeres.

Dos restantes feridos os dois capitães regressaria a 30 de Setembro de avião. O coronel Teles Ferreira de Passos faria um circuito um pouco mais longo, regressando, em 1 de Outubro, regressou no "wagon especial destinado ao transporte dos diplomatas brasileiros a trocar em Lisboa com os alemães vindos do Brasil". Chegou apenas a 10 e, durante a ravessia da França ocupada, em Biarritz, almoçou com o comandante da guarnição alemã – General Hoffman.


Em janeiro de 1944 o governo alemão resolveu condecorar os militares portugueses participantes na missão de 1942, salientando “a importância do acto e o prestígio que a missão conquistara”.

Para a família do malogrado capitão Lopes Pires as autoridades alemãs enviaram, no princípio de Outubro de 1942, cópias de seis fotografias da cerimónia fúnebre que tinha tido lugar em Berlim. Foram entregues à mulher a 8 de Dezembro desse ano.

Carlos Guerreiro

terça-feira, 25 de setembro de 2012

“As cidades e as guerras” traz Neil Lochery a Lisboa

Entre os muitos especialistas que no final desta semana participam na conferência “As cidades e as Guerras”, conta-se Neil Locehry, que publicou recentemente em Portugal o livro “Lisboa, a Guerra nas sombras da cidade da luz” (ver entrevista AQUI).


A conferência, uma iniciativa do Instituto de História Contemporânea e da Câmara Municipal de Lisboa, reúne ainda outros importantes nomes nacionais e estrangeiros, ligados ao estudo da história contemporânea como Fernando Rosas, Irene Pimentel, João Avelãs Nunes e outros (ver o nome dos conferêncistas AQUI)


Em foco, durante as próximas quinta e sexta-feiras, vão estar a 1ª e a 2ª Guerras Mundiais e os impactos que estes conflitos tiveram sobre as cidades. Na quinta o centro das atenções é a primeira Guerra Mundial e a Guerra Civil de Espanha.

A sexta feira é dedicada à 2ª Guerra Mundial com o desenvolvimento de temas como a economia de guerra, Lisboa como abrigo para Refugiados ou a corrida do volfrâmio (ver programa AQUI)

O curso vai decorrer no Teatro Aberto, em Lisboa, e as inscrições podem ser feitas on-line (ver AQUI).

Para os estudantes o curso custa 5 Euros enquanto os restantes pagam 15…

Pode encontrar a página principal da conferência AQUI

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Oficiais portugueses na frente russa


“A população aparentava estar calma, silenciosa, disciplinada mesmo nas localidades recentemente ocupadas, seguindo resignadamente os movimentos de evacuação forçada, ou trabalhando nos campos quasi nas primeiras linhas, nas zonas das batarias de artilharia, sob acção dos bombardeamentos dos seus nacionais, demonstrando o seu apego à terra, próprio de uma população agrícola”.

Esta é um das impressões da viagem à frente russa que se podem encontrar no Relatório da Missão Militar à Alemanha e à Frente Oriental, elaborada por cerca de uma dezena de oficiais portugueses após um périplo de quase dois meses. Entre 12 de Agosto e 10 de Outubro de 1942 tomaram “directo contacto com os mais recentes ensinamentos da guerra moderna”.

Entre as impressões da viagem os militares portugueses destacam também que, nas aldeias que visitaram, mal se viam homens adultos. A população resumia-se quase sempre a velhos, mulheres e crianças.

Reportagem da visita dos oficiais portugueses à frente oriental em Agosto/ Setembro de 1942. 
As imagens foram publicadas na revista "Sinal" de Dezembro de 1942.

O relatório, que se encontra no Arquivo Histórico Militar (AHM), impresso em formato de livro, tem 295 páginas, com fotografias mostrando os elementos da missão nas várias visitas que realizaram à “frente oriental” e também à Alemanha.

O trabalho é bastante ilustrado sendo possível encontrar outras fotografias, mapas e esquemas que mostram armas, equipamentos, disposições tácticas, sistemas de ataque e de defesa das várias unidades e especialidades.

Num conjunto de organogramas mostram-se a estrutura e organização do exército alemão, nas suas diversas especialidades, começando na mais pequena das unidades até um corpo de exército. Há também registos de como se organiza um quartel-general numa frente de combate ou um Estado-Maior.

O relatório não fica completo sem uma colecção de ilustrações, legendadas em alemão, que mostram muito do material utilizado pelos russos, especialmente os carros de combate como o KV-1, o T-34 ou os Matilda, estes últimos de fabrico britânico.

Os 12 oficiais portugueses que partem para esta missão em 1942 são o Coronel Teles Ferreira de Passos (director do curso de estado maior); o major Frederico Mário de Magalhães Meneses Vilas Boas Vilar; os capitães Manuel Alcobia Veloso, Carlos Miguel Lopes da Silva Freire, Mariano Augusto Lopes Pires, Afonso Magalhães de Almeida Fernandes, José Ferreira dos Reis e Fernando Augusto Soares da Piedade; Os tenentes Alfredo José Ferraz Vieira Pinto de Oliveira, Afonso Lopes Franco, João António da Silva e Alexandre Nobre dos Santos
 
Esta visita à “frente oriental” começou por envolver 12 oficiais portugueses. São professores ou alunos recém-formados do curso de Corpo do Estado-Maior e pertencem às especialidades de artilharia e engenharia.

A viagem para Berlim é feita em grupos de quatro, através de voos da Lufthansa, com partida da Granja do Marquês, em Sintra , entre 12 e 14 de Agosto.

A 22, ainda em Berlim, o tenente de artilharia Lopes Franco vê-se obrigado a regressar a Lisboa. Necessita de uma cirurgia e cuidados médicos prolongados. É a primeira baixa da missão.

Na capital alemã fazem turismo antes de visitar escolas de infantaria, artilharia, pioneiros e tropas couraçadas. Passam ainda por fábricas de material bélico.

É só nos últimos dias de Agosto que se deslocam para a frente de batalha, chegando mesmo à zona do Kursk, onde no ano seguinte vai acontecer o maior confronto de tanques da história com uma vitória russa.

No dia 31, em solo russo, passam por um hospital de campanha e por um campo de instrução, onde assistem a exercícios de fogo real envolvendo infantaria e artilharia.

No dia 2 de Setembro, no quartel general da 88ª divisão alemã, em Bogdanovo, assistem ao fim do interrogatório de “três desertores de três raças diferentes (turco, caucasiano e mongol)”. Nos dias seguintes visitam diversas zonas da frente.

A 6 encontram-se nos bosques perto de Bol-Wereika, quando são alvo da artilharia russa. Apesar de alguns obuses caírem perto da comitiva, a noite termina num jantar acompanhado por “um coro de cossacos com fardas alemãs”.

As recordações não seriam todas tão boas como esta. 
PK Pinconelly foi o fotógrafo alemão que acompanhou a delegação portuguesa durante toda a missão à frente oriental.

O dia 8, já no Kursk, começa pela visita a uma igreja ortodoxa “transformada em museu e agora reaberta para culto pelos alemães”, e segue depois para uma base aérea, onde se dá um acidente que vai revelar-se mortal: “Com assistência do General de aviação Von Bilowius visitou-se ainda a esquadra de aviação de combate BOELCKE, onde pelas 12 horas, o engano no decorrer duma demonstração com uma bomba incendiária de avião, que se supunha não explosiva, provocou ferimentos em oficiais e praças alemães e em 9, dos dez oficiais da Missão”.

Dos nove portugueses feridos quatro são evacuados para Berlim. Tratavam-se do chefe da missão, coronel Teles Ferreira de Passos, e dos capitães de engenharia Carlos Miguel Lopes da Silva Freire, Mariano Augusto Lopes Pires e Almeida Fernandes.

Os médicos alemães consideram os ferimentos ligeiros, mas Mariano Lopes Pires, vem a falecer, na sequência da ruptura de uma artéria na noite de 15 para 16 de Setembro (ver Um Morto Portugês na Frente Russa).

A maior parte dos membros da delegação portuguesa vão regressar a Portugal, nos dias 16 e 17 de Setembro.


Participar na luta contra o comunismo

As missões militares aos vários países envolvidos no conflito nada têm de anormal. Oficiais portugueses estiveram também em Inglaterra ou Itália durante os anos da guerra.

E esta é apenas uma das missões portuguesas à frente oriental . No AHM podemos encontrar informações de pelo menos três delas envolvendo militares do exército. Já referimos a que aconteceu em 1942, mas há duas outras, que decorreram quase em simultâneo, no ano de 1941.

Uma outra, apenas com oficiais da GNR, teve também lugar naquele ano.

O convite para participar nestas iniciativas foi alemão, como se depreende de uma carta enviada à Legação alemã em 9 de Agosto de 1941.

O Sub-Secretário de Estado da Guerra, Santos Costa, informa o adido militar Major Von Brockdorff que era agora “oportuno tomar uma decisão quanto ao envio de missões militares destinadas a visitar o teatro de operações da frente oriental ou a tomar conhecimento com os mais recentes métodos de guerra moderna, assunto já em tempos abordado (…) e agora de novo tratado”.

Recepção na Legação Lemã dos oficiais potugueses antes de realizaram a visita à Alemanha e à frente oriental em Outubro de 1941. 
Esta fotografia e a seguinte foi publicada na edição de 5 de Novembro de 1941 da revista Esfera.
 (Fonte: Hemeroteca de Lisboa)

A aquisição recente por parte das forças armadas nacionais de 101 obuses ligeiros e 24 pesados aos alemães, e a necessidade de conhecer melhor “os método de tiro e de manobra” destes equipamentos, são a principal razão para concretizar o pedido.

Santos Costa solicita que os oficiais estagiem em escolas e artilharia, mas insiste na ida destes à “frente oriental”. “Os ensinamentos colhidos no próprio ambiente da guerra seriam certamente muito mais proveitosos e simultaneamente alguns militares portugueses teriam o ensejo de tomar parte na luta contra o comunismo, aspiração que muitos deles teriam o maior empenho em satisfazer”.

Uma frase, no mínimo, curiosa certamente com mão do próprio Salazar já que este é o titular da pasta da Guerra para além de Presidente do Conselho e de ministro dos Negócios Estrangeiros.

Em Outubro estão prontas duas missões para a Alemanha. Uma é constituída por uma dezena de oficiais de artilharia e outra por três oficias de estado-maior.

Ambas partem ao mesmo tempo – 17 de Outubro - mas terão presença distinta na Alemanha. O único relatório que foi possível localizar é o dos três últimos oficias de estado maior, comandados pelo Major Gomes Araújo.

Enquadrados por forças alemãs, percorrem escolas de formação diversas, mas é a “frente oriental” que vai preencher parte importante do seu relatório, também um livro com pouco mais de 200 páginas, mas sem fotografias ou imagens.

A comitiva que se deslocou à frente oriental em 1941 integrava os oficiais de estado maior majores Manuel Gomes Araújo, Júlio Botelho Moniz e capitão José Beleza Ferraz. A delegação da rama de artilharia era constituída pelo major João da Costa Ferreira Pinto; capitães António Libório, José Augusto da Fonseca June, Espirito Santo, José Virgolino, João Santos e Silva; tenentes Luis costa Campos e Menezes, Jesus Armigio,  Delgado e Silva, António Brancamp Sobral.
 (Fonte: Hemeroteca de Lisboa)

As áreas de visita são neste caso Luga e Leningrado onde a comitiva testemunha vestígios de combates recentes e se surpreende com algumas das tácticas utilizadas. “Um outro facto curioso a assinalar é o seguinte: em cima de cada um dos carros russos vinham 10 atiradores os quais, como era de prever, foram mortos pelos tiros das metralhadoras e espingardas alemãs. Visitou-se o local onde ainda se encontravam os carros e até, queimados a seu lado, alguns dos seus tripulantes”


Spínola em Leningrado 

Uma das questões que tem sido referida várias vezes é a presença de António de Spínola numa destas comitivas que em 1941 visitou a Rússia.

Não me foi possível encontrar, entre os documentos do AHM qualquer referência à sua presença.

Há no entanto uma nota neste relatório de 1941 que refere que “à Missão do EME (Estado Maior do Exército) juntou-se em Berlim, uma missão de oficiais da GNR tendo a visita à frente sido feita em conjunto”.

Fotolegenda publicada na edição de Dezembro do Jornal oficial da GNR "O Soldado".
Spínola deverá ter integrado esta delegação como tenente.

Olhando para a biografia verificamos que Spínola era, em 1941, um jovem tenente, ajudante de campo do comandante da GNR, General Monteiro de Barros, por acaso, também seu sogro.

Deduzo por isso que a comentada presença e Spínola em Leningrado tenha acontecido quando estas duas delegações se deslocaram em conjunto até à Frente Oriental.

Carlos Guerreiro

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Monumento para imortalizar salvamento

Um residente estrangeiro no Algarve quer construir uma estátua que imortalize o momento em que três pescadores de Faro salvaram seis tripulantes do B-24, que se despenhou ao largo de Faro em 1943 (ver AQUI).

Esta possibilidade foi-me avançada há algumas semanas, através de um telefonema de Michael Pease, com o qual me tinha encontrado uma vez há muitos anos, por causa do velho bombardeiro.

Confesso que fiquei surpreendido com a ideia.

 Os três pescadores no barco que salvou os seis aviadores americanos.

Articulei o meu apoio, troquei uns poucos e-mails, mas com o decorrer do tempo não tinha voltado a reflectir sobre o caso.

Há umas duas semanas recebi novo telefonema… agora era o Bruno Filipe Pires do Jornal 123. Queria saber a minha opinião sobre esta ideia.

Pease continua empenhado em concretizar o projecto.

Iniciou uma campanha para reunir financiamentos e donativos. Envolveu a comunidade estrangeira residente na região e até já se encontrou com escultores.

Acredita que o monumento pode estar pronto dentro de um ano…

Inclino-me perante esta vontade… e fica o essencial da notícia do jornal 123:

Michael Pease recorda Jaime Nunes 

Residente inglês quer monumento aos heróis esquecidos 

Michael Pease, 82 anos, talvez um dos mais antigos residentes britânicos no Algarve, é um homem com uma missão: quer construir de raiz, um monumento à memória de Jaime Nunes e aos pescadores que na madrugada de 1 de Dezembro de 1943, em plena Segunda Guerra Mundial, salvaram 6 aviadores norte-americanos.

Faziam parte da tripulação de um PB4Y-1 “Liberator” da US Navy que se perdeu e acabou por amarar a poucas milhas ao largo de Faro, onde ainda hoje repousa. Pease ficou impressionado com este episódio, resgatado do esquecimento pelo jornalista Carlos Guerreiro. Apesar de Jaime Nunes ter sido homenageado em vida, em 1999, Peace acredita que é preciso deixar uma marca permanente deste salvamento.

Quando questionado se não é já demasiado tarde para um novo monumento, já que todos os protagonistas há muito que faleceram, Michael Pease responde com determinação. “Absolutamente, não! Para mim, que sou um hóspede neste país, penso que esta é uma história de heroísmo que não deve ser esquecida. E não apenas isso, penso que se for devidamente concebido e promovido, o monumento será mais uma atracção turística a somar na cidade de Faro. Isso é um factor importante nestes dias de recessão”, considera.

Foi há quase 70 anos que tudo aconteceu. Jaime Nunes pescava numa noite fria de inverno quando ouviu um grande estrondo no mar. Dirigiu-se para o local o mais depressa que conseguiu e puxou seis homens feridos da água gelada para o seu pequeno barco. Cinco outros aviadores não tiveram a mesma sorte e foram engrossar a lista de desaparecidos de uma guerra que deixou milhares sem sepultura conhecida.

O jornalista Carlos Guerreiro, autor do livro «Land in Portugal» e do blogue homónimo, ouviu esta história da boca do próprio Nunes, há mais de 20 anos.

Com o advento da Internet, publicou o episódio numa página de veteranos da II Guerra Mundial e houve alguém que revirou os arquivos americanos do exército e depois da marinha para descobrir o historial deste azarado voo.

Mais tarde recebeu uma cópia do relatório oficial do desastre e começou a procurar o paradeiro dos sobreviventes. Depois de muitas cartas enviadas para o outro lado do Atlântico, Guerreiro conseguiu localizar Lyle Van Hook em 1998.

Contou-lhe como se tinham perdido e, sem combustível, tentaram aterrar - noite cerrada - naquilo que pensavam ser uma praia...

Em Junho de 1999, com o apoio da Embaixada dos EUA, Van Hook e Ti Jaime encontraram-se pela primeira vez através de video conferência (de notar que ambos eram à data pessoas de idade e com problemas de saúde, o que tornaria praticamente impossível um encontro físico entre ambos).

O pescador de Faro recebeu uma placa de agradecimento da US Navy. E a história fica por aqui. Ou talvez não…

“A cada dia que passa, parece que a minha ideia atrai mais pessoas, mais respostas positivas e entusiasmo pelo que estou a tentar fazer. Mas não sou mais que o promotor do projecto. Se tenho um prazo? Sim. Tenho 82 anos de idade e espero acabar isto antes que o meu tempo acabe. Mas, brincadeiras à parte, e ao ritmo que as coisas avançam, penso que a escultura poderá estar pronta dentro de um ano”, diz Michael Pease, residente em Odiáxere.

Pease contactou três escultores para apresentarem ideias. Idealmente, o bronze seria o melhor material, embora outros materiais alternativos não estejam postos de parte, se permitirem poupar custos.

A escultura seria eventualmente em Faro, perto da doca, onde Jaime Nunes desembarcou com a tripulação caída.

(Para ler o resto do artigo clique AQUI)

Carlos Guerreiro

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Para ler mais sobre AVIAÇÃO clique AQUI.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Familia de aviador sepultado no Porto procura informações

 Na tarde de 13 de Julho 1941 o sargento-aviador da Real Força Aérea, William Bernard Oakes, de 21 anos, morreu aos comandos de um bombardeiro Wellington da RAF quando este se despenhou, no mar frente a Fão, perto de Esposende.

Setenta anos depois, e após consultar diversos arquivos, a família continua a procurar respostas na tentativa de reconstruir o que aconteceu naquele dia.

Com William, co-piloto do aparelho, mergulharam no mar cinco camaradas de armas (ver AQUI)…

Os seus corpos mutilados foram reunidos num único caixão que descansa no cemitério de St. James, no Porto.

Relatórios contraditórios das autoridades britânicas tão depressa referem o incêndio num dos motores ou a instabilidade do clima como responsáveis pelo que aconteceu.

Quando me chegou o apelo de Ian Garth, o cunhado de William, confesso que tinha muito poucos dados sobre este desastre.

Uma leitura dos jornais da época trouxe novos dados, mas não esclareceu as contradições. Antes pelo contrário…

Nos diários lisboetas “República”, “Diário de Lisboa”, “Diário de Notícias” e nos portuenses “Jornal de Notícias”, “Comércio do Porto”, “Primeiro de Janeiro” não encontramos unanimidade nos relatos publicados sobre o desastre.

Todos concordam que o acidente aconteceu às 14.30 horas e que o tempo estava nebulado e chuvoso. O mar encontrava-se agitado.

Um desastre, várias versões 

Alguns periódicos garantem que os populares apenas ouviram um avião a sobrevoar a zona – como se procurasse um sítio para aterrar – seguida de uma explosão quando este bateu no mar.

Outros asseguram que testemunhas ouviram o aparelho a circular, mas que também viram como a certa altura ele levantou o nariz e picou para o mar, explodindo com o impacto…

O “Diário de Notícias” – e refiro o nome porque é o único que descreve assim o acidente - conta de forma detalhada como se ouviu uma explosão antes do avião, em chamas, se precipitar para o mar. Deixava atrás um espesso rastro negro de fumo…








Notícias publicadas nos jornais 
de Lisboa e Porto 
nos dias 14 e 15 de Julho de 1941, 
com relatos do acidente.
Apesar da maior parte dos relatos 
serem muito semelhantes 
sobre o que aconteceu 
depois do desastre, 
existem, pelo menos, 
três versões diferentes
 do momento do acidente.













O aparelho despedaçou-se no mar, muito próximo da praia. O combustível e alguns destroços ficaram a arder libertando uma intensa coluna negra.

 “Imediatamente um grupo de pescadores, apesar da fúria do mar, se prontificou a seguir para o local da tragédia. E assim largou da praia uma pequena embarcação, tripulada pelos marítimos Júlio da Silva Vilela, António Herdeiro e Joaquim Soares, seguindo na mesma o primeiro patrão dos voluntários de Fão, Sr. Gonçalves Figueira”, conta o Jornal De Noticias secundado por outras publicações.

Não foi encontrado nenhum dos tripulantes, mas a embarcação recolheu dois paraquedas, um bote de borracha e um impermeável.

Numa saída posterior seria encontrado uma roda e parte de um trem de aterragem…

Logo nesse dia chegaram à praia uma carta, com destino a Malta, e distintivos canadianos…

È pedida a vinda do rebocador “Teixeira de Queiroz” e de um salva vidas do Instituto de Socorros a Náufragos, para colaborar nos trabalhos de resgate do avião e na tentativa de localizar os corpos.

Na manhã do dia seguinte é descoberto o primeiro sinal de humanidade. Dá à costa o tronco mutilado de um homem, com parte da farda vestida… ostenta as divisas de sargento.

Transportado para o quartel dos bombeiros de Esposende será identificado como pertencente ao telegrafista do avião. Nas notícias os aparelho já aparece identificado como um bombardeiro britânico Wellington.

A praia fica juncada de todo o tipo de destroços “tais como paraquedas, rodas do trem de aterragem, e muitos maços de correspondência que se destinava a Malta”, explica mais uma vez o “Jornal de Notícias”.

 Nos dias seguintes – por opção ou por imposição da censura - os jornais silenciam as notícias sobre as operações de resgate.

Só a 19 regressam ao assunto para informar que os corpos tinham sido recuperados e que, nessa tarde, se realizariam os funerais.


A urna aos ombros de veteranos britânicos da I Guerra Mundial. Sargentos portugueses acompanham o funeral (em cima).
Soldados de Infantaria 6 ladeiam os caminhos por onde passa a multidão que acompanha a cerimónia (em baixo).


A comunidade inglesa do Porto encerra lojas e serviços e apresenta-se em massa no funeral. São centenas as pessoas que marcam presença nas cerimónias.

Os restos mutilados dos sargentos da RAF William Bernard Oakes, Henry Gerald Peel, Colin James Dixon, Trevor Vaughan Davies, Derek Cecil Haynes e Stephen Thomas Mcneil foram reunidos apenas num caixão, ao qual um pelotão de Metralhadoras 3, assegura a guarda de honra.

Finda a missa, conduzida pelo reverendo Johnson, seguem para o cemitério inglês.

São os ombros de veteranos britânicos da I guerra que carregam a urna entre os vários percursos, mas há também uma delegação de sargentos portugueses, militares de diversas graduações e autoridades civis portuguesas no topo do cortejo.


Militares portugueses e britânicos prestam homenagem aos aviadores. O mais alto é o adido aeronáutico da Embaixada Inglesa, o coronel Schreiber (em cima).
Soldados de Metralhadoras 3 disparam três salvas em honra dos mortos (em baixo)


No cemitério é uma unidade de Infantaria 6 que marca a o percurso para a passagem da multidão.

Junto à campa, enquanto a urna desce à terra, “os soldados de Metralhadoras 3, armados de carabinas, fazem três descargas sucessivas, sob o comando vibrante da imperativa voz de: - Fogo”, relata o “Primeiro de Janeiro”.


A colónia Inglesa submergiu com flores a campa dos aviadores.


“As autoridades inglesas e portuguesas desfilam ainda mais uma última vez perante a grande cova, onde caem já, cavamente, as primeiras pazadas de terra; e toda a gente desfila depois, sem um gesto, uma palavra”, concluí o JN.

Mais dramático, no sentido teatral da palavra, é a conclusão do “Primeiro de Janeiro”: “A nosso lado, uma senhora inglesa - de perfil austero e nobre (...) – é tomada de viva e profunda comoção. Os olhos inundam-se-lhe de lágrimas, mas logo se reanima e, erguendo solenemente a mão direita, desenha no espaço a figura geométrica dum V – a simbólica inicial da palavra Vitória…”

Um apelo público

Face à soma de contradições foi decidido realizar uma apelo público, para tentar encontrar outros relatos e, especialmente, memórias sobre deste incidente…

Talvez seja possível encontrar alguém que tenha sido testemunha do desastre ou seja “herdeiro” desses testemunhos …

Será que alguém conhece ou conheceu os pescadores que não hesitaram em lançar-se ao mar, apesar do mar revolto?

Poderão existir fotografias das operações de resgate? Notícias em jornais locais?

Museu de Cosforth, Inglaterra. Em fundo um Wellington a ser restaurado. 
Na foto Michael Garth, Ian Garth, Ian Oakes e Fred Oakes, irmão de William.

Ian Garth gostaria de ter acesso a todas as informações sobre este momento que marcou a história da família da mulher, irmã de William.

Para preservar alguma privacidade e evitar ser bombardeado com mensagens que nada tenham a ver com o assunto, Ian pediu-me para que as mensagens fossem reencaminhadas através do e-mail do Aterrem em Portugal (clique AQUI).

Comprometo-me a reenviar tudo para o Ian.

Para facilitar esse trabalho agradecia – sempre que possível – que me enviassem as mensagens em inglês…

A família de William Oakes agradece antecipadamente todos os esforços relacionados com o esclarecimento deste assunto.

Carlos Guerreiro 
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Nota: Todas as fotos foram cedidas por Ian Garth.

Para ler mais sobre AVIAÇÃO clique AQUI.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

"Traição a Salazar" no Porto

José António Barreiros vai estar no Porto, dia 10, na Livraria Leya, na Latina para apresentar o seu mais recente livro "Traição a Salazar".

A apresentação no Porto acontecerá por volta das 19 horas...


"Traição a Salazar" foi reeditado em Julho deste ano (ver AQUI).

Já antes o "Aterrem em Portugal" tinha conversado com o autor sobre este trabalho (ver AQUI).

Boa Leituras
Carlos Guerreiro 

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Sobre LIVROS clique AQUI.

domingo, 2 de setembro de 2012

Para o mundo e em todas as línguas...

Curso de línguas em disco.
Revista "Vida Mundial Ilustrada" de 16 de Março de 1944.

O “Aterrem em Portugal” introduziu um novo dispositivo que pode ajudar algumas pessoas que têm amigos estrangeiros também interessados nestas temáticas da II Guerra Mundial....

Na coluna do lado esquerdo existe agora um tradutor que permite traduzir os textos em algumas dezenas de línguas diferentes.

Basta "clicar" sobre a caixa e escolher o que se pretende.

Já fiz a experiência em Inglês e apesar de reconhecer que o resultado está longe do ideal, dá para qualquer pessoa perceber – pelo menos – o essencial....

Fica à disposição e espero que divulguem...
Carlos Guerreiro

sábado, 1 de setembro de 2012

Ministério das propagandas
PACTO MOLOTOV / RIBENTROP EM POSTAIS


“- A escória da Humanidade, creio eu?” – Cumprimenta Hitler.

“- O sangrento assassino do proletariado, não é verdade? “ – responde Estaline…

A imagem representa um hipotético “Rendez-Vouz” entre os dois ditadores sobre uma Polónia arrasada.

Ambos mantêm uma pose cortês, mas as palavras não escondem o que terá passado pela cabeça dos dois líderes em 1939 quando dividiram, entre si, a Polónia.

A versão original deste cartoon de David Low foi publicado no jornal "Evening Standard", de 20 de Setembro de 1939, pouco depois da junção das tropas alemãs e russas na Polónia.

Para além de uma conquista territorial, os russos ficaram com um tampão que impedia o fascismo de se encostar às sua fronteiras e para os alemães um adiar do que anos antes Hitler tinha pronunciado no seu Mein Kampf – o aniquilar do Bolchevismo e a expansão para do espaço vital da Alemanha para Leste.

As tropas do 3º Reich já tinham ocupado e anexado a Áustria e a Checoslováquia, mas é a invasão da Polónia, no dia de 1 de Setembro de 1939, que lança verdadeiramente a Europa na Guerra Mundial.

Britânicos e Franceses tinham garantido aos polacos que defenderiam o país em caso de agressão. Hitler não acreditou numa reacção das outras potências europeias e avançou… e no dia 3 de Setembro eram oficialmente entregues as declarações de guerra britânica e francesa.


Mais duas criações de David Low que tiveram as suas versões originais publicadas no "Evening Standard". 

O de cima foi impresso a 2 de Outubro de 1939 e o de baixo em 25 de Janeiro de 1940. Ambos escarnecem das expectativas alemãs em relação ao fornecimento de meios e matérias primas da Rússia de que a economia germânica tinha necessidade imperiosa. 

Parte traseira desta série de postais (em baixo) com um erro de impressão. Surge "Postale" em vez de "Postal".



Se a invasão alemã foi uma surpresa parcial a divisão do país com a Rússia foi um choque.

O acordo Molotov/Ribentrop assinado meses antes, em Agosto, tinha sido anunciado como um acordo de comercial e de defesa mútuo mas encerrava também um cláusula secreta que iria permitir a divisão da Polónia.

A assinatura de um acordo entre dois regimes antagónicos em todos os sentidos tinha surpreendido o mundo. No final a Alemanha sedenta de matérias primas passava a ter um fornecedor de tudo o que precisava e a Rússia beneficiava de grandes conquistas territoriais.

Para além da Polónia, que invadiu a 17 de Setembro de 1939, os russos anexaram nos meses seguintes a Letónia, a Lituânia, a Bessarabia (hoje parte da Moldávia), a Bokovina (hoje parte da Ucrânia) e também uma parte da Finlândia. Tudo sob o olhar benevolente de Hitler.

Obviamente fascismo e comunismo são mais que apenas regimes políticos distintos. Eles são antagónicos.

Logo depois da invasão a máquina de propaganda inglesa não perde tempo e trata de caricaturar os acontecimentos e escarnecer dos protagonistas.

A utilização de postais com caricaturas – muitos com origem em jornais britânicos e reproduzidas como veículo de propaganda pelo governo – vai ser uma constante ao longo de todo o conflito.

Um postal era um objecto de fácil transporte e produção.

Vão ser utilizados tanto pelos aliados como pelo eixo com caricaturas, desenhos ou fotografias. Mostram aviões, tanques , diversos tipos de armas e engrandecem ou diminuem personalidades.

Estes três postais britânicos são alusivos ao acordo russo-alemão e ao momento em que Polónia é dividida.

As imagens são todas do mesmo autor, David Low (1891-1963), e fazem parte de uma série mais vasta onde se escarnece não só do acordo Russo-Germânico mas também de outros anúncios e atitudes alemãs.

No conjunto aqui apresentado, para além do hipotético rendez-vouz entre os dois ditadores, brinca-se também com a dependência alemã das matérias primas e da economia russa.

Carlos Guerreiro